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CARACTERÍSTICAS DO AGIR ESCOLAR CONFESSIONAL

CAPÍTULO 3 O ENSINO RELIGIOSO ADVENTISTA E A DIVERSIDADE RELIGIOSA

3.1 CARACTERÍSTICAS DO AGIR ESCOLAR CONFESSIONAL

Nas palavras de Franca (1931, p. 118) “uma escola que pretende realmente educar o ser humano não lhe pode esquecer a formação moral e religiosa”. Existem vários argumentos em favor da contribuição do Ensino Religioso para uma educação realmente completa. Segundo Junqueira e Rodrigues (2010, p. 101):

o Ensino Religioso, no espaço da educação, contribui para prevenir a intolerância e instiga os estudantes a buscar seus direitos e liberdades. Isto não significa abrir mão do direito de expressão da confessionalidade de alunos e professores, mas permitir ao outro ser sujeito de sua cultura e de seus desejos. O Ensino Religioso como componente curricular está alicerçado nos princípios da cidadania, no entendimento do outro enquanto outro. E isso só é possível num Estado laico, pois é competência do Estado assegurar aos alunos o direito de receber a formação religiosa desejada. É um direito cidadão.

A proposta educativa da rede adventista, tendo por base os ensinos bíblicos e as orientações de sua pioneira Ellen G. White, é que esta educação tenha um propósito redentivo64, pois se faz preciso restaurar o ser humano à imagem do seu Criador (MARTINS, 2008, p. 88; SUAREZ, 2010, p. 88). White (2008, p. 16) entende que

restaurar no homem a imagem de seu Autor, leva-lo de novo a perfeição em que fora criado, promover o desenvolvimento do corpo, espirito e alma para que se pudesse realizar o proposito divino da sua criação - tal deveria

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De acordo com Suárez (2012, p. 89) “redenção” é uma metáfora bíblica que inclui as ideias de soltar de um laço, livrar de cativeiro ou escravidão, comprar de volta algo perdido ou vendido, trocar algo na posse de alguém, resgatar.

ser a obra da redenção. Este é o objetivo da educação, o grande objetivo da vida.

Evidente, portanto, que o conceito de educação entendido pela rede adventista e os objetivos que ela busca atender perpassam a narrativa bíblica da queda do ser humano65 e a necessidade de restauração ao estado original em que

fora criado por Deus. Por isso, uma rede confessional atuante insiste na manutenção de seu programa de Ensino Religioso. Uma das principais evidências da importância que à educação adventista atribui ao Ensino Religioso é encontrada no fato de que em todas as séries da educação básica – Fundamental I e II e Médio – e do Ensino Superior (CARVALHO, 2012), se ministra semanalmente a disciplina de Ensino Religioso.66

O compromisso da educação Adventista é bem retratado por Timm (2001, p. 40), quando ele reafirma a necessidade e a utilidade de tais investidas:

Definitivamente, a religião não pode se limitar apenas a especialistas e profissionais da religião. Ela deve ser vivida e promovida por toda a comunidade de obreiros, funcionários e, se possível, alunos da escola. O aumento do número de alunos indiferentes à filosofia educacional adventista é tanto uma oportunidade evangelística como um grande desafio para a preservação da identidade das escolas adventistas. [...] Tão prejudicial é o conhecimento acadêmico sem a religião, é também a religiosidade permeada pela ignorância. Indispensáveis para a formação de uma cultura espiritual acadêmica nas escolas adventistas são a Bíblia e os livros básicos de Ellen G. White sobre a educação.

Esta ideia também é defendida por Unglaub (2001, p. 27), para quem deve existir uma intenção deliberada de que a visão bíblico-cristã e a filosofia da educação adventista permeiem toda a ação docente, administrativa e curricular das escolas adventistas. Essa realidade evidencia o mencionado compromisso com a redenção do aluno, que deve ser restaurado à imagem de Deus em todos os seus aspectos: físico, intelectual, social, emocional e espiritual. Mesquida (1994, p.132 e 133) aborda este tema da seguinte maneira:

65 Narrativa constante no livro de Gênesis , capítulo 3.

66 Até mesmo em nível de Pós-Graduação Lato Sensu da educação adventista são ministradas aulas de Ensino Religioso. A diferença em relação aos outros níveis de ensino é que, enquanto nos demais todos os bimestres (fundamental e médio) e semestres (Ensino Superior) há uma única disciplina com conteúdo religioso.

como parte do plano protestante as escolas-igrejas divulgavam não apenas o seu pensamento e cosmovisão, mas também imprimiam um modus vivendi, baseado em hábitos, condutas sociais e valores. Geralmente baseados na perspectiva religiosa, como por exemplo: o combate ao uso do álcool e do tabaco, bem como da prática dos jogos de azar; as regras de higiene; as regras restritivas de certos divertimentos; os modos de administrar as finanças e o patrimônio, orientados ao trabalho intenso, à poupança e à acumulação; os modos de trajar, falar e comportar-se em público; a exigência da leitura. Todos esses conceitos estavam baseados no que a educação protestante norte-americana já implantara em seu país, desde o primeiro quarto do século 19.

A ênfase dada pelas escolas adventistas nos aspectos religiosos é dimensionada a partir da afirmação de sua pioneira Ellen G. White (2004, p. 544), quando afirma que “os princípios do Céu devem estar em primeiro lugar na vida, e todo passo avançado que se dê na aquisição de conhecimentos ou na cultura do intelecto, deve ser no sentido da assimilação do divino pelo humano”.

Mendonça (2002, p. 74) indica que a elite brasileira, do começo do século 19 e 20, “em grande parte liberal, não estava interessada na religião protestante, mas na educação que os missionários ofereciam. Estava ansiosa pelo progresso, e os colégios protestantes constituíam boa alternativa”. Fator esse que se comprova pelos poucos conversos originários do trabalho realizado pelas escolas e colégios protestantes daquela época (PIEDRA, 2008, p. 94). Será que essa seria a realidade atual nas escolas adventistas? Em outras palavras, vimos que no adventismo existe grande importância no proselitismo a partir, por exemplo, de suas escolas. É verdade que aqui vemos uma busca por um processo integral que visa a transformação do ser humano como um todo, não sendo, em teoria, apenas um mero convencimento doutrinário-teológico, mas mesmo assim, tal realidade não deixaria de ser proselitista. O que perguntamos é, existe êxito, atualmente, nessa “empreitada” de conversão?

Desse modo, diante dessa perspectiva de procura crescente pela educação adventista, Menslin (2015, p. 119) identifica que é inversamente proporcional o crescimento do número de alunos em relação ao percentual de alunos filhos de membros da Igreja Adventista, ou seja, quanto maior o número de alunos na rede menor é a participação de alunos adventistas.

3.2 PERFIL SOCIOECONOMICO DOS ALUNOS DAS ESCOLAS ADVENTISTAS