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Crítica da visão de PS no capitalismo presente no pensamento dos economistas ecológicos.

No documento 123456789/81183 (páginas 150-158)

ALGUNS INDICADORES FÍSICO-SOCIAIS DA CONDIÇÃO AMBIENTAL: população servida de água potável;

5.5. Crítica da visão de PS no capitalismo presente no pensamento dos economistas ecológicos.

A primeira observação a fazer, de passagem, é não ser exclusividade da economia ecológica a utilização da análise multicritério ambiental. Com efeito, ambientalistas neoclássicos dela também se valem nos estudos que conduzem a processos decisórios, conforme pode ser constatado em artigo de Mohan Munasinghe, diretor da Divisão de Economia Ambiental do Banco Mundial (Munasinghe, 1993). A segunda observação

diz respeito á dedução através da teoria elaborada pelos economistas ecológicos abordados, segundo a qual somente tem a característica de ecológica a decisão, a partir do método multicritério, que submeta os valores monetários a pesos muito baixos em relação aos demais na ponderação dos quesitos considerados na avaliação ou absolutamente não leve em conta valores de mercado.

Há, ainda, um terceiro aspecto importante em relação ao referido método como instrumento da economia ecológica. Trata-se da questão da sensibilidade dos decisores aos temas relacionados ao meio ambiente. Com efeito, para uma decisão de cunho ambiental quanto a políticas, planos gerais ou projetos de implantação que envolvam componentes da mais variada ordem (como no exemplo sobre as alternativas de uso de fontes energéticas na Espanha, onde proliferam fatores de natureza militar, política, econômica, ecológica e outros), o pressuposto é que as pessoas participantes do processo tenham sensibilidade ecológica por excelência.

Essas observações formam a base para a crítica que fazemos quanto à pretensão dos ecoeconomistas de que possa se dar o predomínio da racionalidade ambiental nos processos decisórios inseridos no mundo capitalista. Inicialmente, segundo nossa percepção, levantar semelhante possibilidade significa acreditar que o sistema atinja a sustentabilidade ambiental, associada à sócio-econômica. De fato, ao criticar a produção capitalista por esta não considerar critérios físico-energéticos, a economia ecológica aponta ser possível que ela venha a ser regulada - “de fora” - a partir de tais critérios.

Os economistas ecológicos não fazem análise das tendências intrínsecas do capitalismo e sua relação com a degradação ambiental (e demais custos sociais). Por esta razão, deixam de questionar a visão segundo a qual a produção poderia ser organizada de forma a contemplar tais custos - não os produzindo; absorvendo-os - dentro do próprio sistema mercantil da sociedade capitalista. A nosso ver, fundamentando-nos na abordagem marxista que considera a relação intrínseca da produção capitalista com os custos sociais, a ausência de uma análise desta relação leva os economistas ecológicos à admissão equivocada da possibilidade de o capitalismo tornar-se ambiental e socialmente sustentável.

ambiental, indicada, pelos mesmos economistas, como o método para as decisões racionais em política ecológica, incorre num mesmo problema levantado por estes para criticar a escola neoclássica. A saber, acreditar em escolhas racionais subjetivas e objetivas para uma decisão ambientalmente correta, sem levar em conta que, no processo de montagem da decisão, são poucas as escolhas em favor do meio ambiente, assim como inexpressivas, ou até inexistentes, as representações das futuras gerações. Além disso, há o importante aspecto de que mesmo a presença de critérios para atingir uma racionalidade ambiental não levará ao desenvolvimento sustentável o capitalismo. A racionalidade dominante no sistema é a econômica, e, portanto, decisões que ponham em risco a possibilidade de acumulação continuada do capital não podem ser tomadas. A abordagem que admite a possibilidade de racionalidade ambiental no capitalismo desconsidera os condicionantes do sistema sobre os decisores (pessoas que participam na aplicação do método multicriterial).

Estas observações não se referem ao curto e médio prazo e a ações isoladas, como as de alguns empresários que estão encontrando nos denominados “eco-produtos” - porque produzidos e consumidos de forma ecologicamente correta, com controle sobre matéria- prima, processo industrial e descarte de embalagens - maneira de se diferenciar no mercado, através do “eco-marketing”, e realizar inclusive superlucro (lucro superior à média social), em perspectiva de médio prazo, se não momentaneamente. Esses "eco-empresários”, enquanto constituírem uma minoria em seu meio, saberão tirar vantagem do avanço da consciência ecológica social, sobretudo nos países que atingiram maiores graus de comprometimento ambiental e, em conseqüência, mais desenvolveram a preocupação com esta questão. Um exemplo, talvez o mais significativo, é o da Aiemanha e por isso algumas vezes citada neste trabalho; e o caso, relatado por H. Klein (1998), de uma grande empresa aí sediada, que contrata produtores independentes e os subsidia para produzirem de forma ecológica, de modo a garantir um mercado internacional que antevê expressivo a médio prazo, é emblemático.27

Na perspectiva da diaiética capital e natureza - analisada mais detalhadamente no

27 Diga-se, contado, que no país citado a força do “eco-marketing?’ está fazendo suigir um modismo de lançamento de produtos que utilizam a ecologia como argumento de venda, porém mais não são do que maquiagem para conquistar uma população ávida pela preservação ambiental; por exemplo: “eco-pneu”, assim chamado apenas porque seu uso no automóvel possibilita reduzir em 5% o consumo de gasolina; "eco-prédio'\ apenas porque faz um melhor aproveitamento da luz natural.

