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O CAMPO EMPÍRICO: a educação infantil no Recife: contexto e

Foto 36 — Café da manhã com a família

4 PERCURSO TEÓRICO-METODOLÓGICO: fazendo caminhos e

4.2 O CAMPO EMPÍRICO: a educação infantil no Recife: contexto e

Recife, capital pernambucana, fundada em 1534 juntamente com as capitanias hereditárias. Seu nome foi dado pela grande quantidade de recifes no litoral da região. Hoje com 483 anos, é considerada uma das grandes metrópoles do nordeste, segundo maior polo médico do País, o maior Produto Interno Bruto (PIB)

per capita entre as capitais da região nordeste do Brasil, além de uma das cidades

mais visitadas por turistas. Ao todo, tem 94 bairros, distribuídos pelas seis regiões político-administrativas (RPA), sendo o mais populoso o bairro de Boa Viagem, com 122.922 residentes, e o menos populoso o bairro de Pau-Ferro, com 72 residentes. Trata-se de uma das cidades mais povoadas do Estado, possui uma população de 1.625,58356, com uma área territorial de 218.435 km² e densidade demográfica de 7.039,64. Contava com uma população de 0 a 4 anos de 96.84657, em 2010, dados do último censo divulgados pelo IBGE58.

Recife possui uma rede de ensino de referência, especialmente pela sua estrutura física e de pessoal. Apresenta características diferenciadas no que diz respeito ao quantitativo de professores(as), alunos(as) e às ações pedagógicas que desenvolve. Em levantamento visto59 sobre os aspectos estruturais e

organizacionais, incluindo: atendimento às crianças, quantitativo de professores(as), orientações curriculares e ações pedagógicas, encontrou-se um retrato da Rede Municipal de Ensino do Recife (RMER) que consolida a opção desta pesquisadora pelo campo de estudo e pelos sujeitos da pesquisa.

Em 2010, a matrícula inicial para as crianças de 0 a 5 anos foi de 46.19660, sendo 15.825 públicas e 30.331 privadas. Já em 2015, encontramos 47.860 crianças nessa faixa etária matriculadas, sendo 15.267 em escolas públicas e 32.593 em

18 Estimativa da população em 2016, segundo o IBGE, Diretoria de Pesquisas e Indicadores sociais. 57 As crianças de 5 anos não estão incluídas nesse quantitativo, uma vez que a fonte de informação (IBGE, Censo Demográfico 2010) coloca essa idade em um outro intervalo 5-10 anos.

58 Não há disponibilização de outros índices com data posterior a 2010.

59 As informações sobre as ações pedagógicas, propostas pela RMER, foram obtidas por meio de conversa informal com uma assessora da divisão de educação infantil da RMER, informante-chave, no dizer de Minayo (2007).

escolas privadas. Em cinco anos, houve um aumento na oferta com mais 1.664 vagas, das quais 558 para as escolas públicas e 1.106 para as escolas privadas.

A tabela nº 04 apresenta um demonstrativo de matrículas na educação infantil.

TABELA 04: MATRÍCULA INICIAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL POR DEPENDÊNCIA ADMINISTRATIVA, SEGUNDO O TIPO DE ENSINO

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP.

A oferta de vagas pelo poder público do Recife aumentou nos últimos cinco anos para as crianças de 0 a 3 anos, passando de 4.370 para 5.110, acréscimo de 740 vagas. Na faixa etária entre 3 e 4 anos, houve uma queda de 1.028 vagas, evidenciando assim uma baixa de 288 vagas no quantitativo geral, passando de 15.446 para 15.158. A demanda da população de crianças de 0-4 anos é de 96.846, ocorrendo uma diferença em necessidades de vagas de 50.650. Isso parece indicar a grande expansão da rede privada em 5.349 vagas no mesmo período. Apesar dessa ampliação no setor público e privado, a necessidade de vagas ainda persiste, tendo em vista a crescente demanda dessa faixa etária.

