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Os Inacianos sabiam que, para a sobrevivência da Companhia e para o seu desenvolvimento de forma progressiva, era necessário salvaguardar a manutenção dos Colégios, já que os seus membros não podiam possuir bens para sustentação particular:

“que por quanto a dita religião, pretende que os religiosos dela sejam pessoas que não tenham no mundo cousa própria, nem esperança de a poderem algum tempo alcançar, para que assim possam melhor e mais perfeitamente servir o nosso Senhor e seguir seus conselhos evangélicos, tem por sua Constituições que os ditos religiosos sejam obrigados a dispor depois de passados dois anos que tem de noviciado, e provação de todos seus bens móveis e de raiz já adquiridos e dos que podem adquirir, deixando a pobres ou a parentes como parecer mais serviço de nosso Senhor”30.

A atuação direta junto ao poder real e à corte tornou-se inevitável, uma vez que se revelou como uma forma possível de se revestirem de privilégios temporais, garantindo o crescimento da missão Jesuíta.

28 Idem, ibidem, art. 342, p. 134.

29 Idem, ibidem, art. 346, p. 135.

Em Portugal, D. João III, impressionado com a imagem de virtude dos Inacianos, no exercício dos ministérios e na dedicação às obras de caridade, continuou a favorecer a Instituição na esfera temporal. O apoio foi consubstanciado em doações de propriedades e dotações de quantias avultadas para os Colégios Jesuítas, a fim de garantir a manutenção dos religiosos e dos estudantes.

Tais ações eram de extrema importância, pois, conforme observou Francisco Rodrigues, “a missão dos Jesuítas era uma empresa de grande alcance, que não

podiam levar adiante sem recursos consideráveis [...]”31.

Os monarcas portugueses, ao fazerem “graça e mercê por esmola” aos Jesuítas, permitiram que estes gozassem de privilégios e liberdades que os auxiliavam no maneio das suas atividades.

Todos estes benefícios e garantias passavam a vigorar a partir da data da publicação e tornavam-se instrumento de lei, que anulava todo e qualquer regimento, estatuto ou provisão anterior que determinasse ou deliberasse o contrário.

Estas práticas, aparentemente comuns, assumiram um ritmo acentuado com o passar dos anos impulsionado pelos primeiros anos de ação evangelizadora do território português.

O poder real dava, assim, condição para o financiamento dos Colégios e também garantia a sua manutenção. Auxiliava na cobrança e execução das dívidas, e garantia isenções importantes aos Jesuítas, como o não pagamento de sisas sobre os bens de raiz que compravam ou vendiam, permitindo a circulação de produtos entre as unidades Jesuítas (Colégios, Casas Professas), tanto na Europa, América, como nas Ilhas Atlânticas, desde que fosse para uso e manutenção dos religiosos.

Esse património veio a acrescentar-se mais tarde por outras vias, tais como a provisão sobre a forma de esmolas dadas por benfeitores eclesiásticos, pessoas da nobreza, ou outras particulares, os quais, no seu conjunto, tiveram um peso tão importante quanto a Coroa, nas suas doações à assistência portuguesa da Companhia de Jesus.

A acumulação de rendimentos completar-se-ia através de uma política ativa de compra de bens imóveis, da exploração de várias propriedades agrícolas, que a ordem tinha, e dos benefícios obtidos através do arrendamento de casas e terras pertencentes aos diferentes Colégios.

Segundo as Constituições, podemos verificar qual a estratégia seguida pela Companhia na obtenção do indispensável sustento económico. Efetivamente, os Colégios podiam tornar-se proprietários, administrando e aplicando os bens doados, e nomeando para a sua administração um Padre Reitor:

“A Companhia receberá a propriedade dos Colégios com os bens temporais que lhe pertencem e nomeará para eles um Reitor que tenha o talento mais apropriado ao ofício. Este assumirá a responsabilidade da conservação e administração dos bens temporais, olhará pelas necessidades tanto do edifício como dos Escolásticos que residem nos Colégios ou se preparam para neles viver, bem como os que tratam os assuntos dos mesmos, mas residem fora deles. O Reitor deve estar ao corrente de tudo, para de tudo dar conta, quando lhe for mandado, à pessoa indicada pelo Geral. E este, não podendo destinar em seu proveito, ou de seus parentes, ou da Companhia Professa, os bens temporais dos Colégios, com tanto maior desinteresse actuará na gerência deles para maior glória e serviço de Deus Nosso Senhor”32.

Cabia, pois, ao Superior Geral ou ao Padre Provincial defender e conservar as propriedades e rendimentos dos Colégios, mesmo em tribunal, quando tal fosse necessário:

“Como as Bulas indicam, a Companhia, para a manutenção dos seus Escolásticos exercerá a administração das rendas por intermédio do Superior Geral, ou do Provincial, ou de alguém a quem o Geral tenha confiado este encargo, a fim de defender e conservar as propriedades e rendimentos dos Colégios, mesmo em tribunal, quando tal fosse útil ou necessário. Competirá também ao Geral, ou a quem dele tiver recebido este ofício, aceitar outras doações feitas aos Colégios para o sustento e desenvolvimento deles nas coisas temporais”33.

32 Abranches, Joaquim Mendes, op. cit., art.º 326, p. 129.

Dentro desta estrutura de funcionamento, eram importantes também os Padres procuradores que tinham como função tratar dos assuntos da Companhia, na Cúria do Sumo Pontífice ou junto das Cortes dos Reis34.

Afirma Paulo da Assunção que a Companhia de Jesus prosperou

“sem perder o discurso do pioneirismo e da acção heróica dos primeiros tempos. A Instituição somente acrescentou os seus registos, dados temporais de produção, administração, balanços, débitos e créditos. Os funcionários de Deus trabalhavam orando, cultivando, contando e ampliando a seara divina”35.

Os Procuradores

O Padre Procurador era nomeado pelo Padre Reitor e responsável pela administração e condução dos assuntos referentes a um Colégio e às suas propriedades. Para conhecer os trâmites administrativos e os aspetos jurídicos de defesa do património perante a sociedade. Era conveniente que o Padre Procurador revelasse habilidade, rapidez, lucidez.

Cabia ao Procurador, além de suprimir as necessidades dos bens dos Colégios, elaborar um minucioso exame dos relatórios e contas enviadas ao Provincial. Por meio dessa documentação, era possível verificar a totalidade das operações realizadas. Portanto, o Padre Procurador era aquele que centralizava os papéis de todas as transações efetuadas, podendo mensurar a queda ou o aumento da rentabilidade. A obrigatoriedade de relatórios demonstra um sistema de controlo e fiscalização actante.

Refere ainda Paulo de Assunção que

“apesar dos registos não serem abundantes nos arquivos as práticas de regulamentos devem ter sido comuns pela própria organização interna, para dar continuidade aos empreendimentos evitando que os religiosos por despreparo ou falta de habilidade cometessem erros básicos ou agissem de maneira inadequada na sociedade onde estivessem”36.

34 Idem, ibidem, art.º 329, p. 129.

35 Assunção, Paulo de, Negócios Jesuíticos. O Cotidiano da Administração dos Bens Divinos, p. 240.

O aconselhamento com o Padre Procurador era comum, no sentido de não incorrer em débitos e assegurar-se de que todos os títulos de propriedade e os direitos de possessão estivessem de acordo com as normas prescritas por lei.

Visitar frequentemente as propriedades para assegurar o andamento das atividades; controlar o livro de créditos e débitos para o ajustamento de contas, para que estes pudessem ficar arquivados a fim de diminuir possíveis dúvidas; não comprar propriedades sem autorização ou quando desejassem; não encaminhar nenhum processo para a justiça sem a permissão do Provincial e impedir qualquer um dos Padres e Irmãos de disporem dos bens das propriedades, comprando ou vendendo sem autorização do Reitor, são muitas das funções que cabiam ainda ao Procurador. Deveria ainda prover os Colégios de bens materiais para o culto e utilizar o lucro do excedente produzido e vendido na compra de outros produtos necessários.

O Padre Provincial poderia nomear um Padre como Procurador, que tinha poderes para tratar dos assuntos referentes a demandas.

Refere o Padre João Álvares, aquando da visita à Província Lusitana em 1610, que “Quando os Superiores ouuerem de pedir algum dinheiro

emprestado, seia sempre pelos procuradores do Collegio. Quando nas consultas de negoceos, e cousas tocantes à fazenda deuem ser chamados a ellas os procuradores dos Collegios”37.

I. Documentos ... 41 1. Catalogo dos Liuros que se prohibem

nestes Regnos & Senhorios de Portugal, por mandado do Ilustrissimo & Reuerendissimo Senhor Dom Iorge Dalmeida Metropolytano Arcebispo de Lisboa, Inquisidor Geral, & c. ... 41 2. Informação sobre a Casa

de São Roque em Lisboa ... 73 3. Informação sobre a Residência

de São Miguel ... 83 4. Regras de aditamento, comummente

conhecidas como [Regras dos Irmãos Coadjutores Temporais da Companhia de Jesus] ... 90 5. Respondendo à proposta

dos procuradores dos Prelados e Cabidos deste Reino por parte do Colégio de Coimbra ... 104 6. Conta do Colégio de Coimbra

com o Colégio da Ilha Terceira ... 113 7. A cerca da muita carga de gente,

que tem os Collegios d`Euora e Coimbra. Relação das rendas dos Collegios da Prouincia

de Portugal ... 115 8. Regras da Congregaçam

de Nossa Senhora da Assumpsão sita no Collegio da Companhia de Jesus desta cidade de Euora:

regras dos Irmãos congregados ... 122 9. Carta de El-Rey sobre a fundação do

Colégio de Cabo Verde ... 138 10. Visita do Padre João Alvarez

da Companhia de Jesus à Província de Portugal ... 141

11. Contas do Colégio de Angra

com o Colégio da Ilha da Madeira ... 400 12. Contas do Colégio de Évora

com o Colégio de Angra ... 403 13. Das cousas da Uniuersidade

e Collegio da Companhia

da Cidade de [Évora] ... 405 14. Cousas que o Padre Antonio

Mascharenhas deixou ordenadas açerca dos Estudos uisitando esta Prouincia [de Portugal]

no anno de 1625 ... 407 15. Contas do Collegio d`Angra

com a Procuratura da Igreja

de Santo Antão de Lisboa ... 435 16. Informação sobre a fundação

do Colégio de Santarém ... 437 17. Carta dos Reverendos Padres

da Companhia de Jesus do Colégio das Artes sobre renda a pagar por parte da Universidade de Coimbra aos mesmos ... 442 18. Licença para se poder imprimir

a Arte da Gramática do Padre

Manuel Álvares ... 445 19. Título: Informação do Padre Francisco

Soares sobre os estudos do real Colégio da Purificação de Évora,. ao Padre Provincial ... 448 20. Regras dos Estudantes

Congregados da Virgem Nossa Senhora da Anunciada na sua confraria sita na Universidade

de Évora da Companhia de Jesus ... 453 21. Cartas de Graus da Universidade

de Évora ... 471

22. Memorial sobre os Estudos em Portugal e nas outras Províncias da Companhia de Jesus ... 554 23. Se os despedidos da Companhia

de Jesus ficam religiosos

obrigados aos votos ... 625 24. Exposição da Universidade

de Coimbra para que na Universidade de Évora

não se leiam Cânones ... 643 25. Privilégios dos Padres

Missionários da Companhia

de Jesus ... 669 26. Informação sobre a Fundação

do Colégio de Elvas ... 677 27. Informação por parte

dos Religiosos da Companhia de Jesus sobre os bens

de raiz do Colégio de Angra ... 683 28. Informação por parte

dos Religiosos da Companhia de Iesu sobre os bens

de raiz do Colégio de Angra ... 686 29. Carta sobre a união do Colégio

da Purificação de Évora ao Colégio dos Orfãos ... 689 II. Fontes e Bibliografia ... 692

I. Documentos

1. Catalogo dos Liuros que se prohibem

nestes Regnos & Senhorios de

Portugal, por mandado do Ilustrissimo