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Na actualidade, as transformações da família constituem um tema de grande interesse social e político. A família surge, geralmente, conotada com uma variedade de imagens e estruturas que torna a definição do conceito imprecisa no tempo e no espaço. Quer o contexto histórico quer o contexto sociocultural fazem da família um conceito com alguma variabilidade, que está em mudança, aumentando o número de divorciados e separados, assistindo-se ao envelhecimento da população.

Têm sido realizados estudos demográficos que apresentam o conhecimento sobre as transformações da família, salientando-se o facto de haver uma passagem dum modelo conjugal hegemónico, baseado no matrimónio e na união indissolúvel, para novas formas de relação e convivência muito diversificadas.

Roigé (1996) refere que uma análise das transformações demográficas deve ter em conta o carácter conjuntural das práticas familiares. Assim, a forte redução da natalidade na Europa pode ser explicada por causa exógenas, como a difusão da contracepção, a integração da mulher no mercado de trabalho, as dificuldades económicas e a falta de equipamentos para as crianças, financiados pelo Estado.

Outra questão importante é o facto de se generalizar a ideia de que se está a desenvolver uma uniformização ocidental da família e que as diferenças relativas à nupcialidade, fecundidade e divórcio seriam consequência de ritmos distintos que se iriam harmonizando à medida que avançasse o processo de modernização económica e social. No entanto, um conhecimento mais profundo das culturas do parentesco e das estratégias familiares conduz a outras conclusões, pois existem factores que interferem na estrutura da família e no papel da instituição familiar na sociedade, que se prendem com a história e a cultura dos diferentes países.

Observa-se assim, a existência de diferentes tipos de famílias, variando muito segundo a zona geográfica. Assim, numa parte da Europa, a família está a reduzir drasticamente a fecundidade, enquanto, que noutras zonas, o acento baseado na relação entre mãe e filho e no relevo doutras instituições torna-se favorável à manutenção da fecundidade e a uma recuperação do indicador conjuntural.

A “família nuclear”, que consiste num grupo familiar constituído pela mulher e o marido (ou um dos dois) e os filhos dependentes. Embora nas sociedades modernas ocidentais ainda seja frequente encontrar “famílias extensas”165, a “família nuclear” é actualmente a estrutura familiar dominante (Giddens, 1997: 879, 880)166.

No entanto a família encontra-se num processo de grandes transformações, tanto do ponto de vista interno como externo, pois a família passa por diferentes estádios segundo as fases do ciclo de vida familiar, desde a sua criação e formalização, adquirindo a importância a presença de outros modelos familiares que contribuem para o pluralismo

165 grupo familiar que consiste em duas ou mais gerações de parentes que vivem num mesmo espaço

residencial (Giddens, 1997: 879, 880). 166

É, também, de referir que no ocidente, as “famílias monoparentais” têm vindo a tornar-se cada vez mais comuns, essencialmente devido ao fenómeno do aumento do número de divórcios/separações, sendo que são, maioritariamente, constituídas por mulheres com filhos. Também as “famílias unipessoais” têm relevância na nossa sociedade, derivando, basicamente, da viuvez, divórcios/separações, ou opção de viver sozinho.

familiar, próprio das sociedades livres, democráticas. É o caso das famílias monoparentais, “caracterizadas pela convivência de pelo menos um menor viver com um só progenitor, o pai ou a mãe (Gomez, 2008). Salientam-se, também as famílias reconstituídas, que consistem na formação de um núcleo familiar procedente de uma ruptura da relação anterior, podendo dar origem a novas uniões entre divorciados, viúvos, assim como pessoas solteiras.

É também de salientar, relativamente ao estudo sobre as famílias, o enfoque dado pela antropologia às relações de parentesco, apontando para novos modelos familiares, enquanto a sociologia dá maior relevo à ruptura das solidariedades familiares e a redução da família (Roigé, 1996).

