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CAPITULO 1 ASPECTOS GERAIS DO SISTEMA DE EDUCAÇÃO ADVENTISTA

1.4 EDUCAÇÃO ADVENTISTA EM SÃO PAULO

A partir desse cenário, é interessante verificar como ocorreu a expansão da educação privada no Estado de São Paulo, especialmente o caso do desenvolvimento da educação confessional adventista. As tradições religiosas estadunidenses que foram pioneiras da educação protestante no estado de São Paulo – como os metodistas, presbiterianos e batistas – chegaram ao Brasil já bem estruturadas nos Estados Unidos da América, como denominações representativas e respeitadas no cenário religioso estadunidense (MESQUIDA, 1994, p. 114). Dessa forma, quando investiram seus esforços missionários no Brasil contaram com o apoio do governo dos Estados Unidos da América, além da receptividade e apoio de políticos liberais e republicanos, e de maçons e anticlericais, contrários à predominância da mentalidade e métodos conservadores católicos, destinados à formação da elite brasileira (MESQUIDA, 1994, p. 114).

De modo diferenciado, a fundação do sistema educacional adventista no Brasil fez parte da empreitada missionária de uma recém-formada denominação protestante estadunidense, mas que não possuía ali expressão política, não contando também com o apoio de elites dominantes no Brasil do final do século XIX (SILVA, 2001, p. 127) e, portanto, desconsiderada no cenário religioso estadunidense. Ao chegar ao Brasil, a educação adventista buscou atender um grupo específico na região sul:

a demanda social da educação adventista em seus primórdios no Brasil era constituída por jovens da emergente classe média rural, pequenos proprietários agrícolas nas colônias alemães, que enviavam seus filhos para receber educação ministrada no idioma de seus ancestrais.

Sendo assim, o adventismo cresceu rapidamente nos estados de maior presença imigrante alemã na região sul, além do Espírito Santo e Minas Gerais. Por outro lado, no estado de São Paulo, como já demonstrado, o crescimento inicial foi inexpressivo, tendo em vista que o número de membros nos primeiros anos do século XX era quase o mesmo de 1895, de acordo com Hosokawa (2001, p. 65). Se não havia igrejas, por conseguinte, não haveria escolas.

A mudança começou a ocorrer em 1907, momento em que a IASD decidiu pela compra de uma propriedade de uma nova escola, em uma região mais centralizada do território brasileiro, aproveitando-se que, pouco tempo antes, a decisão dos líderes denominacionais havia sido de estabelecer a gráfica adventista nas proximidades de São Paulo, considerando o “acelerado crescimento industrial em vias de ultrapassar a Capital Federal, que ainda detinha a maior população urbana no Brasil” (HOSOKAWA, 2001, p. 73, 82).

Após ser considerada a escolha de São Bernardo como local para implantação da escola em razão da proximidade com a cidade de São Paulo (MORSE, 1970, p. 360 e 361) e dos preços acessíveis do terreno. Mesmo após relatório favorável do líder da denominação (SPIES, 1908, p. 2) o plano não se concretizou. Somente em 1915 foi comprada pela IASD uma propriedade na área onde hoje se encontra o Capão Redondo. Ali foi estabelecida a nova unidade de ensino adventista, a pioneira da rede adventista de educação adventista no estado de São Paulo, adquirindo notoriedade por constituir-se, posteriormente, a primeira instituição de ensino superior adventista no país. Nas décadas seguintes, dezenas de instituições educacionais adventistas foram instaladas em todo o território nacional, porém, mas com ênfase no Estado de São Paulo.

É importante novamente ressaltar que o crescimento da educação adventista não foi instantâneo. Depois de iniciar o funcionamento da primeira unidade escolar, em 1915, no Capão Redondo, somente em 192323 a segunda escola criada no Estado, chamada "Escola Adventista de São Paulo", na área central da cidade de São Paulo. A seguir vieram: Itararé, em 1924, e Santo Amaro, na capital, em 1932. Em 1934 a escola adventista de Santo André24 passou a funcionar ininterruptamente

23 No dia 20 de março de 1923, foi inaugurada a Escola Adventista São Paulo no centro da cidade, localizado na Avenida São João.

24 Convém lembrar que, em abril de 1923, os membros da Comissão da Igreja da Estação de São Bernardo, atual Igreja Adventista de Santo André, votaram as atividades de uma escola que funcionou inicialmente nas dependências da casa nº 9 no antigo sítio da Casa Publicadora Brasileira,

e, em 1989, segundo Azevedo (2004, p. 58), entrou para a história da rede adventista ao ser o primeiro colégio adventista de externato com Ensino Médio no território paulista.

Portanto, no ano de 1934, quase 20 anos depois do início das atividades da educação adventista no Estado de São Paulo, havia 5 escolas – sendo três na capital, uma no ABCD e uma no interior – formadas por seis professores e 153 alunos. A partir daí o crescimento se tornou mais significativo.

