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O Princípio da Valoração Monetária dos bens e serviços ambientais e a internalização das externalidades.

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2 AS TEORIAS CLÁSSICAS DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO EXAMINADAS SOB A ÓTICA ECOLÓGICA.

16 A nosso ver dada a crescente relevância das questões ambientais para a sociedade, em futuro não distante toda a ciência econômica deverá eslai considerando em suas leorias e proposições de políticas econômicas a questão

3.1. O Princípio da Valoração Monetária dos bens e serviços ambientais e a internalização das externalidades.

A economia ambiental e dos recursos naturais (economia ambiental neoclássica) parte do pressuposto de que toda extemalidade, isto é, todo recurso ou serviço ambiental não incluído no mercado, pode receber uma valoração monetária convincente: estabelecer valor para o que o mercado não considera. A idéia básica é a de que “a valoração ambiental é essencial, se se pretende que a degradação da grande maioria dos recursos naturais seja interrompida antes que ultrapasse o limite da irreversibilidade.” (Marques e Comune, 1995: 624, referindo-se a uma citação de J. Schweitezer, 1990). Adiante será tecida a crítica a esta posição.

A valoraçâo monetária dos recursos ambientais, proposta pela economia neoclássica, decorre de que os preços dos bens econômicos não refletem o verdadeiro valor da totalidade dos recursos usados na sua produção. Isto é, para esta corrente, os mercados falham em alocar eficientemente os recursos. Haveria, então, uma divergência entre os custos privados (assumidos pela empresa) e os custos sociais (custos não assumidos pela empresa, logo socializados). Na visão da economia ambiental neoclássica, “As decisões tomadas somente com base nos custos privados, assumindo custo zero para o recurso ambiental, fazem com que a demanda pelo fator de custo zero fique acima do nível de eficiência econômica, podendo levar aquele recurso à completa exaustão ou à degradação total”. (Marques e Comune, 1995: 634)

O princípio fundamental do pensamento neoclássico encontra-se na citação acima: a eficiência econômica é atingida na posição de equilíbrio geral. As decisões de alocação de recursos, desde que considerem o valor total daqueles usados na produção, serão as mais eficientes. A questão que a economia ambiental neoclássica se coloca a si mesma passa a ser, então, a de como valorar monetariamente os bens e serviços do meio ambiente que não são valorizados pelo mercado. Dito de outra forma, como proceder para que uma decisão de alocação de recursos, que é feita segundo o preço definido pelo mercado, passe a considerar um valor que aquele não leva em conta.

A valoraçâo monetária constitui para o pensamento neoclássico o pressuposto para que nas decisões de alocação de recursos na economia sejam levados em consideração os custos sociais e desta forma se consiga incluí-los nos custos privados, num processo de “intemalização das extemalidades” (Adiante, será analisada esta posição sob duas questões fundamentais, quais sejam: O fato de imputar valor ao que o mercado não valoriza (no preço) afeta efetivamente uma decisão de investimento privado ? Além disso, é possível estabelecer um valor correto para as preferências - termo que para os neoclássicos significa as escolhas do consumidor - das gerações futuras ? ).

Internalizar extemalidades significa computar os custos (ou benefícios, quando se trata de extemalidade positiva) ocultos e imputá-los ao seu responsável econômico.

constituir-se um “mercado ecologicamente ampliado” . O problema reside, então, em como imputar vâior econômico (ou valor monetário, visto tratar-se de economia de mercado) àquilo que não se expressa através do preço. Os métodos que os neoclássicos elaboraram para esta finalidade são apresentados, de forma sintética, a seguir, em sua forma adaptada à economia ambiental.

Para obter a valoração monetária dos bens (recursos naturais exploráveis; florestas de preservação) e serviços ambientais (absorção, pela natureza, de rejeitos humanos; lazer proporcionado por uma área natural, por exemplo) os economistas neoclássicos propõem alguns métodos. E para internalizar extemalidades há os de tendência liberal e, também, aqueles que admitem intervenção do Estado impondo à empresa o custo ambiental (através de taxas, multas e compensações). Mas as técnicas para definir os valores a serem considerados são todas baseadas no princípio da negociação - isto é, o princípio que, para esta corrente de pensamento, rege o mercado.

3.2. Pigou e a proposição o potuidor vasa.

Pigou, conforme referido, foi o primeiro a estabelecer o conceito de extemaiidade em economia, em meados de 1920. Depois, em relação às extemalidades ambientais, propôs a célebre fórmula o poluidor paga.