Quanto aos dados de 2017, ocorreu na rede pública municipal uma ampliação de 1.361 matrículas61, conforme mostra a tabela nº 05 a seguir:

TABELA 05: DISTRIBUIÇÃO E NÚMERO DE CRIANÇAS MATRICULADAS POR FAIXA ETÁRIA E TURMAS - RECIFE 2017

Fonte: Dados Preliminares de Matrícula da D.O.R. (Divisão de Ordenamento de Rede) em Fevereiro/2017.

61 Os dados da rede pública estadual e da rede privada não estão disponíveis para consulta.

Município / Tipo de

ensino

RECIFE

Total Estadual Federal Municipal Privada

2010 2015 2010 2015 2010 2015 2010 2015 2010 2015 Creche 11.142 17.207 24 - - - 4.370 5.110 6.748 12.097 Pré- escolar 35.054 30.653 355 109 - - 11.076 10.048 23.623 20.496 Total 46.196 47.860 379 109 - - 15.446 15.158 30.371 32.593 Grupos Idade N° de Turmas N° de Crianças Subtotais Berçário 0 a 11 meses 40 526 10.892 G I 1 a 1 ano e 11 meses 67 1.202 G II 2 a 2 anos e 11 meses 100 1.821

G III 3 a 3 anos e 11 meses 112 2.078

G IV 4 a 4 aos e 11 meses 290 4.988 10.892

G V 5 a 5 anos e 11 meses 362 5.904

Os dados indicam que na educação infantil da cidade do Recife a oferta ocorre em espaços educativos com diferentes formatos. Existem quatro tipos de instituições: Creches, Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI), escolas exclusivas para pré-escolar, turmas de educação infantil em escolas regulares do Ensino Fundamental, conforme características a seguir apresentadas na tabela nº 06 a seguir:

TABELA 06: TIPOS DE UNIDADES EDUCACIONAIS EDUCAÇÃO INFANTIL - RECIFE 2017

Fonte: Dados Preliminares de Matrícula da D.O.R. (Divisão de Ordenamento de Rede) em Fevereiro/2017.

As Creches que recebem crianças de 0 a 3 anos. Há um bom quantitativo de

instituições conveniadas, mantidas por ONGs ou pela própria comunidade que são chamadas de creches comunitárias, seu atendimento acontece de forma integral e parcial. Nesse último caso, sua gestão é feita por um profissional que não precisa ser do Grupo Ocupacional Magistério (GOM).

Os CMEI – (Centro Municipal de Educação Infantil) agrupa crianças de 0 a 5

anos, atende em horário integral crianças de 0 a 3 anos e horário parcial para crianças de 4 e 5 anos. Sua dinâmica é diferenciada das outras instituições, na forma de gestão e na rotina. No CMEI, as salas contam com o apoio de outros funcionários, além do(a) professor(a), para as turmas de 0 a 3 anos, uma ADI (auxiliar de desenvolvimento infantil) e um estagiário. As turmas de 4 e 5 anos contam com um ADI, além do(a) professor(a). No que tange à gestão, organiza-se com um(a) coordenador(a) efetivo(a) que atua na função pedagógica; um(a) gestor(a) responsável pela ação administrativa ambos(as) pertencentes a RMER e ao GOM e um(a) funcionário(a) técnico-administrativo(a).

Tipos de unidades educacionais EI N° de unidades

1. Creches (0 a 3 anos e 11 meses) 52

2. Creches – Escolas /CEMEI (0 a 5 anos e 11 meses) 28

3. Escolas Especificas de pré-escola (4 a 5 anos e 11 meses) 12

4. Escolas do Ensino Fundamental com pré-escola (com grupos III, IV e V) 143

As escolas exclusivas para pré-escolar atendem crianças de 4 e 5 anos em horário parcial,62 Têm um diretor e um vice-diretor eleito pelo voto direto da

comunidade, um coordenador pedagógico e, na sala de aula, apenas o(a) professor(a). E, turmas de educação infantil em escolas regulares do Ensino

Fundamental. Atendem em horário parcial crianças de 4 a 5 anos. Nelas, a gestão

também é feita por um diretor e um vice-diretor eleito pelo voto direto da comunidade e um coordenador pedagógico que se divide no acompanhamento à educação infantil e ao Ensino Fundamental, já que a escola conta com os dois segmentos de ensino e o(a) professor(a) atende sozinho(a) a turma em sala de aula.

