A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO NO CMEI

A vida no CMEI é organizada por uma rotina a ser seguida conforme a proposta curricular do município. Neste documento, a rotina sugerida percorre os seguintes momentos, apresentados no quadro nº 05, a seguir. (RECIFE, 2015):

QUADRO 05 ─ ROTINA SUGERIDA PELA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO RECIFE

HORA ATIVIDADE SUGESTÃO DE PROCEDIMENTOS

7 h Recepção/ acolhida das crianças

Troca de roupa em parceria com as famílias, materiais de livre escolha (brinquedos, jogos de mesa, livros, gibis, encartes....

7:30 Café da manha

8h Atividades de integração (bom dia)

Musicalização, banho de sol, cantigas de roda, brincadeiras

8h30 Atividades nas salas e/ou espaço externo

Roda de conversas, agenda do dia, atividades com o nome (crachás, fichas, listas, escolha dos ajudantes do dia), roda de histórias, baú da matemática, atividades com projeto.

9:30 Lanche

10h Brincadeiras livres integradas

Cantinhos de livre escolha: faz de conta, leitura, jogos, ocorrendo paralelamente o banho individual

11h30 Almoço

12h30 Repouso ou atividades opcionais

Leituras, massinha, brinquedos

Fonte: Secretaria de Educação do Recife

As instituições caracterizam-se pelas suas especificidades, necessidades e intencionalidades inerentes a cada grupo de crianças e profissionais. Por isso pode haver modificações no modo como a rotina é organizada, mudanças de nomenclaturas e formas diversas de organização dos espaços diferenciados. Porém os marcadores temporais e as atividades propostas pela rotina exposta no documento da Política de Ensino da Prefeitura da cidade do Recife (RECIFE, 2015) permanecem como orientação.

A rotina enquanto categoria teórica e prática pedagógica orienta o trabalho no CMEI. Quanto ao planejamento do espaço e do tempo, este organiza-se em torno de atividades com as linguagens em ateliês/salas temáticas77_{, que se configuram ao} mesmo tempo como espaço físico e conceitual, o lugar da criação de significados. (RINALDI, 2012). Essa organização inicia-se no grupo 01 e compreende quatro espaços: 1 - Faz de conta, 2 - Arte, 3 - Linguagem, 4 – Movimento, além das

77 _{Esse formato de organização espacial, chamado ateliê, foi sugerido às instituições da Rede} municipal do Recife, como um projeto de organização da rotina, sendo opcional sua implementação. A inspiração veio das escolas da Reggio Emilia, cidade da Itália e adaptadas para o Brasil. O termo atelier é um estrangeirismo, emprestado da língua francesa, que a nossa língua adotou. Grosso modo, significa lugar onde um artista trabalha. O termo admite várias acepções. Em termos pedagógicos, chama-se atelier a um modo de organização da prática curricular que consiste em sessões realizadas em torno de uma área ou tema específicos. Este mesmo nome também é válido quando reportado a um grupo de pessoas que trabalham juntas num projeto criativo ou num estudo de um tema particular, podendo ser do universo literário, artístico ou ainda científico.

atividades de alimentação e higiene, que se consubstanciam em grandes marcadores temporais. Vale salientar que cada turma tem sua sala de referência, por onde iniciam o dia, colocam os pertences pessoais, trocam de roupa, fazem as atividades livres, o repouso e aguardam a chegada dos pais e/ou responsáveis no final do horário. Cada turma vivencia sua sala de referência, de acordo com as características de cada faixa etária: Grupo 01 (1 ano): Movimento, G2(2 anos): Faz de conta; G3 (03 anos): Arte; G4 (04 anos) e G5 (05 anos): Linguagem.

