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A composição técnica do capitai está relacionada com a produtividade física da força-de-trabalho que é obtida mediante determinado estágio tecnológico: quando as diferentes produtividades são reduzidas a uma base comum

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2 AS TEORIAS CLÁSSICAS DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO EXAMINADAS SOB A ÓTICA ECOLÓGICA.

1: A composição técnica do capitai está relacionada com a produtividade física da força-de-trabalho que é obtida mediante determinado estágio tecnológico: quando as diferentes produtividades são reduzidas a uma base comum

de valor, "estas proporções são expressas ent termos da proporção entre o capital variável e o capital constante que se emprega num período de produção determinado " (Harvey. 1990: 133). A proporção Kc/Kv se chama "a composição de valor do capital". Composição orgânica do capital é o conceito que expressa "a composição de

1= M / Kc + Kv (2.1)

Matematicamente, dividindo-se todos os termos da direita da equação por Kv, o resultado não se altera e com isto obtemos relações definidas. Vejamos:

M/Kv

1 = --- (2 .2) Kc/Kv + Kv/Kv

onde, M/Kv é a taxa de mais-valia (m) ou taxa de exploração (e); e, Kc/Kv é a composição orgânica do capital (n).

Assim, chega-se à seguinte fórmula: l = e / n , em que a taxa de lucro depende da taxa de mais-valia e da composição orgânica do capital. Portanto, para verificar o movimento que toma a primeira é necessário considerar a direção das outras duas. Além disso, para uma abordagem sob a ótica da teoria marxista do desenvolvimento capitalista, há que examinar-se as tendências a muito longo prazo (ou seculares) dos componentes da equação, conforme segue.

Observa a análise marxista a existência de uma tendência, inerente ao capitalismo, ao avanço tecnológico: “ o capitalismo é tecnologicamente dinâmico por necessidade, por existir sob o imperativo de ‘renovar-se ou morrer’ ” (Harvey, 1990: 140). Com efeito, diz a teoria, impulsionado a buscar uma diferenciação frente à média social para permitir-lhe aumento do lucro na forma de lucro extraordinário; ou sob a pressão de aumentos salariais; ou, ainda, na busca da mais-valia relativa mediante aumento da produtividade da força-de-trabalho, e outras formas de garantir competitividade (ser mais eficiente do que a média social) o capitalista individual é levado a introduzir novas tecnologias.

De fato, segundo Edward W. Soja,

N o capitalismo contemporâneo (...) a exploração do tempo de trabalho continua a ser a fonte primordial da mais-valia absoluta, mas dentro dos limites crescentes que decorrem da redução na duração do dia de trabalho, dos níveis mínimos de salário e dos acordos salariais, e de outras conquistas da organização da classe trabalhadora e dos movimentos sociais urbanos (...), o capitalismo foi forçado a deslocar uma ênfase cada vez maior para a extração da mais- valia relativa, através das mudanças tecnológicas, das modificações na composição orgânica do capital(...) (Soja, 1993: 111)

Introduzida a inovação tecnológica por um capitalista, em breve outros também o farão, como estratégia para garantir sobrevivência no mercado, e, desta forma, o impulso à renovação tecnológica dissemina-se, atingindo o conjunto da economia. Nenhum capitalista terá, então, mais renda tecnológica sob a forma de lucro extraordinário ou superlucro. Tal processo induz o capitalista individual a buscar nova diferenciação, e então verifica-se nova rodada de avanço tecnológico no sistema. Conforme David Harvey, “a conseqüência social da competição é avançar a saltos contínuos, adotando novas tecnologias e novas formas de organização independentemente da vontade de qualquer empresário particular, sempre e quando, naturalmente, os mercados sigam sendo competitivos.” (Harvey, 1990:128)

Tem-se, em decorrência deste processo de recorrente inovação tecnológica no sistema, o aumento proporcionalmente maior do capital constante em relação ao capital variável, e disto resulta o crescente aumento da composição orgânica do capital. Pela fórmula, sendo n = Kc Kv, à medida que o denominador cresce em relação ao numerador, a equação resulta crescente. E o que ocorre tendencialmente no capitalismo em decorrência de seu persistente avanço nas tecnologias de produção e transporte.

O outro componente que influencia na taxa de lucro, conforme acima, é a taxa de mais- valia (e). O comportamento desta, considerada sua tendência no muito longo prazo, mantém-se constante - no movimento cíclico, por seu lado, a taxa de mais-valia pode sofrer variações, confonme aponta Mandei (1985). A constância a longo prazo da taxa de exploração ou de mais- valia ocorre por esta refletir basicamente a correlação de forças entre a classe proprietária dos meios de produção e a classe trabalhadora na determinação da participação relativa dos salários e dos lucros no produto social. Tal correlação em condições sócio-políticas normais, e considerada no longo prazo, não se altera substancialmente, pois os avanços da conscientização da classe trabalhadora quanto a seus interesses são contrabalançados pelo progresso tecnológico, que retira dela parte de seu poder de barganha.