Outro aspecto a salientar, é o aumento do número de divórcios verificado a partir da década de 70, coincidindo com e as alterações legislativas e transformações na concepção do casamento. Esta situação dá lugar ao que Roigé (1996) denomina por famílias recompostas resultantes de novas relações e que assumem diferentes formas.

Não obstante estas alterações, as relações familiares não cumprem apenas funções afectivas e rituais (casamento, celebrações, festas, bodas, funerais), constituem também uma rede de recursos fundamentais para os indivíduos, estabelecendo uma mediação das relações sociais e pessoais, onde se estabelecem intercâmbios económicos, sociais, afectivos e simbólicos. Estabelecem formas de suporte e ajuda, assegurando a transferência de bens e serviços entre gerações, sobretudo em momentos críticos da vida individual, quando se verificam mudanças económicas ou sociais que afectam a economia e organização familiar, quando os indivíduos têm mais necessidade de assistência.

Como assinala Segalen (1999), os três domínios mais importantes do exercício do parentesco são a sociabilidade, o sustento e a transferência de património.

Para esta autora, a família assegura normalmente o suporte e assistência familiar, como conjunto de actividades dirigidas a proporcionar bem-estar físico, psíquico e emocional das pessoas, daí que a compreensão do funcionamento contemporâneo da família seja objecto de muitos estudos.

A família é também considerada (Guibentif, 1997: 80), sobretudo nos países do Sul da Europa, como a principal instituição de inserção social. Ao mesmo tempo, as políticas sociais defrontam-se com alterações consideráveis nos papéis e nos valores ligados à família (unidade económica, lugar de educação e de formação dos valores, instituição de reprodução e da solidariedade entre gerações). A questão que se coloca é a dos efeitos

recíprocos entre a protecção social e a família. No entanto, a manutenção da noção de família num contexto profundamente modificado, pode tornar-se contraditório.

Outro aspecto a salientar refere-se às atitudes face à divisão familiar do trabalho nas sociedades europeias em que existe uma influência forte de uma perspectiva de género igualitária que difundiu um padrão de duplo emprego, incluindo o cuidar na família, ao longo das últimas décadas. Os homens e as mulheres, os grupos sócio -profissionais, os casais com ou sem filhos pequenos, as sociedades e os diferentes Estados-Providência atribuíram a este ideal dos anos 70 entendimentos diversos. Em confronto com outros constrangimentos contextuais - o emprego e o desemprego, a segregação de género no mercado de trabalho, as famílias, os compromissos políticos - e com antigas ideologias renovadas (o valor da figura materna nos primeiros anos de vida), recompuseram e reinterpretaram os ideais da igualdade no trabalho familiar pago e não pago (Karin Wall, 2007:251;252).

No que se refere à realidade estudada, um dos aspectos que se observa relativamente às famílias é a fraca responsabilidade, por parte dos homens, traduzindo-se na sobrecarga das mulheres, constatando-se um grande número de famílias monoparentais, de mães com filhos. Os homens, frequentemente, constroem outras famílias. Por outro lado, há, também situações, onde não se verificou a separação, mas mesmo aí, nalguns casos, são as mulheres que assumem a gestão e maiores responsabilidades. É, no entanto, de referir que nas famílias em que a figura masculina funciona bem regista-se maior estabilidade nos filhos, como é o caso da afirmação de uma das mulheres entrevistadas:

“Eu acho que podemos ver, eu tenho educação e o meu marido também, e isso contribui para os nossos filhos. Posso garantir que a criação dos meus filhos vem do berço, já vem de família.” (Ermelinda, 51 anos)

Efectivamente, os filhos deste casal de cabo-verdianos são bastante equilibrados, responsáveis e com sucesso nos estudos.

Neste âmbito, é de realçar, um conjunto de significados que contribuem para a construção social do género e a produção das identidades. É exemplo disso, o facto da maioria das actividades de assistência e suporte familiar recair sobre as mulheres, às quais não é atribuído um valor económico, considerando-se que estas se fazem por “amor” ou por “obrigação”. Esta papel é assumido, na maior parte dos casos pelas mulheres, sem renunciar à sua inserção laboral e social.

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