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2– REFERENCIAL TEÓRICO

3- ABORDAGEM METODOLÓGICA

3.2 DECISÕES OPERACIONAIS

As decisões operacionais visam definir as linhas que guiam os procedimentos na realização da investigação, principalmente em relação à abordagem de pesquisa e definição do seu método, instrumentos e técnicas de coleta de dados ou observação dos sujeitos da pesquisa, natureza dos dados buscados, análise e interpretação dos dados, entre outros aspectos.

3.2.1 Estratégia da Pesquisa - O projeto adotou a lógica abdutiva por julgar-se ser a mais apropriada à análise de dados para construção de conhecimento sobre a cidadania digital no Brasil, tema muito pouco explorado, principalmente a partir da análise dos elementos envolvidos nos conceitos e aplicações sobre Cidades Digitais e Governo Eletrônico na segurança pública.

Para Félix (2007), enquanto o empirismo, lógica indutiva, toma a experiência enquanto experiência passada, ou seja, como um patrimônio limitado que pode ser inventariado e sistematizado de forma absoluta, o pragmatismo, lógica abdutiva que segundo Ottoboni (2009), é um raciocínio que se move entre indução e dedução, entende a experiência como abertura para o futuro, ou seja, como possibilidade de fundamentar a previsão, não em confronto com a experiência passada, mas em relação com o possível uso futuro dessa experiência passada.

Segundo Peirce (1977), a abdução é a busca de uma conclusão ou verdade a partir da interpretação racional de sinais, de indícios, de signos, utilizada normalmente em estudos de campos ainda pouco pesquisados. Caracteriza-se como uma intuição que não se dá de uma única vez, mas passo a passo até chegar a uma conclusão.

Peirce (1977), argumenta que na lógica de abdução, o que está implicado não é uma função de verdade, mas antes uma relação de causalidade, entendendo a experiência como abertura para o futuro, ou seja, como possibilidade de fundamentar a previsão, não baseado apenas nos fatos e experiência passada, mas em relação a possibilidade de utilização futura dessa experiência passada para vislumbrar e buscar prever experiências futuras.

A abdução estabelece a probabilidade da conclusão da inferência e não necessariamente a sua verdade. Através da abdução também, infere-se conhecimento que não está contido nas premissas, no entanto, diferentemente da indução, a abdução não estabelece regras gerais sobre a observação, mas a causa específica do efeito específico observado, conhecendo-se a regra geral que governa o fenômeno observado.

De acordo com Felix (2007), na medida em que a abdução é um processo de formação de uma hipótese explanatória, é a única operação lógica que introduz uma ideia nova. A abdução “simplesmente” prova que alguma coisa pode ser e a partir disso muito pode contribuir em se estudar como se deve fazer para alcance de objetivos.

A lógica abdutiva, segundo Feitosa, Popadiuk e Drouvout (2009), trabalha com o seguinte processo:

a) Conceito – pensa da evidência para a explanação, descobre e valida as causas a partir dos efeitos observados.

b) Objetivo – Procura entender e descrever a vida social em termos dos motivos e conceitos dos agentes.

c) Processo – Inicia com a indução de princípios gerais, a partir de conceitos, significados e motivos existentes no cotidiano ou coletados empiricamente, visando produzir uma descrição técnica das descrições existentes, podendo desenvolver uma teoria testando-a interativamente.

Bandeira-de-Mello e Cunha (2006), citando Haig (1996) e Wirth (1998), destacam que a lógica de inferência abdutiva é um processo de idas e vindas do nível conceitual, abstrato, ao nível dos dados; “a coleta de dados, a análise, a formulação e a validação da teoria são reciprocamente relacionadas, em um processo indutivo de interpretação e em um processo de dedução e validação das proposições”. (BANDEIRA-de-MELLO e CUNHA, 2006, p. 251),

3.2.2 Métodos de Pesquisa – Ao se observar a perspectiva do funcionalismo e o interpretativismo, Weber, R. (2004), destaca que os pressupostos metodológicos são os únicos que realmente diferenciam as duas visões, pois aqueles pesquisadores que adotam uma ou outra abordagem tendem a escolher mais fortemente alguns métodos de pesquisa em detrimentos de outros: os interpretativistas tendem a usar estudos de caso,

estudos etnográficos, estudos fenomenográficos, dentre outros, e, os funcionalistas têm a tendência a utilizar métodos como levantamentos e estudos de campo.

Neste caso, para nortear essa pesquisa qualitativa que seguiu o pressuposto interpretativista e como a construção da cidadania digital, ainda que considere a tecnologia e os sistemas e processos de governo eletrônico, envolve fortemente o conhecimento humano, as habilidades tecnológicas, a interação social e o grupo a que pertence, optou-se por utilizar como método o de estudo de casos múltiplos (bastante flexível, mostrando-se apropriado para lidar com teorias emergentes, prestando-se fundamentalmente às pesquisas interpretativistas).

