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O economicismo, sendo uma visão unilateral da realidade, não considera as demais dimensões desta, enfocando somente a produção e a produtividade econômicas No plano prático, implica na concepção de políticas de

No documento 123456789/81183 (páginas 36-41)

1 MOVIMENTO AMBIENTALISTA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (DS)

7 O economicismo, sendo uma visão unilateral da realidade, não considera as demais dimensões desta, enfocando somente a produção e a produtividade econômicas No plano prático, implica na concepção de políticas de

desenvolvimento embasadas apenas no crescimento da economia - não levando em conta os aspectos sociais e ambientais ao que chamamos, de forma algo pejorativa, de desenvolvimentismo.

Assim, para esta visão, o crescimento da produção é associado ao conceito de crescimento econômico; e este é identificado com o de desenvolvimento econômico. Alguns economistas, tal como J. Schumpeter (1982) diferenciam estes dois termos. A distinção, porém, não vai muito além do ritmo - menor, crescimento; maior, desenvolvimento econômico - de aumento da produção. Mesfno quando se consideram algumas mudanças estruturais na economia, são apenas as que permitiriam atingir taxas mais elevadas de crescimento. As políticas de desenvolvimento decorrentes dessa posição se reduzem a ações visando ao crescimento da economia, portanto relacionadas a novos investimentos e/ou progresso técnico (Comeliau e Sachs, 1988).

Para os países da periferia do mundo capitalista, o conteúdo do reducionismo econômico, denunciado pelos primeiros construtores da noção de ecodesenvolvimento, é especialmente grave quanto a seu resultado social. O mimetismo tecnológico e dos padrões de consumo, ou seja, a transposição de processos produtivos e do modo de vida vigentes no capitalismo avançado, dirigem o grosso dos investimentos para atender a uma demanda mais sofisticada, restando desconsideradas as necessidades de grande parte da população - a massa de trabalhadores de menor qualificação técnica, participante ou alijada do mercado de consumo.

Tendo em conta esses pontos críticos fundamentais, construiu-se um novo padrão de desenvolvimento, inicialmente denominado ecodesenvolvimento, mais tarde, com algumas diferenças, sendo substituído, no movimento ambientalista, pelo de desenvolvimento sustentável. Apresentam-se, a seguir, o primeiro conceito, depois o segundo e, finalmente, as principais diferenças e a confluência de características entre ambos.

1.4.2. Ecodesenvolvimento: conceito e princípios de sustentabilidade

O termo ecodesenvolvimento foi introduzido por Maurice Strong, secretário-geral da Conferência de Estocolmo-72, e largamente difundido por Ignacy Sachs, a partir de 1974 (Raynaut e Zanoni,1993; Godard, 1991). Ele significa o desenvolvimento de um país ou região baseado em suas próprias potencialidades, portanto endógeno, sem criar dependência

externa, tendo por finalidade “responder à problemática da harmonização dos objetivos sociais e econômicos do desenvolvimento com uma gestão ecologicamente prudente dos recursos e do meio.” (Sachs, apud Raynaut e Zanoni, 1993:7)

A definição, como vemos, deixa patente a preocupação com os aspectos sociais e ambientais, no mesmo grau dos econômicos. E possui, inerentemente a ela, uma posição ética fundamental, a saber, o desenvolvimento voltado para as necessidades sociais mais prementes que dizem respeito à melhoria da qualidade de vida de toda a população (comprometimento sincrônico), com o cuidado de preservar o meio ambiente e as possibilidades de reprodução da vida com qualidade para as gerações que sucederão (comprometimento diacrônico). Citando Sachs (1981: 14): “trata-se de gerir a natureza de forma a assegurar aos homens de nossa geração e das gerações futuras a possibilidade de se desenvolver.” O ecodesenvolvimento pressupõe, então, uma solidariedade sincrônica com os povos atuais, na medida em que desloca o enfoque da lógica da produção para a ótica das necessidades fundamentais da população; e uma solidariedade diacrônica, expressa na economia de recursos naturais e na perspectiva ecológica para garantir possibilidade de qualidade de vida às próximas gerações. É a definição de um novo Princípio de Responsabilidade inerente ao ambientalismo, conforme referido por Hans Jonas, já mencionado.

