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Jornais estaduais: “A Gazeta”; “Folha do Estado”, “Diário de Cuiabá”

ESPAÇOS DINÂMICOS; ELITES CONSERVADORAS Contexto histórico, cultural, geográfico e político do tema

Mapa 6: Zona rural e urbana de Barra do Garças

II) Jornais estaduais: “A Gazeta”; “Folha do Estado”, “Diário de Cuiabá”

III) Jornais Eletrônicos: “Diário de Cuiabá” (www.diariodecuiaba.com.br); “Jornal Local” (www.jlocal.com.br/barra); “24 horas News‟ (www.24horasnews.com.br); “Araguaia News”

(Araguaia.net/news)” ; “”Boletim do Tribunal de Contas de Mato Grosso (www.tce..mt.gov.br)

No caso do jornal “A Gazeta do Vale do Araguaia”, dirigido pelo “jornalista” Paulo Batista e ligado à principal rádio da cidade (a Aruanã, de grande audiência e penetração nas camadas populares), o noticiário era desprovido de qualquer ética jornalística e profissional quando se tratava de atingir o governo popular. Seus editoriais davam a linha política dos adversários e de todo o resto do noticiário dos meios de comunicação locais oposicionistas, numa verdadeira máquina de propaganda explícita a favor do ex-prefeito Wanderlei Farias.

Duas eram as linhas de ataque desta fonte. A primeira seguia uma orientação ideológica que arriscaríamos chamar de “proto-fascista”, ou seja, “diga-se uma mentira mil

vezes e ela se tornará uma verdade”. Tratava-se, acima de tudo, de desconstruir qualquer

imagem positiva da pessoa do prefeito Zózimo Chaparral, substituindo-a pela imagem negativa de que este “emperrava o crescimento, o progresso e o desenvolvimento da

cidade”, fruto do seu “mau caráter”, da sua “má índole” e da “incompetência do seu governo”, tentando assim transformá-lo no empecilho da principal aspiração das populações

urbanas e rurais do interior brasileiro:

[...] Entre muitos que pensam assim, está o pretenso ilusionista Chaparral, castigo e infelicidade que detém o poder executivo de um dos municípios mais expressivos do Estado e mais conhecidos do Brasil. [...] Tudo que se

possa imaginar que está sendo feito para atrapalhar o desenvolvimento deste município, essa administração está fazendo e ainda pode fazer pior. Se a equipe que está no poder fosse apenas medíocre e incompetente, talvez em nada prejudicasse. Mas o que não falta é inteligência desvirtuada, malandragem total (Editorial do Jornal “Gazeta do Vale do Araguaia”; edição de 15 a 22 de agosto de 2006)

Se fossemos nos concentrar na extensão das críticas empreendidas à prefeitura popular pelos meios de comunicação de Barra do Garças, não concluiríamos este trabalho até a próxima década. Assim, por exigências de síntese e limitações de espaço, selecionamos um dos principais editoriais que, entre tantos outros pesquisados, “simboliza à perfeição” a virulência da imprensa local contra o prefeito Zózimo Chaparral, bem como a mentalidade política da direção do referido jornal e, por extensão, de parte significativa dos setores oligárquicos do município e da velha direita mato-grossense. Publicado em outubro de 2007, nele estão expressos o anti-comunismo arcaico e visceral, o preconceito de classe e anti-sindical, a oposição cega aos movimentos sociais e às perspectivas igualitárias de um governo democrático popular. Dada a importância do texto na exposição da temática, achamos por bem demonstrá-lo na integra e em formato diferenciado das demais citações, para que o leitor possa ter uma idéia exata do nível de conflito provocado pelo jornal:

.“Tempo bom, e que não volta mais ...”

Longe não estão os tempos em que militantes comunistas espalhavam (embora não espelhavam) ideologias de um socialismo tido como necessário, segundo eles, entre as classes de Barra do Garças.

Os discursos eram contagiantes, os debates na Câmara Municipal faziam do valente vereador Chaparral a maior atração das sessões. Como professor nas escolas e acadêmico de Direito na UFMT, atraía a atenção pela sua retórica de seu revérbero expressivo.

O “cavaleiro da esperança” confrontava autoridades e especialmente o prefeito. E esse ele ia com tudo. Pois o seu alvo principal e seu ideal municipal sempre foi o Executivo.

