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O papel dos movimentos sociais como pressionador ecológico à economia de mercado.

No documento 123456789/81183 (páginas 142-146)

4 ECONOMIA ECOLÓGICA: OS FLUXOS FÍSICOS DE ENERGIA E MATERIAIS E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL.

26 Em países onde tenha ocorrido revolução social em que as transformações das estruturas são, geralmente, intensas e repentinas e em regiões ou municípios que passaram por profimda, veloz e evidente mudança em sua

5.4. Indicadores de sustentabilidade da Economia Ecológica

5.4.2. O papel dos movimentos sociais como pressionador ecológico à economia de mercado.

economistas ecológicos, que será examinado a seguir.

5.4.2. O papel dos movimentos sociais como pressionador ecológico à economia de mercado.

Para o autor considerado, faz sentido a pressão dos movimentos ambientalistas para que o mercado passe a absorver, ainda que parcialmente, custos ambientais. Sua proposição decorre da observação de que os aspectos relativos à natureza não estão presentes nos preços do mercado, e, portanto, somente a pressão “desde fora” da economia fará com que esta passe a computar aspectos ecológicos. Com efeito, afirma “...os movimentos radicais (explicitamente ecologistas ou não) são os que contribuem à internalização de algumas extemalidades, (...)” (Martínez Alier, 1994: 329).

O destaque “explicitamente ecologistas ou não” na afirmação acima - referindo-se a movimentos declaradamente ambientalistas e movimentos sociais que, embora não o explicitem, contém o caráter ecologista - deve ser examinado com maior detalhamento, pelo seu grau de importância em termos de ecologia política. De fato, os diversos movimentos

ambiental e da legislação ambiental (tratada, em síntese, no Capítulo III, item 3.3). Outras formas são as lutas em tomo de problemas ambientais específicos.

Uma ilustração quanto a movimentos ou associações ambientalistas especificamente mobilizadas é fornecido por Franck Boutaric. Este cientista político examina o caso da mobilização de uma associação parisiense contra a poluição causada pelos automóveis. Para Boutaric, o movimento associativo contribui para a construção de um fenômeno social, como o de seu objeto de estudo: a associação Le jour de la terre, por sua manifestação pública de 22 de abril de 1996, originou a criação do coletivo Appel d ’air, organizador, em Paris, de manifestações de rua de ciclistas e pedestres, visando sensibilizar os responsáveis pelas políticas de meio ambiente urbano contra a poluição atmosférica na cidade (Boutaric, 1998).

Outras manifestações de cunho ecológico especificamente definidas se dão por grupos sociais ou associações constituídas com diferente finalidade, mas que indiretamente agem sobre a questão ambiental. E há, ainda, a defesa do meio ambiente pela ação de grupos comunitários que não se definem como ecológicos (e possivelmente nem tenham a consciência de que o sejam) : trata-se do ecologismo dos pobres. A seguir são abordadas algumas destas maneiras diversas do movimento ambientalista se manifestar.

Um caso típico da primeira forma mencionada acima é o do movimento feminista. lise Scherer-Warren, ao analisar o papel das Organizações Não-Govemamentais (ONG’s) na América Latina na construção da sociedade civil, aponta o exemplo relevante da formação de redes temáticas sobre a questão da mulher intercruzando questões “como, por exemplo, mulher-saúde-população-meio ambiente-desenvolvimento'’ (Scherer-Warren, 1994: 11). Outro exemplo de cruzamento do movimento feminista com as questões ambientais é dado por Irmgard Schultz, ao analisar a questão do lixo domiciliar na Alemanha (o qual será apresentado como estudo de caso no item 7.1, Capítulo VII). Aponta que, por condicionamentos sociais, à mulher cabe o cuidado com a saúde do lar e, portanto, a seleção caseira de lixo nos programas de reciclagem de materiais. Como para uma ala importante do movimento feminista daquele país esta se configura mais uma forma de

(Schultz, 1993).

Ainda outro movimento social que não se explicita como ecológico, mas cuja ação resulta em importante preservação do meio ambiente é o denominado, pelos estudiosos, de ecologismo popular. Martinez Alier analisa o ecologismo contido nas lutas populares, ou luta dos pobres para garantir-se dos meios de sobrevivência. Cita, como exemplo, o caso de Maharashtra, índia, onde as mulheres lideram a luta social contra o aumento .do uso de água potável pela plantação em escala industrial da cana-de-açúcar, o que esgota os poços da comunidade, fazendo com que elas e seus filhos tenham que caminhar cada vez mais longe em busca do indispensável líquido (Martinez Alier, 1994: 218).

