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2 CAMPONESES E AGRONEGÓCIO: CONCEITO, RELAÇÃO COM A TERRA E

2.5 Resistência camponesa

Um movimento de resistência emerge quando há forças contrárias que tencionam diante de um mesmo território. A luta é elaborada de inúmeras formas e, no caso do campo brasileiro, ela se perpetua nos campos da política, dos ideais, de diferentes formas de ver o bem-estar social e principalmente pelo levante camponês diante da sua perda de identidade e da dificuldade de adaptar-se a uma nova forma de produção.

É fato que o agronegócio é uma parte do setor agrícola-industrial que chama a atenção do Estado por conta de sua circulação para o mercado internacional. Essa força econômica torna-se mais evidente em tempos de crise; o Brasil sofreu em 2015 com um abalo econômico que afetou todos os seus setores econômicos. Isto fez com que o Produto Interno Bruto do país entrasse em situação de queda progressiva, com doze trimestres de baixas consecutivas (a contar de 2015) e somente em 2017 temos um movimento ascendente. Nesse quadro de caos, tanto financeiro quanto social e político, o agronegócio segue na contramão e mantém um ritmo de constante crescimento, chegando a representar 23,0% de todo PIB nacional (IBGE, 2017). Contudo, o “sucesso” econômico da agricultura capitalista assenta-se em subsídios estatais que sustentam as práticas monocultoras (como, por exemplo, as isenções fiscais).

Além de todos esses números, o agronegócio, não diferente da produção camponesa, depende de inúmeros fatores, como o clima (que favoreceu a safra principalmente em 2017) e os investimentos na área. Contudo, com o seu foco voltado para incrementar o PIB interno a partir de exportações de produtos primários, a que passo anda o abastecimento da população brasileira?

Obviamente parte do setor das grandes empresas agropecuárias também é voltada para o mercado interno; mas, segundo Molin (2017), o agronegócio vê as oportunidades de crescimento nas exportações, já que responde por 40,0% do mercado brasileiro voltado para o exterior. Esse desempenho foi conseguido pelo crescente volume das áreas plantadas, pelas inovações tecnológicas constantes e pela grande transferência de renda para o grande produtor capitalista.

Nesse cenário altamente favorável ao crescimento do agronegócio, como o movimento de resistência do camponês se comporta? A construção da luta vem sendo elaborada há tempos e não vislumbra o fim tão próximo. É necessário, portanto, não relegar a alcunha de produção “atrasada” à pequena unidade familiar; a valorização vem em forma de

incentivos para a construção de uma seguridade produtiva e cultural do camponês de forma global, e não só do que é identificado pela lei como agricultor familiar.

Mesmo encontrando barreiras para sua manutenção, a unidade agrícola familiar atende ao mercado interno de forma satisfatória. Segundo IBGE (2015), a pequena produção foi responsável, em 2015, por 70,0% dos alimentos do consumidor brasileiro. Ainda segundo o IBGE, as maiores produções na agricultura familiar foram: mandioca com 87,0%; feijão com produção de 70,0%; carne suína com 59,0%; leite com 58,0%; carne de aves com 50,0%; e milho com 46,0%. Os dados confirmam que o camponês atende satisfatoriamente à demanda que a população tem por certos tipos de produtos.

Nesse caso, há relevante contrapartida governamental quando se trata de projetos; contudo, ainda há muito que ser feito para que haja justiça social no campo do Brasil, pois o acesso às linhas de crédito por muitas vezes não contempla famílias deslocadas de assentamentos e que não têm vínculos com cooperativas de produtores: para estas são relegadas o afastamento das estatísticas econômicas governamentais.

Bandeira (1978, p.11) reforça esse argumento com a seguinte afirmação:

O investimento em capital social básico tende a ser feito mais racionalmente, podendo, portanto, contribuir significativamente tanto para o desenvolvimento industrial como para os melhoramentos agrícolas. Uma agricultura igualitária provavelmente está consciente da necessidade de certos serviços públicos e, sendo provável que prevaleça um ambiente sócio-político em que o Governo seja sensível à demanda destes serviços que uma maioria dos proprietários da terra desejam e que estão dispostos a pagar através de impostos [...]. Deve-se ter em conta que o modelo oligárquico da política agrária pode gerar formas de apropriação e utilização de excedente agrícola diferenciadas para diversas regiões. Tal diferencial depende, em grande parte, da própria estrutura econômico-social de cada região, sobretudo, no que concerne a participação da agricultura na economia da área, o grau de dependência em relação a outras áreas e a estímulos daqueles que se apropriam da maior parte do excedente para aplica-lo em investimento produtivo ou aperfeiçoar sua propriedade.

Por mais que Bandeira (1978) tenha dirigido os seus argumentos para uma realidade piauiense na década de 1970, o seu estudo mostrou-se atual. O que é claro é que a resistência camponesa não deve ser só pela reinvindicação ao seu território, mas, sim, uma forma de encontrar novos caminhos para manter-se no sistema econômico-político vigente. Para tanto, é necessário o fortalecimento da classe camponesa e o aprimoramento dos esforços públicos para que seja possível a aplicação de políticas efetivas de fomento à atividade do pequeno produtor.

É importante ressaltar, todavia, que cada plano de ação deve ser personalizado para determinada região; como historicamente o universo de vida camponês culminou em distintas formas de resistência10, é notável que seja identificada a real necessidade local.

10 Muitas formas de resistência de comunidades tradicionais marcaram a história do campo no Brasil.

Normalmente elas são marcadas principalmente pela organização dessa população diante das adversidades surgidas com o avanço dos grandes produtores. Oliveira (2002) apontou inúmeros destas organizações, a saber: nações indígenas contra a demarcação de terras; as constantes brigas dos posseiros pela terra de trabalho; as lutas contra a peonagem; os embates de camponeses contra das desapropriações movidas pelo Estado e contra a indústria agropecuária; o movimento dos brasiguaios; os movimentos dos boias-frias, dos sindicalizados da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e do MST; e o movimento dos seringueiros na Amazônia.

3 CARACTERÍSTICAS DO NOVO CAMPONÊS