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Aulas interessantes/ metodologia diferenciada – “é colocar os alunos para pensar, para refletir, dar uma opinião, fazer uma reflexão em torno de determinados

TRABALHO DE CINCO PROFESSORAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA

4.4 Experiências e práticas docentes – “a essência do professor é o seu dia a dia, a sua

4.4.4 Aulas interessantes/ metodologia diferenciada – “é colocar os alunos para pensar, para refletir, dar uma opinião, fazer uma reflexão em torno de determinados

questionamentos”

Acácia relata que faz o possível para tornar suas aulas mais interessantes e diversificadas, envolvendo constantemente a participação dos alunos. Outras atividades, entretanto, que gostaria de realizar com seus alunos são inviabilizadas pelas limitações quanto à disponibilidade de material e espaço físico da escola.

De vez em quando eu faço umas brincadeiras, umas dinâmicas, faço competição para acertar, boto umas perguntas para eles correrem para responder, é o que está ao meu alcance, porque material a gente não tem. Eu peço participação dos alunos e procuro fugir da aula expositiva porque eu me lembro quando era aluna o quanto dá sono, o quanto é cansativo, então eu procuro fugir para não ficar aquela monotonia.

É interessante observar a percepção que Acácia tem das suas aulas; toma como referência suas experiências quando aluna e, na qualidade de professora, tenta fugir de um certo tipo de aula, cansativa, parecida com monólogos, em que apenas se ouvia a voz do professor. Em sua sala de aula, busca envolver os alunos, considerados sujeitos do processo ensino-aprendizagem. Em outra parte da entrevista, revela que sente necessidade de vê-los participar, demonstrando suas dúvidas, dando suas opiniões, fazendo questionamentos e comentando as perguntas que ela faz em sala. Para ela, também é uma forma de perceber se eles estão compreendendo o assunto da aula e se precisará fazer adequações para facilitar as

aprendizagens. Assim como Acácia, a professora Rosa se preocupa com proporcionar uma aula

mais atrativa e prazerosa para seus alunos. Assinala que busca pesquisar novas atividades e desafios para realizar com eles, que desenvolve trabalhos coletivos e incorpora outros recursos à sua prática, como jogos e vídeos, além de utilizar outros espaços da escola no momento da aula, pois sabe que eles gostam de aulas “diferentes”, como expressa no trecho seguinte:

Eu gosto muito de estudar, eu gosto muito de desafios, eu procuro muita atividade para os meus alunos extra sala, atividade de vídeo, de leitura, sair do livro didático, sabe, eu gosto muito de trabalhar com os meninos as coisas que sejam diferentes do que ele vê, do que ele já viu nos anos anteriores. Gosto muito de trabalhar no coletivo, deles trabalharem em dupla. Eu acho que rende mais. A socialização é diferente. Eu acho que o principal é tentar sair da rotina, daquele ensino sacal, aquele negócio só senta lá as 4h, fica olhando para mim, eu viro o centro de tudo. Eu sou aluna e quando eu vou estudar que o professor está lá, falando, falando, a gente dorme, a gente olha no celular, a gente faz tudo, menos se concentrar. Então o aluno é do mesmo jeito. Eu sou aluna e eu sei como é que as coisas são.

Rosa também reafirma seu sentimento de aluna em relação a uma aula que não desperta interesse e toma as experiências ruins pelas quais passou como referências para o que não fazer. Argumenta que as aulas seguindo a rotina em que o professor só fala tornam-se cansativas e desmotivadoras; assim, declara que tem muito cuidado em preparar suas aulas para que seus alunos não se sintam conforme ela às vezes, como aluna, ainda se sente.

Esse cuidado com a preparação das aulas e o esforço para torná-las interessantes também são ressaltados em um trecho do seu memorial:

Tentava cada vez mais transformar minhas aulas em aulas prazerosas e diferentes, pois como eu era aluna sabia que quando assistia a uma aula que achava um tédio, minha vontade era ir embora, dormir ou fazer qualquer coisa menos estar ali, ouvindo o que não me interessava. E isso era exatamente o que não queria que meus alunos sentissem. Esse sentimento de distância entre o que o professor estava falando e o que realmente era importante para eles e para sua realidade.

