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2– REFERENCIAL TEÓRICO

8. Retroação: na gestão “permite assegurar os efeitos de aprendizagem, correção de erros, que é necessária a toda organização no novo

2.9 CIDADANIA DIGITAL

Sócrates foi o primeiro a evocar a filosofia do céu à terra, deu-lhe a cidadania nas cidades, introduziu-a também nas casas e obrigou-a a ocupar-se da vida e dos costumes, das coisas boas e das más. (CICERO 106 - 43 a.c, 2016)

A sociedade civil, em contraposição à sociedade política, é a sociedade organizada que “engloba todas as relações sociais que estão à margem do Estado, mas que exercem alguma influência sobre ele.” ( BRESSER-PEREIRA, 1995 p. 91). O conceito de cidadania pode ser descrito como a participação numa comunidade de forma que todos tenham direito e condições de desenvolvimento. Razão pela qual, segundo Silva (2010), diferentes tipos de comunidades políticas deram origem a diferentes formas de cidadania.

Para Aristóteles, segundo Silva (2010), a cidadania era o estatuto privilegiado da classe dirigente na cidade-Estado, enquanto no moderno Estado-nação democrático, a base da cidadania reside na capacidade de participação no exercício do poder político.

Para Marshall e Bottomore (1992), a cidadania é definida em termos de um quadro específico de direitos e instituições no qual são exercidos os direitos dos indivíduos, nele se pode identificar três fases distintas:

1. a primeira fase durante o século XVIII consistiu na estruturação da cidadania civil, estabelecendo os direitos necessários à liberdade individual: o direito à propriedade, à liberdade de expressão e, especialmente, o direito à justiça;

2. a segunda fase durante o século XIX, estruturando a cidadania política, ou seja, ao direito de participar no exercício do poder político, através do voto;

3. a terceira fase durante o século XX, correspondendo à cidadania social, ou seja, ao estabelecimento de padrões mínimos de educação, saúde e proteção social, que seriam assegurados pelo Estado-Providência e que tenderiam a reduzir as desigualdades sociais.

Ou seja, os direitos de cidadania podem então ser agrupados em direitos civis, direitos políticos e direitos sociais, e a cidadania, para Segal (2011), deve ser definida, portanto pela fusão desses três elementos: civil, político e social.

O elemento civil se compõe pelos direitos necessários à liberdade, neles inseridos o direito de ir e vir, o direito à propriedade, o direito de concluir contratos e o direito de acesso à justiça. Sobre o elemento político, entende-se o direito de participar do exercício do poder político, seja como um dos membros das casas legislativas (federal, estadual, do Distrito Federal ou municipal), seja como eleitor de tais membros. No que tange ao elemento social, incluem-se desde o direito ao mínimo de bem-estar econômico e segurança, ao direito de participar plenamente da herança social e de usufruir dos benefícios que lhe são devidos.

“Cidadania e dignidade são atributos inerentes a toda pessoa humana, alcançados, à medida que o mínimo existencial (direito à educação, à moradia, à saúde e à assistência jurídica integral), se torne efetivo”. (SEGAL, 2011, p.126)

No final do século XX com a crise do Estado do Bem-Estar Social, há um redimensionamento do setor público, que deixa de ser eminentemente estatal e transforma-se num espaço de articulação, onde os cidadãos e organizações não governamentais atuam e compartilham ideias e responsabilidades, adotando o nome de

governança, com a gestão pública compartilhada que permita aos indivíduos participarem e exercerem a cidadania. Para Segal (2011), a história tem demonstrado, no entanto, a cidadania muitas vezes como um atributo pertencente apenas a uma determinada classe social.

No Brasil o conceito sobre o exercício de cidadania tem sido questionável. A relação existente entre o Estado e o indivíduo é mecânica, e embora sua ação seja permeada por um aparato burocrático e tecnológico, a relação, segundo Dias e Matos (2012), se estabelece entre seres humanos e numa engrenagem de forma opaca, com pouca ou nenhuma participação da comunidade na gestão dos programas.

A característica, aparentemente essencial, da existência de certo desinteresse quanto à participação, “ou da disposição de delegar sem mais ao presidente ou chefe do governo a atribuição de governar como melhor lhe pareça, faria talvez da democracia delegativa um pretorianismo” (REIS, 2012, p.147), influência política de forma abusiva por parte do poder militar.

