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A teoria geral dos sistemas de Von Bertalanffy (1971) é uma teoria biológica, que considera que todos os organismos são sistemas. Esta teoria defende que as pessoas dependem de sistemas no seu ambiente social imediato para conseguirem uma vida satisfatória. Estes sistemas podem ser informais, formais e societários. O modelo consiste na análise das interrelações recíprocas e complexas que se estabelecem entre esses sistemas.

Na sua aplicação, a teoria geral dos sistemas pode ser considerada como uma ciência holística, pois influenciou as ciências naturais, as ciências humanas, as ciências políticas e sociais, assim como a informática, a inteligência e a ecologia.

Viscarret (2009:264, 265) identifica três conceitos básicos da teoria geral dos sistemas, que constituem três paradigmas. Em primeiro lugar, a totalidade, pois “o todo é mais do que a soma das partes”. Todo o sistema tem um ou mais objectivos e inclui componentes que interactuam e interagem, de forma a atingir uma meta, um estado final ou um estado de equilíbrio. O segundo paradigma importante da teoria sistémica traduz-se na relação entre o todo e o ambiente social. O sistema prossegue um objectivo, pelo que os seus componentes ou partes integrantes são interdependentes, estabelecendo-se um fluxo de entradas e saídas, nas quais se baseia a sua relação com o ambiente social. Este segundo paradigma explica a existência de uma grande variedade de sistemas e de tipologias para os classificar. O terceiro paradigma sistémico centra-se na autorreferência dos sistemas, que tem a ver com a complexidade pelo elevado número e tipo de interacções, de conexões possíveis, que tornam difícil estabelecer relações lineares. Esta complexidade deriva, em grande parte do aumento de processos de diferenciação que se verificam nas sociedades modernas.

Tal como afirma Malcolm Payne (1994), esta teoria tanto pode ser aplicada aos sistemas biológicos como aos sistemas sociais (grupos, famílias e sociedades), na medida em que, um ser humano é parte de uma sociedade e argumenta que o valor da teoria dos sistemas está no facto de lidar com “totalidades”, em vez de tratar partes do comportamento humano ou social, como fazem outras teorias.

Os modelos sistémicos de intervenção do serviço social mais relevantes são o modelo de intervenção social sistémico, apresentado por Pincus y Minaham (1973) e o modelo sistémico ecológico desenvolvido por Germain e Gitterman (1980).

Pincus y Minaham (1973) desenvolveram o modelo de intervenção social sistémico, que pretendia constituir um modelo de referência, de actuação para todo o tipo de prática profissional de serviço social. Nesse sentido, o modelo baseado na teoria geral dos sistemas, partia do princípio de que as pessoas para realizarem os seus planos e para a superação das dificuldades dependem do apoio dos sistemas sociais existentes, devendo o Serviço Social centrar a sua atenção e actuação nos ditos sistemas sociais. Segundo os autores, existem três sistemas básicos: os sistemas de recursos, informais ou naturais, como a família, os amigos, os vizinhos, os companheiros de trabalho; os sistemas formais, como as organizações de que o indivíduo faz parte ou grupos comunitários, sindicatos, partidos políticos, associações de moradores, etc. e os sistemas sociais, como as escola, a saúde, etc (Viscarret (2009:273, 274).

O Serviço Social assim entendido, baseia-se nas interacções entre as pessoas e sistemas num determinado contexto. A definição dos autores do modelo acentua esta conexão entre as pessoas e sistemas de recursos e sobre os problemas que enfrentam, tanto as pessoas individuais, como os sistemas, na medida em que o serviço social apoia as pessoas que se encontram em situações difíceis, promovendo o acesso a recursos e serviços que lhes permitam superar as dificuldades com que se deparam, apoiando-as, na realização das suas expectativas e ideais e com vista ao seu bem-estar. O Serviço Social ocupa-se, igualmente da interacção das pessoas com as suas redes e sistemas de recursos (Viscarret, 2009: 275).

A teoria ecológica dos sistemas pode ser aplicada no desenvolvimento social e articula-se bem com a estrutura institucional e com as teorias psicológicas, mas integra-se num enquadramento mais amplo.

