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CAPÍTULO III: INSTITUTOS DE DIREITO PRIVADO E OS GRUPOS

3.6 Grupos econômicos

3.6.1 Composição de um conceito

Já foi dito no tópico anterior que os grupos econômicos figuram como forma de ligação entre sociedades. Agora, faz-se uma análise mais detalhada do instituto.

Terminologicamente, percebe-se que neste estudo se utilizarão como sinônimos as expressões “sociedades integrantes de grupos econômicos”, “grupos de sociedades”, “agrupamento de sociedades”, entre outras. Isso se dá, em parte, porque, semanticamente, não se observa problema no uso das variantes, já que todas as expressões apontam para o mesmo significado e, em parte, porque a própria legislação brasileira, nos dispositivos que trata do assunto tampouco é unânime no uso de uma forma ou outra65.

Ademais, apesar da menção aos grupos econômicos em diversos diplomas legais de vários ramos do Direito66, não existe realmente um conceito positivado. As leis que falam sobre grupos econômicos preveem, em regra, consequências específicas quanto a responsabilidade (civil, ambiental, consumerista, trabalhista) das sociedades que o formam, não se importando, todavia, em definir critérios jurídicos do que sejam esses agrupamentos.

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O art. 2º, §2º da CLT fala em “grupos econômicos”, enquanto os artigos 265 a 277 da Lei das Sociedades Anônimas trata de “grupos de sociedades” e, ainda, o já citado art. 28 do CDC que em seu §2º, fala das “sociedades integrantes dos grupos societários e as sociedades controladas”. 66

Citam-se a título de exemplo: Consolidação das Leis do Trabalho (Decreto-lei n.º 5.452/1943), Código de Defesa do Consumidor (Lei n.º 8.078/1990) e Lei sobre crimes ambientais n.º 9.605/1998.

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A Lei das Sociedades Anônimas parece ser o veículo que esboça alguma definição mais nítida do que seriam grupos econômicos, em que pese não tratá-los sob essa nomenclatura.

Na Exposição de Motivos67 dessa lei, pode-se ver que o legislador exalta esse, então, novo tipo de ligação entre pessoas jurídicas, afirmando tratar-se de “uma forma evoluída de inter-relacionamento de sociedades que, mediante aprovação pelas assembléias gerais de uma ‘convenção de grupo’ dão origem a uma ‘sociedade de sociedades’”. Diz ainda que no grupo “uma sociedade pode trabalhar para as outras, porque convencionam combinar recursos ou esforços para a realização dos respectivos objetos” e acrescenta que “as sociedades grupadas conservam sua personalidade jurídica, e podem voltar a plenitude da vida societária, desligando-se do grupo”.

Ocorre que a regulamentação dos grupos econômicos não era algo comum à época da lei citada, tendo-se pouca notícia até mesmo em legislações alienígenas, já que muitas delas seguiam um modelo mais liberal, ainda que com pontuais intervenções do Estado, o que, no fim das contas, pode não ter sido de grande ajuda.

Há ainda construções doutrinárias e jurisprudenciais sobre o tema. Essas, por sua vez, nem sempre são claras ou objetivas em estabelecer a definição jurídica do que seria um grupo econômico.

Esta definição, para o estudo da responsabilidade tributária dos grupos, parece ser um pressuposto óbvio, já que somente assim haverá condições de identificar se um determinado agrupamento entre sociedades poderá ou não ter influência no regime jurídico de responsabilização tributária.

Recapitulando ideias anteriormente expostas nos dois primeiros capítulos, cumpre salientar que as normas jurídicas seguem a lógica do dever-ser (deôntica), cujas proposições estão sujeitas aos modais válido ou inválido, sendo a estrutura mínima da norma jurídica dúplice: hipótese (antecedente) e tese (consequente), em que a primeira deve ser algo possível de ocorrer no mundo

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Consultado em http://www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/leis/anexos/EM196-Lei6404.pdf , acessado em 23/12/2015.

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fenomênico e, a segunda, uma consequência que recai entre, ao menos, duas condutas possíveis.

