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CARACTERIZAÇÃO DA VENDA DIRECTA EM PORTUGAL

2. A VENDA DIRECTA COMO FORMA DE DISTRIBUIÇÃO

2.2. VENDA DIRECTA E MARKETING DIRECTO

2.2.6. CARACTERIZAÇÃO DA VENDA DIRECTA EM PORTUGAL

Para caracterizar a venda directa em Portugal, utilizaram-se várias fontes. Primeiro dados secundários, ou seja dados já publicados que foram compilados com outro propósito que não o do presente estudo (Diamantopoulos & Schlegelmilch 1997). Este tipo de dados apresenta a vantagem de terem já sido anteriormente compilados e publicados representando assim para o investigador uma importante economia de tempo e dinheiro (Kinnear & Taylor 1991). De facto, vale sempre a pena explorar as possibilidades de utilizar fontes secundárias – como um primeiro recurso – antes de partir para o que geralmente representa um mais dispendioso e demorado programa de recolha de nova informação constituída por dados de fontes primárias (Moutinho & Evans 1992).

Poucos são os estudos sobre a venda directa em Portugal, também a informação estatística sobre o Comércio em geral e sobre a venda directa em particular é insuficiente e pouco credível, verificando-se grandes discrepâncias entre os dados da Direcção-Geral do Comércio e da Concorrência, do Instituto Nacional de Estatística e dos quadros de pessoal do Ministério do Emprego e Solidariedade.

Segundo o Anuário Estatístico de Portugal do INE, em 1999 existiam em Portugal 11.321 empresas retalhistas que tinham como actividade principal o “comércio a retalho não efectuado em estabelecimentos”, correspondendo a 7,57% do total de empresas de comércio a retalho.

QUADRO 5 – Comércio a Retalho Não Efectuado em Estabelecimentos (CAE: 526)

ANO Número de

Empresas % no CAE 52 Pessoal ao Serviço % no CAE 52 Volume de Negócios (106 PTE) % no CAE 52 1996 8.424 7,13% 10.540 2,84% 93.459 1,74% 1997 7.510 6,44% 9.268 2,40% 86.629 1,52% 1998 6.858 5,05% 9.269 2,21% 90.414 1,36% 1999 11.321 7,57% 14.146 3,82% 95.751 1,85%

FONTE: Anuário Estatístico de Portugal 1999 e 2000 – INE

Segundo “O Comércio em Números” nº2, publicado pela Direcção-Geral do Comércio e da Concorrência em Dezembro de 1998, existiam no ano de 1997 em Portugal, 15 empresas que tinham como método principal de venda a “venda ao domicílio”, das quais duas também possuíam estabelecimento aberto ao público.

Esta grande discrepância entre os dados do INE e da DGCC, deve-se ao facto do INE considerar não só as empresas de venda directa propriamente ditas, mas também os vendedores ambulantes e aqueles vendedores/distribuidores de venda directa, que dado o seu volume de negócios constituem empresas para desenvolver a sua actividade. No quadro seguinte podem observar-se os dados da DGCC.

QUADRO 6 – Indicadores Sobre a Venda ao Domicílio em 1997 Unidade: milhares de contos

SECTORES DE ACTIVIDADE

Nº DE

EMPRESAS PESSOAL VOLUME DE VENDAS CIRCUITO COMERCIAL

PERMANENTE VENDEDORE

S DIRECTOS 1997 1998 (est.) PRODUTOS EXCLUSIVO S a) EXISTÊNCIA DE ESTABELEC . b) Produtos de Perfumaria e Cosmética 2 143 16 500 5 465 5 920 Sim 0 Produtos Dietéticos e Complementos Alimentares 1 c) c) c) c) Sim 0 Utilidades Domésticas e Produtos de Limpeza 4 39 13 407 4 093 4 364 Sim 0 Vestuário, Calçado e Têxteis Lar 2 117 4 534 2 183 2 545 Sim e Não 0 Produtos de Cultura e Distracção d) 6 225 2 456 9 889 10 070 Sim e) 2 TOTAL 15 524 36 897 21 630 22 899 2

a) Indica a resposta mais frequente relativamente à comercialização dos produtos pela empresa em exclusividade. b) Indica o número de empresas de VD com estabelecimento.

c) Dados sujeitos a segredo estatístico.

d) Uma empresa também comercializa os seus produtos através de televisão. Uma empresa não respondeu ao quesito sobre o pessoal permanente.

e) Três empresas também comercializavam edições não exclusivas.