Na prática do Serviço Social, a teoria dos sistemas ecológicos191, também chamada de “modelo da vida” desenvolvido por Germain e Gitterman (1980) “vê as pessoas como uma constante adaptação num intercâmbio com muitos aspectos diferentes do seu ambiente. Ambos mudam e são mudados pelo ambiente, onde nos podemos desenvolver através de mudanças que são apoiadas pelo ambiente, podendo assim dizer-se que existe uma adaptação recíproca. Os problemas sociais (tais como a pobreza, a discriminação ou a estigmatização) poluem o ambiente social, reduzindo a possibilidade de uma adaptação recíproca (…..). Os sistemas da vida (individualizados e em grupo) devem manter um ajustamento com o seu ambiente. Todos precisamos de imputs apropriados (como informação, comida e recursos) para nos mantermos e desenvolvermos” (Payne, 2002: 205).

Quando as transacções perturbam o equilíbrio adaptativo resulta o stress, e daí surgem problemas no entrosamento entre as nossas necessidades e capacidades e o ambiente. O stress resulta de transições de vida, pressões ambientais e processos interpessoais. Este modelo considera que os problemas surgem da dificuldade de adaptação das pessoas às alterações nas suas vidas e valoriza a cognição e a capacidade de controlar o mundo exterior.

Ao relacionarmos esta teoria com o contexto do estudo, podem observar-se estas situações, nomeadamente na adaptação da população ao novo espaço – Casal da Mira, em consequência do realojamento, tal como foi referido no primeiro capítulo.

191

Níveis ou sistemas ecológicos (Brofennbrenner, 1996):

Micro-sistema: São os cenários imediatos nos quais ocorre o desenvolvimento do indivíduo. Estando mais próximo do indivíduo é aquele em que este pode intervir mais directamente, e que, por seu turno, mais directamente intervém no seu processo de desenvolvimento.

Meso-sistema: São relações entre os micro-sistemas, nos quais o indivíduo experiencia a realidade. Mede-se a riqueza de um meso-sistema pelo número e pela diversidade e qualidade das suas conexões.

Exo-sistema: São contextos que não implicam a participação activa do indivíduo, mas onde ocorrem situações que afectam ou são afectadas pelo que acontece no contexto imediato em que o indivíduo se movimenta.

Macro-sistema: Refere-se à organização geral do mundo, de um determinado país, tempo histórico, etc. Todos os sistemas anteriores são influenciados pelo macro-sistema Contexto cultural, societal e ecológico.

“A primeira sensação que tive foi horrível……..nós não queríamos sair de lá porque tínhamos as nossas casas, tínhamos as nossas raízes, fizemos lá uma família e queríamos viver lá…….a Damaia é um bom sítio para morar.” (Margarida, 38 anos) A prática do modelo de intervenção apresentado tem como objectivo principal, desenvolver as capacidades adaptativas das pessoas e influenciar os seus ambientes para

facilitar o processo de adaptação. Reflectindo sobre a aplicabilidade das teorias apresentadas ao contexto do estudo, o

modelo ecológico apresenta algumas vantagens (Trevithick, 2005), que podem aplicar-se à população residente no bairro Casal da Mira:

- Permite lidar com a complexidade de factores que se desenvolvem no indivíduo, evitando assim, avaliações e intervenções simplistas;

- Proporciona um quadro teórico que permite articular as variáveis que se entrecruzam no desenvolvimento pessoal e no contexto;

- Permite analisar o impacto das políticas governamentais no dia, a dia dos indivíduos – um aspecto muito importante nas questões da exclusão social e pobreza.

- Não individualiza os problemas e as soluções;

- Promove o desenvolvimento de uma relação mais igualitária e não autoritária entre os profissionais e o cidadão - utente com vista ao desenvolvimento de uma relação positiva e significativa entre eles.

Face a uma situação - problema, os profissionais deverão analisar os factores de risco e os factores de protecção presentes nos diferentes sistemas, de modo a eliminar ou atenuar os primeiros e a potenciar os segundos.

Indo ao encontro deste modelo de intervenção do Serviço Social, uma assistente social, afirmava:

“Os técnicos de serviço social intervém com as pessoas, para trabalhar as competências, para melhorar a sua integração social e para que estas tenham uma melhor qualidade de vida.” (AS 7)

Apesar das vantagens do modelo, também existem constrangimentos, na sua aplicação. Para além da necessidade de formação dos profissionais, é necessário existirem os recursos para que a intervenção seja bem sucedida.

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