A professora Margarida destaca o fato de que, em suas experiências docentes, gosta muito de brincar com seus alunos, fazê-los interagir, dramatizar, trabalhar em grupo, movimentar-se em sala de aula, enfim, tornar suas aulas mais prazerosas e dinâmicas. Acentua que não se sente bem em vê-los, na maior parte da aula, sentados, estáticos, e acredita que não é desta forma que a aprendizagem flui melhor, por isso, busca desenvolver atividades motivadoras, com o envolvimento de todos: “eu sou muito brincalhona. Eu gosto de dinamizar mais, gosto de fazer trabalhos em células, eu gosto de dramatização, eu gosto mais de mexer com a turma”.

A professora Tulipa, que trabalha prioritariamente com crianças pequenas, chama atenção para um ponto relevante que precisa ser percebido pelo professor e que vai moldando sua prática: sua ação pedagógica tem sentido e significado para os alunos? Para ela, o docente deve constantemente se questionar a esse respeito, percebendo quais atividades despertam o interesse da criança, fazem sentido para ela e são significativas para seu desenvolvimento. A fala seguinte diz respeito à atitude de Tulipa:

Se eu faço uma atividade com determinado grupo de alunos e eu vejo que aquilo ali não encantou o aluno, que ele não gostou, não teve aprendizado, eu já não vou mais fazer. Já tem professor que permanece naquilo ali. Eu só faço uma coisa quando tem sentido, tem um significado, então eu acho que a gente querer que um aluno faça uma coisa que não tem sentido para ele, eu acho isso uma agressão à criança. Por que e para que é que eu estou fazendo isso?

Tulipa, neste comentário, demonstra pensar sobre sua ação docente. Indica que a prática de um professor, além de ter um objetivo a ser atingido, necessita ter um porquê e um para quê.

A professora Açucena expressa sua concepção sobre o que é uma boa aula; registra a ideia de que trabalhar verdadeiramente um assunto é explorá-lo de forma construtiva e coletiva com os alunos, com sustentáculo no que já sabem, ampliando suas compreensões mediante o diálogo, a problematização do tema em discussão, levando-os a refletir, a formar uma opinião:

Dar aula é você trabalhar de fato uma temática. Trazer um conteúdo para dentro da sala de aula e debater, problematizar. É colocar os alunos para pensar, para refletir, dar uma opinião, fazer uma reflexão em torno de determinados questionamentos. É buscar metodologias, reunir em grupos, buscar fazer com que eles construam o conhecimento histórico. Então o meu diferencial era esse. Às vezes eu levava um filme, slides. Então, por exemplo, a gente trabalhando independência do Brasil, mas eu tenho uma revista que traz uma imagem, que se pode problematizar aquela imagem, um gráfico com dados do período, uma notícia de jornal da época, então trabalhar essa história de maneira diferente não é difícil porque os instrumentos estão aí.

Enfatiza ainda que, para explorar a temática em estudo, procura utilizar outros recursos além do livro didático, como filmes, imagens ampliadas e notícias de jornais que favoreçam a compreensão dos estudantes e motivem sua participação na aula, atribuindo ao professor a disposição para buscar os elementos que possa utilizar como suporte para aulas mais interessantes.

Numa perspectiva de elaboração coletiva do conhecimento, a professora destaca no seu memorial que os alunos, além de sujeitos, são parceiros no processo educativo. Assegura que na organização de suas aulas necessita de informações e compreensões que só podem ser obtidas por intermédio dos seus alunos e que, com origem nessas experiências de vida, saberes e opiniões, consegue articular novas estratégias para uma prática pedagógica significativa, o que pode ser percebido no discurso sequente:

Os meus alunos são vistos como parceiros dos processos educativos. Eles nos ensinam com seus olhares, suas motivações e desmotivações, com as experiências que trazem do contexto em que vivem, com a maneira singular de entenderem o mundo. Nos ensinam a organizar os trabalhos pedagógicos, levando-se em conta as condições para que as experiências e os problemas levantados sejam respondidos à luz das curiosidades, das necessidades e dos interesses cotidianos. Quando damos voz aos saberes dos alunos, afastamo-nos de uma visão fragmentada, restrita e linear do fazer e pensar pedagógico, e (re) conhecemos a necessidade de interação entre as diferentes experiências/ vivências que constituem e caracterizam o espaço educativo.

Para Açucena, o ensino-aprendizagem é uma via de mão dupla, na qual todos os envolvidos ensinam e aprendem. Durante a entrevista, ela comentou por diversas vezes sua admiração e respeito pelas ideias de Paulo Freire, que a ajudaram a constituir outras perspectivas em torno do processo educativo e que possivelmente tenha contribuído para essa percepção.

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