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4 AS RELAÇÕES ENTRE A UNIÃO EUROPEIA E O MERCOSUL NO ÂMBITO DOS ACORDOS, EM VIGOR E EM NEGOCIAÇÃO ÂMBITO DOS ACORDOS, EM VIGOR E EM NEGOCIAÇÃO

4.2 As negociações para o estabelecimento do futuro Acordo de Associação

4.2.2 O Empresariado e o Acordo de Associação

4.2.2.1 Fórum Empresarial Mercosul União Europeia (MEBF)

O MEBF103 - em português, Fórum Empresarial Mercosul União Europeia -, foi criado, em 1998, por iniciativa dos diversos empresários europeus e brasileiros interessados no acompanhamento das negociações para o estabelecimento de uma área de livre comércio entre a UE e o Mercosul.

O intuito era permitir aos empresários de ambas as regiões, por meio de um trabalho conjunto, identificar barreiras ao comércio, serviços e investimento, entre a UE e o Mercosul e, igualmente, preparar recomendações conjuntas aos seus tomadores de decisão, sobre como reduzir ou eliminar tais restrições - concedendo ao empresariado “uma só voz” quanto aos assuntos de negócio a que se tenham chegado a consenso (HOFFMAN, 2004). Com efeito, ao se ler o objetivo declarado do Fórum, pode-se perceber o papel pró-ativo e ambicioso a que se propuseram seus membros: “To identify business facilitation measures that will improve the trade of goods and services and the framework conditions for investment with the view to strengthen economic co-operation between the two regions.”104

Para o alcance de tais objetivos, várias reuniões de trabalho - as conhecidas plenárias -, foram realizadas, representadas por empresários europeus e

102 Na UE há o “European Round Table Industrialists” - ERT -, um fórum informal com cerca de 45 executivos de grandes empresas multinacionais europeias, nos mais diversos setores, com uma atuação mais ampla, para além de acompanhar as relações externas da UE, e com o objetivo de sugerir políticas para promover o crescimento e o emprego na Europa. OLLILA, Jorma. ERT – European Round Table Industrialists. Disponível em: < http://www.ert.be/home.aspx >. Acesso em: 11.11.2008.

103 Será utilizada neste trabalho a sigla em inglês MEBF (Mercosur European Union Business Forum), referindo- se a este como Fórum.

do Mercosul, tendo como período de maior engajamento os anos entre 1999 e 2004 - coincidindo com o período considerado como o mais próspero das negociações.

A primeira plenária do Fórum aconteceu em 1999, concomitantemente a já referida I Cúpula UE–AL e, segundo informações do seu sítio eletrônico105, teve a participação de mais de 100 empresários dos dois blocos, contando, em sua sessão inaugural, com a presença dos presidentes de três países do Mercosul, Brasil, Paraguai e Uruguai106 e o então comissário da Indústria da UE - Matin Bangmann -, entre outras autoridades políticas - o que demonstra repercussão significativa de tal inauguração igualmente no meio político.

A partir do início das negociações para o estabelecimento do futuro Acordo, o Fórum teve um papel ativo, em termos de acompanhamento das negociações, principalmente no que se refere aos assuntos relativos às barreiras ao comércio e a possíveis medidas para facilitar o incremento dos negócios entre os dois blocos. O resultado prático das discussões no âmbito do MEBF materializou-se em vários documentos de trabalho - ao todo 8 declarações -, com propostas em praticamente todos os setores e com foco no que se refere à facilitação dos procedimentos aduaneiros e comerciais que poderiam ser estabelecidos entre os dois blocos, de forma a viabilizar uma área de livre comércio entre ambos - Business Facilitation.107

Inclusive, há uma grande preocupação do Fórum com os aspectos práticos/técnicos do Acordo que permeia praticamente todas as suas declarações. Por exemplo, a Declaração de Madrid - III Plenária do MEBF, realizada em Madrid, em 2002 -, é um documento de 42 páginas108, com recomendações específicas - 71 ao todo -, nas áreas de acesso a mercados; investimentos, privatização e serviços financeiros; e desenvolvimento de negócios e serviços. Em comparação, por exemplo, o Compromisso de Madrid - produto da II Cúpula UE – LA, em Madrid,

105

MEBF – MERCOSUL EUROPEAN UNION BUSINESS FORUM. Disponível em: < http://www.mebf.org >. Acesso em: 22.2.2007.

106 Segundo informações do sítio eletrônico do MEBF, citado na nota anterior, o presidente da Argentina enviou um representante.

107

Desde 1999, por ocasião da primeira reunião (plenária) até 2006 foram realizadas 7 plenárias mais uma conferência sobre Business Facilitation, todas com um documento de trabalho conclusivo. MEBF – MERCOSUL EUROPEAN UNION BUSINESS FORUM. Disponível em: < http://www.mebf.org >. Acesso em: 14.6.2008.

