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2– REFERENCIAL TEÓRICO

2.3 SEGURANÇA PÚBLICA

[...] a arte do homem pode fazer um animal artificial... Mais ainda, a arte pode imitar o homem, obra-prima racional da natureza. Pois é justamente uma obra de arte esse grande Leviatã que se denomina coisa pública ou Estado (commonwealth), em latim civitas, o qual não é mais do que um homem artificial, embora de estatura muito mais elevada e de força muito maior que a do homem natural, para cuja proteção e defesa foi inventado [...] (HOBBES, 1979, p.5)

Desde os primórdios da história estando o homem envolvido em relações sociais, a concepção de conflitos, lutas e consenso mostra, segundo Panza (2013), a vertente de crescimento do pensamento na busca do verdadeiro estado de pacificação, mas que nem sempre é alcançado.

Ainda que tivessem existido estudos como o de Machiavel que, segundo Souza (2006), em toda sua obra, afirmava que os homens são sempre os mesmos, que a natureza humana é imutável, induzindo a máxima que os homens são maus, (o príncipe com a força e astúcia para a vitória, mas utilizando a mentira para a vitória e imposição do poder); até o final do século XVII imperava a filosofia da paz como sendo o estado natural, o que inquietava muitos estudiosos dessa época como Hobbes e Kant, que entendiam haver um estado de guerra.

Para Hobbes, segundo Gondim e Rodrigues (2008), o estado de natureza é a esfera do instinto e das paixões, da liberdade absoluta e ilimitada, do arbitrário e do irracional, no qual não há critérios racionalmente discerníveis sobre justiça ou injustiça, sobre o bem ou o mal, mas o de uma esfera do instinto onde impera o egoísmo, a utilidade e a autoconservação, imperando a lei da força ou da astúcia.

Para esses autores, Hobbes conclui que embora naturalmente livres, os seres humanos vivem pobres, odiosos, deixando emergir instintos animalescos e sob o permanente domínio do medo e da preparação para a luta, logo o que clama pela razão, reclama e justifica a necessidade de uma instância especial que permita e confira critérios de justiça para a preservação dos interesses pessoais e do bem comum, o Estado.

A concepção Hobbesiana, para Kertsting (2004), desenvolve-se na procura de uma justificativa da ordem estatal para superar a realidade do status naturalis, não como anseios de poder, mas como consequência inevitável da atuação humana racional em condições de escassez, a necessidade de autopreservação e de preservação do patrimônio que gera estratégias de desconfiança ofensiva antecipando-se a violência do outro.

Esse pensamento que o filósofo propõe ao homem, ocorre, de acordo com Panza (2013), a partir da visão mecanicista que se atribui ao ser humano, pois duas paixões regem-no: a vontade e a deliberação, principalmente pela ausência de impedimento, onde não há um controle voluntário ou involuntário dos seus atos agressivos. Mesmo os homens sendo essencialmente iguais, os mais fortes subjugam e controlam os mais fracos, dada, conforme já dito, a sua natureza guerreira e bélica.

Para Hobbes (1974), o estado natural preenche o espaço destinado à luta por algo natural, como o poder, a conquista, a posse, etc., onde um mero acordo de paz não levaria o ser humano para fora do status naturalis, já que poderiam existir indivíduos que não respeitam os acordos e o desarmamento unilateral não se realizaria.

De acordo com essa afirmação, Souza (2006) argumenta que a passagem do estado de natureza, visto como um estado de guerra, se dá a partir de um pacto recíproco de todos os homens com todos os homens, instaurando um poder comum. Há necessidade de estabelecer um poder comum, porque o acordo entre a multidão é impossível e, aponta-se ainda para a ideia de que este poder não pode ser transitório, pois as mudanças contínuas geram instabilidade.

Necessita-se de um pacto, segundo Hobbes (1974), que seja um poder alheio ao conflito que garantisse e impusesse a realização do contrato por meio de uma autoridade, protegendo com segurança cada um contra cada um, o que se define como o Estado (transformação da multidão em corpo político). Assim, de acordo com Souza

(2006), não há em Hobbes o entendimento desse pacto como sendo absolutista, já que vem do consentimento de todos.

