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A Brandoa enquanto bairro e posteriormente como freguesia, não pode estar dissociada do surto de construção clandestina que caracterizou algumas zonas limítrofes de Lisboa no final da década de 50 e início da década de 60, chegando mesmo a ser considerada o “maior bairro clandestino da Europa”.

O Núcleo Urbano da Brandoa e a sua génese ilegal estão marcados pela ausência de políticas de habitação, por parte do Estado, configurada pela procura que decorre de fortes fluxos migratórios para a AML; o mercado habitacional que não tem respostas para estas camadas da população, surgindo, assim, um mercado paralelo “clandestino” de génese ilegal.

Até ao início dos anos 70 não havia no bairro saneamento básico, electricidade, nem água canalizada ou qualquer equipamento social. O número de residentes, contudo, continuava a aumentar. Só com a criação da freguesia em 1980 se iniciaram acções concretas com o objectivo de melhorar as condições de vida da população residente. Foram criados diversos equipamentos sociais, escolas e centro de saúde.

A freguesia desde o início, que se caracterizou pela força e importância do movimento associativo que internamente ou através da pressão aos poderes públicos, desenvolvia acções de apoio à população residente, colmatando as lacunas de equipamentos e serviços. Até 1997, residiam na freguesia mais de 35.500 habitantes e faziam parte os bairros da Brandoa, Azinhaga dos Besouros, Casal de Alfornelos, Rua de Alfornelos, Urbanização de Alfornelos e Bairro 11 de Março39.

37 Ver descrição destes programas, nas pag. 66-71.

38 Os dados aqui referenciados baseiam-se: no Diagnóstico Social da Freguesia da Brandoa, elaborado pela

Comissão Social de Freguesia; Informação do SIG – Serviço de Informação Geográfica da CMA e nos relatórios da equipa do Gabinete Técnico da CMA, no Casal da Mira.

39 Brandoa, de génese ilegal; Azinhaga dos Besouros e Casal de Alfornelos, de barracas; Urbanização de

Alfornelos, de promoção privada; Bairro 11 de Março, Projecto no âmbito do Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL), motivado pelas cheias.

Segundo dados do Diagnóstico Social/2004, em 1997 com a reorganização administrativa do Município da Amadora, a freguesia perde então um elevado número de população, assim como de eleitores, sendo, em 2004, de cerca de 16000 habitantes.

Com o realojamento no bairro Casal da Mira, iniciado em Outubro de 2003 e, concluído em 2009, situado na freguesia da Brandoa, verifica-se um aumento da população da freguesia, em cerca de 2.500 pessoas.

Quanto à estrutura etária, verifica-se que a população é essencialmente adulta com tendência para o envelhecimento.

É de referir que inicialmente a Junta de Freguesia dispunha de um espaço de atendimento, no Gabinete Técnico da Câmara Municipal, no Casal da Mira, que por decisão do Executivo da Junta de Freguesia esteve desactivado durante cerca de dois anos,

tendo sido reaberto, em 2009, numa loja no bairro atribuída à Junta de Freguesia. No que se refere às acessibilidades pode considerar-se que o centro da freguesia

tem uma boa rede de transportes, o que já não acontece no Casal da Mira.

Quanto à área da saúde, existe actualmente uma extensão do Centro de Saúde da Venda Nova, localizada na Brandoa. As pessoas residentes no bairro Casal da Mira estão inscritas na extensão da Brandoa e no Centro de Saúde da Venda Nova, havendo também algumas pessoas que, antes de virem para o bairro recorriam ao Centro de Saúde da Pontinha40, mantendo-se aí ligadas, no pós-realojamento.

No âmbito da acção social, foram identificados os serviços que prestam apoio à população e que são manifestamente insuficientes ao nível de respostas.

A oferta existente, para os idosos é reduzida, existindo, na freguesia, duas instituições que trabalham com idosos41. A Junta de Freguesia também dinamiza projectos de intervenção com esta faixa etária, nomeadamente na ocupação dos tempos livres, não se registando a adesão de moradores do bairro Casal da Mira.

É, no entanto de referir que os habitantes do Casal da Mira não participam nem beneficiam destas actividades, apoios e respostas, talvez pela deficiente ligação ao Centro da Freguesia e no que se refere ao apoio domiciliário, as duas instituições recusam-se a prestar apoio no Casal da Mira, invocando falta de meios e a distância.

40 Este Centro de Saúde faz parte do concelho de Odivelas.

41 Centro Social Paroquial da Brandoa, que inclui as valências de Lar, Centro de Dia e Apoio domiciliário e

a União de Reformados Pensionistas e Idosos da Brandoa, que funciona como Centro de Convívio, com refeições.

Um aspecto a salientar prende-se com a ligação do bairro à envolvente e integração na freguesia. As características desta em nada influenciam a dinâmica interna do bairro, quer pelas características da população realojada que difere da população que residia, anteriormente na freguesia, quer pela localização geográfica e territorial que os afasta e não se vislumbram indicadores em sentido contrário, que pudessem viabilizar a sua presença em simultâneo nos mesmos locais ou a usufruir dos mesmos eventos e/ou equipamentos.

