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má compreensão do tempo de opressão do “chifre” Já na seção final de seu segundo tópico, Reis traz à tona mais um

“Daniel 8 só pode ser entendido à luz de Daniel 2 e Daniel 7”

Erro 17: má compreensão do tempo de opressão do “chifre” Já na seção final de seu segundo tópico, Reis traz à tona mais um

fato, fato este conhecido, estudado e compreendido pelos intérpretes adventistas tradicionais desde os primórdios do próprio adventismo. Há momentos em seu artigo em que ele parece estar trazendo coisas novas, nunca antes ouvidas pelo posicionamento adventista tradicional de tal modo que se seus intérpretes descobrissem estas novidades “atualizariam” seu modo de entender Daniel 8. Como uma recomendação, Reis precisa argumentar de tal maneira que suas alegações reconheçam que para os intérpretes adventistas todas estas constatações históricas já são aceitas por eles. E, para estes, todas elas se encaixam perfeitamente em sua interpretação de Daniel 8 de modo a não lhes causar constrangimento algum.

Agora, é claro, quiçá Reis pense que durante mais de um século todos eles já soubessem destas constatações históricas, mas ainda não tinham despertado para seu suposto equívoco. Se este for o seu pensamento, ele terá que se autorreconhecer como um divisor de águas no adventismo por ser aquele que estaria mostrando fatos históricos

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conhecidos pelo adventismo, e essencialmente contrários à própria compreensão do movimento em relação a sua interpretação de Daniel 8, mas que até então nunca foram notados como erro. Será que Reis é este divisor de águas ou se autorreconhece com tal?

O outro fato apresentado por Reis e que já é de conhecimento da posição tradicional há décadas, o que também torna sua proposta de “atualização” em algo anacrônico, é o seguinte:

Ainda mais problemático para a hipótese de um “chifre pequeno” romano é o fato de que, quando o domínio romano finalmente alcançou Jerusalém em 63 a.C., os romanos não profanaram o santuário judeu, mas permitiram que os judeus continuassem com suas práticas religiosas. Na verdade, Herodes, um vassalo romano, liderou os judeus em uma vasta expansão do Segundo Templo que se tornou conhecido como o Templo Herodiano, de modo que a experiência dos judeus sob Roma parece ter sido exatamente o oposto da profecia de Daniel 8.

Ou seja, para Reis, Roma não se encaixa nos requisitos exigidos de “chifre pequeno” porque ao chegar em Jerusalém, em 63 a.C, seu líderes não foram opressores dos judeus mas politicamente favoráveis a eles. Logo, este império não se ajusta nas exigências de “chifre pequeno” em Daniel 8, ele pensa. O problema desta alegação é que ela pressupõe que Roma só poderia ser identificada como o “chifre pequeno” se perseguisse o povo judeu assim que chegasse em Jerusalém no 63 a.C., em seu contato imediato com eles, provocando danos a eles e ao seu santuário. Para Reis,

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os romanos deveriam perseguir e logo em seguida atacar o santuário por volta deste tempo para que pudessem ter a “honraria” de serem identificados hoje como o “chifre pequeno” de Daniel 8.

Esta argumentação de Reis abre uma janela acerca do quando em Daniel 8 o “chifre pequeno” deveria ser um opressor ao povo judeu, se no início de seu contato com este povo, ou se num momento posterior. E, neste ponto, Reis tem um enorme desafio, determinar com base apenas no capítulo 8, e somente no capítulo 8, para ser coerente com o que ele próprio propõe, quais elementos de tempo indicam o quando este “chifre pequeno” perseguiria os judeus, se assim que entrassem em contato com eles, ou se num momento posterior a este contato admitindo que ele seja o rei selêucida Antíoco IV Epifânio. O texto bíblico dá indicações importantes acerca desta questão temporal. Reis apenas nãos as percebeu em sua “leitura próxima” do texto no original hebraico.