108

MEBF – MERCOSUL EUROPEAN UNION BUSINESS FORUM. IV Plenaria. Disponível em: < http://www.mebf.com.br/plenarias.php >. Acesso em: 5.7.2008.

naquele mesmo ano -, é um documento bastante geral, somente com 4 páginas, apontando apenas princípios/intenções gerais nos domínios: econômico, político, cultural, educativo, científico, tecnológico, social e humano.109

Pode-se observar, ainda, por meio dos vários documentos de trabalho produzidos pelo MEBF – inclusive com análises conjunturais das relações UE e Mercosul (para além das recomendações aos negociadores políticos, notadamente para o CNB) - que os empresários representados no Fórum apoiavam, igualmente, a liberalização das trocas entre os dois blocos como forma de aumentar a competitividade destes.110

Assim, por demanda do próprio Fórum, foi feito um estudo, pelo grupo de trabalho sobre as negociações UE – Mercosul (estabelecido em 1999) da Sciences Po - Institut d’Etudes Politiques de Paris -, com o objetivo de tentar quantificar as perdas potenciais para os dois blocos, caso o Acordo não fosse concretizado. O estudo focou nos ganhos de mercado dos principais produtos, de ambos os blocos, que possuíam elevadas tarifas (superiores a 10%) – internacionalmente competitivos – e concluiu-se que caso houvesse uma liberalização das trocas desses produtos, os ganhos seriam expressivos para os dois blocos. O estudo chegou igualmente à conclusão de que as perdas do “não- acordo” para os produtos competitivos, nos dois blocos, seria de, no mínimo, 3 bilhões de dólares - e estas perdas seriam maiores se considerados os serviços e os investimentos.111

Contudo, após 2004, o setor empresarial, com elevadas expectativas em relação ao fechamento do Acordo naquele ano, perdeu o interesse nas negociações, frente a não-conclusão deste. Ademais, a perda de interesse igualmente pode ser atribuída ao fato de que as negociações com o Mercosul foram

109

EU-Latin America & the Caribbean Summit: Conclusions. 17.5.2002. Disponível em:

< http://ec.europa.eu/external_relations/lac/madrid/dec_02_en.pdf >. Acesso em: 10.10.2008. 110 MEBF – MERCOSUL EUROPEAN UNION BUSINESS FORUM. IV Plenaria. Op. cit.

111 O objetivo era identificar os ganhos da liberalização bilateral para os produtos industriais internacionalmente competitivos que compõem os fluxos de comércio entre as duas regiões. Os resultados cobrem 72 produtos correspondentes a 80% dos ganhos das exportações do Mercosul para a UE, e 100 produtos correspondentes a 90% dos ganhos das exportações da UE para o Mercosul. FLÔRES JR., Renato e CALFAT, Germán (coords.). The EU-Mercosur Association Agreement Mutual Advantages for Business and The Economic

Cost Failure. MERCOSUR CHAIR OF THE INSTITUT D’ETUDES POLITIQUES DE PARIS. MEBF:

Alfredo G.A. Valladão, 2004. Disponível em: < http://www.chairemercosur.sciences-po.fr >. Acesso em: 10.10.2008.

posteriormente paralisadas, devido, entre outros motivos, às negociações multilaterais de comércio, no âmbito da Rodada Doha, como já dito.112

No que se refere às negociações multilaterais de comércio, é preciso apontar ainda que o Fórum as apóia tanto quanto apóia as negociações biregionais. Neste contexto, segundo o Fórum:

Os impactos da Rodada Doha para as negociações do Acordo de Associação biregional são evidentes e muitos obstáculos importantes para as negociações bi-regionais poderiam ser removidos com um acordo balanceado em nível multilateral. Do ponto de vista do Fórum, as negociações UE/Mercosul devem ser construídas sob as negociações da OMC.113

É preciso dizer que tal Fórum não é representativo de todo o empresariado e/ou de todos os setores, quer seja no âmbito dos países do Mercosul, quer seja no âmbito dos Estados-membros da UE, tendo, inclusive, alguns setores e/ou países, mais destaque que outros. Como referido anteriormente, na Europa não há outra representação por parte dos empresários, no que se refere às negociações UE-Mercosul, para além do MEBF. Não é o caso do Brasil, por exemplo, que acompanha tais negociações, igualmente, por parte da Coalização Empresarial Brasileira (CEB).

Sendo assim, dado a representatividade do setor empresarial brasileiro no âmbito das negociações UE-Mercosul, a seguir, será analisado, com um pouco mais de detalhe, a sua participação em tais negociações, fazendo, inclusive, uma breve comparação com o empresariado argentino.

112 Apesar de ter perdido o interesse nas negociações, além da reunião de 2006, em Buenos Aires (cujo objetivo foi o de avaliar o desenvolvimento da Rodada de Doha e seus impactos nas relações UE – Mercosul, e encorajar a retomada das negociações), o Fórum se reuniu em 2007, logo após o lançamento da Parceria Estratégica entre a UE e o Brasil, com o objetivo de promover o comércio e o investimento entre a UE e o Mercosul e o fechamento do Acordo de Associação.

113

MEBF – MERCOSUL EUROPEAN UNION BUSINESS FORUM. Mercosul – União Européia. VII Conferêrncia Plenária. Disponível em:< http://www.mebf.org >. Acesso em: 15.11.008.