Uma vez estabelecida esta transferência por parte de cada indivíduo do seu direito total à pessoa única, dá-se a irrevogabilidade, já que só pode ser destituído quando não mais consegue oferecer proteção e aí os indivíduos poderão procurar outro protetor. Assim, Hobbes fundou neste contrato uma soberania absoluta e indivisível, que para Gondim e Rodrigues (2008), aparecem nos escritos de Hobbes como objetivos precípuos de fundamentar e justificar a eficácia do poder e dos princípios de justiça, já que pelo medo constante o ser humano se vê coagido a abrir mão de sua condição de igualdade natural e fazer o pacto em troca de segurança. Ao abdicar da sua liberdade natural, transfere os seus direitos ao soberano, celebrando o pacto, originando-se a justiça, por uma transferência mútua de direitos, atribuindo dessa forma, o poder justificado.

A superação leviataniana do status naturalis, para Kertsting (2004), baseia-se num conjunto de funções formais da pacificação, que produzem uma situação sem violência e o Estado assume uma simplificação, à qual a vida no status naturalis está reduzida, como princípio fundamental de avaliação e valoração da vida política: morte ou vida, amigo ou inimigo. O soberano repete meramente a luta pela autopreservação no status naturalis e assume a lógica de prevenção e suspeição que este desenvolveu, cuidando do seu povo como se fosse do seu corpo.

Sendo assim, Kertsting (2004), afirma que a paz hobbesiana apoia-se duplamente, para dentro e para fora, num estado de intimidação, que dá ao leviatã uma aparência marcial, uma máquina pacificadora armada cujo aliado é a racionalidade econômica que leva o egoísta propenso a aumentar o lucro, a adaptar-se estrategicamente às condições da política de intimidação interna e externa.

Cabe ressaltar, de acordo com Gondim e Rodrigues (2008), que, embora o ponto de partida na teoria hobbesiana seja a igualdade natural dos homens, no seu contratualismo é recusada a concepção de uma igualdade extensiva a todos que terão de viver sob as instituições básicas da sociedade. Sob esse aspecto, não se trata de um pacto qualquer, mas de um acordo ancorado em um poder coercitivo, que obriga a todos ao cumprimento do contrato. Celebrado o pacto, origina-se a justiça, por uma transferência mútua de direitos, e, assim, para Hobbes (1974), demonstra-se por que o poder é justificado.

Outro estudioso do tema foi John Locke (1999), que argumentava que os seres humanos, no começo da história, se encontravam no estado de natureza, e ali se conservavam até o momento em que aceitavam, espontaneamente, formar, por meio de um pacto, uma comunidade verdadeiramente política num convênio específico, pelo qual todos assumem um compromisso, simultaneamente, de se fazerem membros de um único corpo moral e coletivo.

No entanto, para Espíndola (2008), Locke opõe-se ao pensamento de Hobbes ao negar que o estado de natureza é um estado de guerra em que os homens aparecem como inimigos ferrenhos uns dos outros, já que para ele o que acontece são os homens vivendo juntos segundo a razão, sem um superior comum na terra com autoridade para julgar entre eles.

O que se percebe, é que na prática há uma serie de relações que ultrapassam a razão. O próprio Locke (1994) concorda que existem inconveniências nesse mundo dos primeiros tempos, que o fazem ter um equilíbrio precário, levando ao desencadeamento de conflitos entre os homens que se confirma ou se consolida com a ruptura dos imperativos ditados pela lei natural, vigorando, portanto, o estado de guerra.

Kertsting (2004), complementa mostrando que na visão de Kant, outro estudioso do tema, a paz é resultado de uma codificação das relações conflituosas no mundo da liberdade externa, onde a violência entre seres humanos e entre esses e o estado pode irromper, o que levou a descoberta da necessidade do ordenamento jurídico. A teoria kantiana da base social global aniquila todo o sustento teórico da guerra justa.