A RMER atualmente conta com 971 turmas destinadas à educação infantil, distribuídas em seis grupos por faixa etária: Berçário (0-1 ano), Grupo I (1-2 anos), Grupo II (2-3 anos), Grupo III (3-4 anos), Grupo IV (4-5 anos) e Grupo V (5-6 anos) em 235 unidades de atendimento. Destas, 52 são destinadas exclusivamente à creche, 12 a escolas específicas, que contemplam apenas pré-escola, 143 escolas de Ensino Fundamental que contém salas de educação infantil e 28 Centros Municipais de Educação Infantil (CMEI), que atendem creche e pré-escola. Vale salientar que dez destes CMEI receberam construções projetadas no padrão do programa Pró-infância63. Essas informações parecem anunciar uma rede de ensino

que aplicou investimentos nessa etapa da educação básica, ainda que esteja longe de alcançar a meta 01 do PNE:

Universalizar, até 2016, a educação infantil na pré-escola para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) anos de idade e ampliar a oferta de educação infantil em creches de forma a atender, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) das crianças de até 3 (três) anos até o final da vigência deste PNE. (BRASIL, 2014, p. 42 ).

Em relação às orientações curriculares, a RMER dispõe de um documento orientador, denominado Política de Ensino da Rede Municipal do Recife (2015)64, elaborado por um Grupo de Trabalho formado por 35 profissionais (professores(as), coordenadores(as) pedagógicos(as), assessores(as)). Tem por objetivo construir um trabalho pedagógico de fortalecimento da rede e da prática pedagógica docente- discente/gestora. (RECIFE, 2015).

62 Vivenciam o que uma das assessoras da Secretaria de Educação chama de “organização de escola”.

63 Sobre o programa Pró-infância, descreveremos adiante.

64 Disponível em: <http://www.recife.pe.gov.br/efaerpaulofreire/politica-de-Ensino>. Acesso em 13 de maio de 2017.

Além deste documento, as ações pedagógicas funcionam com mais três linhas de ação expedidas e orientadas por ofícios circulares, projetos, orientações gerais e de monitoramento da criança pelo professor (grupos 4 e 5).

No que tange aos projetos, sete temas caminham paralelos à proposta curricular de ensino: Sonhar, planejar, alcançar: fortalecimento financeiro para

famílias e Ateliês (são opcionais, acontecem por adesão das instituições); Brincadeirinhas musicais da palavra cantada, Mundoteca, Robótica: lego, Mesas educacionais, Mente Inovadora / MindLab e o Alfa Letrar - apenas para os grupos IV

e V- (estes últimos são vivenciados por todas as unidades educacionais).

As orientações para o(a) professor(as) relacionadas aos projetos, são disponibilizadas pela Secretaria de Educação e contemplam: ofícios circulares, tais como a indicação do tema do ano letivo, orientações para o planejamento anual, estruturado em torno do tema gerador das ações a serem vividas nas escolas, orientações para o período de adaptação etc. Os grupos IV e V recebem algumas orientações por meio do Diário Escolar, que sugerem ações para o planejamento e atividades da ação didática, a exemplo da distribuição dos objetivos e conteúdo a serem vivenciados bimestralmente. Há ainda sugestões de atividades/tarefas de Língua Portuguesa e Matemática entregues ao(à) professor(a) para uso em sala de aula, em média, duas por semana. Além disso, ainda para esses grupos, são distribuídas, para fins de monitoramento da aprendizagem da criança, orientações pedagógicas visando à diagnose bimestral em Língua Portuguesa.

