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Conhecer a escola, seu entorno e os cotidianos dos alunos – “ressalto que é de suma importância trabalhar a partir da realidade dos alunos e que nós, docentes, devemos pensar

TRABALHO DE CINCO PROFESSORAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA

4.4 Experiências e práticas docentes – “a essência do professor é o seu dia a dia, a sua

4.4.3. Conhecer a escola, seu entorno e os cotidianos dos alunos – “ressalto que é de suma importância trabalhar a partir da realidade dos alunos e que nós, docentes, devemos pensar

na escola numa perspectiva inclusiva”

Conhecer a realidade dos alunos é um aspecto que as professoras entrevistadas consideram importante para o desenvolvimento do seu trabalho. Procurar saber sobre o contexto da comunidade em que a escola está inserida, identificando tanto os pontos positivos, que podem ser aliados à sua prática pedagógica, como os desafios e dificuldades enfrentadas pelas famílias do local, as ajudam a conduzir melhor a ação docente.

Durante a entrevista, por diversas vezes, Acácia deu indícios da necessidade de um professor saber sobre a realidade dos seus alunos. Como costumava fazer quando começava uma nova experiência de ensino, revela que, ao assumir o lugar que conquistou em concurso no Município de Caucaia - CE, procurou conhecer um pouco do entorno da escola. Indagava os profissionais mais antigos da instituição sobre a comunidade, o que havia de bom

e em quais aspectos necessitaria haver mudanças, e tentava saber quem eram os pais das crianças a quem ensinava. Essa preocupação também foi registrada no seu memorial:

Passado o período de adaptação, fui à busca de conhecer o bairro e as pessoas que formavam meu novo local de atividade diária. Tive essa atitude por compreender que o educador precisa conhecer seus alunos para perceber suas necessidades e entender situações do cotidiano escolar. Com esse gesto, percebi em que lugar meus alunos estavam inseridos e o que eu poderia esperar deles. O resultado foi bastante satisfatório, pois, os conhecendo melhor, a interação e a confiança foram facilmente conquistadas.

Em outro momento da entrevista, Acácia assinala que a aproximação com as famílias das crianças a ajuda a compreender melhor suas necessidades e limitações, estabelecendo uma relação de maior confiança com os estudantes. De acordo com ela, gosta muito de escutar seus alunos e, às vezes, pergunta sobre a vida deles, o que fazem em casa, sobre sua família e amigos. Saber um pouco sobre suas vidas também favorece a percepção de algum comportamento diferente aflorado em sala. A relação de confiança que estabelece com eles muitas vezes, permitiu que lhes contassem problemas por que estavam passando e ela pôde ajudá-los. Acácia diz ainda que fica atenta às conversas das crianças sobre os acontecimentos do bairro e tenta relacioná-los com os conteúdos que foram, ou seriam estudados, utilizando-os para trabalhar certos valores e assuntos voltados para a formação humana.

A aproximação com a realidade também tem fins pedagógicos para Acácia. Segundo ela, quando se consideram os conhecimentos prévios das crianças sobre os conteúdos abordados em sala, bem como se relacionam os temas ao cotidiano delas, mostrando sua utilidade no dia a dia, a compreensão flui mais facilmente e enseja aprendizagens significativas.

A professora Rosa enfatiza que residir próximo à escola favorece sua relação com as crianças e suas famílias, até porque passa a conhecer mais sobre a rotina delas. Aos finais de semana, quando vai à pracinha com seu filho, geralmente encontra alguns alunos ou pais, às vezes conversa um pouco com eles e, para ela, essa convivência é uma forma de ter maior proximidade com as famílias. Relata, contudo, que tem o lado ruim, porque eles também sabem onde ela mora e misturam um pouco as relações, tanto que, em alguns momentos, sente sua privacidade invadida, pois qualquer fato que aconteça ou quando querem saber alguma informação, vão até sua casa.

