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Como mencionado na reportagem, “[ ] trata-se de uma percepção do problema pelo eleitor, mas não o fato do acesso,

43 Consultado no original da 2ª edição, 2009:253.

DEPESA REALIZADA 0,

51 Como mencionado na reportagem, “[ ] trata-se de uma percepção do problema pelo eleitor, mas não o fato do acesso,

porque todos estão na escola. O que o preocupa é a qualidade, a empregabilidade no futuro” (Professor Fausto Miziara (UFG), Jornal “O Popular”, Goiânia, 14/08/2008: 19).

52 Cristovam Buarque é professor da Universidade de Brasília (UnB). Foi governador do Distrito Federal entre os anos 1995 a

1998. Atualmente, exerce seu primeiro mandato como Senador da República (2002-2010), para o qual foi eleito ainda filiado ao Partido dos Trabalhadores. Foi Ministro da Educação no primeiro ano do governo Lula (2003). Em 2004, deixou o PT e filiou-se ao PDT (Partido Democrático Trabalhista).

básico e essencial – “O que precisa mudar no Brasil para a sua vida melhorar de verdade? – consultou cerca de 500.000 pessoas em todo o território nacional, com destaque para as áreas de elevada pobreza. Segundo seus realizadores, tratou-se da maior pesquisa do gênero feita no país, uma vez que as anteriores dificilmente ultrapassavam o universo de 3.000 participantes. Efetivada sobre métodos de questionamento abertos e aplicados diretamente ao interlocutor, os resultados indicam que, mesmo que minoritária na somatória das reivindicações mais comuns da população, a necessidade de melhoria da qualidade da educação aparece como a principal política pública em que os governos das três esferas devem intervir e aperfeiçoar continuamente:

Gráfico 3 – Pesquisa nacional sobre os principais problemas brasileiros (PNUD -2009) O que precisa mudar no Brasil

para a sua vida melhorar de verdade?

1% 2% 2% 3% 6% 9% 14% 14% 18% 5% 26% 0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% IMP OST OS INFR AES TRU TUR A PO LÍTI CA JUS TIÇ A MEI O A MBI ENTE SAÚD E EM PR EGO PO LÍTI CAS PÚ BLIC AS VIO LÊN CIA EDU CAÇ ÃO OU TRO S

Fonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Pesquisa realizada com 500.000 participantes entre novembro de 2008 a abril de 2009. Publicada na Revista ÉPOCA de 25 de maio de 2009, páginas 58-62. O item “outros” refere-se a uma gama de respostas que não se adequavam à classificação proposta pelo organizadores

Examinando-se a mesma questão no âmbito de cada unidade federativa, nota-se um grande equilíbrio de opiniões. O menor índice a favor da educação fez-se no Mato Grosso do Sul e em Sergipe, ambos com 17%, ao passo que a maior deu-se no Amazonas, com 25%. Sabendo-se que a somatória média de todos os estados foi 21,5%, constata-se a homogeneidade da percepção educacional no Brasil, já que a diferença entre os extremos e a média é praticamente igual, ou seja, 3,5 a 4 pontos percentuais.

Outro dado digno de nota foi liderança da educação sobre setores muito mais explorados pela mídia e pelas campanhas políticas em geral. Excetuando-se Tocantins e Sergipe, a pesquisa do PNUD registrou que nos demais estados a opção pela educação superou a preocupação com a violência, em média de 5 a 10 pontos percentuais. Além disso, como se pode verificar no próximo gráfico, não há relação aparente entre a crença na educação e o nível de desenvolvimento ou a localização regional dos estados. Encontram-

se sob os mesmos índices estados tão distintos como Amapá e Minas Gerais, Roraima e São Paulo, Piauí e Rio de Janeiro, Espírito Santo e Pernambuco, Ceará e o Distrito Federal:

Gráfico 4 – Pesquisa nacional sobre os principais problemas brasileiros (PNUD -2009).

