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Outra fonte de coleta de informações desta pesquisa – o memorial

3 OS CAMINHOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA: AS NARRATIVAS SOBRE HISTÓRIAS DE VIDA

3.3 Outra fonte de coleta de informações desta pesquisa – o memorial

O memorial começou a ser elaborado pelas professoras no início do Curso de Especialização, em fevereiro de 2010. No Módulo10 I, logo no primeiro dia de aula, os

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O Curso Metodologias do Ensino das Ciências Humanas e Sociais foi realizado na modalidade semipresencial e estava organizado nos seguintes módulos: Módulo I - Educar para a solidariedade: complexidade e aprendizagem; Módulo II – Memória e formação: o professor, sua escola e sua sociedade; Módulo III – O ensino

professores-cursistas foram informados de que o trabalho de conclusão do curso seria a elaboração de um memorial. Foram sugeridas as primeiras leituras sobre esse tipo de texto e explicado como deveria ser organizado, para que já fossem pensando como o formulariam. Ao longo do curso, cada professor-tutor foi acompanhando e tirando as dúvidas dos professores de sua turma, mas foi no último módulo do curso que entraram os orientadores para acompanhar, mais de perto, as elaborações individuais; cada orientador tinha, no máximo, dez orientandos.

No memorial das professoras, que prioriza aspectos da sua formação e prática docente, a menção ao Curso de Especialização é bastante recorrente, quando relatam as ações de formação de que participaram durante o seu percurso formativo. Já nas entrevistas, que iniciaram exatamente um ano após o término do curso, somente algumas mencionaram a especialização como uma das ações formativas que marcaram sua trajetória e, mesmo assim, pouco foi informado sobre esse específico curso.

O uso do memorial na pesquisa foi relevante pela possibilidade de complementar as informações dos professores sobre suas trajetórias de formação e trabalho. Com efeito, foi possível constar neste estudo tanto a narrativa oral, baseada na entrevista, que é mais espontânea e subjetiva, como a narrativa escrita, presente no memorial, que tende a ser mais refletida e cuidadosa.

Cunha (1997) esclarece que, ao organizar suas ideias na forma de relato, tanto escrito quanto oral, os professores reconstituem reflexivamente suas vivências e experiências, o que possibilita a realização de autoanálise, e, por vezes, autoavaliação, que podem subsidiar, para cada um, compreensões de suas práticas. Esta compreensão, para essa autora, é o que possivelmente torna certas abordagens da pesquisa qualitativa a alternativa de formação.

Conforme Catani (1998), quando se trabalha com lembranças, recuperando suas experiências e relações com a escola, os conhecimentos, outros professores e as disciplinas, é importante perceber que essas dimensões das histórias pessoais dos professores se tornam mais evidentes, na perspectiva de que suas práticas vêm carregadas de vivências constituídas ao longo de seus processos de formação. Registra, ainda, que “a transformação produtiva dos saberes e práticas de formação, no meu entender, deve necessariamente incluir processos de reflexão e autoconhecimento que reconstituem os itinerários individuais de desenvolvimento”. (1998, p. 29).

de Ciências Humanas e Sociais em perspectiva interdisciplinar; Módulo IV – Avaliação emancipatória: ensinando e aprendendo. O curso aconteceu de fevereiro a outubro de 2010 e o memorial foi sendo estruturado durante todo esse período, sendo que o último módulo focou no aperfeiçoamento e finalização do texto, sob orientação dos professores que ingressaram para este fim.

De acordo com Sartori (2007), o caráter reflexivo do memorial torna-o um instrumento pedagógico utilizado na formação de professores, porque discorrer sobre as memórias e lembranças em torno das suas experiências de formação representa uma possibilidade de reflexão sobre o seu fazer pedagógico.

André (2004), por sua vez, destaca o memorial como possibilidade de formação, por favorecer a constituição da identidade profissional, uma vez que revela a concepção dos sujeitos sobre o que é ser professor, sua percepção a respeito do trabalho docente, o que inclui suas emoções, descobertas, incertezas e mudanças na sua prática e no seu percurso pessoal e profissional, assim como permite compreender quais suas perspectivas de desenvolvimento profissional. Ela assinala que:

[...] o registro escrito sobre as experiências docentes, os acertos e falhas, as vitórias e as decepções, as descobertas e as dúvidas, as aprendizagens e as emoções ao longo de um período de tempo dão ao memorial um caráter longitudinal e histórico, permitindo acompanhar a evolução do pensamento e da prática do professor, acompanhar seu desenvolvimento profissional. (P. 2797).

Na compreensão de Cunha (1997), quem escreve um memorial tece registros sobre sua história, laços, lembranças, que podem constituir ideias importantes para o estabelecimento de relações tanto consigo quanto com os outros. Ao relatar, contudo, acerca dos fatos vivenciados, o sujeito reconstitui o percurso que percorreu, atribuindo-lhe novos significados, pois a narrativa consiste na representação que faz da realidade e, por este motivo, pode transformá-la.

Essa reconstituição pode ser feita considerando diversas referências, como a família, a escola, as brincadeiras e lembranças da infância, os momentos de lazer, os professores que passaram em sua vida estudantil, o ambiente do trabalho docente, a convivência com colegas de profissão e outras experiências significativas vivenciadas em seu percurso que de alguma forma tenham influenciado a escolha da profissão.

André (2004) enfatiza a reflexão como um dos elementos fundamentais do memorial, pois, “ao incidir tanto sobre o narrador quanto sobre o objeto narrado possibilita a integração da descrição (o quê e o como fazem) com os aspectos expressivos pessoais (sentimentos, emoções, desejos, dúvidas)”. (P. 2797).

Com as considerações tecidas acerca das narrativas sobre história de vida, justifica-se a opção por este procedimento de pesquisa. Os relatos das docentes sobre seu percurso de formação e trabalho, rememorando situações, acontecimentos, aprendizagens, trocas e experiências, que para elas têm significados e que são a sua representação da

realidade, possibilitam reflexões sobre a pessoa e o profissional professor, dando ensejo também a reflexões sobre sua prática pedagógica.

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