Segundo Sachs, evocando um novo estilo de vida, com valores próprios, um conjunto de objetivos definidos socialmente e visão de futuro, o ecodesenvolvimento caracteriza-se como um projeto de civilização (Sachs, 1981). Um projeto civilizatório tem no componente cultural, segundo o autor mencionado, uma dimensão essencial. Implica, no que tange à problemática aqui posta, em considerar do ponto de vista metodológico a estreita imbricação do sócio-econômico com o ecológico. Quanto à operacionalização, trata-se de planificar e organizar-se tendo em conta tomada de decisões orientadas pelo futuro e, mais ainda, um esforço de pedagogia social em relação aos novos papéis sociais. (Este ponto será amplamente retomado peios economistas ecológicos, como se verá neste trabalho).

A partir dessa configuração geral, Sachs elabora o que denomina “cinco dimensões de sustentabilidade do ecodesenvolvimento”: sustentabilidade social; econômica; ecológica;

espacial; e sustentabilidade cultural. Cada uma pode ser sintetizada como segue.

a) Sustentabilidade Social: O processo deve se dar de maneira que reduza substancialmente as diferenças sociais. E considerar o “desenvolvimento em sua multidimensionalidade, abrangendo todo o espectro de necessidades materiais e não- materiais” (Sachs, 1993: 25).

b) Sustentabilidade Econômica: define-se por uma “alocação e gestão mais eficientes dos recursos e por um fluxo regular do investimento público e privado” (Id., ib.: 26). A eficiência econômica deve ser medida sobretudo em termos de critérios macrossociais. E pressupõe evitar-se a denominada “economia de Gandhi”, na qual o resultado de uma jornada de trabalho não seria suficiente para garantir qualidade minima de vida diária ao trabalhador.

c) Sustentabilidade Ecológica: compreende o uso dos potenciais inerentes aos variados ecossistemas compatível com sua mínima deterioração. Deve permitir que a natureza encontre novos equilíbrios, através de processos de utilização que obedeçam a seu ciclo temporal. Implica, também, em preservar as fontes de recursos energéticos e naturais.

d) Sustentabilidade Espacial/Geográfica: pressupõe evitar a excessiva concentração geográfica de populações, de atividades e do poder. Busca uma relação mais equilibrada cidade-campo.

e) Sustentabilidade Cultural: significa traduzir o “conceito normativo de ecodesenvolvimento em uma pluralidade de soluções particulares, que respeitem as especificidades de cada ecossistema, de cada cultura e de cada local” (Sachs, 1993: 27).

1.4.3. Ecodesenvolvimento e Desenvolvimento Sustentável

A partir da década de 1980 difunde-se o termo desenvolvimento sustentm’el. E um termo de influência anglo-saxônica (sustainable development), utilizado primeiramente pela União Internacional pela Conservação da Natureza (correspondente em inglês a IUCN). A tradução oficial francesa para o conceito é développement durable, eqüivalendo em português a desenvolvimento durável e bastante próximo ao de sustentável (Raynaut e

Zanoni, 1993). Na Conferência Mundial sobre a Conservação e o Desenvolvimento, da IUCN (Ottawa, Canadá, 1986), o conceito Desenvolvimento Sustentável e Equitativo foi colocado como um novo paradigma, tendo como princípios:

- integrar conservação da natureza e desenvolvimento;

- satisfazer as necessidades humanas fundamentais;

- perseguir equidade e justiça social;

- buscar a autodeterminação social e respeitar a diversidade cultural; e,

- manter a integridade ecológica.

A identidade entre estes princípios e os requisitos de sustentabilidade apresentados por I. Sachs, permite-nos elaborar um quadro (Quadro 1), baseado principalmente nas proposições deste autor, que sintetiza os principais componentes (objetivos; estratégias) do ecodesenvOlvimento - o qual distingue-se do desenvolvimento sustentável principalmente pelo seu caráter de auto-sustentável.

O Relatório Brundtland, de 1987, da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, retoma o conceito de desenvolvimento sustentável, dando-lhe a seguinte definição (p. 9): /desenvolvimento que responde às necessidades do presente sem comprometer as possibilidades das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades.” Examinando os detalhes desta definição, observa-se o seguinte: é desenvolvimento, porque não se reduz a um simples crescimento quantitativo; pelo contrário, faz intervir a qualidade das relações humanas com o ambiente natural, e a necessidade de conciliar a evolução dos valores sócio-culturais com a rejeição de todo processo que leva à deculturação. É sustentável, porque deve responder à equidade intrageracional e à intergeracional.

Quadro 1: As Cinco Dimensões do Desenvolvimento Sustentável

DIMENSÃO COMPONENTES PRINCIPAIS OBJETIVOS

SU STENTABILID ADE

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