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2. A EXECUÇÃO DA SENTENÇA CIVIL

2.2 CONCEITO E EFICÁCIA DA SENTENÇA

Para que a execução da sentença pudesse ser realizada no mesmo processo foi necessário alterar o conceito de sentença contido no CPC. Este diploma processual dispunha, na redação original do §1º do artigo 162, que: “sentença é o ato pelo qual o juiz põe termo ao processo, decidindo ou não o mérito da causa”.90

Nesse critério topológico, a sentença era o provimento que punha fim ao processo, com ou sem julgamento de mérito, ou seja, a localização do ato jurisdicional ao final do procedimento era o ponto decisivo para a sua classificação como sentença (SILVA, 2011, p. 193).

Porém, como explica Gilberto Gomes Bruschi (2010, p. 25), a ideia de se definir a sentença levando em conta um de seus efeitos, ou seja, como o ato que encerra o processo, diferenciando-a dos demais pronunciamentos do juiz, era imprecisa, pois, na verdade, tem ela o condão de encerrar somente o procedimento em primeiro grau de jurisdição, ensejando a interposição de recurso.

Para que houvesse a transformação do processo de execução de título judicial em uma fase, a sentença não poderia pôr fim ao processo, já que este não termina necessariamente neste momento. Nos casos em que há execução, a sentença dá início à fase de cumprimento da sentença, sem encerrar o processo.

executiva desse processo. Permaneceram em vigor muitas disposições do Livro II do Código, sob a rubrica ‘Do processo de execução’, aplicáveis não só à mencionada fase, senão também à execução de títulos extrajudiciais.”.

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E, atualmente, nos termos do artigo 162, §1º: “Sentença é o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos artigos 267 e 269 desta Lei.”.

Em razão disso, Pedro Miranda de Oliveira (2009a, p. 27) explica que, após a terceira reforma, o legislador adotou critério misto para a conceituação da sentença levando em consideração o conteúdo do ato judicial e sua finalidade.

Esse é o critério há muito defendido por Teresa Arruda Alvim Wambier (2007, p. 66), para quem a sentença deveria ser reconhecida pelo conteúdo que possui, ou seja, uma das hipóteses previstas nos artigos 267 e 269 do CPC, e não pelo efeito de extinguir o processo.

Nesse sentido, José Miguel Garcia Medina e Teresa Arruda Alvim Wambier (2009, p. 241-243, grifos dos autores) ensinam:

A sentença como se tem dito ao longo dos itens precedentes, define-se a partir de seu conteúdo (art. 162, §1º, do CPC). É sentença, portanto, o pronunciamento que resolver a lide (art. 269 do CPC) ou declarar que isso não é possível (art. 267 do CPC). Em boa parte dos casos, coincide de o juiz proferir a sentença ao final da ação de conhecimento ou ao final da fase de conhecimento de ação em que a sentença é executiva. Há pronunciamentos judiciais que, embora proferidos no curso do processo, têm por conteúdo um dos incisos dos arts. 267 e 269 do CPC. É o que ocorre, por exemplo, quando o juiz afasta um dos autores do processo, em razão da prescrição de seu direito, ou indefere a petição inicial em relação a um dos réus, em virtude da ilegitimidade passiva ad causam deste. Semelhantemente, é o que ocorre quando o magistrado julga uma das ações cumuladas, determinando o prosseguimento da demanda quanto à outra (cf. art. 273, §6º, do CPC). [...] Em casos como os ora analisados, se estará diante de uma sentença que, excepcionalmente, poderá ser objeto de agravo. A fragmentação da causa, com a admissibilidade de apelação contra cada uma das sentenças ‘parciais’ proferidas ao longo do processo antes da sentença ‘final’, com a consequente paralisação do procedimento, se admitida, contraria a resolução integral da lide, o que não é desejável, e contraria a finalidade do processo, que é a resolução integral da lide, o mais célere possível.