No episódio da aprovação do serviço de moto-táxi, Chaparral incentivou a invasão da prefeitura, liderando um quebra-quebra à moda do MST, uma de suas inspirações ideológicas.

Hoje, no poder, como macarrão que antes era durão e depois que entra na panela amolece, Chaparral entregou-se aos privilégios, liberações e orgias que a democracia (ou “demoniocracia”) tem oferecido aos incluídos na redoma dos roedores das verbas oficiais.

Ninguém pode afirmar que conhece um ou garantir que nenhum administrador rouba. Rouba pouco, segundo boatos, mas rouba. Rouba, mas faz..., como dizem alguns... É o ditado popular...

Mas esse aí, segundo boatos, rouba e não faz... Ainda bem que são somente boatos. Por outro lado parece que anda atropelando gente humilde que trabalha em obra pública paga pelo governo federal e cuja verba está disponível e não pagam. E se pagam, é com atraso de dez ou quinze dias. Os funcionários do regime normal até o fechamento desta edição (dia 17/10) ainda não tinham recebido o salário de setembro.

Esse valente “quebra-quebra” está se notabilizando por ser o recordista de incompetência no vale do Araguaia. Como tem “costas quentes” por ser o único prefeito do PCdoB de Mato Grosso, tem o maior prestígio em Brasília, onde entre as colunas que sustentam o governo Lula está a pequena, mas influente bancada do PCdoB, com o cacique Aldo Rebello no comando.

Quebrador de prefeitura. Quebrava literalmente nas invasões. Está quebrando agora econômica e financeiramente. Está quebrando todas as viabilidades de sustentação administrativa.

Está quebrando os ânimos de todos que votaram nele e que jamais o elegerão nem para presidente de bairro. Nordestino de boa cepa, esse é o Renan Calheiros do Cerrado... e que um dia também cai. Comprova isto as constantes vaias que está recebendo e que ele imagina (na sua pobre ilusão) serem palmas e apupos de elogios.

Somavam-se aos editoriais ferinos as críticas “plantadas” na coluna do “Zé da Madrugada”, - “codinome” do mesmo diretor do jornal para continuar suas pregações reacionárias não apenas contra a prefeitura de Zózimo Chaparral, mas à esquerda brasileira em geral – as quais perfaziam a “segunda frente de ataque”. Do mesmo modo que a primeira, ela nos mostra o nível de diálogo desqualificado no qual a oposição embasava suas críticas à prefeitura. A função primordial destes “torpedos” era passar a idéia de que, por detrás do discurso sedutor e utópico das esquerdas e do prefeito, se escondia uma “índole pérfida com pretensões de quadrilha”, a qual caberia ao “povo barra-garcense” desmascarar. Além disso, com a derrota de Chaparral nas eleições de 2008, tornava-se claro o preconceito de uma elite que, no interior de “suas porteiras”, não admite que alguém com o perfil popular possa freqüentar os “salões do poder municipal”, privativo da velha oligarquia do Araguaia:

Coluna – “Zé da madruga”

Este atual prefeito de Barra do Garças, por exemplo, tem bom papo, mas é um péssimo espécime de político. Também só enganou e vem enganando alguns trouxas, porque a maioria das pessoas já o conhecia de velhos carnavais. Foi lá que ele começou através do Vaco-Vaco, de velhos tempos. Quanto riso/ quanta alegria/mais de mil palhaços no salão (A Gazeta do Vale do Araguaia – 19 a 25 de outubro de 2007 – p.3)

Coluna – “Zé da madruga “Maré de azar”

O prefeito Chaparral, de triste memória política, não está em fase de muita sorte. É penalizado pelo Tribunal de Justiça, pela Câmara Municipal e está preste a perder o mandato de prefeito. Só tem 11 dias de exercício. Depois cai na “margaça”. Volta a ser professor, certamente!... Certamente! (A Gazeta do Vale do Araguaia 19 a 31 de dezembro de 2008. Primeira página).

