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As principais críticas apresentadas por Ambuj Sagar e Adil Najam (1998) dizem respeito ao uso da média aritmética dos diversos indices parciais para chegar ao índice geral o que implica na possibilidade de

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4 ECONOMIA ECOLÓGICA: OS FLUXOS FÍSICOS DE ENERGIA E MATERIAIS E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL.

21 As principais críticas apresentadas por Ambuj Sagar e Adil Najam (1998) dizem respeito ao uso da média aritmética dos diversos indices parciais para chegar ao índice geral o que implica na possibilidade de

compensação entre as variáveis, uma forte compensando uma fraca ao ajustamento que as Nações Unidas fazem da Renda per capita pelo poder de compra interno a cada país - o que esconde as desigualdades entre países ricos e países pobres; e, quanto à ausência da dimensão ambiental.

longa e saudável; b) adquirir conhecimentos; e, c) ter acesso aos recursos para possibilitar um padrão de vida decente. Esta é a forma mais usual e divulgada do índice. E na maioria dos casos é ela apresentada como se fosse o próprio IDH (ver Sagar e Najam, 1998; Folha de São Paulo, 9.9.98: 1-7/1-14). De nossa parte preferimos manter a denominação IDS quando as considerações estão limitadas às três dimensões básicas, como o faz também Rodrigues, conforme abaixo.

A medida do IDS de um país (ou estado ou município) é feita pela seleção de indicadores para representar e captar a essência de cada dimensão. O indicador de saúde (item a acima), normalmente utilizado, considera a esperança de vida ao nascer e a taxa de mortalidade infantil; o de conhecimento (b), as taxas de alfabetização e de escolaridade; e o de renda (c) a renda per capita. Maria Cecília Prates Rodrigues, em dois artigos publicados na Revista Conjuntura Econômica, mostrou resultados da aplicação do método, com algumas adaptações em relação ao original, avaliando um conjunto de países para classificar o caso brasileiro (Rodrigues, 1991; 1993). De nossa parte, utilizamos o mesmo método de avaliação em dissertação sobre o tema do desenvolvimento catarinense (Montibeller Filho, 1994).

Os estudos acima mencionados não levavam em conta, todavia, no cálculo do índice de desenvolvimento, as questões ambientais - assim como até hoje as Nações Unidas não as incluem em seus cálculos (conforme seu recentemente divulgado Relatório sobre o Desenvolvimento Humano, 1998/99). O intuito no presente trabalho é o dc adaptar o método para que passe a abranger essas questões, de modo que permita a análise sob o ponto de vista de sua capacidade ou não de revelar acerca da sustentabilidade do desenvolvimento, nosso objetivo central.

Parte-se de considerações acerca do índice de Desenvolvimento Social (IDS) para, ao final, chegar ao índice de Desenvolvimento Social e Ambiental (IDSA). O processo de construção dos índices de desenvolvimento baseia-se na obtenção de médias de índices parciais de cada indicador. Este índice revela a posição relativa do caso observado entre o pior e o melhor situado no universo de casos pesquisados quanto ao indicador selecionado. Seu resultado pode variar no intervalo entre zero e um, sendo melhor a condição social

quanto maior for o valor do índice obtido. Por exemplo, seja o caso de um país no qual um dos indicadores das condições de saúde, como a esperança de vida ao nascer, é de 65 anos. Se de todos os países considerados em uma amostra selecionada, a melhor situação - isto é, daquele detentor do valor mais elevado para este indicador - for, por hipótese, de 75 anos, e a pior - aquele que possui a menor esperança de vida - de 50 anos, então teremos:

índice de Esperança de Vida = 65 - 5 0 / 7 5 - 5 0

Então, índice EV - 0,6

O mesmo raciocínio é feito para o cálculo de um outro indicador das condições de saúde, como Mortalidade Infantil. Suponha-se: 90 mortes antes de atingir um ano em cada mil nascidos vidos, no caso avaliado; 120 no país que apresénta a pior situação dos que compõem a amostra; e 10, no que possui a melhor condição quanto a este indicador. Ter- se-ía, portanto,

índice de Mortalidade Infantil = 9 0 - 120/ 10- 120

Logo, índice MI = 0,27

O índice de saúde, composto pelos dois indicadores acima, a saber esperança de vida e mortalidade infantil, é obtido pela média ponderada de ambos. Por exemplo, atribuindo-se peso 2/3 ao índice esperança de vida e 1/3 para o índice mortalidade infantil (isto é, admitindo que o primeiro seja mais expressivo para demonstrar a condição da saúde da população), se chegaria à seguinte média.

índice de saúde = 0,6 x 2/3 + 0,27 x 1/3

índice S = 0,49

Os demais índices dos indicadores selecionados (tais como índice de educação; índice de renda, e outros), são calculados da mesma maneira, tendo como regra geral a seguinte fórmula:

■ índice do Indicador = v i País - v i pior / v i melhor - vi pior

onde: v i, valor do indicador;

v i País, refere-se ao país que está sendo avaliado;

v i pior, significa o pior valor dentre os países da amostra; e, v i melhor, o valor do indicador no país em melhor situação.

O índice de Desenvolvimento Social, finalmente, é a média dos índices calculados. O EDS situa-se igualmente entre zero e um, sendo que valores mais elevados expressam melhor situação sociai e, vice-versa, resultados mais baixos do índice significam condição social mais deteriorada.