A violência surge, portanto, desde o início da civilização humana, o que Hobbes (1974) denominava Estado da Natureza (preceito natural que ordena fazer o necessário à sobrevivência), estado de guerra com possibilidade constante da eclosão da violência, sendo o homem lobo do próprio homem, só vindo a ter fim com uma construção racional, que não deriva da ação de indivíduos isolados, mas do surgimento institucional do Estado.

O Estado que pode ser definido como uma associação política que apresenta um aparato administrativo, com a função de prover a prestação de serviços públicos e reivindicar “com êxito o monopólio legítimo da coação física para realizar as ordens vigentes.” (WEBER,1991 P. 34)

Para Weber, o Estado, sociologicamente, só se deixa definir pelo meio especifico que lhe é peculiar, tal como é peculiar a todo outro agrupamento político, ou seja, o uso da coação física. Em outras palavras, o Estado define- se como a estrutura ou o agrupamento político que reivindica, com êxito, o monopólio do constrangimento físico legítimo. A esse caráter específico do Estado, acrescentam-se outros traços: de um lado, comporta uma racionalização do Direito com as consequências que são a especialização dos poderes legislativo e judiciário, bem como a instituição de uma polícia encarregada de proteger a segurança dos indivíduos e de assegurar a ordem pública; de outro lado, apoia-se em uma administração racional baseada em regulamentos explícitos que lhe permitem intervir nos domínios os mais diversos, desde a educação até a saúde, a economia e mesmo a cultura. Enfim, dispõe de uma força militar, por assim dizer, permanente. (MALISKA, 2006 p. 20-21)

Um Estado com a tarefa, segundo Veronese e Caire (1999), de organizar os indivíduos em sociedade, definindo regras de convivência e estabelecendo sanções, dentro dos princípios de igualdade e justiça, àqueles cujo comportamento violasse do contrato, aplicadas especialmente pelos aparelhos repressivos do Estado – polícias civil, militar e forças armadas.

Desde o fim dos regimes absolutistas e, até hoje, o Estado permanece com o exclusivo direito do jus puniendi, direito de punir, tendo os limites das próprias leis e avocando para si a responsabilidade pela segurança dos cidadãos, o que Veronese e Caire (1999) denominam de monopólio da violência legítima.

A violência não é, segundo Maliska (2006), evidentemente, o único instrumento de que se vale o Estado, mas é seu instrumento especifico. 

Para Kritsch (2010), a paz pressupõe a renúncia aos direitos ilimitados, vinculada à expectativa quanto ao comportamento dos outros, o que Hobbes (1974), pensando como um jurista, define que para montar essa rede de expectativas e compromissos, é necessário o que se denomina de contrato, com um poder comum acima dos contratantes, com direito e força suficientes para impor seu cumprimento.

Portanto, para que as palavras 'justo' e 'injusto' possam ter lugar, é necessária alguma espécie de poder coercitivo, capaz de obrigar igualmente os homens ao cumprimento de seus pactos, mediante o terror de algum castigo que seja superior ao benefício que esperam tirar do rompimento do pacto, e capaz de fortalecer aquela propriedade que os homens adquirem por contrato mútuo, como recompensa do direito universal a que renunciaram. E não pode haver tal poder antes de erigir-se um Estado. (HOBBES, 1974, p. 90).

Um Estado que garanta a ordem, composto de uma força suficiente para impor- se sobre as forças particulares e, para isso, entrega-se o poder a um indivíduo ou a uma assembleia. Para Panza (2013) o poder soberano existe como uma forma real e concreta de impedir o avanço desse estado de natureza, com a consequente possibilidade de

coexistência, ou seja, o caráter de sociabilidade dos homens onde estes cedem uma parte seus direitos, transferindo-os aos soberanos para um controle social de maior amplitude e dimensão. Com isso, o estado de insegurança em que se encontram tende a se afastar, já que a abdicação de seus direitos enseja numa nova dimensão de relação sob a ótica do que deve ser, do como agir e do como se portar.

Os homens, segundo Hobbes (1974), podem ser governados de três maneiras: pela monarquia, pela aristocracia ou pela democracia. A diferença entre as três formas de regime não está no poder, já que esse deve ser estabelecido de forma absoluta para lhe dar força de imposição, mas na conveniência, isto é, na capacidade de garantir a paz e a segurança do povo, fim para o qual foram instituídas.