As normas jurídicas, estando assim organizadas, portanto, recairiam em normas primárias e secundárias, em que, sendo a primeira desrespeitada, aplicar-se-ia uma sanção (secundária) que forçasse seu cumprimento. Destarte, para que se saiba as consequências de um ato, deve ser possível estabelecer precisamente a hipótese que irá provocá-lo.

Portanto, identificar juridicamente o grupo econômico (hipótese) é imprescindível para estabelecer as consequências que isto pode trazer para eventual responsabilização tributárias de seus integrantes.

Nesse sentido, faz-se necessário destacar os traços mais relevantes e recorrentes. Primeira e logicamente, deve haver uma pluralidade de sociedades empresárias, havendo, pelo menos, dois sujeitos para que se componha um grupo.

Dessa primeira característica, já se depreende uma segunda: o grupo deve se voltar para o desenvolvimento de atividade empresarial, bem como os seus participantes também devem almejar esse fim. Essa característica, por si só, já limita os tipos de pessoas jurídicas que poderão fazer parte de grupos econômicos, de acordo com o que já se assentou durante este capítulo.

Um terceiro ponto recorrente é a independência jurídica que deve ser mantida entre aqueles sujeitos que componham o agrupamento: eles devem permanecer com suas personalidades jurídicas intactas, nos termos do art. 266 da Lei das Sociedades Anônimas, que diz em sua parte final, que “cada sociedade conservará personalidade e patrimônios distintos”.

Na Exposição de Motivos, reforçando o argumento acima, também se destaca o porquê de não haver o legislador optado pela solidariedade entre os agrupados:

No artigo 267, o Projeto absteve-se de criar responsabilidade solidária presumida das sociedades do mesmo grupo, que continuam a ser patrimônios distintos, como unidades diversas de responsabilidade e risco, pois a experiência mostra que o credor, em geral, obtém a proteção dos seus direitos pela via contratual, e exigirá solidariedade quando desejar. Ademais, tal solidariedade, se estabelecida em lei, transformaria as sociedades grupadas

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em departamentos da mesma sociedade, descaracterizando o grupo, na sua natureza de associação de sociedades com personalidade e patrimônio distintos. (Grifou-se)

Obviamente, se fosse diferente, se estaria diante de outras formas de concentração primárias de sociedades, como numa fusão, em que desapareceriam as pessoas jurídicas originais em favor de um remanescente, não havendo mais aí uma ligação entre sociedades, mas uma sociedade apenas. Não deve haver a criação de uma nova pessoa jurídica, tendo a lei determinado que isso nem sequer ocorra quanto aos grupos de direito.

O surgimento dos grupos de sociedades se deu para que se evitasse o agigantamento das sociedades empresariais e houvesse maior dinamicidade nas relações com o mercado. Além disso, presumiu-se que os credores poderiam se prevenir através de garantias contratuais.

Por fim, deve haver a coordenação, influência dominante ou um controle comum (unidade de direção econômica), sendo essa quarta característica a mais polêmica e complexa, já que, apesar da manutenção de suas personalidades jurídicas, sem confusão patrimonial, entre aqueles que se disponham a compor o agrupamento, suas decisões negociais não são tomadas de forma completamente autônoma. Deve ficar caracterizada uma política grupal, um direcionamento de ações.

Resumidamente, as características básicas para que se conceitue o grupo econômico são: (i) pluralidade de sociedades empresárias; (ii) exercício de atividade empresarial; (iii) independência jurídica dos integrantes e; (iv) coordenação, influência dominante ou controle comum.

Alerta-se, ainda, que nem sempre um conjunto de sociedades empresárias se reúnem buscado potencializar seus resultados, mas sim visando a burlar o sistema legal, praticando evasão fiscal e fugindo de credores pela blindagem patrimonial, o que não se pode aceitar e deve ser coibido pelos mecanismos legais.

Logo, o conceito mais adequado para os fins desse trabalho é conceber o grupo econômico como uma forma de interação entre sociedades

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constitua uma nova, e que atuam de forma harmônica sob uma coordenação ou direção comum, dentro das práticas que são consideradas lícitas (não proibidas) em Direito.

Com este conceito em mente, passa-se a uma melhor análise dos tipos de agrupamentos.