Em suma, a Rede de Ensino do Recife atende à população de crianças de 0 a 5 anos, em espaços de aprendizagem diversos, como uma proposta curricular com elementos teórico-conceituais explícitos e professores(as) concursados para materializar a política de educação infantil consolidada com a prática pedagógica.

4.3 A instituição de educação infantil: campo de pesquisa e os sujeitos colaboradores

A escolha do campo empírico ocorreu a partir de um traçado que teve início com a nossa participação em um encontro coletivo para professores(as) de creche e CMEI. Nesse espaço, tivemos a oportunidade de rever colegas, aproximarmo-nos das professoras, coordenadoras pedagógicas e equipe da Secretaria de Educação do Recife. Foi um momento singular e, dessa aproximação, emergiu a indicação dos

CMEI que fizessem parte do projeto do Pró-infância em parceria com o município. Foram indicados por apresentarem uma ótima estrutura física e boas condições de funcionamento, por atenderem às crianças de 0 a 5 anos e contarem com professores(as) efetivos(as) em atuação, além de vivenciarem práticas significativas com respeito aos direitos das crianças.

O programa Pró-infância65 é de âmbito nacional, tem como objetivo “garantir o

acesso de crianças a creches e pré-escolas de educação infantil públicas, especialmente em regiões metropolitanas, onde estão registrados os maiores índices de população nessa faixa etária”. (BRASIL, 2011). Para tanto, auxilia com o apoio técnico e financeiro os municípios para a construção de instituições públicas de educação infantil, reforma e aquisição de equipamentos e mobiliários. Funciona em convênio com os municípios com base num regime de colaboração.66

No estado de Pernambuco, 150 municípios aderiram ao programa. Na região Metropolitana, seis dos 14 municípios têm unidades construídas e em atividade. Em Recife, existem dez instituições distribuídas por quatro das seis Regiões Político- administrativas (RPA) da cidade. As instituições apresentaram modelos especificados pelo programa67, estabelecendo um critério importante para a escola

do nosso campo de pesquisa: o da estrutura física de qualidade, uma vez que uma

65 O Programa Pró-infância foi formulado pelo MEC, através da resolução nº 06 de 24 de abril de 2007, dentre as políticas de governo instituídas até então, talvez a única voltada para apoio técnico e financeiro para a construção, reforma e a aquisição de equipamentos e mobiliários para as instituições públicas de educação infantil.

66 O município, ao aderir ao Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação e realizarem ações pelo Plano de Ações Articuladas (PAR), pode solicitar o convênio ao programa. Em contrapartida, cabe ao município oferecer o terreno, licitar as obras e colocar a instituição em funcionamento. Quanto aos recursos financeiros, são entregues a gestão municipal para a construção da unidade, baseando-se nas diretrizes e parâmetros técnicos, fornecidas pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), dividido pelas fases da construção, mediante prestação de contas pelo responsável pela obra. O MEC também orienta a aquisição do mobiliário e dos equipamentos, que devem ser certificados e adequados para atender às particularidades da educação infantil.

67 Há três tipos de projetos arquitetônicos para a construção dessas instituições: A, B ou C: O tipo A são construções com especificações propostas pelo proponente. No tipo B, o prédio deverá atender às seguintes orientações: ser térreo, ter cinco blocos, distribuídos entre as funções administrativa, de serviços e multiuso e blocos pedagógicos, um pátio coberto e área externa para playground, torre de água e estacionamento. Essa estrutura conta com oito salas pedagógicas, sala de informática, secretaria, pátio coberto, cozinha, refeitório, sanitário, fraldário, adaptados para pessoas com deficiência. Tem capacidade de atendimento de 240 crianças com até 5 anos de idade em dois turnos, ou 120 em horário integral. Quanto ao tipo C, trata-se de uma escola de educação infantil, com capacidade de atendimento de 120 crianças com até 5 anos de idade em dois turnos, ou 60 em horário integral. A estrutura conta com quatro salas pedagógicas, sala de informática, secretaria, pátio coberto, cozinha, refeitório, sanitário, fraldário, adaptados para pessoas com deficiência. Divididas em quatro blocos: administrativo, de serviços e dois pedagógicos. Na área externa, ficam o playground, caixas d’água e estacionamento. (LORENZONI, 2017; SANTOS, NUNES E FALSIANO 2015).

estrutura física e material que oferece boas condições de trabalho ao(à) professor(a) valoriza as especificidades da criança e contribui para uma prática mais efetiva.

