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Indicador de Sustentabilidade de David Pearce

No documento 123456789/81183 (páginas 125-129)

4 ECONOMIA ECOLÓGICA: OS FLUXOS FÍSICOS DE ENERGIA E MATERIAIS E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL.

5- INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE (revelando a insustentabilidade)

5.2. A Economia Ambiental “corrige o PIB” para torná-lo sustentável.

5.2.3. Indicador de Sustentabilidade de David Pearce

Pearce constrói um indicador de sustentabilidade em que considera não apenas o “capital natural”, como no caso de El Serafy, mas também o capital produzido pelo homem (ou meios de produção produzidos). O que interessa, na visão de Pearce, é que não diminua

sustentabilidade do processo.

Para Pearce, portanto, uma economia é sustentável se a participação da poupança na renda nacional, ou nivel de poupança (S), que possibilita os investimentos, for maior ou pelo menos igual à soma das depreciações do “capitai natural” (N) e do capital feito pelos homens (K). Pode-se escrever a seguinte equação de sustentabilidade, interpretando o pensamento de Pearce:

S > N + K ( Condição de Sustentabilidade).

A sustentabilidade que considera o desgaste do capital natural sendo compensado pelo capital feito pelo homem é, segundo Martínez Alier (1995) uma sustentabilidade fraca, contrapondo-se ao conceito de sustentabilidade no sentido forte da palavra, a qual busca compensar exclusivamente o desgaste ambiental. Gom base no conceito de sustentabilidade fraca, Pearce apresenta resultados empíricos em que considera um grupo de países de acordo com o índice de Sustentabilidade (IS). O índice de sustentabilidade é calculado da seguinte forma:

IS = S - ( N + K ),

na qual S é a participação da poupança na renda nacional; N, a depreciação do capital natural, em % da renda; e K, a depreciação do capital feito pelos homens, em % da renda.

São tidos como “altamente sustentáveis” os países com IS superior a zero; “apenas sustentáveis” os que apresentam IS igual a zero; e “insustentáveis” os que registram IS negativo, isto é, inferior a zero. A tabela 4 exemplifica a aplicação feita por Pearce.

Tabela 4: índice de Sustentabilidade Fraca em Alguns Países (1986) Países S, em % da renda K, em % da renda N, em % da renda IS Altamente Sustentáveis: Japão 33 14 2 17 Holanda 25 10 1 14 Estados Unidos 18 12 4 2 Apenas Sustentáveis: México 24 12 12 0 Filipinas 15 11 4 0 Insustentáveis: Etiópia 3 1 9 - 7 Indonésia 20 5 17 - 2 Nigéria 15 3 17 - 5

Fonte: Pearce, D. e Atkinson, G., apud Martinez Alier (1995).

O resultado parece indicar que as economias mais ricas seriam sempre mais sustentáveis que as pobres. Todavia, esta relação não é automática. As economias ricas são, também, as que detêm elevado uso de capital (dos dois tipos considerados), portanto as cifras de depreciação são bastante elevadas. O contrário pode acontecer com as economias pobres, nas quais o pequeno uso de capital levaria a uma menor depreciação. Logo, por princípio, não há uma correlação direta entre riqueza e sustentabilidade e pobreza e insustentabilidade.

A conclusão dos trabalhos de Pearce indica ser o Japão, país que importa grande quantidade de madeira, petróleo e outros recursos naturais, é o que apresenta o maior índice de sustentabilidade. Acontece que, na forma como são computados os valores, a depreciação do “capital natural” é feita nós países que sofrem a exploração do recurso. Assim, a Nigéria, por exemplo, grande exportadora de petróleo, apresenta o mais elevado grau de depreciação do capital natural e um elevado índice de insustentabilidade. Os países importadores de recursos naturais,usufruem contabilmente desta situação: O Japão possuiria, na abordagem de Pearce, uma das mais baixas taxas de depreciação do seu capital natural. De fato, ocorre que

Japão, Estados Unidos e as demais economias industrializadas, em geral são grandes importadoras de recursos naturais. Uma contabilidade de cunho ecológico, que levasse em conta as transferências internacionais de valores ambientais, poderia desvendar o que cálculos como o acima apresentado não revelam. Todavia, de qualquer maneira, os problemas relativos à valoração dos bens ambientais fazem com que não seja possível traduzir em valores econômicos corretos o desgaste do denominado “capital natural”.

Roefie Hueting propôs uma solução para o problema apontado, qual seja o de estabelecer valores monetários para as variações físicas do patrimônio natural. Trata-se de construir os denominados “preços-sombra”. A partir de padrões de qualidade desejável (sustentável) para o meio ambiente, o autor mede em unidades físicas a carga atual de desgaste que o mesmo sofre, e avalia o montante de recursos monetários necessários para implementar as medidas de recuperação, ou compensar o dano ambiental produzido. Deduzindo da renda nacional este montante de recursos, chega à Renda Nacional Sustentável (Bellia,1996; Martínez Alier, 1995). O problema relativo a este método - além de outros, e da impossibilidade de se estabelecer valor monetário correto ao desgaste de patrimônio natural irrecuperável - está no estabelecimento de padrões subjetivos, colocados a partir de fora da economia, cujo objetivo (o consenso do desenvolvimento sustentável) pode existir para a sociedade, porém sem significado para a tomada de decisão econômica.

Conclui-se, então, que o trabalho de Hueting, assim como o de Pearce sobre a sustentabilidade em escala mundial, não tem relação com a realidade dos fatos. Martínez Alier chega a denominar a proposição deste último, Pearce, de a “ideologia da sustentabilidade fraca”, por se fundamentar na possibilidade de substituição dos bens ambientais por capital produzido, e na qual é inerente a pretensão de medir estes bens e seu desgaste em valores monetários.

Depreende-se da análise das proposições dos autores acima seu intento em construir um indicador de sustentabilidade independentemente de considerações acerca do mecanismo de funcionamento do sistema capitalista de produção. Admitem que este tenha por objetivo o desenvolvimento sustentável; além disso, aceitam que tal objetivo possa ser atingido, seja

através de correções ao mercado, seja através da ação do próprio mercado 20. Ora. pelas considerações que fazemos ao longo do trabalho, nenhuma das premissas assumidas pela corrente neoclássica da economia ambiental pode ser aceita. Assim, o conceito de desenvolvimento sustentável na economia capitalista é vazio de conteúdo e o objetivo manifesto não passa de ideologia, pois é da essência do sistema produzir, reproduzir e apoiar- se em desigualdades sociais, espaciais e ambientais, em escala global, conforme se verá nos próximos capítulos.

No documento 123456789/81183 (páginas 125-129)

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