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Dentre tantas pesquisas por nós colecionadas sobre a popularidade do presidente Lula no tempo de elaboração da tese,

43 Consultado no original da 2ª edição, 2009:253.

DEPESA REALIZADA 0,

55 Dentre tantas pesquisas por nós colecionadas sobre a popularidade do presidente Lula no tempo de elaboração da tese,

fiquemos com a última, obtida já nos momentos finais dos nossos trabalhos. Segundo o Datafolha, de 24/02/2010, os índices sobre o seu desempenho de governo são: 73% de Ótimo e Bom; 20% de Regular; 5% de Ruim e Péssimo. De acordo com o órgão, é a mais alta popularidade da série histórica da pesquisa, iniciada em 1990.

56 “ISTOÉ” nº 1995, 30/01/2008; “ISTO É”, nº2032,15/10/2008: 44-48;:36-37; “ÉPOCA”, 22/09/2008:70-74; “CARTA CAPITAL”, 15/10/2008:33-35; “ÉPOCA”,13/10/2008:112-113; “VEJA”,15/10/2008: 75-79 “ÉPOCA”, 03/11/2008: 44-4; Boletim da Confederação Nacional dos Municípios, novembro/dezembro de 2008)

nos assinalou, mais de uma vez, o deputado federal Carlos Abicalil), orientam seus governos numa direção mais convencional e pragmática de administração, ou seja, com muita articulação política, alianças com frações do conservadorismo, obras de impacto visual e programas de transferência direta de renda.

Nesse contexto, dois horizontes políticos se defrontam no desafio da esquerda em administrar os pequenos e médios municípios brasileiros. De um lado, os dirigentes progressistas que permanecem, tais como os do mandato em estudo na cidade de Barra do Garças (2005/2008), alinhados à originalidade mais radical do projeto educacional democrático popular, ou seja, voltados prioritariamente ao aumento maciço dos investimentos nos sistemas municipais de ensino. Do outro, as aspirações de amplos setores da população, distribuídos nas mais diversas classes sociais, as quais parecem dirigir suas opções à promoção do potencial de empregos no município, à execução de obras públicas de grande visibilidade material, à capacidade de “atração” de grandes empresas e recursos públicos para a localidade e a ampliação das políticas de cunho assistencialista ou de transferência direta de renda.

Haveria, de fato, uma “contradição intrínseca” entre as demandas populares e as aspirações pedagógicas da esquerda educacional democrática?

1.6- “Do todo à unidade”: nosso estudo de caso como possibilidade de investigação

da temática levantada. Indagações da tese relativas ao tema.

A grande dificuldade do pensamento dialético é promover a estruturação permanente e radical do todo, que não é uma operação simples, nem é uma operação agradável. É uma operação delicada, difícil. Para tanto, tem que haver uma revisão de convicções enraizadas, coisas construídas com esforço, que foram assimiladas com paixão. (KONDER, 2001:

105 e 106)

O desafio do pensamento – cujo campo próprio de mover-se é o plano abstrato, teórico – é trazer para o plano do conhecimento essa dialética do real (FRIGOTTO, 1991; 74).

Como vimos, passadas mais de duas décadas de consolidação e avanços sociais no Brasil, grandes ainda são os desafios dos projetos educacionais pautados pela matriz popular e democrática. As experiências administrativas na gestão do Estado trouxeram-lhes amplas possibilidades de crescimento e visibilidade política, sem dúvida, e não foram poucas as prefeituras e governos estaduais progressistas que, seguida à vitória eleitoral, lutaram efetivamente pela implantação de propostas educacionais inovadoras em suas respectivas redes de ensino. Contudo, tais avanços e conquistas nem sempre corresponderam à consolidação institucional e pedagógica desses projetos, os quais são

sumariamente desfigurados - ou mesmo extintos - após um revés eleitoral diante de forças conservadoras locais ou regionais. Frente a este fato, é comum à militância progressista, no período posterior à determinada derrota nas urnas, debruçar-se sobre os fatores que bloqueavam as mudanças quando na vigência de um mandato popular.

