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Como se pode observar num exame mais acurado de Lenin, especialmente em “Duas táticas da Social Democracia na Revolução Democrática”, a aliança com setores da burguesia não invalida, em determinados processos históricos, o programa

ESPAÇOS DINÂMICOS; ELITES CONSERVADORAS Contexto histórico, cultural, geográfico e político do tema

Mapa 6: Zona rural e urbana de Barra do Garças

99 Como se pode observar num exame mais acurado de Lenin, especialmente em “Duas táticas da Social Democracia na Revolução Democrática”, a aliança com setores da burguesia não invalida, em determinados processos históricos, o programa

e a construção do partido marxista revolucionário. Ao contrário do “radicalismo sem limites” que usualmente se atribui a teoria de Lênin, este nunca negou a importância dos processos de democratização liberal para o avanço político da classe trabalhadora, inclusive com a possibilidade de que, conforme o contexto, eles possam vir a ser mais benéficos às classes populares do que à própria burguesia enquanto classe dirigente: “La revolución burguesa es extremamente beneficiosa para el

semelhante a outros períodos da história, não havia tempo para os comunistas barra- garcenses construírem um cenário ideal de ocupação da prefeitura, o que os obrigou a fazer as concessões necessárias para tornar possível a possibilidade de um novo bloco de poder na cidade. Em conseqüência, ao mesmo tempo em que retiravam a foice e o martelo dos panfletos públicos de campanha (reduzindo-os ao máximo ou substituindo-os com ênfase pelo nº 65 em vermelho, mas também ladeado por outras imagens e cores – Figuras 1 e 2), promoveram a mais ampla abertura no programa de governo apresentado à população, o qual se esforçava em atrair para o debate as principais classes e grupos tradicionais da cidade sem, no entanto, deixar de priorizar as classes trabalhadoras, os estudantes e demais aliados de longa data:

O plano de governo da coligação “BARRA DE TODOS, BARRA MELHOR!” é um compromisso com a sociedade barra-garcense. Expressa o nosso ideal de envolver todos os comprometidos com o progresso e o desenvolvimento de Barra do Garças: sindicatos, associações, clubes de serviço, maçonaria, igrejas, Ongs, pastorais, associação de moradores, profissionais liberais, comerciantes, empresários, produtores rurais, forças armadas, trabalhadores da cidade e do campo, estudantes e donas de casa. O Plano de Governo apresenta tudo aquilo que entendemos ser necessário para mudarmos destinos de nossa cidade. O plano está aberto ao debate e sugestões. Discuta as idéias e propostas com seus familiares, colegas de trabalho e amigos. A sua contribuição é muito importante para melhorar e ampliar as nossas propostas e garantir uma administração voltada para os anseios da população. Participe! Com forte abraço do

Chaparral. (Programa público nas eleições de 2004, da Coligação “BARRA

DE TODOS, BARRA MELHOR!” – PCdoB, PT, PTB, PSB, PSDB.

proletariado. La revolución burguesa es absolutamente necesaria para los interesses del proletariado. Cuanto más completa y decidida, cuanto más consecuente sea la revolución burguesa, tanto más garantizada se hallará la lutcha del proletariado contra la burguesia por el socialismo. Esta conclusión puede parecer nueva, extranã ou paradójica, únicamente a los que ignoran el abecé del socialismo científico. Y de esta conclusión, dicho sea de paso, se desprende asimismo la tesis de que, en cierto sentido, la revolucón burguesa és más beneficiosa para el proletariado que para la burguesia”. (LENIN, V.I: “Dos Tacticas de la Socialdemocracia en la Revolucion Democrática”.Ediciones en lenguas extranjeras, Moscú, p. 41). Outros exemplos de flexibilidade tática aparecem e várias passagens pontuam uma das obras mais conhecidas, Lênin, como a conhecida “Esquerdismo, a Doença Infantil do Comunismo”.

