• Nenhum resultado encontrado

Educação infantil: concepção e contexto

Foto 36 — Café da manhã com a família

5 O CURRÍCULO PRESCRITO PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL NO

5.1 PROPOSTA CURRICULAR DA REDE MUNICIPAL DO RECIFE

5.1.1 Educação infantil: concepção e contexto

A Política de Ensino da Rede Municipal do Recife-Educação Infantil (proposta curricular da rede municipal) trata das concepções históricas de infância e criança e suas relações com as mudanças nos contextos: social, econômico, político e cultural de cada época. Defende a infância como categoria social, concepção surgida no século XVIII, baseada nos paradigmas de liberdade, autonomia e independência. Diferentemente da ideia de infância apenas como faixa etária, estágio da vida da criança, inocente, frágil e dependente, essa visão ampliada de infância parte da premissa de que existem várias infâncias, relacionadas aos aspectos sociais e culturais de cada povo.

Na mesma direção, é traçado o caminho das concepções de criança, apresentadas ao longo da história, porém maior referência se dá à criança como

70 Informações disponíveis em: <http://www.portaldaeducacao.recife.pe.gov.br/projetoseacoes>. Acesso em: 08 de maio de 2017

sujeito de direito, sujeito ativo, membro de um grupo, capaz e competente para interagir com o meio, construir conhecimento e produzir cultura. Aponta como marco regulatório para o fortalecimento dessa concepção a Constituição Federal de 1988, que ampliou os direitos das crianças, entre eles, o direito a ter direitos, sendo estendida aos Parâmetros de Qualidade para a Educação Infantil - PQEI (2006) e nas DCNEI (2013). Entender a criança como ser em desenvolvimento, sujeito histórico e de direitos é a concepção defendida na proposta curricular da rede de Recife e que orienta as ações pedagógicas a serem vivenciadas nas instituições de educação infantil.

Nesse contexto, a proposta demarca seu posicionamento, quando afirma que: [...] as concepções contemporâneas de criança e infância são fundamentadas pelo cenário histórico de cada época, em diálogo permanente com as teorias do desenvolvimento humano que circunscrevem a forma como se compreende a ontogênese infantil, e o processo de ensino e aprendizagem que consolida a formação do ser crítico, interativo e ativo. (RECIFE, 2015, p. 17).

As concepções de infância como categoria social e de criança como sujeito histórico e de direitos sugerem uma prática de educação infantil educativa, pautada no direito da criança à educação. Sua finalidade e sua função social vão além do cuidar, característica da função higienista ou apenas de guarda e assistência, próprias da concepção assistencialista.

Desta feita, aponta como contexto de atuação a educação como direito, baseado nos princípios políticos de solidariedade, liberdade, participação e a justiça social. Nessas condições, ressalta-se o atendimento às crianças respeitando a legislação vigente, assim como a garantia de direitos ao conhecimento e à aprendizagem com base nas interações e brincadeiras. Destacado em sua proposta curricular:

[...] a Política de Ensino da Educação Infantil do Recife (RMER) pretende promover a unidade das ações pedagógicas nas instituições de ensino, garantindo os direitos de aprendizagem das crianças com base nas interações e brincadeiras. (Recife, 2015, p.13)

A proposta aborda as questões da formação dos professores e a relação com as famílias como espaços privilegiados de construção do conhecimento a favor do desenvolvimento das crianças e dos adultos numa relação recíproca de parceria para as aprendizagens.

Assim, a formação dos profissionais da educação infantil das instituições de ensino da Rede municipal do Recife é enfatizada na política curricular da cidade como condição para a efetivação das orientações contidas no documento. Nesse sentido, é discutida a necessidade de se repensar a formação continuada, especialmente para os professores, visando ao aprendizado baseado na troca de experiências, no diálogo com os pares, com a academia e com a comunidade.

Nessa direção, a atuação dos profissionais das instituições que trabalham com a educação infantil, professores(as), gestores(as) e o Agente de Desenvolvimento Infantil (ADI) tem como orientação o trabalho integrado com as famílias. Segundo o documento (RECIFE, 2015), a qualidade do atendimento à criança passa pela interação da família com a creche e pré-escola. Ambas as instituições, cada uma com seu papel social, são responsáveis pela aprendizagem cultural e social que a criança vive, logo, possuem a função de facilitar a convivência da criança nos diferentes contextos. O diálogo torna-se assim ferramenta indispensável nessa interação. Como pode ser visto nos seguintes excertos:

A família e a instituição educacional constituem instâncias fundamentais na formação da criança e influenciam diretamente os processos de desenvolvimento e de aprendizagem. Assumem diferentes papéis, mas ambas contribuem para o aprendizado infantil sobre o mundo e as diferentes culturas, propiciam interações com uma diversidade de pessoas que as acolhem. (RECIFE, 2015, p. 55) [...] Em suma, quando se envolve a família na dinâmica da creche ou pré-escola, por intermédio de atividades educativas, eventos, reuniões, momentos de estudo, projetos e ações colaborativas, contribui-se para uma educação de melhor qualidade para as crianças, na medida em que os aspectos afetivos, cognitivos e moto- res serão abordados conjuntamente pelos distintos contextos de desenvolvimento. (RECIFE, 2015, p. 59).

A proposta curricular referenda ainda a necessidade de ampliar o olhar sobre as ações pedagógicas, uma vez que a formação de professores “é um processo em que, a despeito de limites e resistências, tem-se a oportunidade de [...] romper com paradigmas e formar um novo perfil docente que atenda às demandas da sociedade”. (RECIFE, 2015, p. 60). Neste sentido,

[...] entende-se a formação continuada como prolongamento da inicial, visando ao aperfeiçoamento profissional amplo, na busca de superação das vulnerabilidades. E, principalmente, é concebida na rede de ensino como um direito, dada a natureza plural da docência que abrange o conhecimento e a formação humana, ambos

inconclusos e em permanente processo de qualificação (RECIFE, 2015, p. 60).

Sendo assim, há preposição de que o processo de formação do(a) professor(a) seja contínuo, social, científico e humano, vivenciado como um direito do(a) profissional, constituindo parte do todo dessa proposta.