Margarida também declara, em vários momentos da entrevista, que conhecer a realidade dos seus alunos é fundamental para sua ação docente. Como nasceu e reside, ainda hoje, no bairro onde se localiza a escola em que trabalha, conhece o cotidiano daquela

comunidade. Explicita que o dia a dia é realmente difícil naquele local, que tem muitos problemas sociais, como carências de acesso às necessidades básicas, como saúde e saneamento básico, violência e tráfico de drogas. A problemática desse contexto reflete no seu trabalho, pois seus alunos convivem diariamente com todas essas questões.

Para essa professora, o fato de morar na mesma comunidade é um ponto positivo, pois conhece os alunos, suas famílias, sabe onde residem e essa proximidade permite uma relação melhor em sala de aula. Enfatiza, todavia, que consegue essa abertura com eles porque os conquista, trazendo-os para perto de si, dando-lhes atenção, carinho, ouvindo suas incertezas, alegrias, angústias e dificuldades, tentando ajudá-los. A fala seguinte diz respeito à opinião de Margarida quanto à necessidade de o professor ter conhecimento sobre a realidade de seus alunos:

Pertencer à comunidade é bom porque a gente já conhece as crianças, as realidades que elas enfrentam, a condição social em si, os relacionamentos, tudo. Fica mais fácil, você compreende mais o mundo da criança para poder você interagir de uma forma mais significativa para elas. É um dos fatores para que a educação aconteça. Como é que eu posso exigir uma coisa da criança se eu não sei qual a vivência dela? Conhecer as vivências dos alunos, para a professora, facilita sua ação pedagógica. Evidencia que saber sobre as experiências pessoais da criança e suas compreensões de mundo permite ao professor fazer relações entre os conteúdos estudados e as situações vivenciadas por ela no cotidiano, proporcionando aprendizagens significativas. Portanto, quando se trata de prática docente, vai muito além dos conteúdos escolares, como é expresso nesse depoimento:

Eu vou além dos conhecimentos. Eu mostro mais a vivência, a vida. Mostro o meu exemplo de superação, que eu sempre vivi nessa comunidade, tive amigos de várias espécies na sala de aula, mas nunca me deixei contaminar porque eu tinha uma mãe que era um porto seguro para mim, que me mostrava o que era a vida. E às vezes a gente não tem pai nem mãe, mas tem um amigo, tem uma professora e tem que se apoiar naquela pessoa. A gente também faz um trabalho de formação humana. Sempre eu paro para falar. Já inicio a aula com uma mensagem de força, de ânimo, de superação, para que eles possam superar.

Consoante exprime, considerar em sua prática as vivências das crianças ajuda a constituir uma relação de companheirismo, amizade e confiança, até porque muitos desses alunos são negligenciados pela família. Ressalta que procura ser referência para essas crianças, chamando a atenção delas para outras possibilidades que a vida oferece, já que em suas casas muitas vezes não há exemplos de superação. Conta que frequentemente conversa sobre sua vida, as dificuldades pelas quais passou e de que forma as venceu, pois, assim como ocorre com elas, vivenciava aquela mesma realidade, mas soube fazer as escolhas certas.

É importante considerar que, antes da sua formação inicial e enfaticamente durante esta, a professora demonstrava interesse pela área de Ciências Humanas, principalmente sobre temas relacionados ao homem, à sociedade e às influências do meio social na formação das pessoas. Ante a realidade expressa no contexto escolar onde atua, em outro momento da entrevista, a professora revela que utiliza seus conhecimentos, principalmente nas disciplinas das áreas de Psicologia e Sociologia, para fundamentar suas aulas de formação humana, momento em que conversa com as crianças sobre os problemas sociais enfrentados na comunidade e formas de superá-los.

