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Educação protestante adventista no Brasil

CAPITULO 1 ASPECTOS GERAIS DO SISTEMA DE EDUCAÇÃO ADVENTISTA

1.2 DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO PROTESTANTE ADVENTISTA NO

1.2.1 Educação protestante adventista no Brasil

Conforme já mencionado neste trabalho12, a prática protestante consistia na

construção concomitante de igrejas e escolas. No ano de 1895, a IASD realizou o batismo de seu primeiro membro brasileiro, na cidade de Piracicaba, SP. No ano seguinte, 1896, este membro por nome Guilherme Stein Jr. tornou-se diretor do denominado “Colégio Internacional”,13 que começou a funcionar naquele ano em

Curitiba, PR.

Figura 1 - Fachada do prédio escolar onde se iniciaram as atividades do Colégio

Internacional de Curitiba, PR

Fonte: (MENSLIN, 2015, p. 83)

Schünemann (2008) adverte que “a rigor não era um colégio adventista, mas sim um colégio formado por alguns membros e sem participação direta da IASD”. Assim, esta primeira escola confessional adventista não possuía vínculos administrativos com a denominação adventista, somente aplicando sua filosofia. Esta escola funcionou entre os anos de 1896-1903 com êxito, chegando a ter mais de 400 alunos matriculados por ano. Vale registrar que nessa primeira escola

12 Ver parte final do item 1.1 (p. 28).

13 Para compreensão aprofundada sobre esta instituição ver os estudos de Grosss (1996) e Mesquida (2005).

“adventista” a maioria destes alunos não professava o adventismo (HOSOKAWA, 2001, p. 61).

Entretanto, a primeira instituição efetivamente subsidiada pela IASD, surgiu no ano de 1897, com a fundação da “Escola Missionária” em Gaspar Alto, perto de Brusque, SC, com o objetivo de preparar missionários e obreiros para a igreja. Todavia, por estar situada em um local de difícil acesso, e pelo fato do maior número de membros da denominação estar no estado do Rio Grande do Sul, houve um forte apelo para que a escola fosse transferida para o território gaúcho. Isso ocorreu em 1903, quando a instituição foi transferida para a cidade de Taquari, 94 km distante de Porto Alegre.14

Sobre a expansão do incipiente sistema educacional adventista no Brasil, Vieira (1996, p. 18) observa:

É altamente significativo que nos primeiros três anos de existência formal da Igreja Adventista do Sétimo Dia no Brasil já estivessem funcionando duas entidades educacionais com orientação denominacional. Realmente a educação sempre foi uma preocupação fundamental inserida no contexto evangélico.

Portanto, vale destacar que entre 1896, ocasião da chegada do adventismo ao Brasil, e 1899, já estavam em funcionamento duas escolas adventistas no sul do Brasil. Esta informação pode ser melhor compreendida ao ampliar-se o alcance até o final da primeira década da presença adventista no Brasil. Roberto Azevedo (2004, p. 32) informa que o crescimento do número de escolas e igrejas, bem como de alunos e membros, era uma realidade:

Tabela 1 - Desenvolvimento do adventismo no Brasil (1906)

ESTADOS IGREJAS MEMBROS ESCOLAS ALUNOS

RS 6 444 1 15 SC 7 217 5 78 PR 5 210 3 60 SP 1 23 0 0 ES 5 176 1 25 BRASIL 24 1.070 10 178

Fonte: General Conference of SDA. In: Review and Herald, Statistic Report, 31 december 1906.

14 Ali em Taquari também foi montada a editora adventista em 1905, para impressão dos materiais denominacionais (STENCEL, 2006 p. 88).

Os líderes da IASD, portanto, tinham a compreensão de que a educação era um importante método para inserção e manutenção dos ideais adventistas, visto que, em essência, seguia-se a prática do conselho de uma pioneira denominacional, Ellen G. White afirmou que “em todas as nossas igrejas deve haver escolas” (WHITE, 2009, p. 150).

A explicação para esta ênfase educacional da IASD no Brasil é identificada por Hosokawa (2001, p. 62) na herança europeia (origem dos imigrantes convertidos) e estadunidense (origem da denominação):

a ênfase educacional dos adventistas nos Estados Unidos contagiou a igreja em todo o mundo, mas teve significativo impacto no Brasil, onde o grupo, que recebeu inicialmente a mensagem adventista, provinha de uma cultura de valorização da educação herdada das tradições luterana e alemã cujas escolas eram bem difundidas na Alemanha no início do século XIX.

Dessa forma, é possível perceber que a região sul do Brasil, com predominância de imigrantes europeus nesta época, proporcionou a inserção do adventismo e seu sistema educacional nos últimos anos do século XIX e início do século seguinte. Por isso, é importante considerar a análise de Schünemann (2009, p. 77) sobre os fatores para que as escolas adventistas fossem fundadas no Brasil:

a) os primeiros conversos adventistas eram de origem alemã e estavam habituados a manter suas próprias escolas comunitárias; b) a fraca presença de escolas públicas no período de inserção do Adventismo no Brasil; e c) a importância da escola paroquial para a manutenção da identidade adventista já era reconhecida entre os líderes eclesiásticos.

