• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO IV: RELAÇÃO JURÍDICO-TRIBUTÁRIA

4.1 Considerações iniciais

A sociedade existe em função da interação entre os sujeitos que a compõem. Sua complexidade é fruto de uma característica fundamental do homem: ser um animal racional social. Essas interações entre dois ou mais sujeitos são os relacionamentos que se desenvolvem no curso da vida humana e possuem seu próprio regramento, como normas de etiqueta e de conduta social.

O Direito, sendo uma metalinguagem do mundo social, também traz normas jurídicas que tratam de relações, que envolvem tanto as pessoas naturais entre si, como a relação delas com outras entidades a quem o mundo jurídico confere direitos de personalidade, como as sociedades empresárias e o próprio Estado, e que diferentemente das normas citadas no parágrafo anterior, possuem força coercitiva.

As relações entre sujeitos de direito (sejam eles pessoas naturais ou pessoas jurídicas), bem como os direitos de personalidade, são estudados pelo Direito Privado, submetendo-se, em regra, às normas do Direito Civil, como visto no Capítulo passado.

Já as relações entre o Estado e esses sujeitos são estudadas pelo Direito Público, campo no qual se encontra o Direito Tributário. Essas relações são caracterizadas pela presença marcante de leis que modalizam a atuação estatal, para que ela não viole garantias fundamentais concedidas aos administrados: a relação tributária só surge com a positivação de uma norma pelo procedimento e veículo introdutor adequado, em homenagem ao princípio da estrita legalidade.

Isto se conclui da leitura do art. 150, I, da Constituição da República: “sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça”. Em outras palavras, qualquer das pessoas políticas de Direito

91

Constitucional interno somente poderá instituir tributo, prescrevendo regra-matriz de incidência – que será tratada em seguida –, mediante expedição de lei.

Veiculada a lei instituidora de tributo, necessária se faz a exata adequação do fato à norma. Por isso mesmo, o surgimento da relação está condicionada ao evento da subsunção, que é a plena correspondência entre o fato e a hipótese de incidência, fazendo surgir, então, a obrigação.

Nesse percurso, ou ocorre a subsunção do fato à regra, ou não ocorre, afastando-se terceira possibilidade. Perfaz-se aqui a eficácia da lei lógica do terceiro excluído: a proposição “p” é verdadeira ou falsa, inadmitindo-se situação intermediária. Por outro lado, ocorrido o fato, a relação obrigacional que nasce há de ser exatamente aquela estipulada no consequente normativo.

Em síntese: (i) sem lei anterior que descreva o fato, não nasce relação tributária; (ii) sem subsunção do fato descrito à hipótese normativa, também não; e (iii) havendo previsão legal e a correspondente subsunção do fato à norma, os elementos do liame jurídico irradiado devem equivaler àqueles prescritos na lei. São condições necessárias para a regular constituição do vínculo obrigacional.

Portanto, para se falar sobre a constituição da obrigação tributária, que estabelece os vínculos da relação entre sociedade e Estado, faz-se necessária uma análise sobre sua estrutura, que pode ser resumida pela lição de Maria Rita Ferragut73:

É o vínculo que se instaura entre dois ou mais sujeitos de direito, em razão da ocorrência de determinado fato jurídico. Por força da imputação normativa, uma pessoa, denominada sujeito ativo, tem o direito de exigir de outa, sujeito passivo, o cumprimento de determinada obrigação prevista na relação.

É fundamental o estudo desses componentes de uma relação jurídica, principalmente no que tange à sujeição passiva de determinada exação. Eles são prescritos legalmente e não podem ser relevados, sob pena de violar os princípios expostos no Capítulo II. Isso porque, no estudo sobre os grupos

73

FERRAGUT, Maria Rita. Responsabilidade tributária e o Código Civil de 2002. 3ª ed. São Paulo: Noeses, 2013, p. 30. Grifou-se.

92

econômicos e responsabilidade tributária, essas lições são fundamentais para entender como e por que pessoas jurídicas estranhas àquela relação de direito direta são chamadas a responder pelo tributo exigido pelo Estado.

Sendo assim, será feita a análise de conceitos inerentes à relação tributária, como quem pode cobrar (sujeito ativo), quem está sujeito à cobrança (sujeito passivo, podendo ser o contribuinte ou, em casos especificamente delimitados em lei, o responsável) e as implicações constitucionais que existam nessa seara, para que se possa concluir pela viabilidade ou não de um terceiro ser responsabilizado pelo adimplemento da obrigação, o que será visto no capítulo seguinte.

4.2 Regra-matriz de incidência tributária

O uso da linguagem apropriada formalizando proposições em termos lógicos, isolando constantes e variáveis, permite ao cientista construir, partindo de longos textos, enunciados simples, possibilitando que se tenha uma visão pormenorizada da estrutura sintática do fato analisado.

Utilizando-se de ferramentas metodológicas, construiu-se um modelo teórico que atingiu o cerne da norma jurídica instituidora do tributo. Esse modelo é chamado de regra-matriz de incidência tributária.

A regra-matriz de incidência tributária é o mínimo irredutível de manifestação do deôntico, ou seja, marca o núcleo de incidência do tributo, trazendo em sua estrutura apenas os elementos suficientes para que se constate o dever-ser da norma.

Aprofundando a temática que começou a ser trabalhada no tópico anterior, pode-se dizer que no antecedente da regra-matriz de incidência tributária existe a previsão de um fato em abstrato e no consequente encontram-se critérios para o estabelecimento de uma relação jurídica, em que vai haver um credor e um