Capítulo VI, itens 6.5 e 6.6 - com-efeito, o capital pode favorecer momentaneamente a natureza, assim como esta favorecer àquele. Todavia, as contribuições momentâneas transformam-se, a longuíssimo prazo (ou prazo secular), em restrições. Seja, por exemplo, o caso de um empresário que hoje procura atingir padrões ecológicos - ou ser menos degradador que anteriormente - para explorar um eco-mercado. Em se generalizando semelhante conduta, terá desaparecido esta forma de obtenção de superlucro (o qual é finto de alguma diferenciação individual), e o capital será, então, levado a explorar outras situações diferenciadoras. Conforme David Harvey, “ o ganho extraordinário que os capitalistas individuais acumulam no princípio, é temporário e desaparece logo que os demais capitalistas adotam a mesma tecnologia ou mudam para situações igualmente vantajosas.” (Harvey, 1990: 393)

Diga-se, também, com relação ao abordado acima, que a posição momentaneamente privilegiada de alguns empresários assegurando-lhes lucros extras, em grande medida dá-se pela condição de um certo grau de monopólio que lhe possibilita repassar o aumento dos custos unitários aos preços, ou atingir escala de produção mais elevada, em decorrência da ampliação de seu mercado, com ganhos de produtividade e não elevação dos custos unitários. Mas este é um privilégio reservado para empresas grandes ou para poucas. (Além disso, pode- se considerar que a empresa monopolista já estaria praticando para seus produtos preços no limite máximo, e, então, todo aumento de custo viria reduzir a sua margem de lucro).

No geral, portanto, cada empresa, ao ser obrigada a assumir o custo ambiental para produzir de forma ecologicamente correta - como imposição de uma sociedade que visa ser ambientalmente sustentável - encontrar-se-á na condição de ter que reduzir sua escala produtiva e usufruir um lucro menor (conforme se demonstra pela formulação pigouveana abordada no item 3.3, Capítulo III). Não consta em nenhuma interpretação consistente do funcionamento da economia capitalista que esta possa suportar uma queda estrutural ou secular em sua taxa média de lucro, sem que se crie uma instabilidade estrutural insustentável, isto é, o aprofundamento de suas contradições internas (Wright, 1993). Portanto: resistência a assumir custos ambientais ou queda efetiva da taxa de lucro.

sistema de mercado. Aqui, novamente, deixam, os economistas ecológicos, de considerar a totalidade dos mecanismos próprios do funcionamento do capitalismo. Com efeito, tem-se por demonstrações da evolução do sistema, que, em todas as suas configurações, tende ele a açambarcar as diversas esferas e espaços da atividade humana dos quais pode usufruir em favor da acumulação do capital. Assim sucedeu em relação às tentativas de implantação de sociedades alternativas nas bordas do sistema, a exemplo dos sobejamente conhecidos casos das comunidades com características do socialismo proudhonista e das coletividades “hippies” dos anos 1960, breve absorvidas pelo modo de produção dominante.

Na fase atual, de expansão geográfica sob domínio do capital financeiro e comercial através do processo denominado globalização, reforça-se a tendência do mercado penetrar em todos os segmentos de produção e espaços onde pode beneficiar-se. Somente nos lugares e setores de produção que hoje não mais interessam para sua acumulação o capital não intervém, abandonando-os à sua própria sorte. O fenômeno da exclusão sócio-econômica de espaços e segmentos sociais como em países da América Latina, mas sobretudo da África, é a evidência mais gritante (Kurz, 1992).

A análise em perspectiva de prazo secular que fazemos, não pretende desmerecer os esforços teóricos e práticos encetados pelos ambientalistas de diferentes matizes no mundo capitalista. Tais esforços, por certo, resultam em amenização dos efeitos sociais e ambientais negativos, em relação ao que seria sem eles. Também não damos como verdadeira uma interpretação segundo a qual o outro modo de produção, a suceder o atualmente dominante, traga em si a resolução desses problemas - o socialismo, contudo, sendo regido não pelo mercado e pelo lucro, contém, em princípio, a possibilidade de superá-los, mediante, aí sim, uma racionalidade ambiental.