Foi exatamente em relação a estas reflexões que nos esforçamos em efetivar, a partir da experiência pesquisada em Barra do Garças, um novo prisma de observação sobre as prefeituras governadas pelos partidos de esquerda, especialmente no momento em que o país vivencia, de forma inédita na sua história, a gestão do governo federal sob a liderança de forças de centro-esquerda (2003/2010). Ao contrário dos duros embates da década passada, quando essas prefeituras simbolizavam a “contraposição viável” aos projetos neoliberais estaduais e federais – bem como a oposição direta aos antigos quadros do regime militar – a condução destas administrações ocorre sobre estreita aliança e cooperação com os projetos do governo federal e mesmo com alguns governos estaduais de perfil liberal-conservador. Assim, embora o projeto democrático popular continue a exercer considerável influência no âmbito de uma sociedade partida e desigual, programas como o Bolsa-Escola, participação popular na administração, orçamento participativo e democratização da gestão educacional já não mais exercem, em nível de discurso, o mesmo impacto que marcava a diferença entre governos municipais progressistas e conservadores há uma década.

No caso de Mato Grosso, a dinâmica acelerada dos fatos imprimiu tantas mudanças que mesmo os “olhares mais dialéticos” têm dificuldade em acompanhar. No presente momento (2010), o estado encontra-se no segundo mandato do governador Blairo Maggi, presidente licenciado de um dos maiores grupos do agro-negócio nacional e considerado o maior plantador individual de soja do mundo (Revista Exame, nº11, junho/2004, p.50). No primeiro mandato (2003-2006), Maggi assumiu uma posição híbrida e indefinida diante do governo federal, embora tenha apoiado, ao lado de Lula, o candidato do PT nas eleições municipais de 2004 em Cuiabá, Alexandre César. Posteriormente, após sua própria reeleição e a do presidente Lula no segundo turno das eleições estaduais e presidenciais de 2006 (ambos com resultados quase idênticos, 60,35% e 60,83%, respectivamente) Maggi aproximou-se de forma mais estreita do governo federal e do PT estadual57. O empreendimento desta aliança resultou, além de uma mudança radical na postura ambiental do deu governo (muito mais preservacionista, segundo dados do próprio Greenpeace58), na

57 Sobre as razões desta aproximação da parte de Blairo Maggi, ver a reportagem na revista RDM, de 05/11/06, páginas 10 a

16, bem como a entrevista de Carlos Abicalil sobre o tema na mesma edição.

58 A revista DINHEIRO RURAL nº 56, de junho de 2009 (páginas 51-55), trazia uma manchete sobre esta questão em letras

garrafais: “A Doce Colheita Ecológica do Grupo Maggi: empresa que já foi conhecida como vilão do meio ambiente, adota política sustentável e recebe elogios até do Greenpeace”. O parágrafo inicial do artigo comentava que “Corre no meio rural

nomeação de Ságuas Moraes como Secretário de Educação do Estado (2007/2010), médico e deputado estadual pelo PT (2006/2010) e ex-prefeito de Juína (36.000 habitantes) por dois mandatos consecutivos (1997/ 2000 e 2001/ 2004).

Portanto, no que tange ao exame da forças progressistas do estado de Mato Grosso, os elementos de compreensão de um programa educacional democrático popular tornam-se ainda mais enigmáticos. Nas entrevistas com os dois parlamentares da esquerda mato- grossense no Congresso Nacional, as incertezas sobre o caráter “de esquerda” das atuais administrações do PT no estado ficaram patentes. Em função da diversidade dos quadros que assumiram as prefeituras durante e após o quadriênio 2004-08, tanto o deputado Carlos Abicalil como a senadora Serys Slhessarenko - professores de longa tradição no movimento sindical e social - não tinham elementos suficientes para emitir uma opinião formada sobre as prefeituras governadas pela agremiação à qual pertencem.

Para a senadora Serys, a definição de uma gestão democrática popular só seria possível mediante novas bases de análise que, empiricamente, ainda estão por se construir:

Em primeiro lugar, eu diria que é muito difícil você julgar o que é um governo democrático popular, que critérios, em que base. Eu precisaria ter uma avaliação de todas as prefeituras chamadas assim “de esquerda”. E isto não existe. Eu, pelo menos, não tenho, e não sei se alguém tem a avaliação das sete prefeituras do PT até a última eleição (2008), e mais a do Chaparral em Barra do Garças, do PCdoB. Eu posso até te dizer o que eu acho, mas é puro “achismo”. Uma avaliação, para ser séria, tem que dizer com que critérios foi feita. Porque as vezes aquele governo que deu mais certo na prefeitura é aquele que de “popular” não teve “quase nada”. Estou colocando entre aspas. E aquele que foi “popular para valer” foi o que perdeu a eleição ali na frente. Então, esse critério de “governo popular” que fez avançar ou não o processo democrático é muito complicado para te responder (Senadora Serys Slhessarenko – PT-MT. Entrevista, maio de 2009)