Desse modo, além da nova redação do §1º do artigo 162 do CPC, também foram alterados os artigos 267 e 269, nos quais se substituiu o termo “julgamento”, que denotava ideia terminativa, por “resolução”, entendida como decisão parcial da fase ordinária do feito. Também foi alterado, nesse sentido, o art. 463 do mesmo diploma legal91, eis que a publicação da sentença não mais esgota o ofício jurisdicional, mas apenas conclui uma fase processual, conforme se expôs na seção anterior.

Assim, proferida a sentença (e esgotada a fase recursal), encerrada está a fase de conhecimento, podendo o seu cumprimento ser cobrado dentro do mesmo processo, caso a obrigação não seja adimplida, mediante requerimento do credor, instruído com o demonstrativo do débito atualizado até a data da propositura da ação.

A alteração estrutural proposta pela Lei n. 11.232/2005 acerca do procedimento de execução de sentença, no que toca ao dever de pagar quantia em dinheiro, atualmente regulado pelos artigos 475-J e seguintes, encerrou o ciclo iniciado pela Lei n. 8.952/1994, com a alteração do artigo 461 do CPC, e pela Lei n. 10.444/2002, que acrescentou o artigo 461-A.

Diante dessas alterações, verificou-se que existem provimentos jurisdicionais com eficácias que não se encartam na clássica divisão trinária das sentenças.

A propósito, Cândido Rangel Dinamarco (2002, p. 242-243) defende a classificação trinária das sentenças em: declaratórias, constitutivas e condenatórias. E aduz: “A sentença mandamental é título para execução forçada, tanto quanto a condenação ordinária – e, portanto é também uma condenação.”. Já a executiva lato sensu é aquela “[...] sentença condenatória [que] comporta execução no mesmo processo em que foi proferida, sem necessidade de ser instaurado formalmente o processo executivo”. Assim, para o autor, as sentenças mandamentais e executivas lato sensu nada mais são do que subclassificações da sentença condenatória.

Humberto Theodoro Junior (2008b, p. 590), sobre as três categorias clássicas, traz a seguinte lição:

Tanto as que se dizem executivas como as mandamentais realizam a essência das

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Redação original do caput do art. 463: “Ao publicar a sentença de mérito, o juiz cumpre e acaba o ofício jurisdicional, só podendo alterá-la.”. Redação dada pela Lei n. 11.232/2005: “Publicada a sentença, o juiz só poderá alterá-la.”.

condenatórias, isto é, declaram a situação jurídica dos litigantes e ordenam uma prestação de uma parte em favor da outra. A forma de realizar processualmente essa prestação, isto é, de executá-la, é que diverge. A diferença reside, pois, na execução e respectivo procedimento. Sendo assim, não há razão para admitir uma natureza diferente a tais sentenças. O procedimento em que a sentença se profere é que foge dos padrões comuns. Esse, sim, deve ser arrolado entre os especiais, pelo fato de permitir que numa só relação processual se reúnam os atos do processo de conhecimento e os do processo de execução. O procedimento é que merece a classificação de executivo ‘lato sensu’ ou ‘mandamental’.

Além disso, Alexandre Freitas Câmara (2006, p. 448-449), também um adepto dessa corrente, afirma que a sentença definitiva (isto é, a sentença que contém a resolução do mérito, aquela que dá uma definição ao objeto do processo) se classifica em três espécies, segundo o seu conteúdo, sendo meramente declaratória, constitutiva e condenatória.

Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda (1970, p. 117-196) examinou a matéria no tomo I do “Tratado das Ações” e defendeu a classificação das ações segundo o quantum de eficácia, dividindo-as em declarativas, constitutivas, condenatórias, mandamentais ou executivas. A análise do autor se inicia com uma crítica às classificações tradicionais (binária e trinária), que levam em consideração apenas um tipo de eficácia, afastando, destarte, a possibilidade de convivência de várias modalidades em uma mesma ação.92

Ainda, em sua visão acerca da separação das ações em cinco classes, destaca que o critério é o da eficácia preponderante da sentença, o que importa em admitir a presença de todas as modalidades de eficácia

