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Cartaz produzido pelas crianças

Nas salas, poucas produções elaboradas individualmente, com exceção da sala de linguagem que ostentava cartazes de letras, números, listas de palavras, poesias, textos coletivos, calendário, aniversariantes do mês e ajudantes do dia, dentre outros que se modificaram ao longo dos meses de observação.

No térreo, há alguns painéis coletivos, quadro de aviso com o cardápio do mês com assinatura de uma nutricionista, além da cozinha, lavanderia, área de serviço, refeitório, banheiro adulto e das crianças, salas da gestão e dos professores, além do almoxarifado e secretaria, por fim, um pátio coberto onde são realizadas as atividades de “parque”, atividades livres e o bom dia.

Os espaços/ambientes refletem a concepção de criança, de educação infantil ali praticada, apresentada na forma da decoração, quando expõem os trabalhos das crianças, pois há uma valorização de suas produções individuais e, nessa faixa etária, especialmente as produções coletivas; os banheiros apresentam uma arquitetura que incentiva a autonomia das crianças etc. Por isso tudo, entendemos que a forma de organização dos espaços das salas, dos banheiros, das paredes, também é currículo, também é construído para e com as crianças em interação com os adultos.

A apresentação do espaço físico do CMEI traz consigo duas questões: a concepção de educação infantil embutida nas ações coletivas da equipe da instituição que transforma o espaço físico em um ambiente acolhedor e alegre, com boniteza. Um espaço físico bem concebido79, a serviço da criança com responsabilidade estética, inclusive, sinaliza para políticas públicas para a educação infantil de qualidade, com o respeito ao direito da criança. Essa segunda questão nos remete ao que disse Freire sobre a necessidade e a pedagogicidade de/em espaços físicos bem cuidados e dotados de boniteza, postos à disposição das crianças. “A eloquência do discurso [...] pela limpeza do chão, na boniteza das salas, na higiene dos sanitários, nas flores que adornam. Há uma pedagogicidade indiscutível na materialidade do espaço.” (FREIRE 1996, p. 141).

Contudo, neste CMEI, um aspecto merece ser destacado. Falta espaço externo para as crianças brincarem com areia e/ou brinquedos ao ar livre. Sabemos da importância de as crianças poderem usufruir de momentos ao ar livre, em contato

79 O CMEI Juntos Somos Fortes faz parte do programa do governo federal: o pró-infância e seu projeto pensado junto à prefeitura da cidade e o MEC, um projeto de um centro de educação infantil apropriado às crianças de 0 a 5 anos e seguindo as recomendações dos parâmetros de infraestrutura para a educação infantil. (BRASIL, 2006).

com a terra, onde elas se confrontem com pequenos obstáculos para seu desenvolvimento integral. Com efeito, existem um “jardim” na frente da creche e uma pequena área lateral, com grama e areia, porém não apropriada às crianças. Essa questão vai de encontro ao que preceituam as DCNEI (BRASIL, 2009) e os parâmetros de infraestrutura da educação infantil. (BRASIL, 2006). A ausência desses elementos impossibilita a vivência das crianças em áreas ao ar livre, que permitiriam o estar em contato com a natureza, o brincar com terra, água, plantas etc.

Sabemos, contudo, que essa ausência pode ser explicada pela localização de equipamentos públicos, como o CMEI campo de investigação. Situado em uma encosta, na chamada “formação barreiras”80, em área periférica da cidade do Recife,

o CMEI ocupa lotes estreitos e íngremes. As características do local e do solo, bem como uma ocupação intensiva encarecem os custos dos terrenos e das construções, quando observadas as normas técnicas.

Ainda no que se refere à qualidade do espaço do CMEI, não se pode deixar de aludir à manutenção da estrutura física e material. Essa questão é tratada com um dos maiores desafios para a gestão da instituição e, de resto, de toda administração pública. Apesar das instalações do CMEI serem relativamente novas, seu uso intensivo já dá sinais de desgaste, portanto, de necessidade de reposição de peças e consertos em geral. É sabido o quanto as municipalidades são devedoras de recursos para a manutenção dos serviços públicos, carecendo de uma atitude por parte de gestores institucionais e de servidores em diferentes níveis. Na instituição campo de pesquisa, parece que seus profissionais dignam-se a ter esperança, a esperançar, ou seja, a buscar a resolução dos problemas em prol da qualidade do serviço a ser prestado. Encontramos, nesta atitude proativa, traços do que Freire descreveu como uma tarefa do(a) educador(a) progressista. Para Freire, uma das “tarefas do educador ou educadora progressista através da análise política, séria e concreta [...] é desvelar as possibilidades, não importam os obstáculos para a esperança”. (FREIRE, 2009, p. 11).

80 Trata-se de formação encontrada no litoral nordestino, notadamente, na Região Metropolitana do Recife, caracterizado por um relevo peculiar, formado por encostas que circundam uma ampla planície de terreno sedimentar. Grande parte da ocupação dessa área, ao norte como ao sul da cidade, se fez a partir dos anos 1950, por habitações precárias, instáveis e, sobretudo, frágeis ante as precipitações pluviométricas volumosas.

Portanto, é em um contexto esperançoso que o currículo se movimenta e hospeda as atividades vividas pelas professoras com as crianças. Elas são organizadas observando-se as possibilidades de tempo e espaço, tendo em vista as concepções de quem nela trabalha. É tendo em mente essas questões que apresentaremos, a seguir, as atividades que constituem a rotina proposta pela Secretaria de Educação e vivenciada pelo CMEI nos grupos 01, 02 e 03.

6.3 A rotina: o chão da prática pedagógica docente-discente

A rotina sugerida pela Secretaria de Educação do município é organizada a partir de um roteiro que delimita o tempo e espaço das atividades com as crianças, como pode ser visto nos cartazes afixados na entrada da instituição. Porém o que está prescrito sofre, ordinariamente, algumas modificações, devido às especificidades de cada estabelecimento. No CMEI Juntos Somos Fortes, e para os grupos observados, ela acontece como veremos a seguir.

FIGURA 03: CARTAZ: ROTINA DA CRECHE

Fonte: Prefeitura da Cidade do Recife – Secretaria da Educação

6.3.1 Recepção/acolhida das crianças

A instituição é aberta às 7h para a recepção aos pais, que aguardam no pátio interno do CMEI; nesse momento são fornecidas informações pela direção aos pais

e/ou responsáveis que trouxeram suas crianças. Os avisos são: horário de buscar a criança, festividades, acontecimentos importantes na esfera da Secretaria de Educação que atingirão o CMEI, como: feriados municipais, greve dos professores e Agente do Desenvolvimento Infantil (ADI), formações dos professores, vacinação etc.

Em seguida, os pais dirigem-se para as salas de aula de referência do grupo do(a) seu filho(a), onde fazem a troca da roupa que vem de casa, pela farda81 da

creche (mesmo quem vem de farda de casa tem-nas trocadas). Esse momento é preparatório para a separação das crianças, dos pais/responsáveis, com mais aconchego e carinho. Nesse tempo, as professoras conversam com os pais, esclarecem dúvidas sobre alguma questão que tenha surgido sobre atitudes, atividades que foram vivenciadas na tarde anterior ou em casa, respondem a questionamentos.

Esse momento de troca de roupa e despedida dos pais ocorre em cada sala com diferentes estratégias direcionadas pelas professoras, tendo em vista a especificidade da faixa etária. Para as crianças de 1 ano (G.01), os pais trocam suas