Num sentido geral, “quando os recursos naturais se degradam, e além disso são privatizados, é de se esperar que as mulheres se sintam duplamente prejudicadas e por isso são as impulsionadoras, organizadoras e inclusive porta-vozes (se as deixam) de protestos ecologistas pequenos ou grandes ” (Id., ib.: 262). Na maioria das vezes às mulheres toca, na divisão social do trabalho, prover o necessário para a vida e saúde do lar, do que dependem em grau elevado de recursos comunais, como água, lenha, pastos. À medida em que se mercantiliza e moderniza a economia tais recursos são tomados escassos, eis que transformados em mercadorias, além do que o saber popular no trato da agricultura e na medicina caseira são desvalorizados, do que resultam, as bases sociais e materiais para compreender este eco-feminismo, “ainda que as próprias mulheres que participam de tais movimentos ou ações de resistência não se denominam a si mesmas nem ecologistas nem feministas.” (Id., ib.: 262)

O ecologismo popular, desta maneira, e não só relativamente ao movimento feminista com ingredientes ambientalistas como, em geral, também com o ecologismo político camponês e a luta dos povos indígenas - no Brasil, no México e outros países - pela conservação das florestas, é um movimento contra a economia de mercado. O ecologismo dos pobres surge das lutas destes em forma de movimentos sociais, com o objetivo de garantir as necessidades ecológicas para a vida. Tais necessidades básicas se traduzem em

naturais, pois a luta pela sua sobrevivência os leva a defender o livre acesso a estes recursos. Acrescente-se que as diferentes configurações do ambientalismo, conforme acima, indicam que as análises dos novos movimentos sociais não podem prescindir de considerar a estratificação por classes e frações de classe sociais, conforme apontam Villasante (1989; 1994) eTherbom (1992).

Mas a economia ecológica popular, aqui tratada, é, por assim dizer, um segmento da economia ecológica. E a economia ecológica abrange uma amplitude que inclui o sistema de mercado. Com efeito, por definição, segundo Martinez Alier (1994: 226), é ecológica a economia que: a) usa recursos renováveis de forma sustentada, isto é, que não excede a capacidade de renovação; b) utiliza recursos esgotáveis a um ritmo não superior à sua substituição por recursos renováveis; c) conserva a diversidade biológica, silvestre e agrícola; e, d) somente gera resíduos na quantidade que o ecossistema pode assimilar ou reciclar.

Não nos parece, todavia, que na ótica dos economistas ecológicos as condições acima só possam ser conseguidas fora do mercado. Têm estes, pelo que se deduz, uma visão ambivalente, quando consideram que a economia ecológica ou ecologicamente sustentável pode se dar, a) fora do mercado, através do ecologismo popular; ao mesmo tempo que, b) no mercado ecologizado, embora imperfeitamente, pelos preços ecologicamente “corrigidos”. Tal entendimento quanto à posição de ecoeconomistas em relação ao mercado encontra apoio no próprio autor citado, quando este se refere a suas próprias conclusões e de outros importantes economistas de igual matiz, tais como J.M. Naredo e John O ’Neill, ao proporem que a ciência econômica não seja apenas o estudo da formação dos preços, mas também o estudo do aprovisionamento material e energético das comunidades humanas (Id., ib.: 223).

A proposição de ações políticas dos movimentos sociais no sentido de pressionar o mercado para que o mesmo absorva parte dos custos sociais, de um lado, e de apoiar atividades de produção humanas fora do mercado, de outro, que derivam das análises econômico-ecológicas, configuram, quer-nos parecer, a crença de que as sustentabilidades do ecodesenvolvimento podem ser alcançadas no próprio quadro de um capitalismo algo

modificado (absorvendo extemalidades; convivendo sem destruir, pelo contrário, estimulando economias extra-mercados). É necessário analisar de perto o significado e a “sustentabilidade” da proposição dos economistas ecológicos, como segue.

No documento 123456789/81183 (páginas 142-146)

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