Assim, para maior aproximação com o campo, em outubro de 2017 foi realizada uma visita à Divisão de Educação Infantil (DEI) da Secretaria de Educação do Recife, quando recolhemos informações (endereço, nome e telefone das gestoras) sobre as dez unidades do projeto Pró-infância no município a fim de conhecermos as instituições e apresentar nossa intenção de pesquisa, objetivando verificar a receptividade dos membros da escola para o trabalho.

Posteriormente, conhecemos cada unidade, quando fizemos visitas com a finalidade de nos inteirarmos da história da construção da instituição e identificar se aquele CMEI atendia aos outros critérios estabelecidos a priori para o campo: CMEI com professores(as) efetivos(as), com licenciatura em Pedagogia e experiência de atuação na etapa da educação infantil e que tenha como gestor(a)/coordenador(a) administrativo-pedagógico um(a) professor(a) do GOM.

Nos CMEIs, o contato inicial ocorreu com a gestão e em algumas instituições com a coordenação. Nesse momento, fomos apresentadas às professoras e expusemos o teor do projeto da pesquisa. Fizemos os esclarecimentos sobre os objetivos e os critérios da escolha do campo. Solicitamos a permissão da gestão e das professoras para a realização da pesquisa em sua unidade; houve uma grande receptividade, tanto por parte da gestão e da coordenação, como das professoras.

Com relação à estrutura física, chamou atenção a exibição de murais com comunicados da rede e da própria instituição, assim como a produção das crianças e desenhos para a decoração feitos pelo professor. Em algumas, apenas desenhos produzidos pelas crianças, em outras, pela professora e em outras, a autoria das duas aparecia nos painéis. Víamos nas paredes o trabalho desenvolvido em relação às temáticas vivenciadas e alguns aspectos da rotina das crianças.

Ainda em relação à estrutura física, identificamos três unidades do tipo B, três do tipo C e quatro com projeto próprio (A). Salas amplas, todas bem equipadas e agradáveis, claras, utilizando-se da luz do sol, além de climatizadas. Grandes pátios como espaço comum, parque, biblioteca, sala para as mesas interativas (projeto “Mind Lab” trazido pela Secretaria de Educação). Em duas delas, o espaço externo não estava sendo usado por falta de estrutura e manutenção.

Em relação ao atendimento, quatro unidades atendem crianças de 1 a 5 anos; cinco, de 0 a 5 anos e uma unidade, 0-3 anos. As crianças de 0 a 3 anos são

atendidas em horário integral, enquanto as de 4 e 5 anos em horário parcial. Quanto ao corpo docente, em sua grande maioria, são licenciadas em Pedagogia. Em todas as unidades visitadas, entre as professoras que atuam com as crianças de 0 a 3 anos, foco de nossa atenção, apenas uma tinha como formação inicial Psicologia. Em nossa primeira visita, percebemos as crianças felizes, vivenciando as atividades propostas.

A visita aos CMEIs oportunizou o contato com cada instituição e uma aproximação com os sujeitos colaboradores da pesquisa, professores do berçário (crianças de 0-1 ano), grupo I (crianças de 1-2 anos), grupo II (2-3 anos), grupo III (3-4 anos). Vale salientar que, em uma pesquisa qualitativa, os sujeitos não são um objeto da realidade, de usufruto do(a) pesquisador(a), mas um ser ativo, com suas crenças, valores e significados, portanto, são protagonistas das práticas que acontecem no interior da instituição. (ANDRÉ, 1995). Nesse sentido, nossa atitude em relação aos sujeitos participantes foi de respeito, confiabilidade e parceria.