Figura 2: Apresentação do Plano de Governo da candidatura Chaparral. Eleições municipais de 2004

Em meio ao novo contexto, o Partido Comunista do Brasil, em pleno acordo com o Partido dos Trabalhadores, tratou de se adequar rapidamente à principal característica das eleições municipais do interior brasileiro, qual seja: as alianças partidárias assumem uma coloração eclética e bastante distinta das esperadas afinidades ideológicas ou programáticas100. Seguindo esta linha, os comunistas atraíram para a sua candidatura uma personalidade importante nas políticas de assistência social na cidade, Dona Marta Valoes, do PSDB, para compor a vaga da vice-prefeitura, composição esta cuja natureza dos propósitos continuou a ser defendida quatro anos depois, no palanque do primeiro discurso de abertura da campanha de 2008:

Quando nós definimos em 2004 que eu seria candidato à prefeito de Barra do Garças, nós construímos uma aliança política não só para ganhar a eleição, mas também para garantir a governabilidade. E naquele momento, em 2004, nós convidamos uma pessoa muito importante para aquele projeto político, que foi a candidata a vice-prefeita, Dona Márcia Valoes (PSDB). E eu convidei Dona Márcia porque o nosso projeto era, acima de tudo, construir e aplicar políticas públicas de inclusão social. E nada melhor do que uma pessoas que tinha uma trajetória de políticas de ação social. E Dona Márcia, com muita competência, com muita sabedoria, nos ajudou neste projeto que hoje é reconhecido em todo estado de Mato Grosso, como Barra do Garças sendo o município que mais investe no ser humano (Prefeito Zózimo Chaparral, discurso na abertura da campanha à reeleição, julho de 2008)

O esforço da esquerda em incidir sobre a divisão das elites da cidade foi ainda mais longe do que o imaginado em épocas passadas. Consolidada a união com o PSDB - a qual, para que pudesse ser concretizada, necessitou da intervenção da direção estadual deste partido no seu diretório local, sob a coordenação do então candidato a prefeito pela agremiação em Cuiabá, o deputado federal Wilson Santos101 –, a candidatura de Zózimo

100 Os dados mostram que as alianças entre o PT e o PSDB, bem como com o DEM, aumentaram consideravelmente entre os

pleitos municipais de 2000 e 2004. No primeiro caso, o crescimento foi de 60% (sendo que em 1998 já tinham feito alianças em 901 cidades), ao passo que no segundo atingiu a marca dos 250% (672 cidades). Para o Humberto Dantas, doutor em Ciências Políticas e conselheiro do “Movimento Vote Consciente”, estas alianças não significam apenas o reflexo do fisiologismo brasileiro, mas “de fatores que transcendem os interesses municipais”. Assim, ele defende a tese de que “podemos enterrar qualquer tipo de ideologia quando se trata de eleições locais. Não tem esquerda nem direita [...] o que acaba prevalecendo nos pleitos municipais são os acordos locais”. (“Agência Estado on line”; 25 de maio de 2008, 11:32 horas). Da nossa parte, vemos elementos pontuais de veracidade nesta observação, mas não concordamos com a integralidade do conteúdo em função da nossa própria experiência de pesquisa.

101 Wilson Santos, então deputado federal pelo PSDB, venceu naquele ano o pleito municipal em Cuiabá (reelegendo-se

depois em 2008). Mas, ao contrário do seu grande amigo pessoal já de muitos anos, o comunista Zózimo Chaparral (como ambos sempre afirmam), não o fez enfrentando as elites tradicionais mato-grossenses, mas sim numa disputa acirradíssima no segundo turno (pela primera vez em Cuiabá) contra o candidato Alexandre César, do PT (hoje deputado estadual). Nos bastidores e mesmo na história política da capital do estado, considera-se que a vitória de Wilson Santos nada teve de ética, visto que usou de denúncias falsas e fabricadas contra a família do candidato petista, prejudicando-o numa vitória tida anteriormente como certa, segundo as pesquisas de credenciados institutos nacionais. A falsidade destas denuncias foi tão evidente que, três anos depois, Alexandre César venceu todos os processos judiciais que abriu contra Wilson Santos, que foi

