• Nenhum resultado encontrado

1 O FENÔMENO DA GLOBALIZAÇÃO: DISCUSSÃO TEÓRICO CONCEITUAL E IMPACTOS NAS RELAÇÕES ECONÔMICAS

1.3 Competitividade Internacional

A competitividade internacional passou a ser um tema de elevada importância para os diversos países e blocos regionais, entre os quais o Mercosul e

a UE, no contexto da globalização econômica, podendo, segundo Weder di Mauro (2006), ser definida sob três aspectos:

1) Competitividade internacional: definida como a habilidade dos países em vender nos mercados globais. Aqui, o foco é nos preços relativos e nas cotas de mercado do comércio internacional;

2) Competitividade da tecnologia ou do crescimento: ou seja, competitividade é sinônimo de crescimento. Provavelmente, este é o conceito mais comumente usado para o termo, quando aplicado aos diferentes países. A partir da compreensão de que a competitividade é sinônimo de crescimento, então é possível medir a competitividade por meio do crescimento dos países, sendo o foco principal o crescimento de importantes fatores, como tecnologia, produtividade, capital físico e humano;

3) Competitividade como habilidade para atrair fatores móveis de produção: aqui a competitividade é medida por diferentes prioridades dos fatores relevantes. Por exemplo, a decisão de uma empresa sobre em que local instalar sua sede dependerá do dinamismo de um país, porém é mais passível de ser influenciada por razões imediatas, como o nível de impostos e regras.

Outra definição possível foi apresentada no relatório de 2005-2006 sobre competitividade global do Fórum Econômico Mundial, segundo o qual a competitividade pode ser melhor entendida quando analisado um conjunto de fatores, entre eles as políticas e instituições que afetam o nível de produtividade de um país e, portanto, determinam o nível de prosperidade que pode ser alcançado por uma economia. Tal índice é construído tendo como base três pilares: (i) a qualidade do ambiente macroeconômico dos diferentes países, (ii) o estado ou a condição de suas instituições (iii) o nível de tecnologia dos diferentes países. De acordo com o Fórum Global Mundial, a situação/adequação dos diferentes países

frente a cada um dos três pilares é o que determina se um país é mais ou menos competitivo.22

Contudo, entende-se, para fins desta pesquisa, competitividade internacional consoante o primeiro aspecto apresentado por Weder di Mauro (2006), que atribui relevada importância às cotas de mercado dos países - ou blocos regionais -, no comércio internacional, de forma a se obter um parâmetro simples para ilustrar a diferente competitividade da UE e do Mercosul - e para melhor se entender as dificuldades nas negociações entre ambos, como será analisado ao longo dos Capítulos posteriores.

Sendo assim, do ponto de vista da representatividade do comércio da UE no comércio global, pode-se entender este bloco como altamente competitivo, conforme Weder di Mauro (2006).23 O mesmo, contudo, não ocorre com o Mercosul (ver Tabela 1). Por meio da análise da Tabela 1, pode-se apreender a grande desigualdade entre a UE e o Mercosul em termos de suas representatividades no comércio global. O comércio da UE dos 2524 representava, em 2003, 21,3 % do mercado global, enquanto o comércio do Mercosul representava apenas 2,2 %. Relevante observar ainda que entre 1995 a 2003, dentre os países e blocos referenciados, apenas a UE, o Mercosul e os EUA tiveram uma variação negativa, em contraponto com um grande crescimento da representatividade da China no comércio global - que tem introduzido importantes alterações na economia mundial e, igualmente, influenciado as relações entre a UE e o Mercosul, como será discutido nos Capítulos 5 e 6.

22

LOPEZ-CLAROS, Augusto; BLANKE, Jennifer; DRZENIEK, Margareta; MIA, Irene; ZAHIDI, Saadia.

Policies and Institutions underpinning economic growth: results from the competitiveness indexes. In: The

World Economic Forum Global Competitiveness Report 2005 – 2006. London: Palgrave-Macmillan, 2006.