É fato que há indicações ou marcações de tempo em relação ao “chifre pequeno” no capítulo 8, as “2300 tardes e manhas” (v. 14), um tempo marcado e contábil (com início e fim) e o tempo relacionado ao término do domínio dos “quatro chifres” de origem grega (bode) sucessores de Alexandre, mas que não são apresentados em números e, portanto, não são explicados contabilmente neste capítulo: “na parte final do reinado deles, quando chegar o limite dos transgressores” (v. 23).5 Uma

vez que Gabriel não explica as “2300 tardes e manhãs” para Daniel, mas

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no verso 23 marca a chegada do “chifre pequeno” no período final do domínio dos quatro reis gregos, disto se deduz que se tratam de dois tempos distintos. É como se Gabriel quisesse explicar apenas o que de toda aquela visão profética tinha relação com Daniel e seu povo, os judeus. No capítulo 8, ao falar com o profeta, o anjo simplesmente evitou dar explicações das “2300 tardes e manhãs” em sua interpretação daqueles eventos da visão (v. 26).

Estabelecendo o foco nas ideias relacionadas ao tempo somente, na marcação não numérica dada por Gabriel no verso 23, momento em que ele interpretou a visão do “chifre pequeno” para o profeta, podem-se perceber algumas coisas. Primeira, no texto, o “chifre pequeno” só surgiria na parte final do período dos quatro reinos sucessores de Alexandre, os “quatro chifres” do verso 8. O “chifre pequeno” surgiria “no fim do reinado deles” (v. 23). E isto é até mais um motivo pelo qual a procedência do “chifre pequeno” deve ser dos “quatro ventos” no verso 8 posto que, na informação dada por Gabriel (v. 23), esta aparição, no texto, ocorre praticamente no término da atuação dos “quatros chifres”, dos quatros sucessores de Alexandre (o bode). Logo, é de se esperar que este chifre proceda daquilo que ainda está em cena, os “quatro ventos”, os pontos cardeais, e não dos “quatro chifres”, no texto, praticamente desaparecidos com o fim de seus reinados.

Segunda, a fala seguinte – “quando chegar o limite dos transgressores” – é um tanto quanto mais específica e lança luz sobre a aparição deste “chifre pequeno” em relação aos judeus. Pelo emprego da

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palavra “limite”, que no original hebraico tem a ideia de “completude”, de “término”, percebe-se que a ação deste chifre contra o povo ocorreria no momento em que chegasse o limite dos transgressores, quando eles atingissem um clímax, seu último estágio, o estágio final, o estágio de “completude” ou de “término”, e não num momento inicial, período em que estes transgressores não tivessem ainda chegado ao seu máximo.6

Noutras palavras, o verso 23 com todas as letras nos informa o momento em que o “chifre pequeno” surgiria, na parte final do período dos quatro reinos ainda com contornos gregos e especificamente num momento de limite dos transgressores.

A questão maior, porém, é determinar o momento exato de perseguição do chifre contra este povo já que o verso 23 determina apenas seu surgimento. Isto fica mais explícito no verso seguinte, o verso 24. Este verso começa descrevendo a força do “chifre pequeno”, mas destacando que ela não lhe é inerente. Em seguida, há algo que chama atenção, este chifre “fará maravilhas”, o sentido da palavra original (um particípio na voz passiva). Ou seja, antes de provocar destruições, este chifre provocaria assombros. Isto se encaixa no período de chegada dos romanos à Judeia quando eles foram solícitos para com os judeus a ponto trabalharem indiretamente na ampliação de seu templo. Somente após isto é que o texto então diz: “ele causará destruição e virá ser próspero no que vier a fazer”.

6 A tradução da NVI segue a mesma linha de raciocínio – “No final do reinado deles, quando

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Noutras palavras, antes da perseguição e destruição, o texto bíblico previu uma ação de assombro para com os romanos. Historicamente, os romanos levaram o progresso para seus conquistados. Isto não foi diferente para com os judeus. Somente após esta fase inicial de “diplomacia” é que então haveria a “destruição”. O texto bíblico ainda continua: “e virá a destruir muitos e também o povo santo”. Ou seja, a perseguição e a destruição previstas a serem executadas pelo “chifre pequeno” para com os estes semitas não aconteceria sem antes haver um momento de “maravilhas”, de espanto e assombro. Ao se olhar para história, Roma se encaixa como uma luva nesta especificação profética. Assim, portanto, a constatação histórica de Reis em nada afeta a compreensão tradicional. Ao contrário, só é mais um item para a lista de razões que levam este império a ser identificado como o “chifre pequeno” deste capítulo.