Chaparral costurou uma aliança temporária com alguns dos vereadores que davam sustentação ao então prefeito Wanderley Farias, com destaque à sua jovem sobrinha, Andréia Santos Soares (PTB), que disputou novo mandato na mesma chapa da coligação do PCdoB. A candidata, que viria a ser a presidente da Câmara dos Vereadores no início do governo Chaparral – como fruto de tais negociações – tornar-se-ia, no decorrer dos anos seguintes, uma das opositoras mais ferrenhas e implacáveis à administração do prefeito comunista, sendo então considerada, pela maioria dos dirigentes de esquerda que entrevistamos, como a grande articuladora do cerco político/institucional que a Câmara de Vereadores impôs à administração de Zózimo Chaparral por todo o período de sua gestão (2005/2008).

Contudo, naqueles meses de 2004, os resultados obtidos compensaram em grande medida os eventuais desgastes motivados pelas alianças. Após uma eficiente e inovadora campanha eleitoral, na qual as imagens de juventude, transparência, renovação, mudança e compromisso social combinaram-se de forma ímpar, as urnas se abriram e a bandeira vermelha histórica, com a sua característica foice e martelo no canto superior esquerdo, pôde então ser reerguida e, ao contrário dos tempos idos da guerrilha, tremular livremente às margens dos rios Garças e Araguaia, anunciando tempos de sonhos e vontades futuras de transformação.

3.2 – Oligarquias cambiantes, mas no comando.

Os acontecimentos em pauta já sinalizavam de antemão alguns problemas que se tornariam freqüentes após a posse da administração democrática popular. Porém, após vinte anos de militância, o momento das esquerdas não era de reflexões profundas, e sim de festa e comemoração. A tempestade que desabaria sobre o novo governo só ocorreria de fato a partir do 1º semestre da administração popular, quando a Câmara municipal imprimiria o cerco político sobre o executivo municipal.

Inicialmente, exceto pelas “armadilhas” que, como veremos mais a frente, foram cuidadosamente instaladas pela gestão que se retirava para minar a governabilidade do projeto vencedor, os meses que separaram o resultado das urnas e os primeiros dias após a posse mantiveram-se relativamente calmos. Afinal, se levarmos em consideração o caráter oligárquico das elites políticas de Barra do Garças, pode-se dizer que a vitória das forças de

condenado a pagar pesadas indenizações pelo dano moral causado à época. Posteriormente, o candidato petista solicitou à justiça que estas indenizações se convertessem em apoio material à Universidade Federal de Mato Grosso, onde leciona no departamento de Direito. O fato intensificou a já áspera e tradicional rivalidade PT X PSDB em Cuiabá e, por extensão, em boa parte do estado. Portanto, a aliança dos partidos de esquerda com o PSDB de Barra era realmente um fato “sui-generis” na história recente das composições partidárias mato-grossenses.

esquerda fora aceita pelos seus adversários com certa tranqüilidade. Estes não se utilizaram de nenhum instrumento de natureza política ou jurídica para tentar impedir a posse dos novos gestores. Pelo contrário: os testemunhos apontam até mesmo para um clima de respeito e cordialidade que se desenvolveu entre os representantes da esquerda e o candidato derrotado, Vilmar Peres de Farias. Tanto assim que, quatro anos depois, já nos comícios da campanha pela reeleição de 2008, Chaparral passou a mencionar com freqüência a famosa visita que lhe fizera o antigo adversário (falecido em 2006) logo no início do seu mandato:

Eu digo com muita tranqüilidade: nós fomos adversários, mas nós não fomos inimigos. E nós dois, Vilmar e Chaparral, tínhamos algo em comum, que era o amor por Barra do Garças. E eu quero aqui relatar um fato que muitos barra-garcenses não têm conhecimento. Logo após a eleições que eu venci, em 2004, eu recebi uma carta do Vilmar Peres me desejando êxito, me desejando sucesso, me desejando vitória enquanto prefeito municipal. No primeiro dia da minha administração, eu recebi um telefonema de Vilmar Peres, que falou bem assim: “- aqui é Vilmar Peres, e

eu gostaria que o senhor me agendasse o dia que eu poderia ir ao seu gabinete”. Eu respondi: “- Vilmar, você não precisa de agenda. Você

chegando aqui será atendido de imediato”. E assim o fiz, e assim Vilmar também o fez, porque aquele gabinete é o gabinete do povo. E sabem pra quê ele foi no “meu” gabinete? Para estender a mão e dizer: “Prefeito, eu

desejo sucesso, eu desejo êxito na sua administração, porque Barra do Garças é maior do que as nossas diferenças. Barra do Garças é maior do que nós dois” (Prefeito Zózimo Chaparral, discurso no 1º comício de

abertura da campanha à reeleição, julho de 2008).

Poderíamos rebater, a partir do usual “distanciamento do pesquisador”, que aquela recordação era apenas uma necessidade para consolidar, mais uma vez, a nova aliança que se iniciava na campanha pela reeleição em 2008. Naquele ano, era o filho de Vilmar Peres de Farias, o jovem empresário Roberto Farias (PP), que compunha a vice-liderança na chapa do PCdoB e do PT, contra Wanderlei Farias (PR), aliado desta vez ao DEM e ao PSB. Porém, em conversas com outros dirigentes da esquerda de Barra, tudo parece indicar que Chaparral falava a verdade. Segundo estes testemunhos, o “velho Vilmar Peres” tinha lá os seus defeitos característicos dos oligarcas locais; mas, ao contrário de antigos e novos “patriarcas”, não era gratuitamente rancoroso nem dado à ações vingativas a bel prazer.

Por fim, a movimentação das alianças indicava claramente a permanência do caráter oligárquico da política barra-garcense. Em 2004, o PCdoB enfrentou nas urnas um ex- prefeito de sobrenome “Farias”, com o “apoio velado” do então prefeito também “Farias” e em aliança direta com a sobrinha deste como candidata a vereadora. Depois, ao longo do governo popular, seria respeitado pelo „velho‟ “Farias” contra quem concorreu, e sofreria uma oposição implacável de parte dos “Farias” que o tinham apoiado anteriormente. Na reeleição de 2008, o PCdoB enfrentaria novamente estes “Farias” da oposição implacável

ao seu governo, mas agora em aliança direta com o filho daquele velho “Farias” contra quem se opusera nos anos anteriores

Tal comentárionão visa absolutamente desmerecer os fatos, a história ou população da cidade de Barra do Garças. Ela apenas nos mostra a evidente constatação de que o processo de democratização da sociedade brasileira, tida por muitos como já concluído e consolidado, necessita ainda de um longo processo de maturação política e desenvolvimento sociocultural nas bases municipais.

3.3 - “Chegada ao poder” ou “ocupação alternativa da ordem”? Reexaminado os

resultados eleitorais de 2004 em Barra do Garças.

Enquanto a classe oprimida, portanto, em nosso caso, o proletariado, ainda não estiver madura para a sua autoliberação, ela há de reconhecer, em sua maioria, a ordenação existente como a única possível e ser, politicamente, a cauda da classe dos capitalistas, a sua ala de extrema-esquerda. Mas à medida que ela contra-amadurece a sua auto-emancipação, nessa medida elas se constitui como partido próprio, elege os seus próprios representantes, não os dos capitalistas. O sufrágio universal é, assim, a escala da maturidade da classe dos trabalhadores. No Estado atual, não pode nem poderá nunca ser mais do que isso; mas isso também basta. No dia em que o termômetro do sufrágio universal registrar o ponto de ebulição entre os trabalhadores, eles saberão, tanto quanto os capitalistas, onde estão (ENGELS:“O Curso Histórico das Civilizações [1877],2003:332)

O ponto de ebulição ao qual se refere Engels se encontra ainda nas primeiras escalas dos termômetros de Barra do Garças. Embora tenha sido doce, o sabor da vitória seria breve para as esquerdas da cidade. As dificuldades que estariam por vir seriam inúmeras, e o eleitorado que lhes apeava à prefeitura era o mesmo que lhes negava uma base sólida de sustentação. Uma análise mais apurada dos resultados das urnas já indicava, de forma evidente, a fragilidade da posição que acabavam de conquistar.