Tabela 12 - Evolução da educação adventista no Estado de São Paulo: unidades escolares

Ano Unidades Professores Alunos

1940 21 23 952 1950 28 35 1110 1960 33 42 1171 1965 48 73 2273 1970 59 117 2782 1974 63 188 3938 1975 67 228 5083 1977 85 400 9850 1995 93 1623 32869 Fonte: (AZEVEDO, 1996)

Registra-se ainda que em 1997 foi aberto o ensino médio em Diadema, SP (AZEVEDO, 2004, p. 59); no ano seguinte isso ocorreu em São Caetano do Sul (AZEVEDO, 2004, p. 60); e em 2000 em São Bernardo do Campo, SP.25 Em 1995,

dos 32.869 alunos da rede paulista da educação adventista, 28.005 estudavam o ensino fundamental, 3.593 no ensino médio e 1.271 no ensino superior.

No ano de 2002, de acordo com Paulo Azevedo (apud TIMM, 2004, p. 57), já existiam no Brasil 123 instituições adventistas que ofereciam o ensino médio. Destas, 51 estavam estabelecidas no Estado de São Paulo, correspondendo a 41,46% dos estabelecimentos adventistas de Ensino Médio no Brasil.

Em 2014, segundo a administração da educação adventista (DSA, 2014), dos 314 estabelecimentos educacionais da rede adventista no Brasil, 78 estão localizados no Estado de São Paulo, o que representa 24,84% de todas as

hoje Shopping ABCD, com o nome de " Escola Tanque dos Alemães". Funcionou durante um ano apenas e reiniciou as suas atividades, oficialmente, em 02 de março de 1934, de forma ininterrupta. Disponível em: <http://bit.ly/1JyhirJ>.

25 Atualmente, a Educação Adventista em São Bernardo do Campo, SP, oferece apenas até o Ensino Fundamental II.

instituições educacionais adventistas brasileiras. Vale comentar que somente a cidade de São Paulo e sua região metropolitana contam com 33 colégios adventistas, o que representa 21,85% da quantidade nacional de estabelecimentos da rede que oferecem o ensino médio, de acordo com DSA (2014).

Em 2014, a rede adventista de educação paulista, somados os níveis fundamental e médio, contava com 67.85926 de alunos matriculados, número correspondente a 5,29% de todos os alunos matriculados em escolas particulares, leigas ou confessionais, no estado de São Paulo, distribuídas em 78 estabelecimentos educacionais em todo o território (UCB, 2014).

Com base neste panorama sobre o desenvolvimento da educação adventista, em seu aspecto numérico e estrutural, convém o esclarecimento de Schünemann (2009, p. 78) de que atualmente o crescimento da rede adventista de educação “não se dá mais tanto no número de escolas, mas, acima de tudo, na ampliação e construção de grandes colégios, muitos dos quais já não estão mais nas dependências da igreja”27.

Quanto ao perfil religioso do corpo discente, Schünemann (2009) esclarece que dois terços de alunos da rede adventista presente no Estado de São Paulo é de tradição católica ou evangélica. Tal informação confirma uma estimativa mundial de que o sistema adventista de educação calcula possuir em suas salas de aula um elevado potencial evangelístico, pois o porcentual de jovens provenientes de famílias não adventistas que frequentam escolas adventistas é sempre superior a 50% e, muitas vezes, ultrapassa a 90%, segundo Knight (2006, p. 6), caracterizando os alunos adventistas como minoria nas escolas adventistas.

Mas importa advertir que essa realidade é bastante diversificada, se considerarmos regiões, principalmente em países desenvolvidos, onde a oferta pública é satisfatória, e a educação adventista se torna pouco atraente, sendo composta quase que exclusivamente por alunos adventistas. Todavia, em lugares onde a carência por serviços educacionais de qualidade é grande, há marcante presença de alunos não adventistas nas instituições da denominação, como é o caso brasileiro e de outros países em desenvolvimento.

26 Dados fornecidos por UCB (2014).

27 Essa análise torna-se importante ao observar que, em 1996, Azevedo (1996, p. 34) afirmava que a média de área de terreno das unidades escolares adventistas em São Paulo era de 3.700,23 m2, medidas não mais compatíveis com a ultrapassada estrutura de escolas paroquiais.

Tal informação corrobora o que a Associação Brasileira de Instituições Educacionais Evangélicas (ABIEE, 2007) afirmou: cerca de 60% dos alunos matriculados nas escolas confessionais evangélicas não são provenientes das tradições religiosas mantenedoras.

1.5 EDUCAÇÃO ADVENTISTA NO ABCD PAULISTA: PERFIL SOCIOECONOMICO