23 Segundo o relatório do Fórum Econômico Mundial (ver nota anterior), a UE está competindo com sucesso nos mercados internacionais, o que pode ser verificado a partir das suas cotas de mercado no mercado internacional - como demonstrado na Tabela 1 -, mas está, em termos de performance tecnológica, atrás dos EUA.

24 Alemanha, Bélgica, França, Itália, Luxemburgo, Países Baixos, Dinamarca, Irlanda, Reino Unido, Grécia, Portugal, Espanha, Finlândia, Áustria, Suécia, República Tcheca, Chipre, Eslováquia, Eslovênia, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Malta e Polônia.

Tabela 1. Cotas do Mercado Mundial

Cotas do Mercado Mundial 2003

Variação nas Cotas de Mercado 1995 a 2003 UE 21.3 -1.1 Mercosul 2.2 -0.1 Brasil 1.6 0 EUA 13.8 -2.7 Japão 10.5 -4 Rússia 1.4 0.3 Índia 1.2 0.2 China 1.2 5.1 ASEAN 8.3 0.2 Corea 4.4 0.3

Fonte: EC. Europa.25

Para ilustrar o peso da UE na economia global, pode-se observar por meio da Figura 1, a expressiva representatividade da UE no que se refere ao Investimento Direto Estrangeiro - frente à quase inexistente cota da América Latina, com 1% do total do IDE mundial, significando que o Mercosul possui menos de 1% dessa cota.

Figura 1. Cotas do IDE mundial - 2002 a 2004 Fonte: EC. Europa.

25 EC. Europa. Disponível em: < http://trade.ec.europa.eu/doclib/html/130376.htm > Acesso em: 28.8.2009.

Canada 7% L.America 1% Australia New Zealand 3% Ho ng ko ng 5% Asean 2% C hina 0% Japan 7% Efta 5% Candidates 0,2% E U2 5 3 2 % USA 38%

Os dados referenciados demonstram a assimetria na economia global entre a UE e o Mercosul, em termos de representatividade. De fato, do ponto de vista da UE, a abertura do mercado internacional é considerada como uma das estratégias possíveis para incrementar a própria competitividade.26 Do ponto de vista do Mercosul, no contexto do Novo Regionalismo (Capítulo 2), a abertura do bloco ao comércio externo é igualmente uma das estratégias adotadas para promover a diversificação das próprias relações e o incremento de sua competitividade na economia global. O Acordo-Quadro Inter-Regional de Cooperação firmado entre a UE e o Mercosul - com vistas a preparar ambos os blocos para o estabelecimento de uma área de livre comércio entre estes, por meio do estabelecimento de um futuro Acordo de Associação (Capítulos 3 e 4) - pretende, entre outros objetivos, ampliar o mercado entre ambos, como forma, igualmente, de se alcançar maior competitividade na economia internacional.

De fato, a preocupação em aumentar o próprio nível de competitividade internacional levou à UE a estabelecer a Agenda de Lisboa, em 2000, cujo objetivo principal era o de fazer da União Europeia a economia do conhecimento mais competitiva e dinâmica, até o ano 2010. Estão incluídos nesta agenda todos os campos principais da política econômica, entre eles: inovação e espírito empresarial, reforma da segurança social, inclusão social, emprego e capacitação, igualdade de gênero, liberalização do mercado de bens e trabalho e desenvolvimento sustentável. Contudo, dado o não-cumprimento dos objetivos desta agenda, a mesma foi relançada em 2005.

26 Segundo informações no sítio eletrônico da Comissão Europeia: “An open and fair international trading

system is a major contribution to Europe´s competitiveness. When tariff or non-tariff barriers block the flow of primary goods into Europe or the access of European companies to markets outside Europe, Europe´s competitiveness suffer. When anti-competitive practices distort or undermine resulting trade, Europe´s competitiveness still suffers. Competitive means open to the world, and the world open to us”. Disponível em: