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O apoio dos colegas e a influência da gestão na prática docente – “o que nos dá força para continuar a realizar um bom trabalho é a união do quadro docente, que sempre está

TRABALHO DE CINCO PROFESSORAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA

4.4 Experiências e práticas docentes – “a essência do professor é o seu dia a dia, a sua

4.4.8. O apoio dos colegas e a influência da gestão na prática docente – “o que nos dá força para continuar a realizar um bom trabalho é a união do quadro docente, que sempre está

disposto a ajudar não só os colegas, mas também toda a instituição”

A constituição do ser professor, para as professoras pesquisadas, também acontece na convivência com outros profissionais da educação, que durante o percurso de formação e trabalho lhes ensinam novas possibilidades de ação que propiciam aprendizagens expressivas para o exercício da docência.

O apoio dos colegas de profissão foi destacado pelas professoras como fator importante para a permanência no magistério, principalmente no início da carreira. O acolhimento, a troca de experiências, as sugestões, a colaboração, a compreensão das dúvidas e incertezas, indicando caminhos para superar as dificuldades, são atitudes que favorecem o desenvolvimento profissional e concedem subsídios para a mudança de suas práticas educativas.

De forma geral, as docentes registram que têm boa relação com os professores das escolas onde trabalham, embora garantam que, com apenas alguns deles, conseguem ter maior proximidade, até por questão de afinidade. São geralmente docentes que atuam na mesma etapa da educação básica que elas ou em salas de aula próximas, razão por que logram estabelecer relação mais estreita, conversando mais sobre seus alunos e compartilhando algumas experiências.

A professora Acácia foi uma que destacou a importância do apoio recebido por outros profissionais da educação quando iniciou suas experiências docentes. Recorda-se, em especial, de uma professora que, para ela, era uma referência de bom profissional. Quando estava no 3º ano do Curso Normal e assumiu a turma onde realizava o estágio, logo no início do ano letivo, contou com a ajuda dessa professora que era bastante prestativa, e lhe dava orientações de como proceder diante de algumas situações, além de ajudá-la no planejamento.

Eu tive uma colega que foi maravilhosa comigo. Ela era professora do estado. Tudo que eu precisava eu recorria e ela me ajudava. Em termos de como lidar com certos alunos, ela dava conselhos; em termos de planejamento, eu planejava com ela, ela

me ajudava. Eu tive um apoio muito grande dessa professora e ainda hoje eu sou muito agradecida. Ela era experiente, era bem zelosa com os alunos e tinha as características que eu considero como um bom professor, havia afinidade. Tudo que ela me ensinou, e que eu apliquei, deu certo.

A colaboração entre pares é considerada pelas docentes fator relevante na formulação do conhecimento profissional. Como vivenciam o mesmo contexto, passam por problemas semelhantes em suas salas de aulas, buscam apoio e colaboração entre si.

A colaboração entre os profissionais da educação atuantes numa mesma unidade escolar é ainda mais significativa quando é fomentada e articulada pelo núcleo gestor da escola. A posição do núcleo gestor, para as professoras entrevistadas, corresponde a um fator relevante para o bom funcionamento da escola e, consequentemente, para uma boa articulação e atuação do corpo docente.

Para elas, uma gestão democrática presente na escola e que se relaciona bem com os professores – acompanhando o trabalho desenvolvido por eles, escutando suas necessidades, dificuldades e sugestões, indicando as possíveis providências, apoiando o desenvolvimento de projetos na escola, discutindo os problemas da escola e considerando as opiniões dos docentes para a tomada de decisões – interfere positivamente nas práticas educativas, pois os professores passam a trabalhar mais colaborativamente, o que ajuda na melhoria dos resultados de aprendizagem.