A freguesia, já não corresponde ao núcleo da Brandoa, que teve uma génese ilegal e que foi crescendo a partir das migrações internas, oriundas de Lisboa, Alentejo e Beira Alta. Actualmente existe uma grande heterogeneidade na composição socio-económica e cultural do tecido social.

Face às carências de equipamentos de apoio, decorrentes de um crescimento desordenado da freguesia, penalizador das condições de vida da população, colocava-se a necessidade de desenvolvimento de uma estratégia de planeamento com vista à reconversão, requalificação e legalização da Brandoa, como bairro de génese ilegal.

É neste contexto, que surge o PROQUAL42- Programa Integrado de Qualificação das Áreas Suburbanas da AML, que constitui um dos programas de aplicação de fundos estruturais da União Europeia, com vista a requalificação urbana e melhoria das condições de vida das populações. Uma dessas intervenções constitui o PROQUAL Brandoa.43

Em Maio de 2001, foi criado o Gabinete Especial de Recuperação da Brandoa – GERBRA com a finalidade de coordenar a execução do processo de qualificação urbana da

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O PROQUAL - Programa Integrado de Qualificação das Áreas Suburbanas da AML integrou sete operações na AML: Amadora, Brandoa, Loures, Sacavém/Prior Velho, Moita, Baixa da Banheira/Vale da Amoreira, Odivelas, Oeiras, Outirela/Portela – Algés, Setúbal, Bela Vista e envolvente, Vila Franca de Xira, Bom Sucesso/ Arcena.

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O PROQUAL Brandoa definiu como objectivos estratégicos:

- Requalificar a área de intervenção, ao nível social e urbanístico, contrariando a tendência actual, nomeadamente no que respeita às situações de marginalização, pobreza desqualificação social e consequente exclusão, permitindo o inicio de um processo de desenvolvimento sustentado e integrado; - Intervir a nível do ambiente urbano e do espaço público, da educação, dos equipamentos sociais, da formação e integração profissional, da empregabilidade, da dinamização das actividades económicas e da segurança estrutural do edificado;

- Melhorar as condições de habitabilidade, de salubridade, de sociabilidade e de segurança, dinamizar o tecido económico e associativo, promover a integração social da população, reforçar o sentimento de pertença e a identidade local.

Brandoa. Entre 2003 e 2008, o GERBRA, sedeado na Brandoa, dirigiu o PROQUAL - Programa Integrado de Qualificação das Áreas Suburbanas da AML com a implementação de 19 projectos, criando uma enorme centralidade na Brandoa.

No âmbito do programa, foi desenvolvida uma intervenção em algumas zonas da freguesia, que vieram trazer uma nova face criando zonas verdes e de lazer, construção da 2ª fase do edifício da Junta de Freguesia (Biblioteca e Sala Polivalente); construção de um Mercado Local; a construção do Centro da Juventude da Amadora, que permitiu requalificar parte de um quarteirão interior da Brandoa; construção de uma Escola do Ensino Básico do 1º Ciclo integrada com creche, jardim-de-infância e ATL, dois polidesportivos descobertos e um pavilhão gimnodesportivo; construção do Parque Urbano da Parreirinha, requalificando o espaço público; efectuaram-se, também operações urbanísticas que permitiram requalificações de algumas ruas, a criação de zonas de lazer, criação de parque infantil. Sem menosprezar a importância de todas estas intervenções, o Forum Luís de Camões constituiu um dos projectos mais emblemáticos, partindo da realidade caracterizada por graves carências a nível de equipamentos colectivos e de carácter social, cultural e desportivo, bem como de zonas verdes de lazer, procedeu-se à remoção de um núcleo de construções abarracadas, construiu-se um espaço público de qualidade, procurando-se criar uma centralidade forte na Brandoa. Este edifício, de arquitectura moderna, integrado num grande espaço verde, inclui as seguintes valências: um Centro de Dia e de Lazer para Idosos; lavandaria; cabeleireiro e barbeiro; salas de convívio; ateliês; Jardim de Infância e ATL; um pólo da Escola Intercultural e das Profissões e do Desporto; Gabinete Técnico Local da CMA; instalações da Cruz Vermelha; um pavilhão multi-usos, com destaque para a Banda Desenhada. Esta intervenção veio alterar profundamente a imagem da Brandoa, dotando-a de excelentes equipamentos.

Tal como refere Antunes, sobre a metodologia do programa, “ (….) foram identificadas prioridades estratégicas de requalificação urbana que promovem a equidade territorial, num tecido urbano pleno de fissuras socio-urbanísticas e que, simultaneamente, incentivam o desenvolvimento do potencial humano, através da mediação social e cultural” (Antunes, 2011:101). Salienta-se, como momento relevante pela aproximação e envolvimento dos actores locais, o processo de realojamento, de um conjunto de organizações locais da freguesia, associações, IPSS, antes, instaladas em pré-fabricados, no Fórum Luis de Camões/Centro Cívico.

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