As liberdades políticas são parte integrante dos direitos civis; os sitios historicamente originários e mais frequentes de exercício de liberdades tais como as de expressão, crença religiosa, associação e ir e vir, correspondem às transações cotidianas da sociedade, não a esfera da política, donde a conexão íntima da própria cidadania política com esse substrato civil. Essa integração benigna estaria presente nas democracias “originárias”. Nas “novas democracias”, porém, ainda que as eleições e a “aposta” democrática inclusive nelas contida se tenham institucionalizado, teríamos “um tecido precário de direitos civis, tanto no plano territorial quanto no das classes e setores.” (O’DONNELL, 2000, p.47-48)

Para Santos (2011), nosso índice de constitucionalidade efetiva é reduzido, ou seja, é limitada a capacidade de exercício dos direitos constitucionais, independentemente da latitude geográfica, do estado civil, do gênero, da renda ou do nível educacional. “No Brasil, na vida real, só alguns têm direitos constitucionais, não todos” (SANTOS, 2011, p.4).

Martins (2011), complementa que as limitações da cidadania no Brasil e a pesada herança cultural gerada inicialmente pelo escravismo e posteriormente ampliada pela questão agrária, constituem o cerne do modo anômalo como a modernidade se difunde no país, deixando a população alijada do processo democrático.

As grandes cidades brasileiras tem tido um aumento crescente da violência e, contrapondo-se a isso de forma veemente, há mais de dez anos a população vem reagindo e reclamando, segundo Leite (2000), por ordem e segurança como garantia dos

direitos individuais. Essa valorização dos direitos civis tenderia a expressar, assim, um movimento de crescente entendimento de direitos e de problematização do precário acesso à justiça, representando uma possibilidade de ampliação efetiva da cidadania.

O significado de cidadania, de acordo com Leite (2000,) foi sofrendo alteração, carecendo de priorização, e se distanciando da valorização do espaço público como o lugar do encontro, da discussão, negociação e da conciliação de interesses divergentes que caracteriza uma cultura política democrática.

Esse fato poderia indicar um esgarçamento da solidariedade cívica, com o correspondente retorno da cidade para a esfera privada, como analisa Reis (1995), recorrendo ao conceito de “familismo amoral” de Banfield (como um ethos que delimita os sentimentos de pertencimento e solidariedade ao âmbito exclusivo da família), para pensar as dificuldades da solidariedade e integração social em contextos de extrema desigualdade, como o brasileiro. Observa-se que ocorre,

uma radicalização do processo de individualização, no qual o individuo não se sente mais pautado pelos valores tradicionais ou nas normas, instituições e ideologias da modernidade (pátria, partidos, trabalho, família patriarcal). (SORJ, 2003, p. 38).

Ainda que os interesses participantes na rede possam ter um conteúdo público e coletivo, para Pinho (2011), parece predominar a busca do interesse do indivíduo, já que a Internet vem embebida de um potencial criativo, libertário e emancipatório, mas, possivelmente, mais fortemente no plano individual . Ou seja, se por um lado, é caracterizada como um território de liberdade e igualdade, por outro, aponta um risco de aprofundamento do individualismo.

Como opostos dessa tendência, um outro movimento vem propondo, nas grandes cidades brasileiras, sentidos alternativos à cidadania e à política mediante a valorização da ideia de solidariedade, múltiplas ações e projetos de resgate da solidariedade entre os cidadãos, com forte ênfase nos seus deveres, e não mais em seus direitos, ou em sua participação política.

Valorizam sobretudo, segundo Leite (2000), a responsabilidade (moral e/ou cívica) dos cidadãos para com a comunidade (o grupo, a cidade ou a nação), fazendo florescer múltiplas formas de participação — voluntárias e/ou com algum grau de profissionalização, em ONGs, campanhas, ações pontuais, projetos, redes, processos de Governo Eletrônico e fóruns, que promovem uma participação da sociedade civil na

formulação ou implementação de políticas públicas, através desse novo personagem que é o cidadão orientado por um espírito cívico.