A partir de 1907, teve início uma mudança no perfil geográfico da IASD. Nesse ano, a administração da igreja decidiu transferir a gráfica adventista do Sul para o Sudeste, nas imediações da cidade de São Paulo, próximo à estação de trem São Bernardo (São Paulo Railway), hoje município de Santo André,15 com vistas à

melhor localização para distribuição da literatura produzida.

Em 1910 a Escola Missionária em Taquari também foi fechada, e segundo no período “entre 1911 e 1914 houve uma interrupção no funcionamento das

15 À época denominada Sociedade de Tratados do Brasil, hoje Casa Publicadora Brasileira. Em 1907 foi estabelecida em Santo André, SP, e lá permaneceu por 78 anos. Mudou-se para Tatuí, interior de São Paulo, em 1985, onde permanece atualmente.

instituições adventistas educacionais para formação de missionários”, restando apenas escolas primárias em funcionamento (PAULO AZEVEDO, 2004, p. 53).

Após esse período de estagnação, houve grande progresso na abertura de escolas adventistas em todo o território brasileiro, ao ponto de serem contadas mais escolas que igrejas no período entre 1945 e o início da década seguinte. Isto representa, de acordo com Menslin (2015, p. 102), que “antes de se abrir uma nova igreja, a denominação priorizava a abertura de uma escola, por acreditar que a partir das escolas seria mais fácil alcançar os adultos”.

Contudo, a partir da década de 1960, houve um crescimento maior em número de membros e igrejas constituídas em relação ao número de escolas e alunos matriculados, causando um descompasso, conforme tabela 2:

Tabela 2 - Relação de igrejas e escolas adventistas (1940 e 1970)

Fonte: Projeto Brasil (AZEVEDO, 1973)

No início da década de 1970, uma crise abalou o crescimento numérico da rede educacional adventista. Com a mudança radical na estrutura do ensino primário para oito séries implementada pelo Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB – Lei nº 5692/71), ocorreu uma diminuição de 30% das unidades de ensino da rede adventista período entre 1969 e 1973, pois “muitas escolas primárias adventistas de quatro séries, com poucas salas e área física insuficiente, não possuíam infraestrutura adequada para serem transformadas em escolas de 1° Grau completo com oito séries” (PAULO AZEVEDO, 2004, p. 36).

A rede adventista de educação retomou o crescimento, mas surgiu outra crise na segunda parte da década de 1990, dessa vez causada por problemas econômico-financeiros e atingindo novamente a educação adventista (AZEVEDO, 2004, p. 41), conforme tabela 3: 1940 1945 1950 1955 1960 1965 1970 Igrejas 106 123 142 193 279 425 584 Membros 13.849 19.597 27.367 39.697 58.759 97.025 161.187 Escolas 94 136 165 180 244 322 321 Alunos 3.201 5.677 5.386 6.505 10.399 14.907 18.392 Escola/ Igreja (%) 88,7 110,6 116,5 93,3 87,5 75,8 54,5

Tabela 3 - Desenvolvimento da educação adventista no Brasil (1970-2003) Educação Adventista no Brasil – 1970 a 2003

Nº de Igrejas Nº de membros Nº de Escolas Nº de alunos % de igrejas com escolas 1970 584 161.187 321 18.392 54,9% 1971 603 173.837 296 16.321 49% 1972 638 184.663 268 16.373 42% 1973 653 194.124 240 19.146 37% 1974 677 204.076 279 22.904 41,2% 1975 697 215.477 290 24.097 41,6% 1980 851 298.433 372 54.312 43,7% 1985 1.235 402.480 411 71.259 33,2% 1987 1.499 457.141 411 86.983 27,4% 1988 1.634 483.065 415 86.939 25,4% 1990 1.883 541.186 428 97.686 22,7% 1995 2.741 751.922 465 111.336 17% 1996 2.925 796.396 477 104.133 16,3% 1997 3.140 842.934 495 102.833 15,8% 1998 3.378 882.352 475 100.452 14% 1999 3.599 936.575 447 99.714 12,4% 2000 3.841 993.876 397 94.408 10,3% 2001 4.121 1.063.961 379 95.433 9,2% 2002 4.464 1.152.501 357 96.312 8% 2003 4.658 1.189.897 337 92.587 7,2% Fonte: (AZEVEDO, 2004, p. 34-35)

Percebe-se, assim, que houve um crescimento até 1997, quando atingiu um total de 495 escolas. A crise foi tão intensa a ponto de nos seis anos seguintes ocasionar um decréscimo de 32% no número de estabelecimentos, reduzindo, no mesmo período, o número de alunos em 10%. Além de ter atingido o menor percentual na proporção escola/igreja no ano de 2002.

Tabela 4 - Dados educação adventista no Brasil (2014)

Nível ALUNOS DOCENTES INSTITUIÇÕES

Fundamental 103.805 7.491 307

Médio16 26.302 2.334 151

Superior17 12.949 869 7

Total 153.805 7.491 314

Fonte: Divisão Sul Americana (2014)

Interessante destacar que das 307 instituições educacionais adventistas no Brasil, 78 estão localizadas no estado de Estado de São Paulo,18 representando 25,4% da rede de educação básica adventista. No que diz respeito ao Ensino Superior o estado paulista responde por 42,85% das instituições.