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1 O SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO BRASILEIRO

4.4 Imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza

4.4.2 Pessoa jurídica

Como vimos, o imposto sobre a renda deve ter por hipótese de incidência o fato de uma pessoa, em razão do trabalho, do capital ou da combinação de ambos, obter rendimentos líquidos dentro de um determinado período. Para a pessoa jurídica, este rendimento líquido é denominado de lucro.

Assim, a base de cálculo possível do IRPJ é o lucro, que representa receitas menos custos e despesas, obtido durante o exercício financeiro ou, conforme previsão em lei, em período menor. Referido lucro é apurado pela contabilidade da empresa, sendo tais registros lançados nos livros e documentos próprios, conforme previsão legal.

Tratando-se, portanto, da pessoa jurídica, somente enquanto validamente a mesma aufere lucros (variação patrimonial positiva), poderá ser tributada pelo imposto sobre a renda, sendo a referida carga tributária maior, a medida que maior for o lucro obtido pela pessoa jurídica, ou mesmo não haverá a tributação pelo IRPJ se a empresa não obtiver lucro naquele período.

297 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributário. São Paulo: Malheiros Editores,

Podemos verificar, portanto, que o lucro é o índice da capacidade contributiva no imposto sobre a renda da pessoa jurídica.

A aplicabilidade da capacidade contributiva no IRPJ se verifica ao estabelecer a variação da carga tributária em razão do lucro auferido pela pessoa jurídica, e, ainda, pela possibilidade de isenção na tributação do IR sobre o lucro destinado a investimentos ou mesmo sobre o lucro distribuído aos sócios, uma vez que já teria sido tributado pela pessoa jurídica.298

Há que se considerar, inclusive, a possibilidade de dedução dos custos, gastos e despesas inerentes à manutenção da empresa, sendo somente após verificado o resultado positivo.

Ainda, não pode ser objeto de tributação as indenizações recebidas, que apenas recompõem o patrimônio da empresa lesada. Submeter indenizações sofridas pela pessoa jurídica à tributação pelo imposto sobre a renda é impor à empresa sacrifícios econômicos superiores à sua capacidade contributiva, por ensejar a tributação sobre ingresso que não incorpora o patrimônio da pessoa jurídica, ou seja, a tributação neste sentido levaria em conta valores que não compõem o lucro da empresa.

Nesse sentido, Roque Antonio Carrazza, ao tratar do princípio da capacidade contributiva no imposto sobre a renda da pessoa jurídica, aduz:

(...) o princípio da capacidade contributiva está a exigir que também no IRPJ o contribuinte deduza da base de cálculo do tributo o montante de imposto pago antecipadamente, as despesas com vale-transporte, as despesas com o Programa de Assistência ao Trabalhador/PAT, e assim por diante.

Assim, a lei de regência do IRPJ não pode, sob pena de incontornável inconstitucionalidade, transformar em matéria tributável indenizações recebidas, que apenas recompõem o patrimônio da empresa lesada; tampouco perdas sofridas (ou parte delas), que lhe acarretaram diminuição patrimonial; ou, ainda, créditos (ou parte deles) que, embora vencidos, não foram satisfeitos pelos deveres ou cuja realização se mostre incerta.

Realmente, submeter indenizações, perdas sofridas ou créditos de liquidação duvidosa à tributação por meio de IRPJ é impor à empresa sacrificios

298 Conforme esclarece Roque Antonio Carrazza: “a legislação determina venham excluídos, dos rendimentos

tributáveis das pessoas físicas, os resultados econômicos obtidos pelas empresas de que são titulares. Para que se compreenda: o imposto atinge apenas a renda da sociedade; seus resultados positivos, atribuídos aos sócios ou acionistas, sob a forma de lucros ou dividendos, não são alcançáveis pelo IRPF. Esta sistemática é elogiável, porque evita dualidade de incidências – o que implicaria, em termos econômicos, bis in idem. Integrando-se a tributação da empresa e da pessoa física, o IR recolhido pela primeira torna-se uma antecipação do montante devido pela última – e, com isso, fecha-se a porta da fraude, nem sempre fácil de ser apurada”. (CARRAZZA, Roque Antonio. Imposto sobre a Renda (perfil constitucional e temas específicos). 3ª edição revista, ampliada e atualizada. São Paulo: Malheiros Editores, 2009, p. 51).

econômicos superiores à sua capacidade contributiva, que fatalmente levam ao comprometimento de seu patrimônio – o que é vedado pela Constituição Federal.299 (grifo do autor)

Assim, o imposto deve ser recolhido sobre o efetivo lucro da pessoa jurídica. Referido lucro é apurado aplicando-se acréscimos e deduções previstas na legislação para que se verifique o efetivo acréscimo patrimonial obtido pela pessoa jurídica. E isso em razão de que apenas o patrimônio novo (lucro = resultado positivo) pode compor a base de cálculo do IRPJ, sendo este patrimônio verificado mediante a comparação do balanço de um período e do imediatamente anterior, apresentado pela pessoa jurídica.