Quando o soberano idealizado por Hobbes (Leviatã) existe, a justiça, aqui no sentido estrito de obrigações mútuas, passa a ter sentido, uma vez que os acordos e as promessas passam a ser obrigatoriamente cumpridos e são penalizados aqueles que descumprirem, já que muitas vezes algumas garantias constitucionais são mal interpretadas pelo indivíduo, considerando que suas vontades e desejos são superiores aos dos semelhantes, desestabilizando a sociedade, e nesses casos o Poder de Polícia passa a ser necessário ainda que de forma razoável.

De acordo com Souza (2006), tanto para Maquiavel quanto para Hobbes, havia uma forte justificação objetiva para o fato de que a criação de uma eficaz autoridade seria condição indispensável para que o estado pudesse instituir a ordem e a paz – dada a natureza humana em Maquiavel e a concepção do estado de natureza em Hobbes. Os dois autores acabam por instituir a noção de “razão de estado”, que pressupõe que a segurança do estado é uma exigência de tal importância que os governantes podem agir de forma severa e utilizar métodos que considerarem imperativos.

Assim, os teóricos da razão de estado defendem a necessidade do monopólio da força por parte do Estado, fundamentando seu argumento numa visão realista e desencantada da natureza humana, ou seja, na convicção de que sem uma autoridade central capaz de impor a ordem, a sociedade cairá inevitavelmente numa anarquia, inibindo a possibilidade do progresso moral, econômico e civil.

Segundo Espíndola (2008), Hobbes encontra no advento do Estado um recurso para estabelecer, fundamentalmente, a neutralização dos conflitos e gerar a segurança pública, viabilizando o empreendimento do progresso material. Por essa razão, escreve

Bobbio (1996), é que os homens saem do estado de natureza, segundo Hobbes, por razões de segurança (a busca da paz), já que o fim do Estado é tornar os homens seguros.

Segurança para Teixeira (2002), é uma questão de Estado, mas, mais do que isso, é um bem público, já que sem segurança não há desenvolvimento econômico e sem segurança não há democracia.

Por essa razão, de acordo com Silva (2011), haveria uma tendência de que o próprio homem se destruísse, havendo, por isso, a necessidade de que se organizassem através de um acordo entre os membros, que garantisse a preservação da sociedade, pela paz, impedindo, assim, com a natureza degradante do ser humano, a sua própria destruição, o que fez com que surgisse a ideia de um Estado policial que controlasse a “natureza humana”, refletindo-se num contrato social de sujeição, já que haveria, através dele, uma glorificação do poder absoluto do soberano, que nos limites do seu território, sua onipotência não daria margem a abusos.

Até mesmo observa-se, nos escritos de Marx (2005), a importância dessa limitação de liberdade quando ele diz que

o direito do homem à liberdade não se baseia na união do homem com o homem, mas, pelo contrário, na separação do homem em relação a seu semelhante. A liberdade é o direito a si mesmo. A aplicação prática do direito humano da liberdade é o direito humano à propriedade privada.”(Marx, 2005, p.35)

Tanto em Marx quando Hobbes, pode-se observar a análise da questão da natureza humana – passível de direitos humanos, que lhe regularizem sua condição inerente de ganância e egoísmo, como indivíduos e que através do Estado, positivador de normas, eleva essa condição humana à de cidadão, numa plenitude de convivência com o outro, em coletividade.

Para Silva (2011), o Estado policial surge, exatamente, no contexto de controle da “natureza humana”, onde seu valor está no fato de que há separação entre os homens, inerentes à sua condição natural divergente. Logo, a liberdade que possui socialmente, está exatamente no fato de lhe reconhecer seus direitos civis, como homem individual. E, é o reconhecimento dos direitos desse homem civil, que perfaz a concepção desenvolvida acerca da democracia.