O verniz ideológico destas críticas era compreendido pelo prefeito Chaparral como “uma forma diferenciada de luta de classes”, na qual sua permanência na prefeitura simbolizava, de certo modo, uma perspectiva de ruptura. Mais do que pertencer ao Partido Comunista do Brasil, o seu mandato representava um cunha importante no interior dos velhos preconceitos da oligarquia local:

[...] do ponto de vista da luta política, a nossa luta aqui é uma luta de classes. Ela nunca deixou de existir. Apenas as características de como elas se dão é que há um diferencial. [...] O que eu vejo em Barra do Garças é que havia um setor, uma classe, historicamente excluída, mas ela própria não tinha essa compreensão, essa leitura política, até porque a ideologia dominante era muito forte. [...] Na verdade, uma elite local não admite que o mandato da prefeitura esteja nas mãos de uma pessoa que não é detentora de posses, de que também não é de uma família daqui do município, de uma pessoa que tem origem no movimento social da esquerda, que é da educação e que não tem nenhuma riqueza do ponto de vista econômico. É inadmissível para elas ter uma pessoa assim gerindo o município (Prefeito

Ao contrário da crise na Câmara, que acabou por iniciar certo diálogo em meados de 2007, o clima hostil provocado pela imprensa seguiu-se por todo o mandato popular. Na campanha pela reeleição de Chaparral, em 2008, a maioria dos jornais cumpriu a função de publicitários diretos do candidato oponente, além de pouco contribuir na promoção ou organização de debates entre os candidatos no sistema rádio/televisivo. Pelo contrário; Wanderlei Farias não só se recusou a comparecer aos poucos debates que tentaram ser realizados pela coligação de Chaparral, como entrou por mais de uma vez na justiça para tentar suspendê-los (e conseguia). Tudo sob a complacência da justiça eleitoral local e do silêncio cúmplice e consentido da mídia.

4.6 – “Fogo Amigo”: As Divisões no Campo da Esquerda

“Afinal, não é fácil à liderança, que emerge por um gesto de

adesão às massas oprimidas, reconhecer-se como contradição exatamente de com quem aderiu”. (FREIRE, 1993:163).

4.6.1 - O velho drama: Sindicatos de Esquerda X Governos Populares:

O desgaste político entre os trabalhadores da educação e a prefeitura popular foi objeto de variados debates no seio da esquerda barra-garcense. As contradições entre a “vontade de realização” e os “limites de atendimento”, comuns às demais administrações progressistas de ontem e de hoje, voltaram ao tablado por muitas vezes naqueles quatros anos inéditos. Questões conflitantes entre a “independência de classe” e as “responsabilidades de Estado” marcaram o tom dos ásperos encontros na mesa de negociação.

Para Fátima Resende, dirigente sindical de longa data antes de se tornar secretária de educação de Barra do Garças, parte deste desgaste não ocorreu em função da ausência de esforços do governo em reajustar os salários do funcionalismo municipal (como de verá no capítulo 6), mas sim devido à postura política assumida pelo SINTEP-MT na primeira metade do mandato popular. Segundo ela, nos momentos mais agudos da crise com a Câmara, alguns importantes sindicalistas se afastaram quando deveriam exatamente se unir à prefeitura e enfrentar a reação. Preocupados com uma possível “perda de identidade” caso apoiassem o governo, preferiram escutar “o canto da mídia” ao chamado de unidade no campo da esquerda. Isso, conseqüentemente, contribuiu para aumentar o isolamento do governo diante dos ataques das oligarquias. Porém, reconhecia Fátima, com o avançar do projeto popular nos meses de 2007 e 2008, muitos dos que se afastaram no início da jornada estavam retornando, seja pela obtenção de algumas conquistas, seja pela compreensão de que não havia outra opção no enfrentamento contra as velhas elites do que o apoio à reeleição de Chaparral:

{...] a mídia, a todo o momento, tentou desconstruir tudo isto que nós temos [2008]. E a militância, às vezes, foi pelo “canto da mídia”. Então, durante os primeiros dois anos, o governo se sentiu abandonado por parte dessas forças políticas que poderiam estar somando e serem propositivas, inclusive o próprio Sindicato dos Professores [da seção local do SINTEP – MT], que ficou com medo de ser apontado como “somos governo agora”. Ao invés de empunharem as nossas propostas como bandeiras históricas de luta, eles se afastaram. Porém, conseguimos resgatar esse apoio em alguns pontos a partir do final de 2007. E agora, neste último ano de mandato, essas pessoas parecem que começam a “acordar”, isto é, a pensar que, “se eu

não apoiar esse projeto, eu vou para qual”? (Fátima Resende, Secretária

de Educação. Entrevista em junho de 2008)