O avanço tecnológico, tendência inerente à economia capitalista, implica, também, ganho de produtividade no sistema. Maior produtividade significa, na teoria marxista, a redução da quantidade de trabalho socialmente necessário presente em cada unidade de produto. Disto resulta a diminuição do valor do produto (tendo em conta a premissa básica desta teoria, de que

só o trabalho produz valor). Com o aumento de produtividade tem-se, também, a diminuição da quantidade de mais-valia em cada unidade produzida - mais-valia esta que é a parcela passível de ser realizada sob a forma de lucro para o capitalista.

Concomitantemente, o ganho de produtividade, associado a novos investimentos tecnologicamente mais avançados, aumenta consideravelmente a produção e a oferta de produtos no mercado. O capital procura, deste modo (com aumento da produção), compensar a redução da quantidade de mais-valia por unidade de produto e garantir-se com a massa (o montante) de lucro. Por outro lado, o mesmo avanço tecnológico, na medida em que aumenta a composição orgânica do capital, faz com que se reduza proporcionalmente a parcela destinada a pagamento de salários, tornando pequeno, frente ao grande volume de oferta de produtos, o acréscimo de demanda por bens no mercado, que em grande parte depende do consumo das classes trabalhadoras.

Nesta condição, de aumento desmesurado da oferta de mercadorias em relação à demanda, o preço destas cai, conformando com a queda no valor de cada produto em decorrência do aumento da produtividade (pois pela teoria marxista, o valor é a referência à qual os preços de mercado tendem - se o preço para um vendedor, por questão de mercado, está abaixo do valor, ele está sob o efeito de uma troca desigual, conceito que será retomado nos capítulos IV, V e VII). Como cada produto contém menor valor, contém igualmente menor quantidade de mais-valia que pode ser realizada (mediante sua venda como mercadoria na esfera da circulação) sob a forma de lucro. A associação desta circunstância com uma taxa de mais- valia tendencialmente estável, conforme visto acima, conduz à queda tendencial da taxa de lucro.

Para compensar a tendência à queda da taxa de lucro manifestam-se, de acordo com Marx, elementos de contra-tendência. Dentre estes, a concentração e centralização do capital, decorrentes da eliminação de pequenos capitais através da competição ou da absorção mediante compra, dos menores pelos maiores. Isto significa a concentração em unidades de produção de maior escala e agigantamento das empresas. Visam monopolizar ou cartelizar, de modo a poder administrar preços; ou, objetivam compensar, no que respeita ao lucro, através de um volume (ou massa) maior a queda efetiva da taxa .

segundo a teoria em questão, as condições objetivas para a atuação política da classe trabalhadora (empregada, subempregada ou excluída do mercado de trabalho), alargada pela incorporação de antigos pequenos capitais destruídos pela competição no mercado, no sentido de negar (antítese) o status quo (tese) e, no limite, superar o modo de produção (em uma síntese). A conseqüência última seria, então, a derrocada do sistema - encerramento do ciclo vital do capitalismo - sendo substituído por um modo de produção e consumo não mais orientado pelo mercado e o lucro, mas sim em favor dos trabalhadores (inicialmente socialismo; e depois, com o desaparecimento das classes sociais, comunismo).

A derrocada do sistema, segundo a abordagem marxista, seria fruto de suas próprias contradições internas. Uma contradição fundamental decorreria da tendência ao progresso tecnológico e o impacto deste sobre a força-de-trabalho, dado que ao mesmo tempo que o capital necessita e depende da força-de-trabalho - portadora de trabalho vivo, único capaz de criar valor, para produzir um excedente ou sobretrabalho a ser apropriado pelo capitalista (na esfera da produção) em forma de mais-valia e realizado (na esfera da circulação, ou mercado) na forma de lucro - é ele levado a, proporcionalmente, diminuir a participação ou excluir o trabalhador do processo produtivo e a degradar suas condições de existência.

A crítica desde uma perspectiva ecológica à teoria marxista da evolução secular do modo capitalista de produção e consumo, acima resumida em suas linhas mais gerais possíveis, também se assenta, como nas teorias anteriormente vistas, no fato de esta não considerar a variável ambiental, a não ser tomando a natureza como fonte de matérias-primas e recursos exploráveis (portanto elemento passivo, não participante ativo, na teoria). Marx assume que a relação do capita] com a natureza é de dominação daquele sobre esta, procedendo à exploração de recursos na medida, ao ritmo e da forma que melhor convém à obtenção do lucro mais elevado e imediato. A crítica ecológica denuncia, portanto, a desconsideração da análise marxista para com aspectos ambientais.1 ’

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