Nesse sentido, as pessoas jurídicas e as pessoas físicas a elas equiparadas, domiciliadas no País, deverão apurar o IRPJ com base no lucro tributável que poderá ser real, presumido ou arbitrado300, sendo tributado à alíquota de 15% sobre o lucro apurado (sendo referida alíquota vigente desde o ano-calendário de 1996), com adicional de 10% sobre a parcela do lucro que exceder R$ 20.000,00 / mês.301

Significa dizer que as alíquotas no IRPJ também devem atenção ao critério da progressividade e, consequentemente, ao atendimento do princípio da capacidade contributiva. Ocorre que, como se verifica, a referida alíquota de 15% sobre o lucro obtido no período de apuração é única para todas as pessoas jurídicas, havendo um adicional de 10%, levando à conslusão que a progressividade não é aplicada plenamente, visto sua limitação à apenas esta faixa de alíquota, independentemente do lucro experimentado pela pessoa jurídica.

299 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 29ª edição, revista, ampliada e

atualizada até a Emenda Constitucional n. 72/2013. São Paulo: Malheiros Editores, 2013, p. 143.

300 Cabe destacar a diferente de lucro real, presumido e arbitrado, exposto de forma clara por Roque Antonio

Carrazza: “o lucro, para fins de tributação por meio de IRPJ, é sempre real, embora em determinadas circunstâncias seu montante possa ser arbitrado, desde que se faculte à empresa demonstrar, pelos meios em Direito admitidos, qual foi, no período de apuração, seu efetivo acréscimo patrimonial (que levará ao cálculo correto do montante do tributo devido) ou, até, que ele inexistiu (hipótese em que nada deverá pagar, a este título). Melhor dizendo, o contribuinte cuja estrita fiscal apresenta-se imprestável, atrasada ou inexistente terá contra si lavrado auto de infração e será tributado pelo lucro arbitrado, podendo, todavia, enquanto não se tornar definitivo o lançamento, regularizar as demonstrações contábeis, de modo a recolher o imposto em consonância com a renda realmente obtida. Por outro lado, situações há em que, por opção do contribuinte que atende aos requisitos legais, a tributação em tela se perfaz sobre o montante presumido de sua renda, também chamado lucro presumido. O quantum debeatur, no caso, é calculado aplicando-se, à receita bruta anual da empresa, coeficientes legalmente definidos, que variam conforme a natureza da atividade por ela realizada. Salientamos, porém, que, conquanto apta a vir tributada com base no lucro presumido, a pessoa jurídica não pode ser impedida de recolher o imposto pelo lucro real ou de eximir-se de tributação demonstrando haver sofrido prejuízos no ano-calendário. Também não pode ter negada, ainda que pela lei, a possibilidade de, a qualquer tempo, retratar-se da opção”. (CARRAZZA, Roque Antonio. Imposto sobre a Renda (perfil constitucional e

temas específicos). 3ª edição revista, ampliada e atualizada. São Paulo: Malheiros Editores, 2009, p. 104-105).

Em outros dizeres, não será uma alíquota o suficiente para dizer respeitado o caráter progressivo do IRPJ, graduando-o de acordo com a capacidade econônica da empresa, em afronta aos ditames constituionais que não se limitam aos contribuintes pessoas físicas.

Ao tratar do assunto, Roque Antonio Carrazza destaca exemplo de Paulo Ayres Barreto:

A título exemplificativo, a pessoa jurídica que aufere um lucro de R$ 1.000.000,00, num determinado ano, estará sujeita à alíquota efetiva de 24,8%. Se o lucro for de R$ 10.000.000,00, a alíquota real será de 24,98%, se for de R$ 100.000.000,00, a alíquota será de 24,99%. Dessa forma, indaga-se: está atendida a pregressividade do imposto? Jamais se poderia admitir que o acréscimo de uma casa decimal na alíquota refletiria efetiva progressividade, de tal sorte que a resposta a esta indagação só pode ser negativa.302

Referido exemplo nos faz notar que as grandes empresas auferidoras de lucros exorbitantes supotam, proporcionalmente, a mesma carga tributária, no que tange ao imposto sobre a renda, se compararmos com as empresas de porte menor e com lucros reduzidos.

Podemos confirmar, portanto, que o IRPJ da forma como hoje aplicado, deixa de obedecer ao critério da progressividade e, via de consequencia, ao princípio da capacidade contributiva e da igualdade.

Não há, todavia, meios para determinar precisamente quantas alíquotas seriam necessárias para realizar, à perfeição, o valor da redistribuição das rendas e atender à progressividade. Necessário se faz que sejam criadas novas alíquotas, de modo que o imposto sobre a renda seja cada vez mais pessoal, respeitando, assim, o princípio da capacidade contributiva, para que se possa realizar a tributação de modo progressivo.