A proposição o poluidor paga, que “visa à intemaiização dos custos relativos externos de deterioração ambiental”, teve repercussão muito grande e passou a ser um dos princípios básicos que informam o Direito Ambiental (Derani, 1997: 158). Michel Prieur (1984, citado por Antunes, 1992: 59), ao fazer uma sistematização da principiologia da defesa ambiental, aponta serem estes os princípios: a) a proteção do meio ambiente é de interesse geral; b) obrigação jurídica de levar em conta a proteção ambiental; c) participação dos cidadãos; d) entendimento entre os poluidores e o poder público; e, d) quem polui paga. Para Toshio Mukai são três os princípios fundamentais do Direito Ambiental: o princípio da prevenção; o princípio do poluidor-pagador ou da responsabilização; e o princípio da cooperação (Mukai, 1994). Em suma, a fórmula

pigouveana constitui, hoje, um principio básico do direito ambiental.

No Brasil, o princípio destacado é contemplado na Lei 6.938/81 (que dispõe sobre a Política Nacional de Meio Ambiente), em seu inc. VII do art. 4: “ à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos.” E a Constituição Brasileira de 1988, em seu art. 225 (Do Meio Ambiente) consagra novamente o princípio em pauta. Com este apanhado acerca de como a proposição o poluidor paga constitui princípio fundamental do Direito Ambiental, demonstrou-se seu aspecto prático, na medida em que informa a política de meio ambiente.

Mas a questão da valoração econômica ainda está em aberto: como pode ser estabelecido o valor a ser pago ? Ou, quanto deve ser pago ? Pigou responde a isto através do seguinte raciocínio. Suponha uma empresa obrigada a reparar ou compensar o dano ambiental que causa. Haverá um ponto de equilíbrio entre o valor que deverá pagar e sua escala de produção, o que estabelecerá um “nível de poluição ótimo”. A parte afetada pelo dano ambiental - por exemplo, uma comunidade cujas águas de um rio que a banha são poluídas pela atividade da empresa - estabelecerá valores com os quais deva ser compensada para suportar diferentes níveis de poluição. A empresa considerará o custo externo marginai, isto é, o quanto terá que assumir de custo adicional para uma unidade acrescida em sua escala produtiva. A negociação entre as partes levará a um nível de poluição aceito por ambas. A coletividade, compensada pelo dano; a empresa, estabelecendo sua escala de produção - e seu nível de poluição “ótimo”.

O custo externo marginai (externo, por que não incorporado ao processo produtivo da empresa) em um nível “ótimo” de poluição é o valor do imposto, do gasto para recuperar o meio ambiente degradado ou da compensação à comunidade atingida, que a empresa deve assumir. Para a empresa, o “nível ótimo” de poluição se dá quando o seu lucro marginal se igualar ao custo externo marginal (lucro marginal = custo externo marginal), ou, o que resulta idêntico, quando o lucro marginal após o pagamento do imposto ambiental for zero. Nesta condição se define a escala de produção da empresa, em termos da quantidade de unidades físicas, e o quanto de poluição, em decorrência da

escala produtiva, irá gerar (e por este dano, pagar). Vamos a um exemplo numérico simplificado, o qual será relevante também para as considerações que serão feitas quando da discussão sobre a viabilidade do desenvolvimento sustentável no capitalismo.

Suponha-se uma empresa com as seguintes características econômicas de produção diária: - preço de venda do seu produto = R$ 80/unidade. Logo, a função de receita da empresa, definida como o preço unitário vezes a quantidade vendida, será: R = 80 a. sendo a a quantidade produzida e vendida; e

- custo total, composto do custo interno de operação da empresa, mais o custo externo (custo ambiental), dado pela seguinte função: C = a2 + 30 a .

Nesta função, 30a significa o custo ambiental, ou externo, e representa ser de R$30,00 o custo para despoluir o meio ambiente degradado, por cada unidade de produto fabricado. O outro termo ( a^ ) diz respeito ao custo interno, e representa a evolução deste quando a empresa já não mais tem capacidades ociosas - logo o custo total, e por consequência o custo marginal, aumentam mais do que proporcionalmente aò acréscimo de unidades produzidas. Quando não está sujeita a assumir o custo de despoluição, ou pagar o imposto ambiental compensatório, a função de custo para a empresa é composta por este termo, somente.

Nas tabelas 1 e 2, mostram-se as situações de equilíbrio neoclássico para a empresa frente às duas situações aventadas: na primeira, não tendo que assumir o custo ambiental; na segunda, sendo obrigada a assumir o referido encargo.