Nogueira (1998), questiona sobre como pensar e praticar a democracia em meio a tantas mudanças, velocidade e informação, especialmente sabendo-se que a democracia requer um sujeito (o cidadão) capacitado para ponderar. Para ele, a situação está forçando um deslocamento: a política deixa de ser o espaço onde o conflito e as diferenças podem se expressar sem promover destruições recíprocas, ou seja, a política está tendo dificuldades de se pôr como espaço público destinado a abrigar uma complexa operação: representar os interesses (mas também as expectativas, as vontades, as paixões), elaborá-los e transformá-los em critério para a estruturação de universos comuns de convivência, promovendo a conversão do conflito em fator de avanço e construção.

A crise da política é assim tão importante porque desequilibra precisamente o espaço de mediação, a partir do qual indivíduos singulares se tornam membros de uma comunidade, vontades particulares dão origem a vontades gerais, sociedades se convertem em Estado. A crise da política é a colocação em xeque da própria capacidade societal de produzir símbolos unificadores e contextos de relacionamento. [...] a força dos processos estaria promovendo a transfiguração dos protagonistas da movimentação social? (NOGUEIRA, 1998, p. 281-283)

Para que as políticas públicas se efetivem há como condição fundamental, a capacidade de intervenção de diversos atores políticos envolvidos no processo, tendo não só a necessidade do envolvimento do cidadão, como a capacitação dos agentes que precisam demonstrar “capacidade não só para diagnosticar e analisar a realidade social, econômica e política em que vivem, mas também para interagir e negociar de forma democrática com os diferentes atores envolvidos no processo. (RODRIGUES, 2010, p.25).

Um erro que se comete é a simplificação ingênua, é considerar o processo de implementação de políticas públicas somente do ponto de vista técnico, pois deixa de lado o caráter conflitivo do processo, ou seja, sua dimensão política.

A execução de qualquer política pública é um processo complexo que revela a estruturação e o modo de funcionamento de um sistema político- institucional, a verdadeira repartição do poder político entre os diversos interessados na decisão ou envolvidos nela. (PASQUINO, 2010 p. 302-303)

A fase de implementação de uma política, segundo Fernandez (2008), não deve ser percebida de forma simplista, pois essa simplicidade se desfaz quando se reconhece

a existência e o papel de redes de atores, grupos e instituições no desempenho da implementação e impacto nos resultados.

Para Rodrigues (2010), embora a implementação de políticas públicas esteja concentrada nas mãos dos gestores e daqueles que fazem o seu acompanhamento, monitoramento e controle interno, deve haver a

cooperação entre as pessoas incumbidas de promovê-las para proporcionar melhores condições de comunicação entre as pessoas, a cooperação pressupõe uma abordagem decisória de natureza participativa e dialógica, e não apenas uma abordagem gerencial de eficácia comunicativa. (HEIDEMANN, 2010, p. 37).

Os políticos e agentes da administração direta estão sendo pressionados por mudanças que gerem uma “cidadania mais atuante, e que interagirá com mais frequência com o poder público através das novas tecnologias e atuação das redes sociais.” (DIAS E MATOS, 2012 p. 63)

Uma dessas mudanças, portanto, está ligada diretamente a informatização da sociedade e, essas mudanças trazem consequências em diversos aspectos, entre eles a participação cidadã e consequentemente a ampliação da cidadania, principalmente a praticada através de meios digitais, a cidadania digital.

A cidadania digital, que envolve conforme Mossberger, Tolbert e McNeal, (2008), a capacidade de participar da sociedade online, passa a ter mais destaque como objeto de estudo a partir de início do século XXI. Em 2001, por exemplo, Ingrid Götzl do projeto europeu Telecities e da Prefeitura de Viena, traça uma primeira relação entre a cidade digital e os processos de Governo Eletrônico, quando definiu a cidade digital como associação entre formação de espaços públicos e atuação de governo. A cidadania digital ou e-cidadania, consiste, “no direito de exercer a cidadania através das TIC.” (SANTOS et al., 2010, p. 2050)

Ainda que, segundo Silva (2004), as cidades digitais tenham características rizomáticas onde os fixos e fluxos são descentralizados, conectando pontos ordinários (o ciberespaço não tem um controle centralizado, multiplicando-se na maioria das vezes de forma desordenada e anárquica), há a definição de um ordenamento, a partir de conexões múltiplas e diferenciadas.

Para Götzl (2001), essa “ausência” de ordem não acontece, visto que o caráter anárquico das relações que se travam na rede, expressa uma desordem organizadora em zonas de fixação que, muitas vezes, são as demandas comunitárias. Para essa autora, o

enfoque maior da relação entre Cidades Digitais e o Governo Eletrônico estaria na informática comunitária, que praticamente se confunde com o Governo Eletrônico.