Nos ateliês, as atividades dirigidas acontecem antes do lanche e as atividades nas salas de referência, denominadas de brincadeiras livres-integradas, ocorrem depois do lanche, conforme projeto traçado pela Secretaria de Educação do Recife, Divisão de Educação Infantil:

Para reorganização das salas dos grupos infantis em ateliês/salas temáticas, implica a compreensão de que cada grupo infantil permanece com sua sala de referência (momentos de chegada, descanso, saída...), mas que diariamente as crianças vivenciarão as diversas linguagens no cotidiano da Creche-Escola, através de um “circuito ou rodízio de atividades/salas temáticas" que caracteriza o formato de ação proposto neste projeto (RECIFE, 2014 p. 04)

A organização dos ateliês/salas temáticas funciona em sistema de rodízio: as crianças percorrem as salas para as atividades diversificadas, explicitadas em informativo, exposto em todas as salas e entregue aos professores no início do ano letivo. As atividades com as crianças são planejadas pelas professoras individualmente de acordo com a rotina, acontecem sempre no primeiro momento de dia, depois do “bom dia coletivo”. São atividades ligadas aos eixos do ensino, às linguagens: oralidade, leitura e escrita; arte; conhecimento lógico-matemático e movimento, permeadas pelos princípios de interação e brincadeiras, especialmente a de faz de conta.

O dia no CMEI segue as orientações da Secretaria de Educação, inicia-se com a recepção às crianças em suas salas de referência, em seguida acontece o café da manhã, seguido do bom-dia coletivo, momento em que as crianças do grupo 01 ao 04 reúnem-se no pátio para realizarem atividades de musicalização, socialização etc. As próximas atividades são vivenciadas nos ateliês com intervalo para o lanche, seguido das brincadeiras integradas ao banho e no final da manhã o almoço seguido da higiene bucal.

O berçário não participa das salas ambientes, uma vez que a rotina vivida pelos bebês ocorre em função das suas rotinas individuais, já que cada criança tem

um ritmo biológico próprio e vivencia uma rotina organizada em função de cada família, especialmente quanto ao sono e à alimentação. O bebê vai se apropriando do contexto institucional ao longo do ano, ao participar das atividades do CMEI, inclusive a professora, ao planejar as atividades, não os exclui dos projetos e de todas as festividades e comemorações vividas na instituição, como mostram as fotos 01, 02 e 03.

Foto 01: Bom dia coletivo Foto 02: Aniversário do CMEI Foto 03: Berçário no carnaval do CMEI

Fonte: a autora Fonte: a autora Fonte: a autora

Desse modo, o contexto do CMEI evidenciou uma relação entre a Proposta Curricular do Município, os Ofícios circulares registrados pela Secretaria de Educação, os princípios da instituição e a organização dos docentes e das crianças (linguagens, normatização), ao apresentar o movimento do currículo: a intencionalidade da escola, a organização dos processos de seleção, organização e construção de conhecimento por meio dos conteúdos e práticas pedagógicas, percebida na sua materialização, ou seja, na sua vivência cotidiana.

O currículo no CMEI Juntos Somos Fortes é organizado sob a forma de um conjunto de atividades da gestão-coordenação com as professoras e funcionários, realizadas com as crianças, com os pais, a partir de uma rotina, que é elaborada de forma coletiva, tendo os ateliês como estrutura de funcionamento dos espaços e do conhecimento, que tem como orientação a proposta curricular da rede municipal de ensino e os ofícios circulares que guiam a prática pedagógica.

O currículo prescrito, proposto pela Rede Municipal de Recife, levanta concepções, princípios, elementos que se destacaram em nossa análise, que constituem o centro do processo de ensino–aprendizagem, vivido na rotina. Dentre

eles, estão aspectos que sobressaíram às lentes do pesquisador no campo de pesquisa, tratados no capítulo seguinte em categorias empíricas.

Em suma, entender o currículo prescrito em seus diferentes níveis (Municipal; institucional; sala de aula/professor(a)) objetivou nosso trabalho inicialmente e contribuiu para nossas análises. Agora, entender como o currículo prescrito é vivenciado, ou melhor, como é recepcionado e ressignificado pelas professoras, qual o movimento vivido em uma instituição de educação infantil a partir das categorias apresentadas é o que veremos no capítulo a seguir.

6 A PRÁTICA PEDAGÓGICA DOCENTE–DISCENTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL: