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CAPÍTULO IV: RELAÇÃO JURÍDICO-TRIBUTÁRIA

4.4 Obrigação tributária

Recapitulando alguns aspectos já estudados, vale lembrar que o direito consiste numa unidade, num conjunto de normas jurídicas sistematicamente dispostas. A construção interpretativa de seus operadores resulta em subsistemas que dão origem aos diversos regimes jurídicos de enunciados prescritivos, devendo, contudo, não se afastar da unidade sistemática, bem como manter-se em harmonia com o todo83.

Dessa forma, ao se falar em Direito Tributário, pressupõe-se a existência de “princípios que lhe são peculiares e que guardem entre si uma relação lógica de coerência e unidade compondo um sistema ou regime”84, sendo o conceito fundamental e aglutinante para essa área jurídica a noção de tributo, já que “interessa-nos a obrigação, que será tributária se o objeto prestacional for ‘entregar dinheiro aos cofres públicos’”85. Por ser uma área do Direito Público, também fica evidente que o estudo da tributação tratará de examinar as relações entre o Estado e os particulares.

Estes, Estado e particulares, constituem o elemento subjetivo, sendo os sujeitos componentes desta a relação jurídica, havendo um polo ativo (credor) e um polo passivo (devedor), onde o primeiro possui o direito de exigir a prestação, e

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Apesar de serem feitas distinções de regimes jurídicos públicos e privados, o direito é um só, pois, como ensina Tércio Sampaio Ferraz Jr. (Introdução ao Estudo do Direito: técnica, decisão,

dominação. 6ª ed. São Paulo: Atlas, 2012, p. 112) “a dogmática procura entender o direito como um

todo, postulando sua unidade”, sendo, portanto, feitas distinções didáticas e de cunho operacional pragmático.

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MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 30ª ed. São Paulo: Malheiros, 2013, p. 53.

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FERRAGUT, Maria Rita. Responsabilidade tributária e o Código Civil de 2002. 3ª ed. São Paulo: Noeses, 2013, p. 31.

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o segundo o dever de a adimplir, concretizando a obrigação tributária, que se encontra prevista no art. 113 do Código Tributário Nacional:

Art. 113. A obrigação tributária é principal ou acessória.

§ 1º A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extingue-se juntamente com o crédito dela decorrente.

§ 2º A obrigação acessória decorre da legislação tributária e tem por objeto as prestações, positivas ou negativas, nela previstas no interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos.

§ 3º A obrigação acessória, pelo simples fato da sua inobservância, converte-se em obrigação principal relativamente à penalidade pecuniária.

Assim, a obrigação jurídica principal pode ser definida como o vínculo abstrato decorrente da incidência normativa, criada, especificamente, pelo fenômeno da imputação, que conecta um sujeito ativo, credor, e um sujeito passivo, devedor, em torno de uma prestação. A relação jurídica que seja efeito resultante da incidência normativa será considerada como tributária sempre que essa prestação, objeto do vínculo em análise, envolva remessa de dinheiro dos particulares aos cofres públicos, que não decorra de fato ilícito, ou seja, que se relacione à tributação.

A relação tributária principal consiste em uma obrigação patrimonial de dar, já que é economicamente quantificável, tendo em vista a própria definição de tributo constante no art. 3º do Código Tributário Nacional86.

Nessa esteira, Rubens Gomes de Sousa87 afirma que o Direito Tributário é um direito de natureza obrigacional, tendo em vista que seu objeto é a arrecadação de tributos, somente concretizada através de prestações positivas

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Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. Destaques acrescidos.

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SOUSA, Rubens Gomes de. Compêndio de Legislação Tributária. Rio de Janeiro: Financeiras, 1952, p. 28/29.

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efetivamente realizadas pelas pessoas obrigadas, ou seja, mediante pagamento do tributo. O doutrinador citado define este tipo de obrigação como88:

(…) o poder jurídico por força do qual uma pessoa (sujeito ativo) pode exigir de outra (sujeito passivo) uma prestação positiva ou negativa (objeto da obrigação) em virtude de uma circunstância reconhecida pelo direito como produzindo aquêle efeito (causa da obrigação).

A prestação positiva de pagar tributo, deste modo, configura a obrigação tributária principal. Portanto, ocasionalmente, quando se fala em relação tributária, se está levando em conta a obrigação tributária de pagar tributo (prestação pecuniária), lembrando, porém, que há também relações tributárias que consistem em outro tipo de dever.

Estes são chamados de deveres instrumentais ou formais, desencadeando uma relação jurídica acessória (§2º e §3º do art. 113, CTN). A obrigação acessória destina-se a viabilizar o controle do Poder Público do cumprimento das obrigações principais. Como exemplos de obrigações acessórias, é possível citar a emissão de notas fiscais, a apresentação de declaração de rendimento e o dever de escrituração em livros contábeis. Caso o dever instrumental não seja observado, será convertido em obrigação principal que consistirá em uma penalidade pecuniária.

Sendo assim, a obrigação tributária principal pode ser tida como uma espécie das relações tributárias. Nesse tipo de relação, percebe-se a presença de três fatores essenciais: prestação pecuniária, sujeito ativo e sujeito passivo, guardando semelhanças com as obrigações comuns reguladas de modo geral pelo Direito Civil, mas, todavia, seguindo algumas diretrizes específicas, típicas do ramo do direito em análise.

Diante do eixo temático escolhido neste trabalho, deixaremos de lado uma análise detalhada do critério quantitativo (base de cálculo e alíquota, que, conjugados, exprimem o valor pecuniário da dívida), inerentes à prestação, atendo-

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SOUSA, Rubens Gomes de. Compêndio de Legislação Tributária. Rio de Janeiro: Financeiras, 1952, p. 57.

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se ao elemento subjetivo das relações, que conduzirá ao estudo da responsabilidade tributária de modo geral.