A professora Acácia relata uma boa experiência com o núcleo gestor de uma escola onde trabalhou no início da carreira profissional:

A direção deixava os professores bem à vontade para dizer se tinha alguma atitude da direção que estava errada, não era aquela coisa controlada não. Era o coletivo, e os funcionários também participavam dessas reuniões, merendeiras, da limpeza. Era tratado da direção, ia para a parte pedagógica, de aprendizado de aluno, de trabalho com merenda, tudo era bem discutido. Ela era aquela diretora democrática e todo mundo participava, tinha o mesmo valor, era respeitado do mesmo jeito. Eu sabia que ela fazia tudo o que estava ao seu alcance.

A fala de Acácia demonstra a satisfação que sentia em fazer parte da equipe dessa escola, dirigida por uma gestão que prezava o trabalho planejado, colaborativo, articulado e decidido democraticamente, em que as informações circulavam para todos os profissionais, que também tinham vez e voz e, portanto, se achavam valorizados e também responsáveis pelas metas da escola.

As professoras também registram, entretanto, muitas experiências negativas com o núcleo gestor das escolas onde trabalharam. Reclamam da ausência de alguns diretores, que passavam dias sem comparecer à unidade escolar, da burocracia que conferiam às atividades que realizavam, do distanciamento dos professores, da centralização de poder, do sentimento

de propriedade da escola e das instalações e materiais nela existentes, além da indiferença diante dos problemas que surgiam ou chegavam à escola.

Acácia ressalta que trabalha na sua atual escola há 14 anos e, neste período, já se constituíram 12 núcleos gestores. Para ela, essa rotatividade atrapalha muito o trabalho dos professores, pois por algumas vezes, quando começavam a estreitar as relações e afinar o discurso, os gestores eram substituídos por outras pessoas. Nesse intervalo, considera que a escola tanto teve gestores muito bons, presentes e comprometidos com a função, como diretores que apareciam na escola de vez em quando e o pouco tempo que passavam faziam questão de se manterem distantes dos professores. Ela não considera sua atual diretora uma boa profissional.

Em seu memorial, Acácia acentua que, ante as dificuldades decorrentes da constante mudança da gestão na escola, o trabalho coletivo do corpo docente é o que mantém a perspectiva de tempos melhores entre os professores:

Nossa escola tem um histórico que não orgulha quem nesse ambiente labuta. Vivemos no momento um período de intervenção, depois da passagem de 12 diretores num período de 13 anos. O que nos dá força para continuar a realizar um bom trabalho é a união do quadro docente, que sempre está disposto a ajudar não só os colegas, mas também toda a instituição.

Embora tenha assegurado no memorial que o corpo docente da escola é unido e colabora uns com os outros, durante a entrevista expôs seu desestímulo e de alguns professores, pois já estão cansados de buscar opções para solucionar dificuldades que interferem no trabalho docente, mas não encontram o apoio necessário, que deveria vir do núcleo gestor, para efetivá-las.

Por sua vez, Açucena ressalta que havia tido muita sorte com os núcleos gestores das escolas nas quais havia trabalhado, pois foram pessoas que acompanhavam e davam apoio ao trabalho pedagógico desenvolvido pelos professores, inclusive disponibilizando material, além de conhecer muito bem a comunidade em que a escola estava inserida, como esclarece neste comentário: “eu acho que os núcleos gestores, pelo menos os que eu peguei, enquanto profissional, eram pessoas que conheciam a comunidade, conheciam as realidades e nos situavam naquela situação. Também davam apoio quanto a material”.

Rosa, ao falar sobre a gestão da escola em que trabalha há mais de dez anos, só tem elogios a fazer. Ressalta que são pessoas atuantes, comprometidas com a função que desempenham e que oferecem as condições necessárias para que os professores desenvolvam seu trabalho da melhor forma possível. Informa que a diretora fica diariamente na escola e circula entre alunos e professores no momento do intervalo. Considera ainda que é uma gestão

democrática, pois ouve e considera o posicionamento dos professores quando precisa tomar uma decisão. A fala a seguir revela um pouco das atitudes desse núcleo gestor:

Muito tranquilas, muito atuantes, estão sempre na escola. Elas são muito democráticas, então tudo isso facilita muito seu trabalho. Quando você trabalha numa escola que você pode realmente desenvolver o seu trabalho da maneira que você acha mais conveniente, que você acha que facilita para você, tudo é mais fácil. Me sinto aqui com autonomia para desenvolver o trabalho do jeito que eu acho e elas dão a carta branca para poder a gente tentar melhorar a escola.