Na ausência do segundo turno (como ocorre na quase totalidade dos municípios do interior de Mato Grosso), a “frente popular negociada” fora eleita com 39% dos votos, portanto, pouco mais de 1/3 dos votos válidos. Além disso, se levarmos em conta o percentual de abstenção do eleitorado, somado aos votos nulos e brancos, esses números se reduzem ainda mais, sinalizando que, em tese, o prefeito comunista iniciaria sua gestão com o respaldo direto de no máximo 30% do colégio eleitoral da cidade:

Tabela 2 - Resultado das eleições municipais de 2004 em Barra do Garças CANDIDATOS: de votos: Percentual entre os votos nominais: 29.957. Percentual entre os votos válidos + brancos e nulos: 31.440. (80,22% do colégio eleitoral) Percentual em relação ao colégio eleitoral de Barra do Garças: 39.192 (2004) 1º- Zózimo Wellington Chaparral (PCdoB). 11.686 39 % 37,1 % 29, 8% 2º - Wilmar Peres de Farias (PP) 9.455 31,5 % 30 % 24,1 % 3º - Adalto de Fretas Filho (“Daltinho”, PMDB) 5.875 19,6 % 18,6 % 14,9 % 4º- Miguel Moreira da Silva (PFL) 2941 9,8 % 9.3 % 7,5% - Nulos: - Brancos: - Abstenções: 1.194 289 7.752 3,7 % 0,9 % - 3,7 % 0.9 % - 3,0% 0,7 19,78 %

Fonte: site do TRE - 2008

Muitas interpretações podem daí ser retiradas. Da nossa parte, escolhemos a hipótese que supõe delimitar a referência política/ideológica do eleitorado a partir da identificação do voto em determinados partidos, mesmo reconhecendo, conforme dissemos há pouco, as imprecisões desta opção diante da cultura política do país e do contexto socioeconômico fragmentado do interior brasileiro. Assim, se aplicarmos aos resultados o hipotético raciocínio de que os votos não dados ao candidato do PCdoB pertencem ao campo conservador (o que, pela nossa experiência na cidade, pode ser afirmado com certa margem de segurança, uma vez que o candidato do PMDB não é afiliado à ala esquerda do seu partido, mas sim ao empresariado tradicional do município102), a somatória dos votos identificados com as forças de “centro-direita” ou do “centro liberal” é explicitamente majoritária em relação ao campo da esquerda democrática, ou seja, 60,9 x 39% dos votos (21,9 % de diferença). E se forçarmos a hipótese além do seu limite, isto é, ao

102 Que o diga o próprio deputado estadual Adauto de Freitas Filho (Daltinho), empresário e pecuarista natural de Jataí (GO).

Numa reportagem propagantística sobre o seu mandato de 2006/2010 (“Daltinho 100% Araguaia”), para o qual foi eleito com “a maior votação da história de Barra do Garças e do Araguaia para a Assembléia Legislativa do MT ” (26.133 votos), Daltnho afirma em voz própria que o PMDB “tem em Mato Grosso correntes diversas e com algumas divergências localizadas, mas que se afinam no essencial. O deputado estadual Zé Carlos do Pátio faz parte da ala oposicionista; nosso vice-governador, Sinval Barbosa, compõe a ala governista; eu, o deputado federal Carlos Bezerra, e alguns companheiros compomos a ala conservadora sem divergirmos no essencial, que é o bem do Araguiaia” (Revista “Brasil Vip”, ano 1, Edição n 4, setembro de 2008, página 17)

considerarmos que os votos nulos, brancos e abstenções representam, supostamente, uma fração do eleitorado despolitizada ou indiferente às mobilizações sociais (dado que em Barra do Garças não há movimentos de perfil anarquista, de extrema esquerda ou “pós-moderno” de peso), a diferença desfavorável ao campo da esquerda democrática aumenta ainda mais: 69,9 % x 29,8 % (40,1% de diferença).