As redes e conexões formadas no ciberespaço ampliaram seu alcance no espaço urbano e podem permitir maior participação digital. Na prática, no entanto, muitas vezes não é o que se encontra no país, pois,

ao longo do tempo mudaram-se rótulos para manter basicamente as mesmas interdições, o povo encolhido nos limites de uma cidadania mutilada. O povo brasileiro é um povo residual da história e das artimanhas do poder. Ainda é um povo descartável, que se incorpora como sujeito do proceso político básicamente nos días das eleições. (MARTINS, 2011, p. 211)

A ampliação da cidadania, portanto, passa antes de qualquer coisa por grandes mudanças estruturais que incluem: a reengenharia do setor público e a consideração do cidadão como um cliente e participante político.

Conforme Castells (2013), a cidadania digital, através de processos de Governo Eletrônico, não propicia o empoderamento, já que é regulável, enquanto que essa cidadania exercida através das redes sociais permite o empoderamento em busca da democracia, o que deveria ser estendido para os processos de Governo Eletrônico com a abertura à participação cidadã.

[…] podemos observar que a cidadania digital suporta a realização da igualdade de oportunidades na tradição liberal, e engajamento cívico e participação política na tradição republicana. Os efeitos da Internet são substanciais […] especialmente para as minorias . (MOSSBERGER, TOLBERT e McNEAL, 2008 p. 89)

Para Soares (2012), o processo de urbanização que o Brasil e o mundo vivenciaram nas últimas décadas tem gerado imensos problemas como a favelização, bolsões de pobreza e miséria, esgotamento dos recursos naturais, por isso um novo ordenamento se faz necessário para que as cidades se tornem reais polos de desenvolvimento humano e social e, para isso a utilização das tecnologias de informação e comunicação (TIC) tem muito a contribuir com essa nova ordem na construção das cidades digitais,

O conceito de cidadania envolve, portanto, a participação cidadã, com o engajamento da sociedade civil, como um componente importante da esfera democrática. Participação, que contribui para a deliberação e tomada de decisões políticas através de mecanismos de feedback.

Segundo Rose e Sanford (2007), a cidadania digital da mesma forma, apoia-se na participação digital (e-participação), como uma evolução de um comportamento social

que é facilitado por meio das TIC e outras tecnologias de apoio, mas que possui como importante fator limitante para a efetiva prática da e-participação, a acessibilidade, ou a questão da desigualdade de acesso às tecnologias.

Segundo Mossberger, Tolbert e McNeal (2008), a conveniência de acesso à Internet é apenas parte da equação, ainda que extremamente importante, mas é uma descrição incompleta do problema político, já que habilidades tecnológicas são um fator crítico, e é, portanto, necessário transformar a realidade existente:

São as minorias pobres que enfrentam as maiores barreiras à cidadania digital, pois eles são mais propensos a viver em comunidades com recursos educacionais inadequados, alcançam taxas mais baixas de escolaridade, e são excluídos para concorrer a trabalhos intensivos em tecnologia. A pobreza limita o acesso em casa e uso frequente da tecnologia, e as disparidades educacionais limitam o desenvolvimento das habilidades necessárias para a prática da cidadania digital. (MOSSBERGER, TOLBERT e McNEAL, 2008, p.121-122)

De acordo com Pinho (2011), os estudos de Bucci mostraram que a mesma tecnologia que veio para permitir que mais pessoas tivessem acesso ao espaço público, estabeleceu também uma diferenciação expressa pelo grau de tecnologia que elas conseguem manusear, pela familiaridade com relação ao acesso, aos dispositivos, ou seja, pela exclusão devida a cognição do usuário.