Pelo depoimento de Rosa, é possível perceber que o apoio oferecido pela gestão interfere positivamente no seu trabalho. Indica que a equipe do núcleo gestor fornece suporte pedagógico à ação docente e por isso demonstra se sentir mais valorizada profissionalmente, com autonomia para exercer a docência da forma como acredita ser mais interessante, o que resulta em melhores resultados na aprendizagem dos alunos.

A professora Margarida não se mostra satisfeita com a gestão da sua escola. Declara que a diretora é muito centralizadora, deixando claro que é ela quem toma as decisões. Não estabelece uma relação de proximidade com os professores, pois fica sempre na sala da direção, a não ser em dia de reunião, que se senta com os professores para dar alguns informes e deixa uma das coordenadoras responsável para dar continuidade aos trabalhos e tratar das questões e problemas trazidos pelo corpo docente. Além disso, Margarida reclama que a diretora beneficia somente um grupo de professores e as coordenadoras quando surge a possibilidade de cursos de formação promovidos pela rede de ensino, que sequer são divulgados aos demais.

A professora revela que essa situação é bastante prejudicial ao seu trabalho e, por esse motivo, questiona a forma como os gestores são “escolhidos” para assumir esse cargo:

Eu acho tão errado esses diretores estarem nas escolas por cargo comissionado. Era para existir concurso para diretor. Eles mandam, desmandam, porque tem um prefeito, um vereador que apoia e se a gente for bater de frente, você é perseguida a ponto de pedir para sair. Então é horrível isso no meio da educação acontecer. Como é que um diretor fica só dentro de uma sala fechada, só mandando? O diretor tem que interagir com os professores, é ele que articula tudo na escola.

O diretor de uma escola administra uma instituição social que tem o aspecto pedagógico como foco principal. Desta forma, por ser uma função tão importante, que envolve o trabalho de outros profissionais da educação, um diretor deveria assumir essa posição ciente de que seu trabalho deve estar a serviço da melhoria do processo de ensino e aprendizagem dos alunos e que, portanto, deve dominar os requisitos pedagógicos que lhe vão permitir atuar na perspectiva de que a escola seja realmente um espaço de aprendizagem e de exercício da cidadania.

Assim como Margarida, a professora Tulipa também garante que a diretora da escola onde trabalha no Município de Caucaia - CE assumiu a gestão da escola sem a preparação e os requisitos necessários para a função que desempenha, demonstrando uma visão muito limitada sobre os processos de aprendizagem e formação do conhecimento; em função disso, muitas vezes, não permite que ela intervenha no seu trabalho:

Muitas vezes eu tenho discutido com a minha diretora, às vezes até me aborrecido com ela, mas depois ela vê que estava errada. A diretora às vezes chega e diz “esse livro aqui ele (o aluno) não pode pegar porque suja” e eu respondo: “pode, esse livro é para pegar, é para ele folhear, para ele ver”. Se for um jogo, ela diz “não, o jogo não pode dar para o aluno”, e eu digo: “pode dar. Se esse jogo não for para ele brincar, para ele construir, para guardar para o cupim comer é que não é”. Eu falo isso brincando, sorrindo, mas às vezes quando ela é chata, aí eu vou e mostro que existe uma didática. Porque tem ainda no sistema direções que são botadas pelo vereador, pessoas que às vezes não tem nenhuma noção do que é didática.

Pela fala da professora Tulipa, é possível notar indícios de autonomia no espaço da sala de aula. Sua fala demonstra que, independentemente da diretora, a professora tem convicção do trabalho que desenvolve, dos objetivos de suas ações na sala de aula e, em função dessa certeza, defende, perante sua diretora, seus posicionamentos.

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