Também examinamos em detalhes as eleições para vereadores, peça fundamental de oposição ao governo Chaparral nos anos do seu mandato. Comparada ao êxito da campanha para o executivo, o desempenho da esquerda na disputa para a Câmara Municipal foi abaixo do esperado. Com as escolhas que foram traçadas, a “bancada

orgânica” dos partidos de esquerda na casa, que na legislatura de 1997/2000 chegara a ter

dois quadros de peso – Fátima Resende (PT) e Chaparral (PCdoB) – desta vez deixara de existir. A primeira, depois de dois mandatos na vereança da cidade, por razões pessoais não se candidatou em 2004, pois viria a ser a secretária de educação de Chaparral caso este obtivesse a vitória. O professor Kiko (PT), por uma série de fatores, não conseguiu ser eleito naquele pleito. Como conseqüência, exceto pela eleição de um candidato do PCdoB, e ainda assim sem ligações orgânicas com o partido (tanto que trocaria de legenda e passaria à oposição antes da metade do mandato de Chaparral), o controle da casa estaria mais uma vez sob a influência direta das oligarquias familiares do passado:

Tabela 3 - Resultado das eleições para vereadores em Barra do Garças, 2004.

CANDIDATO ELEITO: - I) Nº de votos;

- II) Posicionamento político em relação às oligarquias familiares em debate: 1) De esquerda e de oposição às oligarquias; 2) Independente; 3) Fraca ligação; 4) Média ligação 5) Forte ligação.

- III) Forma de ligação com as oligarquias familiares: “Orgânica”; “Não orgânica”

1º) Maria José de Carvalho (PP) I) 1.170 votos; II) Forte ligação; III) Não orgânica

2º) Ronaldo Couto (PCdoB) I) 1027 votos; II) Inicialmente, de esquerda; a partir de 2006, fraca ligação; III) Não orgânica

3º) Andréia Santos (PTB) I) 996 votos; II) Forte Ligação; III) Orgânica 4)º Ailton Alves Teixeira (PTB) I) 881 votos; II) Fraca ligação; III) Não orgânica 5º) Celso Martins Spohr (PSB) I) 855 votos; II) Fraca ligação; III) Não Orgânica 6]) Rodrigo Ragiotto (PP) I) 768 votos; II) Forte ligação; III) Não orgânica 7º) Walter Naves (PSDB) I) 766 votos; II) Forte ligação; III) Orgânica 8]) Sonia Nunes dos Santos

(PV)

9º) Weliton Marcos (PMDB) I) 640 votos; II) Forte ligação; III) Orgânica 10º) Antonia Jacob (PL) I) 635 votos; II) Forte ligação; III) Orgânica

TOTAL DOS ELEITOS 8493 VOTOS (30% dos votos nominais para a vereança: 28.253)

Fonte: site TRE, 2004

Os números observados demonstram a força da tradição conservadora. Mesmo depois de uma campanha inédita na história cidade, na qual se configurou um “arejamento” real nos velhos debates dominados pelas oligarquias, esta permaneceu praticamente intacta no controle do poder legislativo local. Sete dos dez vereadores mantinham fortes ligações com os tradicionais mandatários, sendo que destes cinco eram pautados por “ligações orgânicas”, isto é, com graus variáveis de parentesco ou de negócios privados na vida pessoal e social.

Mantinha-se, portanto, a longa tradição histórica que sempre permaneceu como um

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