A pesquisa foi realizada através de estudo de casos múltiplos, que para Yin (2001) e Stake (2005), é uma análise empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto de vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos.

A investigação de estudos de caso enfrenta uma situação tecnicamente única em que haverá muito mais variáveis de interesse do que pontos de dados e, como resultado, baseia-se em várias fontes de evidências qualitativas.

Nesse método, o pesquisador procura deixar de lado os preconceitos, mantém distância dos fenômenos investigados para ater-se aos fenômenos através de uma investigação crítica, sistemática e rigorosa, que destaque não só o aparato tecnológico e de sistemas de segurança pública envolvidos, como as experiências das pessoas, a relação entre esses atores sociais, apreendendo a essência geral do fenômeno concreto.

Essa pesquisa, que foi trabalhada a partir do estudo de casos múltiplos, analisou o arcabouço tecnológico, as práticas e amplitude do governo eletrônico na segurança pública, a participação dos cidadãos (e-participação) através dos portais e/ou mídias sociais nas cidades digitais que integraram a amostra, de forma a pesquisar sobre a construção da cidadania digital nestas cidades.

A técnica de estudo de caso, para Stake (2005), é um caminho natural em pesquisas qualitativas, já que o pesquisador pode explorar em profundidade um processo com um ou mais indivíduos e segundo Yin (2001), é bastante útil quando o foco da pesquisa é o relacionamento entre atores sociais num determinado contexto da vida real, através de observações diretas e entrevistas sistemáticas, já que permite explorar em profundidade essas relações no contexto cotidiano.

Além disso, segundo Walshan (1995), a escolha da técnica de estudos de caso justifica-se por ser uma técnica comumente utilizada em estudos interpretativistas e principalmente no campo da tecnologia e de sistemas de informação. Como o assunto a ser tratado na pesquisa envolve duas variáveis que se conectam a fatores relevantes: cidades digitais e governo eletrônico em segurança pública, relações entre atores sociais públicos e privados, portanto um estudo amplo e complexo, a pesquisa adotou, portanto, uma abordagem qualitativa através do método de estudos de casos múltiplos.

Como passo preliminar do presente estudo, foi desenvolvida uma pesquisa exploratória referente à produção acadêmica sobre os temas envolvidos: governo eletrônico, segurança pública, cidades digitais, difusão da inovação, participação digital e cidadania digital, envolvendo principalmente a e-participação através dos portais e das redes/mídias sociais digitais, em livros e principalmente nos principais journals acadêmicos dedicados ao tema.

Essa tese adotou o método qualitativo, valendo-se também de alguns dados quantitativos, onde o quantitativo é utilizado com base em estatísticas simples para garantir uma correta análise qualitativa do objeto de estudo.

O projeto objetivou não só investigar qualitativamente, o arcabouço digital e perspectivas de atuação das cidades digitais, a partir do estudo de cidades classificadas como digitais, as práticas de governo eletrônico utilizadas na segurança pública dessas cidades neste arcabouço e principalmente através da e-participação a partir da interconexão com portais e as redes sociais digitais, de forma a investigar como se dá essa relação, quais canais são utilizados ou podem ser implementados, bem como os atributos de operabilidade devem ser disponibilizados na ótica do cidadão.

3.2.3 Seleção dos Casos Estudados – A seleção dos casos estudados não tem relação com uma amostra, os casos são estudados para que se possa entender o próprio caso, entender o caso a partir de características representativas do país e permitir um grau de comparação entre os casos gerando assim, considerações que possam entender a participação digital no âmbito da segurança pública e permitir melhorias tanto operacionais como no âmbito das políticas públicas.

Para que houvesse uma análise ampla e, que se pudesse entender as realidades locais e inferir questões sobre a realidade nacional, seguiu-se os seguintes parâmetros:

1. Todas as cidades sejam consideradas cidades digitais com oferecimento de processos de Governo Eletrônico federais, estaduais e municipais.

2. Além da cidade sede da Universidade Federal da Bahia, fossem escolhidas cidades que representem o eixo Norte/Nordeste, Sul/Sudeste e Centro Oeste.

3. Pelo menos uma das cidades tenha sido digitalizada através do Projeto de Cidades Digitais do Ministério das Comunicações do Governo Federal.

4. Todas elas possuam histórico de altos índices de violência e/ou digitalização segundo o Mapa de Violência edições 2014 - 2015, editado pela Secretaria da Presidência da República.

Com esses parâmetros foram escolhidas as seguintes cidades:

1. Caso 1: Foi escolhida a cidade do Salvador no Estado da Bahia,