O contato com os dez CMEIs possibilitou, além de um melhor reconhecimento do campo empírico, verificar que dentre eles, o CMEI Juntos Somos Fortes foi aquele que mais adequou-se aos critérios estabelecidos, bem como se mostrou receptivo. Todas as professoras têm Curso de Licenciatura em Pedagogia, atuam há pelo menos quatro anos na educação infantil e demonstraram interesse pela pesquisa.

No que concerne ao acolhimento da pesquisadora, manteve-se aberto a uma boa relação ao longo dos cinco meses de coleta dos dados, que se revelou fundamental para a compreensão das relações que se estabeleceram nessa instituição de educação infantil. É importante reconhecer que foi gratificante conviver com as crianças, os funcionários e, em especial, as professoras, a coordenadora e a gestora.

4.3.1 O CMEI: campo de pesquisa

O CMEI Juntos Somos Fortes é uma construção que segue o modelo tipo A do Pró-infância. Trata-se de um prédio com primeiro andar, com acesso por rampa de dois lances. Sua estrutura física é dividida em três blocos: administrativo, de serviços, pedagógicos, um amplo pátio coberto e uma área externa pequena (sem funcionamento, necessitando de manutenção), além de uma caixa d’água.

O bloco das salas de aula localiza-se no primeiro andar e contempla cinco salas (berçário com solário, lactário, banheiros para crianças dos grupos 01-04/05). Sala do projeto mesas interativas, biblioteca, dois banheiros para crianças. No térreo, no bloco administrativo: secretaria, três salas pequenas (recepção, almoxarifado para materiais pedagógicos), dois banheiros para adulto, adaptados para pessoas com deficiência, um banheiro para crianças. Por fim, o bloco de serviços: refeitório, cozinha, duas salas pequenas para serviços (lavanderia, almoxarifado geral).

No geral, trata-se de uma boa estrutura física, suas salas são amplas, todas bem equipadas e claras, utilizando-se da luz do sol, além de climatizadas. São salas agradáveis, atendem crianças de 0 a 5 anos, em horário integral para os grupos do berçário ao grupo 3 e parcialmente os grupos 4 e 5.

As funções administrativo/pedagógicas são assumidas por uma gestora, uma coordenadora pedagógica, uma auxiliar administrativa68, seis professoras, nove ADI,

dezesseis estagiários, três serviços gerais e dois porteiros. A proporção de adultos x crianças em cada sala é de cinco crianças para um adulto no berçário e grupos 1, 2, 3, no horário da manhã; nos grupos 4, 5, é de um adulto/dez crianças no seu horário de atendimento.

Participamos efetivamente da vida do CMEI: das reuniões pedagógicas em que foram planejados, avaliados e discutidos os projetos e eventos a serem vivenciados, como também abordadas as questões mais administrativas. Presenciamos a relação com os pais; festividades e a rotina das salas do berçário ao grupo 3. Interessou-nos saber como se materializava a prática docente-discente na instituição, como ocorria a dinâmica da relação professor- aluno em todos os momentos da rotina, seja nas atividades planejadas pelas professoras nas salas temáticas, seja nos momentos de higienização e alimentação. Noutras palavras, o currículo em movimento. Especificamente, a dinâmica que antecede e circula o trabalho do professor com as crianças.

Assim, nosso objeto de observação, análise e discussão são as atividades que focam a relação docente-discente, sem perder de vista as relações que acontecem no movimento da instituição como um todo. Nesse processo, também foi

importante visualizarmos o trabalho do apoio à dinâmica dos grupos, especialmente dos(as) estagiários(as) e do(a) ADI.

No início das observações, chamou-nos atenção a forma como a gestão e a coordenação conduzem a disposição didática da rotina vivenciada em salas