Já o deputado Carlos Abicalil atribui tais indefinições à formação política dos quadros filiados recentemente ao partido, uma vez que estes não passaram pela longa experiência das lutas sociais dos primeiros tempos da abertura democrática pós-regime militar. Isso, somado à ausência de uma identidade marcante do eleitorado mato-grossense, sustenta um novo pragmatismo no qual o atendimento das reivindicações imediatas está acima dos tradicionais debates ideológicos da esquerda socialista:

[...] eu acho que está havendo um movimento pragmático em torno das opiniões do eleitorado, e este senso pragmático tem ocupado um espaço maior. Mesmo quem tem voto progressista, vota pensando na manutenção ou ma melhoria da sua condição. Salvo exceções à regra, não temos o voto que poderíamos chamar de “tipicamente socialista” – como o RJ, RS, SP, PE - ou daquele 1/3, 1/4 do eleitorado que não “arreda pé” das suas convicções ideológicas, à esquerda ou à direita do cenário político. Mato Grosso está um pouco mais longe deste cenário. E como ainda é a “Terra

uma galhofa em que produtores mato-grossenses questionam: que suco verde teria tomado Blairo Maggi? Afinal, a transformação é visível”.

da Promissão”, “Colônia”, de imaginário recente, o voto é mais pragmático (Deputado Federal Carlos Abicalil, PT-MT. Entrevista abril de 2009).

Postura semelhante teve o deputado estadual Ságuas Moraes (PT), ao comentar conosco sobre sua experiência como secretário de educação do MT. Segundo ele, com o avanço do “consenso nacional” sobre a necessidade de se melhorar nosso sistema de público de ensino, bem como a universalização do acesso e o aumento dos recursos patrocinados pelo governo Lula por meio do FUNDEB, as diferenças entre as políticas municipais de educação sob o comando de partidos conservadores ou progressistas ficaram bastante diluídas no âmbito do estado. Assim, na linha oposta das observações de Paulo Freire no início da década de 1990 (portanto, uma análise datada, obviamente59), Ságuas admitiu o excelente trabalho educacional de muitos prefeitos mato-grossenses situados historicamente no campo conservador, o que nesse sentido os tornavam “aliados orgânicos” das políticas pedagógicas implementadas pela sua secretaria:

A nossa amostragem é muito pequena para que a gente possa destacar, com precisão, que aqueles que tiveram um perfil “mais de esquerda” fizeram um “excelente trabalho”, e os que são ”de direita” fizeram um “péssimo trabalho”. Então, não teve ainda como a gente perceber muito essa diferença. Agora, pelo o que já deu para observar, nós temos gestões de “secretários de direita” fazendo um belíssimo trabalho; e nós temos prefeitos e secretários municipais de esquerda e centro- esquerda fazendo o trabalho “com mais dificuldade” e vice e versa. Em todos os perfis têm bons trabalhos e outros com mais dificuldades. O nosso projeto é pela qualidade da educação. E qualidade da educação tem que ser com todos. Então, aquele que quiser aderir às nossas propostas de qualidade e democratização da educação, é um parceiro nosso, independente da cor partidária dele (Deputado Ságuas Moraes, secretário de educação do MT entre maio de 2007 a abril de 2010. Entrevista em fevereiro de 2009). Outros depoimentos tomados ao longo da pesquisa evidenciaram a mudança de alguns referenciais políticos considerados relevantes pela tradição socialista, tais como “programa”, “partido” e “sindicato”. Dom Pedro Casaldáliga, no alto de sua experiência de mais de 40 anos de luta na região do Araguaia mato-grossense, constata a inversão de categorias que, dada a atual forma de interpretação popular, precisam ser “relativizadas” para que se possa estabelecer a continuidade dos projetos de luta e transformação social:

[...] Eu creio que a figura do candidato não representa o partido para muitos. É uma eleição pessoal, nem sabem de que partido é o candidato. Os vereadores, então, nem digamos: – porque você votou nessa pessoa para vereador? “- Ah! Porque é um cara muito bom, muito amigo, gosta do povo,

trata bem o povo”. – De que partido? “Não sei ...” . Os partidos têm perdido

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