• Nenhum resultado encontrado

Princípio da capacidade contributiva e a vedação à tributação com efeito

CAPÍTULO II: SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO

2.4 Princípios constitucionais

2.4.3 Princípio da capacidade contributiva e a vedação à tributação com efeito

Não só o princípio da legalidade serve como garantia e limite ao poder de tributar do Estado. A capacidade contributiva de que cada cidadão dispõe é outra forma de contenção dos desígnios arrecadatórios do governo, e possui íntima relação com a sujeição passiva no pagamento de tributos, encontrando-se positivada na Constituição da República no art. 145, §1º.

Andréa Darzé37 assim escreve sobre o tema:

(...) se a tributação foi o instrumento eleito pelo sistema jurídico para viabilizar a própria existência do Estado de Direito, na medida em que consubstancia fonte de custeio compulsória das suas atividades, a capacidade contributiva aparece como seu contraponto, assegurando, ainda que em termos relativos, os interesses e garantias dos particulares, especialmente no que se refere à isonomia tributária e à preservação do direito de propriedade (artigos 5º, caput e incisos XXII e 150, II, da CF).

Trata-se, portanto, de limitador da atuação impositiva do Estado, que se propõe a estabelecer, de alguma forma, parâmetros para a lícita apropriação de parcela do patrimônio dos administrados, seja no que respeita ao próprio cabimento da imposição, seja no que se refere à mensuração do gravame.

Cabe dizer ainda que é necessário que a norma tributária descreva situações fáticas que possuam relevância econômica. Todavia, essa afirmativa pode levar a certa confusão: é extremamente problemática a concretização pragmática desse princípio, já que, partindo-se apenas do substrato econômico do critério material da hipótese de incidência da norma tributária, injustiças podem ser cometidas quanto à fixação de seu conteúdo e alcance.

Para que isso possa ser feito da melhor forma, a doutrina costuma tratar de dois tipos de capacidade contributiva: absoluta ou objetiva; e relativa ou subjetiva.

37

DARZÉ, Andréa Medrado. Responsabilidade tributária: solidariedade e subsidiariedade. São Paulo: Noeses, 2010, p. 39/40.

52

A primeira se verifica quando ocorre um fato que expresse manifestação de riqueza, ou seja, tal acontecimento conforma-se com alguma atividade descrita pelo legislador, ao selecionar eventos que denotem situações aptas para custeio de despesas públicas (v.g. auferir renda). Dessa forma, a colheita de tais fatos pela norma jurídica aponta para a existência de um sujeito passivo em potencial38.

Já a capacidade contributiva relativa ou subjetiva, como indica seu nome, vem como baliza: trata da individualização do sujeito, referindo-se à aptidão de contribuir na medida de suas condições econômicas pessoais (seguindo no exemplo acima, seria o enquadramento daquele que auferiu renda em uma das faixas de renda do imposto). Logo, o sujeito potencialmente capaz de contribuir (capacidade absoluta ou objetiva) torna-se efetivamente passivo de absorver a carga tributária de acordo de com suas forças.

A conjugação de ambos é tida atualmente como a forma mais justa de tentar promover esse princípio, mas, certamente, para o objeto ao qual este trabalho se dedica, imprescindível somar esses ditames àquilo que nos ensina o princípio do não-confisco. Afinal, a compatibilização dessas regras com a responsabilidade tributária parece impossível, tendo em vista que nesses casos aquele que deverá recolher o tributo não manifestou qualquer riqueza, já que não realizou o fato jurídico.

O art. 150, inciso IV, da Constituição da República, veda à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a utilização de tributo com efeito de confisco. Ou seja, a elevação excessiva de carga tributária a ponto de comprometer, ainda que indiretamente, toda a manifestação de riqueza anotada pelo fato jurídico, é proibida.

Isso leva à conclusão de que se o legislador desrespeitar os limites da capacidade contributiva, em última análise, estará confiscando os bens

38

COSTA, Regina Helena. Princípio da Capacidade Contributiva. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 2012, p. 28.

53

particulares do contribuinte. Sendo assim, trata-se de princípios complementares, que limitam o poder estatal. Nas palavras de Estevão Horvath39:

Quer-se com isso significar que uma das limitações que o Poder Tributário sofre ao instituir um imposto buscando embasá-lo na capacidade contributiva de alguém, é a de que essa figura não seja confiscatória. Ou seja, o confisco seria a violação, por excesso, da capacidade contributiva.

A vedação de tributação com efeito de confisco reforça a ideia de um sistema tributário justo, mas não somente isso. Impede o excesso de tributo ou que se alcance alguém que não praticou o fato ou não demonstrou capacidade contributiva. Ocorre confisco quando se supõe existente uma riqueza que, na realidade, não existe.

Assim, é importante frisar que a responsabilização tributária deve atender a todos os seus requisitos legais para que, em última instância, não se esteja diante de uma violação aos princípios da capacidade contributiva e do não- confisco, já que, em tese, o responsável não é o contribuinte, aquele que deu causa ao fato tributário.

Isso torna-se mais polêmico quando se está diante dos casos de responsabilidade tributária de sociedades empresárias que pertencem a um grupo econômico, pois é preciso que se constate alguma forma de ligação entre o terceiro que será chamado a pagar o tributo e o fato gerador, sendo, portanto, necessário um estudo mais detalhado sobre a formação do liame tributário.

Essas explicações serão devidamente dadas nos tópicos seguintes à medida que se progrida no estudo do eixo temático.

Antes, todavia, de se adentrar em uma análise mais profunda a respeito da relação jurídico-tributária e, por conseguinte, na análise da sujeição passiva, alguns apontamentos sobre Direito Privado devem ser trazidos à baila, já que terão reflexos, principalmente quando da análise sobre sujeição passiva.

39

HORVATH, Estevão. O princípio do não-confisco no direito tributário. São Paulo: Dialética, 2002, p, 67. Grifou-se.

54

CAPÍTULO III: INSTITUTOS DE DIREITO PRIVADO E OS GRUPOS