A análise visa compreender o alcance das ações e das políticas propostas pelos ambientalistas. Observa-se que num plano local e em período de tempo não muito longo, podem revelar-se importantes para mitigar os efeitos negativos. Contudo, em perspectiva de prazo secular e escala planetária, a teoria proporcionadora de uma abordagem que considera

as leis condicionadoras do funcionamento do capitalismo indica-nos a provável incapacidade de o sistema vir a dar conta da problemática em pauta; pelo contrário, ele tenderia a aprofundar o processo de degradação ambientai, solapando as suas próprias bases de reprodução.

Conclusões

No presente capítulo foram vistos e analisados alguns métodos pelos quais procuram, os cientistas, mediante estudos e pesquisas, corrigir ecologicamente as contas nacionais, criar indicadores e métodos que permitam avaliar, sob a ótica ambientalista, a evolução de uma sociedade e tomar-se decisões de políticas sociais que a conduzam ao desenvolvimento sustentável. Inicialmente, mostrou-se o procedimento para chegar-se ao “PIB Verde”. Trata-se, essencialmente, de descontar do montante, em valor, produzido pela sociedade no ano, isto é, seu Produto Interno, uma parcela que representaria a “amortização” do “capital natural” (assim concebida a natureza pela abordagem ambiental neoclássica).

Numa linha de raciocínio algo semelhante, se encontram as propostas que visam a determinar diretamente as condições de sustentabilidade na exploração de recursos naturais não renováveis. O trabalho de El Serafy é uma delas, para quem a sustentabilidade, ou mais propriamente o desenvolvimento durável - conforme é definido no item 1.4.3, Capítulo I - seria garantido desde que o desgaste ambientai fosse compensado por igual inversão em outros setores de atividades para garantir à população oportunidade de emprego e rendas futuras. David Pearce apresenta outra proposição neste sentido, na qual a condição de sustentabilidade inclui, além do “capital natural”, o “capital produzido pelo homem”, o desgaste do primeiro podendo ser compensado pelo aumento do segundo. Viu-se, ainda, que frente à dificuldade de estabelecer o valor monetário das variações físicas do “capital natural” visando a utilização dos métodos supra, R. Hueting propôs a equiparação deste ao montante de recursos monetários que seriam necessários para implementar as medidas de recuperação

ou compensar o dano ambiental produzido.

construímos como uma medida para avaliar, sob o critério de eficiência sócio-econômica e ecológica, a evolução de sociedades individualizadas. Novamente aqui surge a necessidade de “amortizar” o desgaste ambiental havido para “ecologizar” o PIB, que é um dos componentes do índice, e, por consequência, é preciso conhecer o valor monetário do bem ambientai. A análise apontou fragilidades inerentes aos procedimentos, como os acima, que trabalham com a noção de valorar monetariamente bens ambientais, isto é, estabelecer preço fictício ao que o mercado normalmente não considera. Um aspecto desta fragilidade decorre do fato de ser impossível estabelecer o valor monetário correto dos bens ambientais, pois no processo de valoração - o qual supõe um mercado hipotético - a representação dos interesses das gerações vindouras é efêmera ou inexistente e, portanto, o recurso natural tende a ser sub-valorizado.

Outro aspecto, igualmente de suma relevância - e que retira uma parcela da importância dos procedimentos que almejam avaliar ou prescrever condições de sustentabilidade - deriva da observação de que a atribuição de valor monetário, a amortização do capital natural, assim como a correção ecológica do PIB, não têm relação com a realidade do que ocorre na economia capitalista. A busca de sustentabilidade sócioambiental por estes meios não passa de um desejo dos seus idealizadores, já que somente por pressão vinda “de fora” da economia - conforme concluem os economistas ecológicos - custos externos ou sociais são por ela absorvidos.

Na seqüência foram analisados indicadores de sustentabilidade propostos por economistas ecológicos, com seu importante conceito de espaço ambiental, no qual a sustentabilidade deve ser verificada. A constatação de insustentabilidade revelaria a existência de trocas ecologicamente desiguais. Estas poderiam ser reduzidas ou eliminadas, segundo os autores estudados, pela ação do movimento ambientalista no sentido de obrigar o mercado a absorver custos sociais e ambientais que a atividade produtiva gera. Conjuntamente a isto, a busca da sustentabilidade, mesmo na economia capitalista, compreenderia, para estes autores, o desenvolvimento de atividades produtivas fora do mercado, às bordas deste, como no ecologismo popular. Mas a forma para atingir a sustentabilidade, segundo os economistas

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ecológicos, não pode prescindir de decisões pautadas por uma racionalidade ambiental (em lugar da racionalidade econômica) e através do método de análise multicriterial.

Levantou-se o fato de que esses autores, nas suas proposições em que mantêm o componente mercado, desconsideram os elementos condicionadores dos processos de decisão capitalistas, dos quais estão imbuídos as próprias pessoas que decidem. Estes elementos condicionadores são abordados pela teoria e análise que se apresentam na seqüência.

6 - ECOMARXISMO E A SEGUNDA CONTRADIÇÃO FUNDAMENTAL DO

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