O que precisa mudar no Brasil para a sua vida melhorar de verdade? Percentual de respostas afirmativas na educação por unidade da federação:

17 17 18 18 19 19 20 20 21 21 21 21 22 22 22 22 23 23 23 23 23 24 24 24 24 24 25 0 5 10 15 20 25 30 MS SE AP MG RS SC RO TO AC MT PA PR AL RN RR SP GO MA PB PI RJ BA CE DF ES PE AM

(Fonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Pesquisa realizada entre novembro de 2008 a abril de 2009. Publicada na Revista ÉPOCA, 25 de maio de 2009, página 58-62)

Embora passíveis de diversas outras interpretações, os estudos apresentados permitem constatar o cenário transitório em que vive a educação publica diante da consciência popular. Se, por um lado, ela não se apresenta como o principal instrumento de decisão do voto ou de reivindicação imediata da maioria dos cidadãos, do outro ainda permanece como o mais importante “espaço de debate” na construção de agendas promotoras de cidadania. Isso, porém, não lhe retira as dificuldades em “transformar a

sociedade” nos parâmetros históricos do projeto educacional democrático popular. Os

próprios dados do PNUD revelam que a Educação não aglutina de forma majoritária as aspirações reais de transformação da população brasileira, já que ela perfaz, no máximo, 1/4 a 1/5 das “preferências” dos cidadãos – o que não é, admitamos, pouca coisa, se levarmos em conta os nossos ainda elevados índices de pobreza absoluta e desigualdade social.

Sendo assim, há que se reconhecer, como já o dissemos mais de uma vez, a fragilidade do discurso pedagógico centrado exclusivamente num hipotético “educacionismo

absolutista”, que nega as contradições históricas e as necessidades múltiplas das

sociedades humanas, sempre em eterna mutação. Com a ampliação do acesso à escola e a mudança do perfil de renda do brasileiro médio, discursos usualmente válidos no passado perderam profundidade e alcance no interior das massas urbanas modernas, o que parece ser uma tendência histórica quando sujeitos coletivos avançam do estágio de carências básicas para a conquista de bens públicos de primeira necessidade, já largamente demonstrada pela tradição sociológica contemporânea.

No contexto histórico do Mato Grosso, TORRES (1994: 95/136), baseando-se em CASTELLS (1976), CUNHA (1991) e GOHN (1985), além de outros, já registrava, desde meados da década de 1980, as transformações dos movimentos sociais no estado quando passavam a vivenciar a transição mencionada. Alcançadas as reivindicações de caráter imediato, as mobilizações da comunidade tendem a passar por uma fase de “refluxo” até que outras necessidades se transformem, a partir do movimento dialético da história, numa nova agenda capaz de aglutinar as demandas contemporâneas de uma dada comunidade, como se percebe nas falas populares coletadas pela autora na sua pesquisa de campo em bairros periféricos de Cuiabá:

“No tempo em que a gente chegou aqui, que não existia água, num existia luz, num existia posto de saúde, [,,,] existia só um colégio, você fazia uma reunião, não cabia de pôr gente e vinha e vinha....Hoje, [...] o pessoal acomodou muito, pessoal que num tem vontade de crescer” [entrevistada nº 4] (TORRES, 1994;126)

[...] os presidente acha que não falta mais nada. O povo acha que está tudo pronto, mas tem muita dificuldade no bairro [entrevistada nº 5] (idem)

Também no campo regional desta tese - o Vale do Araguaia mato-grossense - registramos depoimentos muitos interessantes dessa “transição paradigmática” pela qual vêm passando as camadas populares brasileiras. Pedro Casaldáliga, Bispo aposentado da prelazia de São Félix do Araguaia (mas politicamente atuante), lembrou-nos em entrevista a valorização que as camadas populares menos alfabetizadas dedicavam às campanhas educacionais promovidos pela prelazia no passado (com destaque para as décadas de 1970 e 80), comparando-as com as transformações em curso que, posteriormente, culminariam no atual “cenário mágico” do mundo informatizado:

Nós organizamos como primeiro ato as „Campanhas Missionárias‟, em três meses, que é o tempo que o Paulo Freire pede para a alfabetização. E nestes três meses nós detectávamos as alianças, alfabetizávamos, fazíamos celebrações religiosas, deixávamos uma semente, um núcleo, uma comunidade. As Campanhas Missionárias também foram motivos de perseguição, porque, para a repressão da ditadura militar, tudo o que fosse conscientizar...conscientização era uma palavra perseguida. Assim como não se podia falar em socialismo, não se podia falar em conscientização. Conscientizar era sublevar, contestar a política oficial, era reivindicar os direitos. [...] A aspiração do povo, quando nós aqui chegamos, era a de que “não quero que o meu filho seja analfabeto como eu”. O que o povo pedia era a alfabetização: saber ler, saber escrever, saber contar...

Agora, na medida em que avança o tempo - e há experiências de algo superior em educação - esses pais, essas mães, madrinhas e padrinhos, reconhecem que essa meninada de hoje é esperta! Como essas crianças de hoje...por exemplo...vê-las mexendo no computador... um “mistério de fé” para muitos aqui de antigamente (Bispo Dom Pedro Casaldáliga, entrevista em outubro de 2008, São Félix do Araguaia)

A complexidade destas questões choca-se com algumas propostas históricas da intelectualidade progressista. SAVIANI (2009: 46), ao defender, como a maioria dos educadores da esquerda brasileira, o aumento considerável dos investimentos educacionais

em relação ao PIB nacional (dos presentes 4% para 8%), assinala que saltaríamos da média atual dos 48 bilhões de reais53 para 162 bilhões e 760 milhões de reais, ou seja, mais do que o triplo, quantia esta que seus defensores não consideram excessiva, mas sim a “pedra edificadora” de um sistema educativo nacional homogêneo e de “qualidade socialmente referenciada” 54

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Como o sabemos, diante da ousada proposta, o presidente Lula, expoente máximo de um governo de esquerda na história do Brasil, não a implementou, como também não o fizeram milhares de prefeitos - conservadores ou não – em relação ao orçamento municipal que lhes compete. Porém, sabemos que Lula e o seu governo gozam dos mais altos índices de popularidade dentre os que subiram a rampa do Palácio do Planalto55, da mesma forma que muitos prefeitos, a despeito de não aumentarem seus investimentos em educação além dos valores constitucionais a que estão obrigados, continuam a ser extremamente populares nas gestões de suas respectivas cidades.

Isto ficou ainda mais evidente nas eleições municipais de 2008. Na época, a maioria das revistas semanais de grande circulação definiu-as como a “vitória do continuísmo” (pelo elevado número de prefeitos reeleitos), ou a “vitória dos gerentes”, isto é, dos que “apresentaram resultados”.56 Dos 20 candidatos à reeleição nas capitais daquele ano, 19

foram reeleitos. Já no âmbito nacional, o índice de reeleição dos candidatos atingiu a cifra de 66,88%, a maior de toda a história democrática do Brasil, uma vez que nas eleições de 2000 e 2004 este índice foi, respectivamente, de 37,1% e 23,6%.

A problemática em debate não se dirige somente aos dirigentes municipais identificados com os partidos historicamente conservadores. Nas conquistas eleitorais mais recentes da esquerda democrática, tem se verificado que, apesar do forte teor sócio- educacional nos discursos de campanha, as práticas tradicionais de gestão municipal têm prevalecido sobre as “alternativas educacionais transformadoras” nas ações cotidianas de muitos dos novos prefeitos. Estes, premidos pela realidade ou mesmo pela “compreensão individualizada” que apresentam em relação ao programa democrático popular (como bem

53 Previsão do FUNDEB no financiamento da educação básica em 2007.

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