• Nenhum resultado encontrado

Doutor Paulo Emílio Costa Bilego, médico, veterinário, professor e coordenador do curso de agronegócio da Faculdade

ESPAÇOS DINÂMICOS; ELITES CONSERVADORAS Contexto histórico, cultural, geográfico e político do tema

83 Doutor Paulo Emílio Costa Bilego, médico, veterinário, professor e coordenador do curso de agronegócio da Faculdade

Cathedral. Artigo escrito na revista “Brasil VIP Mato Grosso”, Edição nº 4, setembro de 2008, sob o título “Santo Antonio, Padroeiro, página 16.

consiste no “modus operandi” de práticas políticas que continuam a influenciar parcelas significativas das populações do interior brasileiro:

[...] O lado político já mostrava suas facetas nessas épocas. Sem entender muito bem o que era marketing político e muito menos suas regras, Valdon Varjão era o maior marqueteiro da época. Em suas andanças pelo mundo afora, jamais se esquecia dos amigos e nem dos eleitores. Era perfume pra um, canetinha colorida para outro, até caixa de fósforos servia como brinde, aproveitando sempre esses momentos festivos para demonstrar o seu apreço pelos mais chegados. Os leilões, nem se fala, era o palco preferido dos detentores dos cargos políticos para demonstrar suas habilidades na conquista de simpatia e ostentação. Para nós, crianças, adolescentes e o povo, o que importava era a festa. [...] Logo após a missa, todos se dirigiam em caravanas para a casa do festeiro onde iam saborear as guloseimas. A família Cristino Cortes se desdobrava nos preparativos. Foi o Coronel Antônio Cristino Cortes o seu maior idealizador e o criador desta tradição que continuou sendo mantida por seu filho, Landislau Cristino Cortes. [...] Nos primórdios da Barra, caravanas de cavaleiros comandadas por Cristino Cortes saiam à procura de donativos. Bois e vacas eram abatidos e suas carnes doadas aos mais carentes. Com o passar dos anos, essa tradição foi perdendo força. [...] Porém, o senhor Landislau Cortes procurou levar adiante a nobre missão de seu pai. Todos os anos promovia farta distribuição de gêneros aos carentes [...] Creio que não tenha nenhum ser vivente que não tenha saudades daquela época (Doutor Paulo Emílio Costa Bilego. Artigo escrito à Revista “Brasil VIP Mato Grosso”, Edição nº 4, setembro de 2008, sob o título “Santo Antonio, Padroeiro, página 16)

Em função disto, nem tudo são flores na herança cultural deixada por Valdon Varjão. Se, por um lado, sua obra salvaguardou importantes registros históricos e documentais do município e da região do Araguaia, por outro ela “congelou” o desenvolvimento de novas perspectivas de investigação sobre o passado e o presente desta sociedade. Como resultado deste monopólio cultural, poucas têm sido as obras e publicações com referencial crítico de produção autóctone84, e nem mesmo a política cultural da prefeitura popular ousou tocar nesse “passado pioneiro” que a “todos pertence”.

Entretanto, o que mais nos preocupou na herança desta tradição não foram as exaltações acríticas às elites, hábito comum na maioria das publicações de grande circulação na cidade, uma vez que muitas delas “funcionam”, predominantemente, como panfletos de matérias pagas e/ou informes auto-publicitários de natureza política ou comercial – situação esta, sejamos justos, comum à maioria dos municípios do interior do Brasil. O problema maior são as consequências desta postura no sistema público municipal de ensino, diante das quais a prefeitura democrática popular não conseguiu superar.

84 Exceções dignas de nota – no que tange ao foco de estudo da tese - encontram-se em “O Migrante e a Cidade: dilemas e

conflitos” (RIBEIRO, 2001, Hiderberto de Sousa), bem como em “Memória de Imigrantes: onde viver o fazer faz o saber” (RIBEIRO, 2005, Marilene Marzari). As duas obras tratam do drama dos imigrantes que chegavam a Barra do Garças nos anos de maior afluxo populacional (1960-1990). O primeiro autor volta-se aos problemas da moradia e do emprego daquelas populações, em especial dos habitantes de um bairro periférico da cidade (Vila Maria), ao passo que a segunda concentra-se na recuperação da memória histórica educacional das três principais gerações de barra-garcenses. Ambos, naturalmente, constituiram-se em material de consulta e estudo do nosso trabalho.

Como exemplo, citamos a “recomendação”, como material “para-didático” de Geografia e História nas séries iniciais, do livro da historiadora Zélia dos Santos Diniz, “Conhecendo Barra do Garças”, aprovada pelo Conselho Municipal de Educação em 1999 e referendada pela Secretaria Municipal de Educação em junho de 2005, portanto, já sob o comando da administração de esquerda.

Almejando-se como um “compêndio histórico” que levasse o aluno “a conhecer a

realidade que o cerca”, na verdade o leva, na perspectiva de uma educação crítica, ao

desconhecimento fundamental desta mesma realidade. Seguindo os passos de Valdon Varjão, a autora apresenta os aspectos geográficos e históricos de Barra do Garças com o claro objetivo de realçar, nas suas próprias palavras, “seus vultos, usos e costumes, enfim,

as tradições” (DINIZ, 2005: 9, grifo nosso). Dessa forma, ela também faz de Barra do

Garças uma cidade fictícia, sem problemas sociais graves e agraciada pela sorte de ter possuído, desde o início do século XX, pioneiros corajosos e realizadores intrépidos, todos representados por famílias ilustres de inteligência pródiga e bondade nata. Não bastasse isto, trata-se de uma cidade abençoada na questão administrativa, pois sempre foi governada por uma linhagem de prefeitos absolutamente íntegros, amorosos com a cidade e o povo, honestos, ecológicos, justos, preocupados com o social e realizadores de grandes obras voltadas ao desenvolvimento da cidade e ao progresso da região (p.120-124). Assim, excetuando-se uma brevíssima tentativa de “exposição crítica” sobre a questão da reforma agrária e a resistência indígena (descrita de forma bastante primária, mesmo em se tratando de uma publicação destinada à alunos em fase de alfabetização e primeiras leituras), o bairrismo “fora do tom” campeia em muitas páginas do livro. Na Barra do Garças de Zélia Diniz, o suplente de “Senador Biônico” por dois anos, Valdon Varjão, torna-se o “representante oficial do Brasil em diversos países da Europa em missões especiais de

estudo” (página 38). Já o (então) ex-prefeito Wanderley Farias - que, no apagar das luzes da

sua gestão, em dezembro de 2004, tinha vendido ilegalmente o maquinário de manutenção da prefeitura e deletado todos os principais dados da secretaria de educação, como veremos no capítulo 4 -, aparece nos textos como o “prefeito que, até o presente, construiu

mais obras de embelezamento da cidade. Asfaltou ruas em todos os bairros; construiu escolas modernas, postos de saúde; praças, espaços de lazer e instalou uma Unidade de Terapia intensiva no Pronto Socorro Municipal”85 (DINIZ, 2005: 123).

Outline

Documentos relacionados