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POLÍTICAS E RESPOSTAS SOCIAIS DE HABITAÇÃO A política social é essencialmente uma resposta às desigualdades, sendo

6 Intervenção social desenvolvida no bairro Casal da Mira

Capítulo 2 POLÍTICAS E RESPOSTAS SOCIAIS DE HABITAÇÃO A política social é essencialmente uma resposta às desigualdades, sendo

característico do estado de bem-estar, o apoio aos indivíduos e famílias com necessidades, a nível dos recursos económicos. Para a abordagem desta temática, convém clarificar em que consistem as políticas sociais, designadamente as políticas de habitação, procedendo- se a uma breve caracterização sobre o seu percurso, bem como o seu enquadramento no quadro das políticas sociais.

Tal como afirma Mozzicafredo (1993), “As políticas sociais são, principalmente, resultado de problemas originados pelo desenvolvimento e pelo predomínio do Estado de direito, na sua fase institucional de Estado - Providência, enquanto instância de regulação das relações sociais, agente de desenvolvimento e produtor de integração social” (Mozzicafredo, 1993:672). Assim, o Estado postula um padrão mínimo de rendimento, saúde, educação e habitação que deverá ser garantido a cada cidadão como sendo um direito de cidadania. Esse padrão deve possibilitar, um nível satisfatório de vida humana e propiciar uma integração social efectiva dos indivíduos.

As diversas formas de produção e reprodução de desigualdades sociais que provocam fenómenos de pobreza e exclusão social, às quais o Estado tenta responder com medidas de carácter político, têm como objectivo a promoção da protecção social. Neste âmbito, as políticas sociais compensatórias e integrativas emergem com intenções de corrigir assimetrias geradas pelo sistema, as quais impedem uma vivência condigna de certas populações carenciadas e marginalizadas.

“O aumento da diferenciação social (divisão social do trabalho, hierarquias funcionais e profissionais, processo de urbanização e industrialização etc.) exige a criação de novas formas de regulação funcional e da coordenação das relações entre as estruturas sociais e os indivíduos. A consolidação das sociedades de mercado e expansão da individualidade exigem igualmente a criação de um novo tipo de solidariedade que, nas sociedades mais diferenciadas e segmentadas, se materializa na institucionalização da solidariedade contratual regulada pela norma e pela administração central” (Mozzicafreddo, 2000:4).

A política social de habitação, é uma das várias dimensões inserida num quadro de políticas sociais mais alargado, que abrange outros domínios, como o emprego, segurança social, educação ou a saúde. Estas políticas sociais são resultado de um progressivo alargamento dos direitos de participação e reivindicação dos cidadãos, resultante quer de

mudanças sociais, que englobam mudanças nas estruturas do poder quer do aumento das exigências dos indivíduos e dos vários grupos sociais.

É no período de desenvolvimento industrial em Portugal, iniciado com maior vigor nos anos 50, que os problemas relacionados com a habitação se precipitam, como já foi mencionado anteriormente. Assim, a contínua expansão de bairros de habitat degradado e bairros de génese ilegal por toda a área envolvente à capital foi acompanhada por deficientes e duvidosas políticas de habitação social, de um modo geral ineficazes, pois não contemplaram as famílias mais pobres, na sua maioria residentes em barracas. Politicas de habitação essas, que nunca foram realmente reconhecidas como prioritárias pelo Estado Novo.

Só após a revolução de 25 de Abril de 1974, “os problemas da habitação começaram realmente a ser questionados e debatidos dentro de um contexto ligado ao surgimento de estruturas próprias relacionadas com o Estado – Providência emergente em Portugal, justamente na altura em que nos países centrais, da Europa ocidental e de todo o mundo, o Estado – Providência entrava numa fase de grande perturbação” (Santos, 1993:19).

Sobre esta questão, António Fonseca Ferreira (1987) afirma que a questão habitacional surge associada a um longo período de ausência de políticas de habitação coerentes e articuladas, sem um Estado providência capaz de responder a necessidades básicas de alojamento. Têm existido medidas e programas avulsos criadas e geridas ao sabor das conjunturas políticas e financeiras sem a adequada preparação prévia nem a garantia dos meios para a sua efectiva concretização.

A política de habitação reflecte também os problemas estruturais profundos da economia e da sociedade portuguesa, que se traduzem em atrasos crónicos, de décadas, relativamente aos países industrializados da Europa. Esses atrasos têm origem em causas económicas, mas também factores culturais e sociais. A este respeito, referiu, uma das assistentes sociais entrevistadas:

“ As medidas de política social fundamentam por si a existência de um problema: a escassez da habitação acessível a todos, ou aqueles que possuem, ainda que rendimentos do trabalho muito escassos, que, na maioria das vezes fica abaixo da capacidade de assegurar as necessidades básicas (alimentação, vestuário, saúde ou educação).”AS 8

A crise da habitação que afecta sobretudo os grandes centros urbanos é consequência da sua própria lógica de desenvolvimento que vai provocar uma

concentração económica e social dos meios e unidades de produção, bem como força de trabalho necessária ao seu funcionamento. A concentração das actividades económicas, sobretudo nas áreas de Lisboa e Porto, conduziram a um agravamento do desequilíbrio entre a oferta e a procura de habitação. Em consequência deste fenómeno, os preços vão subir, aumentando a especulação com a venda de terrenos e de habitações.

Também os fluxos migratórios, com a chegada a Portugal de muitos imigrantes provocam um aumento da procura de habitação nas zonas urbanas com grandes unidades industriais e construção civil.

No pós-25 de Abril assistiu-se, igualmente a uma política muito centrada no crédito à habitação própria, sendo este destinado a grupos sociais com alguma solvência. Este facto, aliado ao abandono de uma política eficaz relativamente ao arrendamento, potenciou também o aumento da população mal alojada.

É neste contexto de aumento dos bairros de habitat degradado, em Lisboa e Porto e suas periferias, que surge o PER- Programa Especial de Realojamento, pois a falta de alojamentos tornara-se um dos problemas mais graves da sociedade portuguesa.

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