Além de todo o projeto necessário e investimento para reverter essa situação de exclusão, ainda há uma questão cultural a ser trabalhada segundo Reis (2012): a contraposição do “formal” ao “informal” na institucionalização e eventual consolidação da democracia, bem como a vinculação do “formal” com o politicamente bom (“plenamente” institucionalizado) e do “informal” com o precário e deficiente, “omite algo fundamental quanto à natureza das instituições políticas, que se liga a face durkheiniana das instituições em geral”. (REIS, 2012, p. 5)

Só há instituições políticas reais na medida em que seus “formalismos” lançam raízes no “informal”, ou seja, na medida em que se integram em tradições ou culturas em que o agir de acordo com as normas se torne, em grau significativo, espontâneo ou natural. [...] O problema está em obter que o “informal”, que está sempre presente, se torne o suporte de “boas” normas e de uma aparelhagem estatal (formal) apropriadamente democrática. E a dificuldade principal envolvida, que se relaciona de maneira complicada com aspectos relativos à estrutura sócio econômica e ao inevitável jogo dos interesses a ser tido em conta com realismo, está nas incertezas sobre as relações de causalidade entre cultura e democracia, que há muito são motivo de polêmica na literatura de ciência política: e a cultura (política) adequada que produz a democracia ou cabe esperar que a experiência de viver sob a democracia, mesmo se deflagrada em condições por diferentes aspectos

negativas ou pouco favoráveis, venha a produzir a cultura adequada? (REIS, 2012, p, 5- 6)

A mudança social e política que interessa – qual seja a que produza uma sociedade melhor – será, conforme Nogueira (1998), necessariamente o resultado da síntese de condições objetivas, vontade política e conhecimento técnico.

“A mudança é árdua e difícil, em suma, por que os homens tendem sempre a não largar as categorias com que representam o mundo – categorias determinadas por circunstâncias históricas, concretas” (NOGUEIRA, 1998, p. 256). No entanto só com mudanças estruturais, vontade política e a percepção da necessidade de aliar o “formal” ao “informal”, a sociedade como membro do processo democrático dentro da cultura presente, é que a cidadania digital pode ser praticada.

A cidadania digital, segundo Mossberger, Tolbert e McNeal (2008), requer acesso às tecnologias, regular e efetivo uso da Internet e habilidades de uso. O cidadão digital é aquele que tem a habilidade de ler, escrever e navegar por informações na Internet, podendo exercer a participação digital, que contribui para a participação política e o desenvolvimento do engajamento cívico. No entanto, existe grande parcela da população fora desse proceso e observa-se que a:

desigualdade digital isola ainda mais os cidadãos da discussão e deliberação, do conhecimento político que permite a participação e das redes que mobilizam interesses e atividades. Como resultado, amplia a distância entre aqueles que não estão on-line e a possibilidade de representação igual no processo político e a plena participação na comunidade política. (MOSSBERGER, TOLBERT e McNEAL, 2008 p. 150)

Para a realidade da e-participação e exercício da cidadania digital ser possível e amplo, são necessárias mudanças políticas e sociais, que não só amplie a utilização de tecnologia como a possibilidade de participação.

Bustamente (2010) apresenta duas atitudes resultantes possíveis nesse contexto em função das escolhas de cada governo:

a) o caminho até a hipocidadania, a eliminação paulatina da consciência cidadã por meio de várias dinâmicas políticas: aumento do controle social; expansão da informática por padrões proprietários; monopolização dos padrões de hardwares, softwares e padrões de comunicação; promoção de um uso simplesmente lúdico das tecnologias, fomento de um uso superficial e não comprometido das

redes sociais virtuais etc., numa dinâmica desequilibrada tendenciosamente às instituições e desfavorável ao cidadão;

b) o caminho até uma hipercidadania, um exercício mais profundo da participação política que pode-se chamar de cidadania digital, baseada nos elementos:

 a apropriação social da tecnologia, empregando-a para fins de relevância social;

 a utilização consciente do impacto das tecnologias sobre novas formas de democracia participativa;

 a expansão de uma nova geração de direitos humanos, na qual se incluiria o acesso universal à informática (informação automática), à difusão de ideias e crenças sem censura nem fronteiras e por meio das redes abertas;

 a promoção de políticas de inclusão digital, o processo de criação de uma inteligência coletiva que seja um recurso estratégico para inserir uma comunidade ou um país em um ambiente globalizado;

 o desenvolvimento criativo de serviços de Governo Eletrônico que aproximem a gestão dos assuntos públicos dos cidadãos;  a extensão da luta contra a exclusão digital e outras exclusões

históricas de caráter cultural, econômico, territorial e étnico que ferem, na prática, o exercício de uma plena cidadania;

 a proteção frente às políticas de controle e às atividades das instituições de vigilância social;

 a aposta no software livre, no conhecimento livre e no