Passa-se agora ao que denominamos IDSA, ou índice de Desenvolvimento Social e Ambiental. É uma tentativa nossa de extrapolar as considerações sócio-econômicas expressas pelos índices até o momento trabalhados, agregando-lhes as questões ambientais.22 O índice de Desenvolvimento Social e Ambiental, IDSA, será, então, construído como extensão do IDS, e segue o mesmo procedimento de cálculos acima sintetizado.

Tome-se um ou mais indicadores das condições ambientais de uma determinada sociedade. Deve-se registrar a respeito que até o momento a disponibilidade de dados estatísticos nesta área não é abundante, principalmente ao nível de país2' ; quando se trata de uma cidade ou região, algumas singularidades em relação ao impacto das atividades humanas sobre o meio ambiente podem ser mais facilmente obtidas ou levantadas. Para ilustrar o cálculo do índice ambiental, serão utilizados indicadores expressivos, sendo um

“ Neste campo, há também a contribuição bastante conhecida de H. Daly e seus colaboradores (Daiy e Cobb. 1990). Merico (1996) apresenta com certo detalhamento os estudos de Daly, principalmente a montagem de um indicador de bem-estar econômico que inclui elementos ambientais. O PNB é ajustado, nesta versão, subtraindo do seu valor os montantes monetários relativos a desgaste ambientais - tais como despesas com doenças derivadas de contaminação do meio. gastos para despoluir água e ar, perdas de solo, consumo de recursos naturais não renováveis - e adicionando dispêndios com o consumo de bens duráveis, e outros gastos sociais. As proposições de Daly tomam sempre como referência, contudo, mesmo quando, os valores são imputados, preços de mercado.

23 O último relatório das Nações Unidas sobre a situação mundial “WorldDevelopment Report 1998/99” inclui dados sobre a emissão de dióxido de carbono, além de detalhar informações sobre o consumo de água tratada e sobre florestas.

deles a disponibilidade e consumo doméstico de água canalizada (tratada). Este tipo de consumo é um indicador ambiental, pois a água pura é o detergente universal, servindo tanto para as funções de limpeza externa como interna, além de seu papel vital ao organismo dos seres vivos. Outros indicadores importantes das condições ambientais são a preservação de área florestal e a taxa de emissão de dióxido de carbono. A obtenção dos dados estatísticos referentes aos indicadores mencionados é relativamente fácil, seja a nível local via prefeitura municipal ou através dos relatórios sobre o desenvolvimento, do Banco Mundial, o qual abrange uma gama de mais de cento e vinte países.

Para o caso brasileiro, tomado como ilustração da aplicação do IDSA, será considerada uma amostra selecionada de 46 países, a mesma utilizada por Rodrigues em seu estudo sobre o EDS aplicado ao País (Rodrigues, 1993: 46). Nosso propósito, já referido, é ampliar o referido estudo, agregando a ele os componentes ambientais. Não se pretende a precisão; apenas mostrar como é composto o índice para então analisá-lo sob a ótica da sua expressão em termos de poder refletir, ou não, a sustentabilidade do desenvolvimento.

Um dado ambiental a considerar - disponível para os mesmos anos dos demais indicadores aqui utilizados - é, então, o consumo per capita anual doméstico de água canalizada, o qual assim se apresenta,conforme dados do Banco Mundial (1992), em m3 : Brasil, 91; país com menor consumo ou pior situação (Botsuana), 5; e país com o melhor posição ou maior consumo (Estados Unidos 24), 259.

O índice de consumo de água, para o caso brasileiro é, então:

índice consumo d’água = 91 - 5 / 259 - 5

índice CA = 0,34

Um outro indicador ambiental a ser considerado é o relativo a áreas florestais protegidas em escala nacional como percentagem da área total. Temos os seguintes dados: Brasil, 2,5; país em melhor situação (Hong Kong), 36,4; e país em pior situação (Bangladesh), 0,7.

24 Este último, pelo relatório do Banco Mundial, seria a Austrália, com 849 m3; visto porém este valor destoar exageradamente de um comportamento normal, assume-se o segundo colocado como a referência mundial.

índice áreas protegidas = 2,5 - 0,7 / 36,4 - 0,7

índice AP = 0,05

O índice ambiental, composto pelo índice de consumo d’água, ao qual atribuiremos peso 2/3, e de áreas florestais protegidas, com peso 1/3, será, portanto:

índice ambiental = 0,34 x 2/3 + 0,05 x 1/3 = 0,25

Este índice ambiental será, agora, agregado aos componentes do IDS, que são o índice de saúde, o de educação e o índice de renda, calculados por Rodrigues, conforme mencionado acima.

São os seguintes os valores tendo como referência o ano 1990, para o caso brasileiro:

índice de saúde = 0,543 índice de educação = 0,574 índice de renda = 0,036 índice ambiental = 0,250

O IDS A, índice de Desenvolvimento Social e Ambiental, será, então, a média dos índices considerados; portanto,

IDS A em 1990, Brasil = 0,35

Podendo assumir posições no intervalo entre zero (0) e um (1), quanto maior o valor registrado melhor - em termos relativos aos referenciais externos - a situação sócio- econômica e ambiental do caso estudado. O índice brasileiro de 0,35 indica uma posição relativa bastante baixa em termos de desenvolvimento social, econômico e ambiental.25

O caso estudado pode ser comparado com o IDSA atingido por outros integrantes da

25 Os valores por nós obtidos são muito destoantes dos calculados pelas Nações Unidas: isto deve-se a que esta

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