• Nenhum resultado encontrado

2– REFERENCIAL TEÓRICO

2.2 POLÍTICAS PÚBLICAS

“Se os cidadãos não tiverem os meios e formas e se autogovernar, as políticas mais bem planejadas, os programas mais bem intencionados, as estratégias mais sofisticadas podem ser ineficazes ou corromper-se ao serem implementadas.” (CASTELLS, 2013 p. 180)

O conceito de política que nasce com Aristóteles no século 4 a.c., é derivado, segundo Bobbio (2000), do adjetivo originado de polis, que significa tudo que se refere a cidade e ao que é urbano, civil, público e social e é empregado para indicar o conjunto de atividades que têm referência na polis, isto é, o Estado. Envolve uma área ou domínio que é comum a todos, onde as decisões são públicas e afetam as pessoas em comunidade. “É a soma das atividades dos governos que agem diretamente ou por meio de agentes, e que influenciam a vida dos cidadãos.” (PETERS, 1993, p.4).

Considerada, segundo Dias e Matos (2012), uma área da Ciência Política, a política pública é definida historicamente como um programa de ação de uma autoridade ou o resultado de uma entidade investida de poder público e de legitimidade institucional (cabendo ao legislador o delineamento de ações e metas de forma centralizada). As políticas públicas foram adquirindo autonomia a partir de meados do século XX na Europa e Estados Unidos, sendo que no Brasil, apenas começaram a ser estudadas a partir do final dos anos 70.

As políticas públicas envolvem preferências, escolhas e conversão de decisões privadas em decisões e ações públicas e devem ser controladas pelos cidadãos. “O termo público associado à política, não é uma referência ao Estado, como muitos pensam, mas, sim, à coisa pública, ou seja, de todos, pertencente ou destinado ao povo, sob a égide de uma mesma lei e o apoio de uma comunidade de interesses.” (DIAS E MATOS, 2012, P. 14)

Segundo Bucci (2008), as políticas públicas constituem um meio de concretização dos direitos que estão codificados nas leis de um país e implica no estabelecimento de uma ou mais estratégicas orientadas à solução de problemas públicos, que resultem na ampliação do bem estar social. O estabelecimento de prioridades, objetivos e metas a serem alcançadas constitui o núcleo central de uma política pública e sinaliza para todos os envolvidos os parâmetros a serem seguidos.

Levando-se em conta os avanços da sociedade da informação, os mecanismos de produção da informação e o acesso do público com possibilidade de participação na elaboração, implementação e gestão das políticas públicas, está havendo uma mudança de ênfase, em que o resultado torna-se mais importante que o processo e as políticas públicas podem se referir a “cursos de informação, relacionados com um objetivo público definido de forma democrática; que são desenvolvidos pelo setor público e, frequentemente com a participação da comunidade e do setor privado.” (LAHERA, 2002 p. 13)

Devem resultar de um processo de decisão do governo com a participação da sociedade civil, atores que influenciam na formatação e aplicação das políticas públicas, para que sejam estabelecidos os meios (programas, critérios, linhas de ação e normas), para que se atinjam os resultados planejados.

Para o BID (2007), as políticas públicas que são oriundas de novas demandas, recorrentes ou reprimidas (normalmente ingressada na agenda política devido à mobilização social), devem possuir características que garantam sua qualidade: consideração do interesse público, estabilidade (mudanças gradativas e a partir de consensos), coerência e coordenação, qualidade da implementação, qualidade da aplicação efetiva e eficiência.

A existência de sistemas de governança (novo estilo de governo caracterizado por um maior grau de interação e cooperação entre o Estado e os atores não estatais em nível local) se constitui em uma nova forma de governar baseada em redes de decisões conjuntas, e que configuram segundo Dias e Matos (2012), uma nova forma de implantar políticas públicas, na qual a participação cidadã na elaboração de propostas é ampla.

A governança pode ser vista como o exercício da autoridade econômica, política e administrativa com mecanismos e processos através dos quais os cidadãos e grupos

articulam interesses, exercitam seus direitos legais, cumprem as suas obrigações e mediam suas diferenças em prol da vida em sociedade, das vidas em suas cidades.

A existência da possibilidade de participação social na geração de políticas públicas surge a partir da constituição de 1988 e

“revela a existência de uma nova cultura política que fundamente as relações Estado/sociedade; relações democráticas em que o debate via argumentação e o confronto de ideias entre diferentes atores sociopolíticos e culturais, com posições político-ideológicas e projetos sociais, estejam sempre presentes.” (GOHN, 2004, p. 59)

Para Bonafont e Roqué (2008), a prática da governança supõe uma ruptura com o modelo de Estado tradicional, hierárquico e centralizado, enfatizando a necessidade de desenvolver formas de cooperação política com a interação e interdependência como elementos-chave, formando redes de atores públicos e privados, que trocam recursos e informações, visando a eficiência democrática. Essas redes podem ser sintetizadas segundo Schneider (2005), como :

a) A formulação de políticas públicas não é mais atribuída somente à ação do Estado enquanto ator singular, mas resulta da interação de muitos atores distintos. A esfera estatal passa a ser entendida como um sistema de múltiplos atores.

b) Na formulação e implementação de políticas públicas, além dos atores públicos, estão envolvidos atores privados de distintos setores sociais.

c) O conceito de redes de políticas públicas se refere a vínculos diretos e indiretos, através dos quais os atores envolvidos estão integrados na formulação e implementação das políticas públicas.

d) Os atores envolvidos direta ou indiretamente com as políticas públicas têm diferentes poderes e capacidades de influência.

e) Posições de poder e influência não são determinados somente pelo status político formal, mas também por meio de vínculos informais.

A boa governança exige mediação dos diferentes interesses da sociedade, para alcançar consenso sobre o que é o real interesse da comunidade e, como isso pode ser alcançado. As TIC possuem um importante papel facilitador nesse processo da prática da boa governança, incluindo o cidadão como ator no processo de elaboração/implementação/gestão das políticas públicas.

As infraestruturas de comunicação e de processamento e os padrões de arquitetura de sistemas, de interoperabilidade e de segurança da informação são viabilizadores das estratégias da gestão, mas não podem prescindir de boas práticas de governança. Assim, as soluções de TIC que implementam conceitos de cidade inteligente precisam ser elaboradas e desenvolvidas como parte das estratégias de governo. (MIRANDA E CUNHA, 2014, p. 68)

As sociedades do conhecimento sempre existiram, sempre vão existir. No entanto, é nova a ideia de sociedade do conhecimento como um conceito orientador de políticas públicas nacionais e internacionais. “E por ser um debate recente há muito por ser elaborado, construído, aprofundado e requacionado.” (CANELA em CETIC, 2013 p. 6)