Na versão da direção do SINTEP, essas interpretações tomam rumos diferenciados, embora também haja pontos de convergência tanto com as posições do governo como a crítica da oposição. Para Marinalva Duarte, dirigente local de grande inserção na entidade, as conquistas obtidas pela categoria na gestão popular foram de fato efetivas e importantes. Mas, de acordo com ela, a conquista fundamental – a equiparação salarial com os professores do estado – não foi obtida, contrariando assim bandeiras históricas da luta dos educadores da cidade (dirigidas, inclusive, por Chaparral, Fátima e Kiko) e contribuindo para o desgaste do governo diante da categoria. Além disso, ela afirma que a contratação de novos funcionários em todos os setores onerou muito os cofres públicos municipais (critica pertinente também do campo conservador), o que acabou por bloquear alguns reajustes para a categoria em função dos gastos terem atingido o teto da Lei de Responsabilidade Fiscal:

Nós fizemos greves, conseguimos algumas recomposições, tivemos alguns aumentos também acima da inflação. Mas não conquistamos aquilo que foi buscado pela categoria, que era equiparar o salário dos funcionários da educação da rede municipal com a estadual. Por que colocar esse patamar, essa a comparação com a rede estadual? Porque subentendemos que somos profissionais de mesmo grau de formação, com a mesma intensidade de carga horária. Então não tem porque num mesmo município termos dois setores do funcionalismo público com salário diferenciado. Essa foi uma luta que não conseguimos. E muitas pessoas ficaram indignadas por isso. [...] Até certo ponto conseguimos chegar próximo, quando o Chaparral fala que nós equiparamos em parte. Nós tivemos conhecimento dos problemas com a lei de responsabilidade fiscal a partir de 2007 e este ano [2008]. Foi feito todo um trabalho pelo sindicato. Realmente, tivemos amplo acesso a folha e tudo mais. Mas porque se chegou ao teto? Porque a prefeitura dobrou o número de funcionários em todas as instâncias, inclusive na educação. Como ele aumentou o número de vagas na rede, isso resultou em muito mais funcionários, e foi além do que ele podia pagar. (Professora Marinalva Duarte, diretora do SINTEP-MT, seção de Barra do Garças. Entrevista em setembro de 2008)

Já para Omar Cirino, também dirigente do SINTEP-MT de larga experiência, um dos aspectos que pesou nos problemas de relacionamento foi o fato de o governo ter confundido, intencionalmente ou não, “transparência formal” com “transparência real”. Segundo ele, o fato de o governo popular achar que já se encontrava “em casa” no

relacionamento com a categoria lhe trouxe diversos problemas. Desse modo, as dúvidas sobre muitos temas não foram adequadamente esclarecidas, e o preparo da categoria no trato das questões do estado também deixou a desejar

Não vou dizer que haja ausência de transparência deste governo. A desconfiança da categoria é com esta “certa falta” de transparência. Talvez nem por culpa dos dirigentes agora da prefeitura, mas por conta da cultura de se fazer política no Brasil. A gente sabe que os tribunais dependem da afinação política, de que a Câmara depende da afinação política. Então, não é uma contabilidade técnica, matemática. A atual prefeitura [2008] fala que se gasta 35% da arrecadação da cidade em educação. Mas 35% em cima de que? Nunca foi apresentado isso para a gente na forma de: “olha, a

gente assina aqui em baixo!” A gente não sabe direito, inclusive por falta de

preparo técnico nosso para o assunto. E não houve uma preocupação em sanar isto. O governo colocou um grande cartaz com as despesas lá na frente na prefeitura nos primeiros anos, mas ficou por isso... ( Professor

Omar Cirino, diretor do SINTEP-MT, seção de Barra do Garças. Entrevista

em setembro de 2008)

Como se vê, repetiram-se em escala semelhante os relacionamentos tempestuosos que costumam seguir-se ao término da “lua de mel” entre sindicatos de trabalhadores públicos e governos de esquerda. Em geral, os primeiros reclamam da falta de ousadia dos novos dirigentes que assumem funções no Estado, bem como o descaso com algumas bandeiras históricas de luta e até mesmo com os compromissos básicos da campanha eleitoral que os levou ao “poder”. Já os segundos julgam-se incompreendidos pelas bases em função da leitura parcial da nova situação, o que coloca em risco a governabilidade progressista e reforça a direita conservadora no seu preparo de retorno ao poder.