Em seu memorial, Margarida reafirma a importância de o docente conhecer as experiências de vida da criança e aspectos do seu cotidiano:

Ressalto que é de suma importância trabalhar a partir da realidade dos alunos e que nós, docentes, devemos pensar na escola numa perspectiva inclusiva. Questiono a necessidade de dar sentido à aprendizagem para que esta não se distancie dos problemas da vida. É preciso que haja coerência entre os saberes que a escola oferece aos alunos e as suas reais situações de vida.

A inclusão a que Margarida se refere neste fragmento do memorial é relacionada ao acolhimento e ao respeito que o professor precisa oferecer às crianças para que se sintam parte da escola, onde sejam considerados e valorizados suas experiências de vida e seus saberes como ponto de partida para ampliar sua visão de mundo.

Em outro momento da entrevista, Margarida explica que alguns dos motivos de muitos alunos se evadirem ou desistirem da escola decorrem de as aulas não serem prazerosas, atraentes e não terem uma relação mais direta com o dia a dia deles. De acordo com ela, cabe ao professor tornar esse momento convidativo, ajudando os alunos a perceberem por que a escola e o conhecimento são importantes para a vida, conforme expressa neste trecho: “a gente tem que fazer um elo entre a vida, o dia a dia e a sala de aula. A escola é tudo, a escola é vida, nós passamos mais tempo da nossa vida dentro da escola”.

Expor as experiências e práticas docentes das professoras também compreende perceber concepções sobre o que acham importante ensinar e como ensinar. Nesta perspectiva, indicam o que geralmente fazem em suas aulas, as metodologias utilizadas e as implicações na aprendizagem dos seus alunos.

As professoras, de forma geral, garantem que priorizam a participação dos alunos em suas aulas e, para isso, utilizam estratégias de ensino que ocasionam o interesse e o envolvimento desses com os conteúdos abordados. Relacioná-los ao cotidiano como fonte dos ‘temas geradores’ ou servindo de ilustração exemplificadora, problematizá-los, investigar os

conhecimentos prévios e proporcionar debates – eis algumas possibilidades de tornar as aulas mais dinâmicas e significativas, tanto para elas como para seus alunos.

Acácia relata que solicita aos seus alunos que informem temas de seu interesse para que possam pesquisar e levar os resultados das buscas para discutir em sala de aula:

Peço para eles escreverem se tem algum assunto que eles querem, se tem algum assunto que eles veem no jornal, que eles viram na internet, que eles ouviram falar. Se eu não souber, não tiver domínio daquele assunto, eu pesquiso, eu faço pesquisa com eles. Eu costumo perguntar sobre o dia a dia deles, até mesmo para incentivar, porque a maioria não tem o hábito de noticiário, só aquela cultura de novela, aqueles programas nada culturais, aí eu costumo fazer isso: “quem viu tal notícia?”. Aí um viu, comenta, aí “vamos assistir hoje, para ver se vai falar de novo, se vai ter alguma novidade?”. Isso estimula porque eles falam, eles comentam. Então até para eles se habituarem, não é aquela coisa do querer que eles tenham a obrigação, mas para se habituar a se informar.

Revela que tal ação contribui para a condução do seu trabalho, especialmente com a disciplina Geografia para os anos finais do Ensino Fundamental, à medida que, com origem nas sugestões dos alunos quanto aos assuntos pelos quais se interessam, procura aproximar-se desses temas por meio de pesquisas, assim como os provoca a buscar certas notícias veiculadas nos meios de comunicação, incentivando-os a ficar atentos às novidades que surgem sobre elas para comentá-las em sala. Com esta iniciativa, Acácia assevera que incentiva seus alunos a criar o hábito de buscar e acompanhar as notícias, percebendo o desencadeamento de fatos importantes que acontecem no País e no Mundo, assim como ampliar o conhecimento sobre aquele assunto, já que trazem e compartilham informações coletadas em diferentes fontes de comunicação e pesquisa.

4.4.4 Aulas interessantes/ metodologia diferenciada “é colocar os alunos para pensar,

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