FONTE: Inquérito às empresas de VPC e VD realizado em Junho de 1998 – DGCC

Assim o estudo desenvolveu-se com base nos dados da DGCC. De salientar que estes dados também parecem mais coerentes em termos internacionais, pois a DGCC indica 15 empresas de venda ao domicílio em 1997, e no mesmo ano existiam 47 empresas em actividade no Reino Unido associadas da DSA (Direct Selling Association). De salientar que no ano de 1998, ainda segundo a DSA existiam em actividade no Reino Unido 113 empresas de venda directa, das quais 55 eram associadas da DSA.

O primeiro estudo realizado em Portugal sobre vendas por correspondência e ao domicílio, foi publicado no Caderno nº 16 da série “Comércio e Distribuição” da então Direcção Geral do Comércio Interno, em Abril de 1990, e a partir de 1993 a DGCC tem vindo a realizar inquéritos anuais, cujos resultados têm vindo a ser publicados na revista “Comércio e Concorrência”. Na edição nº3, de Maio de 1999, refere-se que “o inquérito, exaustivo, foi enviado por via postal a todas as empresas constantes do ficheiro existente na Direcção Geral”, referindo ainda que “a taxa de resposta ao presente inquérito foi, como em anos anteriores, bastante elevada o que é fundamental dado o universo das empresas ser relativamente diminuto”.

Seguidamente apresenta-se um resumo dos resultados dos últimos inquéritos realizados, para os anos de 1995 a 2000.

QUADRO 7 – Venda ao Domicílio: Evolução dos Principais Indicadores Unidade: milhares de contos

ANOS Nº DE

EMPRESAS PESSOAL VOLUME DE

VENDAS VENDAS POR VENDEDOR CIRCUITO COMERCIAL PERMANENTE VENDEDORES

DIRECTOS EXCLUSIVOS PRODUTOS

a) EXISTÊNCIA DE ESTABELEC. b) 1995 18 758 54 644 23 485 0.430 Sim 3 1996 16 556 41 973 22 575 0.538 Sim 3 1997 15 524 36 897 21 630 0.586 Sim 2 1998 14 23 635 Sim 1999 13 379 18 850 20 577 1.092 Sim 2000 13 451 38 107 19 995 0.525 Sim

a) Indica a resposta mais frequente relativamente à comercialização dos produtos pela empresa em exclusividade. b) Indica o número de empresas de VD com estabelecimento.

FONTE: Inquérito às empresas de VPC e VD realizado em Abril de 1996, Junho de 1997, Junho de 1998, Junho de 2000 e Junho de 2001 – DGCC

A partir da lista de empresas que responderam ao inquérito da DGCC, realizou-se um estudo exploratório, através de entrevistas semi-estruturadas com os seus principais responsáveis, com o objectivo de caracterizar as empresas de venda directa a actuar em Portugal, para esse efeito foi previamente elaborado um guião para as entrevistas (ver Anexo 4).

Foi possível obter junto da DGCC a listagem das 15 empresas de venda ao domicílio que tinham respondido ao inquérito em 1997, verificando-se que três tinham cessado a actividade (Euro Bragal, Homecare e Ramirez & Raul) e duas já não praticavam a venda directa (Julian Jill e Mesquita & Amaral). A estas 15 juntaram-se outras que não haviam respondido ao inquérito da DGCC (algumas das quais porque não foram contactadas), e que foram indicadas pelo IPVD – Instituto Português de Venda Directa, conseguindo-se assim identificar 36 empresas de venda directa a actuar em Portugal (ver Anexo 5).

De salientar que, regra geral, todas as empresas foram muito cooperantes, tendo disponibilizado todos os dados solicitados, e inclusivamente tendo sempre dado contactos de vendedores directos a elas ligados, a fim de permitir a realização de um segundo estudo exploratório, agora direccionado aos vendedores directos. A única excepção foi a empresa Cristian Lay, cujas directoras não disponibilizaram dados sobre a facturação, nem contactos dos seus vendedores directos.

Do estudo exploratório realizado, foi possível concluir que a maioria das empresas não conhece bem as outras empresas de venda directa a actuar em Portugal, esse facto, que ocorre principalmente devido ao IPVD não ser ainda uma associação verdadeiramente activa, faz com que não existam estratégias comuns no sentido de divulgar da melhor forma a venda directa, nomeadamente junto dos consumidores, bem como não favorece a revisão e aplicação de legislação para o sector e a auto regulação do negócio.