Tabela 1: Equilíbrio da Empresa, sem Imposto Pigouveano

PRODUÇÃO CUSTOS CUSTOS RECEITA RECEITA

DIÁRIA / TOTAIS (2) MARGINAIS(3) TOTAL (4) MARGIN AL(5)

unidades XI-) v (C= a2) (R= 80a)

1 1 1 80 80 2 4 3 160 80 3 9 5 240 80 3 9 1521___________________ 77____________ 3120_____________ 80 4 0 1600___________________ 79 __________ 3200_____________ 80 (*) 41 1681 81 3280 80

Notas.' (1) Escala de produção considerada a partir do ponto de pleno emprego ou de uso pleno da capacidade instalada. (2) Custos proporcionalmente crescentes, visto que pela teoria neoclássica o equilíbrio é alcançado na tase ascendente da curva de custos marginais (em decorrência do observado na nota 1). (3) Acréscimo de custo em função do aumento de uma unidade de produção. (4) Considerou-se R$ 80,00 o preço unitário de venda do produto. (5) Acréscimo de receita pela venda de uma unidade adicional.

(*) O ponto de equilíbrio da empresa, pela teoria neoclássica, dá-se no ponto em que a Receita Marginal iguala-se ao Custo Marginal. No caso, a identidade mais próxima, e positiva para a empresa, é quando CMg=79 e RMg=80. A escala de produção seria de 40 unidades, e o lucro total (Receita Total - Custos Totais, ou 3200 - 1600) seria de R$ 1 600,00/dia.

Tabela 2: Equilíbrio da Empresa, com Imposto Pigouveano

PRODUÇÃO CUSTOS TOTAIS (2) CUSTO RECEITA LUCRO LUCRO MARG. (5)

DÍARIA (C= ar + 30a) EXTERNO TOTAL(4) (RT - CT>

unidades (1) MARG. (3) (R= 80a)

1 2 l + 3 0 x 1 = 31 30 80 4 + 30 x 2 = 64 30 160 49 96 47 23 529 + 30 x 23 = 1219 30 1840 24 576 + 3 0 x 2 4 = 1 2 9 6 30 1920 621 624 25 625 + 30 x 25 = 1375 30 2000 625 1 (*) 26 676 + 30 x 26 = 1456 30 2080 624 - 1

Notas: (1) A mesma observação relativa ao item 1 da tabela anterior. (2) Refere-se, no caso, a custo interno (a2, em decorrência da observação acima) e a custo extemo (30a, que é o custo ambiental). (3) Acréscimo de custo para recuperar, ou compensar, uma unidade adicional de ambiente poluído ou degradado. (4) Admitido preço de venda de R$ 80,00/unidade. (5) Lucro adicional pelo acréscimo de uma unidade na escala de produção.

(*) Na formulação pigouveana o ponto de equilíbrio para a empresa que paga o imposto ambiental pode ser encontrado quando seu lucro marginal (após pagar o imposto) é zero. No caso em foco, o lucro marginal positivo que mais se aproxima de zero é quando L Mg = 1. A escala de produção, neste ponto, é de 25 unidades diárias e o lucro total R$ 625,00/dia.

(tabela 1), não assumindo o custo da degradação ambiental que provoca, o equilíbrio para a empresa se dá quando a receita marginal iguala-se ao custo marginal e assim se definem sua escala de produção e o lucro total. Este ponto de equilíbrio, no exemplo, ocorre quando a escala de produção é de 40 unidades diárias e o lucro total, nestas circunstâncias, seria de R$ 1600,00/dia.

Na segunda condição (tabela 2) isto é, quando a empresa é obrigada a assumir o custo do dano ambiental que causa, seu equilíbrio pode ser definido no ponto em que o lucro marginal, após pagar o imposto pigouveano, for zero. Neste caso, o nível de produção da empresa ficaria reduzido a 25 unidades (quando na situação anterior era 40) e o lucro total ficaria em R$ 625,00/dia (era R$ 1 600,00 quando a empresa não arcava com o custo ambiental).17 O custo ambiental, ou imposto pigouveano, no caso, ficaria em R$ 750,00/dia, resultante da multiplicação de 25 unidades da escala produtiva de equilíbrio com o custo de recuperação ou compensação pelo dano ambiental equivalente a R$30,00 para cada unidade produzida. O custo ambiental é assumido, pela abordagem pigouveana, como sendo o valor monetário do bem ambiental.

Portanto, o preço pago pelo dano causado ao meio ambiente, estabelecido através da livre negociação entre as partes (o agente poluidor e a parte afetada), é a forma, de acordo com Pigou, de obter o valor econômico do bem ou serviço ambiental.

O princípio o poluidor paga pode ser utilizado do seguinte modo: a) a própria empresa despolui; b) a empresa paga um imposto à sociedade; c) a empresa compra direito (bônus) de poluição em bolsa de valores. A primeira maneira de utilizar o princípio

17 Mesmo a empresa monopolista tem dificuldade em absorver custos externos sem redução dos lucros. A

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