De acordo com Brito (2014), segurança Pública, sob o aspecto jurídico seria o afastamento por meio de organizações próprias (legitimadas pela soberania popular no

Estado Democrático de Direito), de todo o perigo ou o mal capaz de afetar a ordem pública, em prejuízo da vida, da liberdade ou de direitos de propriedade dos cidadãos, como uma condição concreta proporcionada pelo Estado legal, através da garantia e preservação de direitos e liberdades individuais a serem alcançadas por seus cidadãos, na qual pode haver até mesmo uma limitação individual em detrimento do bem estar de toda a sociedade.

Segundo Ráo (1997), essa “proteção-coerção” é que permite ao poder público intervir com a força, em defesa do direito ameaçado ou violado, a fim de manter, efetivamente, a vida em comum na sociedade. O que ocorre é que muitas vezes a utilização do poder é exacerbada e gera violência institucionalizada.

A violência institucionalizada é aquela, segundo Veronese e Caire (1999), exercida pelo próprio Estado, quer seja na ação de seus agentes, ou na sua omissão diante de circunstâncias nas quais deveria intervir, já que a imposição da ordem e da lei conferiu aos aparelhos repressivos do Estado, o caráter temerário perante os cidadãos, que se submetem aos seus comandos, muito mais por temor do que por respeito à autoridade.

Isso se deve em grande parte pela militarização dos aparelhos do estado quando deveria ocorrer diferente, pois, uma política de segurança pública não se traduz em combate à violência, mas ao contrário deveria ser um trabalho para evitar que a violência aconteça.

Ainda que o Estado tenha por fim oferecer condições para que todas as pessoas que integram a comunidade política realizem seus desejos e aspirações e que, para tanto, seja assegurada a ordem, justiça, bem estar e paz, através da segurança pública que visa os interesses dessa coletividade, muitas vezes no Brasil sua atuação esteve ligada a interesses privados.

Segundo Holanda (1995), no período colonial os capitães-mores ou autoridades locais, nomeados pela metrópole, acumulavam de forma abusiva as funções administrativas, judiciárias e policiais; durante o Império, o exercício dos cargos de chefes de polícia era feito pelos juízes togados ou por milícias particulares pertencentes à aristocracia rural; e, por todo o período republicano, de 1889 a 1930, serviu ao atendimento dos interesses privados das classes dominantes. Os períodos seguintes, segundo Brito (2014) referentes à era Vargas (1930-1945), período populista (1946-

1964) e pelas duas décadas de regime militar até 1985, foram marcados não só pelo autoritarismo político, mas também pela doutrina da segurança nacional militarizada, que compôs um legado autoritário militarista, mesmo com a redemocratização, responsáveis pela visão pejorativa negativa com que as instituições policiais ainda são sentidas hoje e por sua falta de credibilidade.

As políticas públicas de segurança têm, historicamente, um aspecto coercitivo oficializado que os cidadãos sempre aceitaram como legítimo.  

Para Weber, M. (2004), deve-se conceber o Estado contemporâneo como uma comunidade humana que, dentro dos limites de determinado território – a noção de território corresponde a um dos elementos essenciais do Estado – reivindica o monopólio do uso legítimo da violência física. E, com efeito, é próprio de nossa época o não reconhecer, em relação a qualquer outro grupo ou aos indivíduos, o direito de fazer uso da violência, a não ser nos casos em que o Estado a tolere: o Estado se transforma, portanto, na única fonte do "direito" à violência.

Ainda nos dias atuais, a relação entre o Estado e a violência é particularmente íntima. Em 1997, visando resgatar essa imagem, foi criada a Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), responsável pela implantação de um novo modelo de organismo policial para todo o país, pautado na qualidade de formação profissional, em melhores salários, políticas de incentivo, amparo (tecnológico, humano e logístico), valorização do profissional da área e respeito aos Direitos Humanos, mas, mesmo assim para Gomes e Garcez (2013), o Estado ainda não equipou e formou suas polícias para lidar com a situação de normalidade democrática de direitos e garantias. 

Somado a tudo isso, a globalização, ao colocar em crise o Estado do Bem-estar social, com todos os aspectos negativos decorrentes, em particular o aumento da miséria, violência e desemprego global, além, segundo Sadek (2003), do processo de