Além disso, os gestores progressistas passam a descobrir, como veremos no capítulo 6, que a “valorização do magistério público” – bem como as “equiparações salariais” na área da educação com outras esferas da união - não depende apenas da “boa vontade

política” dos governantes de esquerda, mas sim do real deslocamento de grandes recursos

públicos ao custo do sacrifício de outras demandas sociais, dada a extensão da população envolvida e o elevado número de trabalhadores deste imenso e moderno “proletariado formado”.

4.6.2 – “A Foice sem o Martelo”: a crise interna do Partido Comunista do Brasil de Barra do Garças. (2006/2008)

Mostre-nos o caminho a tomar Que nós seguiremos com você, mas Não tome o caminho certo sem nós Sem nós, este é o

Mais falso dos caminhos Não se separe de nós

(Bertolt Brecht, apud ZIZEK, 2005:198)

[...] Que tem erros, tem. Que tivemos dificuldades, tivemos. Mas não de nos afastamos do Partido Comunista do Brasil. Ainda acho, com todos os problemas, de que os nossos acertos no governo municipal foram maiores do que os nossos

erros. O grande problema é que os próprios camaradas têm focado muito mais nos erros, nos problemas, do que nas virtudes. Um erro nosso se sobrepõe a dez acertos. Na verdade, isto é uma inversão de valores. Estão pegando o excepcional e estabelecendo como regra. (Prefeito Zózimo

Chaparral, PCdoB, entrevista em agosto de 2008)

Como já dito anteriormente, a crise dos dois primeiros anos do governo Chaparral se estendeu à cúpula da própria esquerda local. No entanto, contrariando algumas previsões passadas, o principal foco de atrito não foi entre as duas principais organizações progressistas da frente, o PCdoB e o PT119. A crise explodiu no coração do próprio PCdoB local, mais exatamente no embate entre os dois grandes personagens do partido em Barra do Garças: os “camaradas” Zózimo Chaparral e José Pessoa, respectivamente, prefeito e diretor geral do campus da UFMT em Pontal do Araguaia..

As divergências entre os dois históricos comunistas locais foram tão graves que o princípio organizativo máximo do leninismo clássico, o “centralismo democrático”, esfacelou- se diante da crise e do grau de aspereza que se formou em torno dos personagens em questão. Contudo, “milagrosamente” não aconteceram expulsões, e os embates internos permaneceram por todo o mandato.

Duas interpretações básicas podem ser dadas a esta questão. Ambas são parciais e incompletas, pois, à época das entrevistas, nem a própria organização estava segura das razões mais profundas desta divergência. A primeira hipótese da qual partimos é concentrada no enfoque burocrático, ou seja, na disputas pelo controle da máquina e dos espaços da prefeitura. Sob esta argumentação, o ponto inicial da crise teria sido a grande reforma do secretariado municipal no final de 2006, considerada por muitos depoimentos como “o segundo governo Chaparral”; ou, de acordo com outros, como o “fim do governo do

PCdoB” para o “início do governo do PT”120.

Tais argumentos não são inconsistentes, mas se baseiam no exame concreto do novo secretariado municipal. Com a reforma, o PCdoB perde 5 secretarias, caindo de sete para duas; o PT ganha mais três, totalizando seis pastas; o PP ocupa 1, e os independentes

119 É preciso ter em conta que, mesmo permanecendo como “aliados históricos” nas eleições nacionais, o PT e o PCdoB disputam o movimento de massa há mais de duas décadas. Como explicita o documento da 9ª Conferência da Organização, de junho de 2003 (página 44): “Isso [o novo cenário que se abria para o partido] se dará em meio a forte competição, principalmente com o PT, que aparece aos olhos da sociedade como partido da esquerda e que busca acentuar sua marca ligada aos trabalhadores. Situa-se aí uma disputa estratégica, de mais ou menos larga duração, que nos exige permanentemente um esforço ativo de vincar a marca classista”.

120 Esse fato repercutiu, inclusive, na mudança de rumos do primeiro projeto com o qual concorremos à seleção do presente

doutoramento, em abril de 2006. Já tínhamos até o título: “Das Armas às Urnas: Tradição comunista e Educação Municipal no

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