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Um dos procedimentos para a coleta de dados – a entrevista semiestruturada

3 OS CAMINHOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA: AS NARRATIVAS SOBRE HISTÓRIAS DE VIDA

3.2 Um dos procedimentos para a coleta de dados – a entrevista semiestruturada

A entrevista consiste em uma das técnicas de coleta mais conhecidas e utilizadas na pesquisa educacional. Permite explicitar os pontos de vista dos sujeitos, ao passo que o contato direto com o entrevistado possibilita ao pesquisador perceber expressões que demonstrem sentimentos e emoções vinculados aos temas das falas.

Matos e Vieira (2002) destaca a presença física do entrevistador como uma vantagem da entrevista na perspectiva de esclarecimento de dúvidas e como forma de garantir maior número de respostas, facilitando a análise dos dados. Como desvantagem, Gil (1987) adverte sobre o cuidado e a atenção por parte do entrevistador, pois sua falta de experiência pode induzir o pesquisado em suas respostas, mascarando, dessa forma, o conjunto dos dados.

A opção pela entrevista semiestruturada foi feita por possibilitar a flexibilidade nas respostas dos entrevistados, o que, por sua vez, permite relatos mais gerais e, ao mesmo tempo, mais específicos, em função do direcionamento que pode ser dado ao longo da própria entrevista; esse direcionamento depende, naturalmente, da sensibilidade e competência do entrevistador. Sua escolha aconteceu por entender que corresponde a um método de coleta que permite melhor acessar as visões, interpretações, compreensões, experiências e opiniões dos sujeitos pesquisados por meio de suas falas.

As entrevistas realizadas neste estudo pretenderam perscrutar as compreensões que as professoras da educação básica fazem sobre seus percursos de formação e trabalho, abordando as experiências e vivências que podem ter contribuído para a constituição docente; dessa forma, são aproximações da realidade vivida.

Uma das características da entrevista semiestruturada é a utilização de um roteiro previamente elaborado com perguntas consideradas básicas para o tema a ser investigado. De acordo com Manzini (2004), “o roteiro serviria, então, além de coletar as informações básicas, como um meio para o pesquisador se organizar para o processo de interação com o informante”. (2004, p. 2).

Para a elaboração do roteiro das entrevistas a ser aplicado com as professoras participantes desta pesquisa, atendeu-se prontamente à sua característica de conter questões mais gerais, que poderiam flexibilizar as respostas dos entrevistados, cabendo à pesquisadora sensibilidade e atenção para lograr as informações pertinentes ao estudo.

Embora o roteiro da entrevista aparente ser reduzido, composto apenas por quatro blocos de perguntas que abordam suas experiências como alunas e professoras, são blocos amplos compreendendo questões gerais, que não esgotam a complexidade das temáticas em profundidade desejada e, por isso mesmo, para cada um deles, foi estabelecido um conjunto de subtemas que poderiam permitir recortes mais específicos. A generalização das perguntas, que geralmente iniciam com a expressão “como” e, portanto, não são diretivas, causa uma certa ambiência ao entrevistado, que, desse modo, tem liberdade de começar a responder por onde queira e se ache mais à vontade para fazer seus relatos sobre os temas focalizados.

Dessa forma, durante a entrevista, pretendeu-se conduzir o aprofundamento dos temas de acordo com as respostas dos entrevistados, tendo como referência o “roteiro de interesses”; naturalmente, como é próprio de entrevistas semiestruturadas, foi possível identificar temas relevantes que emergiram das conversas e que não haviam sido cogitados, nem nos temas centrais, tampouco nas temáticas de “interesse”.

O roteiro de entrevista com as professoras foi organizado em quatro blocos de perguntas, que correspondem aos seguintes temas: I. Educação básica – Experiências como aluno, que tratavam das suas vivências durante a educação escolar e seus professores neste período; II. Formação inicial – Estudante com intencionalidade profissional, que abordavam as experiências vivenciadas no curso de graduação, seus professores e a contribuição da formação inicial para a docência; III. Prática docente – O profissional professor, em que fazem revelações sobre a atuação profissional, suas experiências docentes e as mudanças que foram se dando na prática; IV. Formação contínua – O professor em constante aprendizagem, em que indicam as principais experiências de formação contínua e suas opiniões sobre as ações formativas oferecidas na escola e ou na rede de ensino. No Apêndice A deste trabalho encontra-se um quadro que encerra os blocos de perguntas, com os respectivos temas e temáticas de “interesse” do roteiro de entrevista das professoras.

É importante ressaltar que, no bloco III, foi incorporada a categoria “mudanças na prática”, o que foi relevante para o desenvolvimento do trabalho, pois permitiu que as professoras revelassem as mudanças que foram percebendo em suas práticas, no decorrer das suas trajetórias pessoais/profissionais, bem como identificassem as origens dessas transformações, surgindo relatos interessantes a este respeito.

As entrevistas com as cinco professoras aconteceram em diferentes tempos e espaços, de acordo com suas possibilidades e escolhas; foram realizadas no período de outubro de 2011 a fevereiro de 2012. Como estas desenvolviam carga horária de 40 horas

semanais – uma delas, à época das entrevistas, trabalhava os três turnos e outra estava de licença médica – a pesquisadora adequou-se aos dias e horários propostos pelas professoras.

Com relação à quantidade de encontros com as docentes, foram realizados entre três e cinco momentos, em dias diferentes, com intervalos de, em média, uma semana entre um encontro e outro, sempre limitados pelas suas possibilidades. Os locais das entrevistas também foram definidos por elas, fator importante para que se sentissem mais à vontade em ambientes que lhes eram familiares. Três docentes preferiram que os encontros acontecessem nas escolas onde trabalhavam, especialmente nos horários que antecediam os inícios das aulas e nos seus intervalos; a professora que estava de licença médica recebeu a pesquisadora em sua residência, assim como a docente que reside no Município de Baturité - CE; neste caso, como trabalhava nos três expedientes, os encontros foram realizados aos sábados.

No primeiro encontro para a realização da entrevista com cada professora foi explicado um pouco mais sobre o trabalho que estava sendo realizado e do qual elas estavam participando, assim como foram esclarecidas suas eventuais dúvidas. Também foi lido e entregue o Termo de Compromisso Livre e Esclarecido, sendo assinado por parte de cada uma das professoras e pela pesquisadora, ficando uma cópia com cada uma das partes. Como todas as entrevistas foram gravadas, essa também se comprometeu a repassá-las para um CD e entregar à cada professora para que pudessem ouvi-las e, caso assim o quisessem, pudessem solicitar que fossem suprimidos trechos de suas intervenções, o que, efetivamente, foi feito.

Outra solicitação feita às professoras, que também constava no termo mencionado acima, era a de autorização de uso do memorial que haviam elaborado como trabalho de conclusão do Curso de Especialização, como fonte de informações da pesquisa. Após ter a autorização das docentes, leituras preliminares de cada memorial foram realizadas entre o primeiro e o segundo encontro das entrevistas, para que possíveis informações de seus percursos de formação e trabalho que constassem naquele texto, identificadas por elas como importantes, também fossem retomadas nas entrevistas.

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