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Como afirma Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda (1970, 118): “As classificações de ações de que usaram os juristas europeus estão superadas. Assim a classificação binária como a classificação ternária (ação declaratória, ação constitutiva, ação condenatória) não resistem às críticas e concorreram para confusões enormes que ainda hoje estalam nos espíritos de alguns juristas, como também não viam que uma coisa é força da sentença (eficácia preponderante) e outra a eficácia imediata ou a mediata, sem se falar nas duas menores, com que se completa a constante da eficácia das ações e das sentenças.”.

em qualquer tipo de ação. E assevera: “Não há nenhuma ação, nenhuma sentença, que seja pura. Nenhuma é somente declarativa. Nenhuma é somente constitutiva. Nenhuma é somente condenatória. Nenhuma é somente mandamental. Nenhuma é somente executiva.” (PONTES DE MIRANDA, 1970, p. 124).

Ovídio Araújo Baptista da Silva (2008, p. 77), apoiado nas ideias de Pontes de Miranda, adotou a divisão das sentenças em declaratórias, constitutivas, condenatórias, executivas e mandamentais. Declaratórias, conforme a pretensão material do autor vitorioso seja dirigida a obter a simples declaração de existência ou inexistência de uma determinada relação jurídica; constitutivas quando tenha por fim sua constituição, modificação ou extinção; condenatórias, que colime a simples condenação do demandado a cumprir uma obrigação; ou, finalmente, executivas e mandamentais, quando tenha por objeto granjear, desde logo, a realização do direito litigioso no processo de conhecimento, mediante um ato de execução praticado pelo juízo, ou mediante simples mandado ou ordem que o magistrado emita, como porção do conteúdo do ato sentencial.

Ao analisar o artigo 461 do CPC, o supracitado autor notou que a possibilidade de antecipação liminar da tutela, que é a mesma tutela específica a ser fornecida na sentença final, autorizada pelo artigo, jamais seria possível se nele só existisse a previsão de sentença condenatória, porquanto não importa em tutela específica (neste caso só obtenível em posterior processo executivo) (BAPTISTA DA SILVA, 2008, p. 171).

Portanto, o que o juiz antecipa é a eficácia executiva ou mandamental, que se manifesta no mundo fenomenológico, atribuindo o bem da vida pretendido (SOUSA SEGUNDO, 2005, p. 274).

Esse entendimento vai ao encontro da teleologia subjacente ao dispositivo, pois, segundo Kazuo Watanabe (1996, p. 20), os artigos 273 e 461 tiveram em conta não só o tríduo classificatório tradicional das ações (condenatórias, declaratórias e constitutivas), mas também as ações de natureza executiva lato sensu e mandamentais, tudo no sentido de dar efetividade à previsão constitucional de acesso à justiça.

Para Lino Osvaldo Serra Sousa Segundo (2005, p. 275):

É, desse modo, inarredável a conclusão de que o art. 461 autoriza tanto a expedição de ordens judiciais como a execução de medidas sub- rogatórias no mesmo processo, pois, admitir que as ações do artigo 461 são simples ações

condenatórias significa manter inatacados (exceto por algumas diferenças técnicas) os mesmos problemas que vinham impedindo o fornecimento da tutela judicial específica, em especial, a reconhecidamente frágil condenação e a ineficácia da execução por créditos, para as obrigações de fazer e não fazer.

Eduardo Lamy, José Henrique Mouta Araújo e Marcus Vinícius Motter Borges (2012, p. 184-185), comungando desse entendimento, afirmam que os provimentos do artigo 461 do CPC possuem diferentes naturezas predominantes, que variam, conforme o caso, entre executivas lato sensu e mandamentais. Podem ser, portanto, ou executivas ou mandamentais.93

As ações nas quais for determinada a prática de medidas sub- rogatórias para assegurar o resultado prático equivalente no mesmo processo serão executivas lato sensu e ocorrerão, preferencialmente, na tutela de obrigações de fazer que envolvam prestações de fazer fungíveis. As obrigações de fazer infungíveis são por excelência o objeto da tutela das sentenças mandamentais, que, igualmente, submeter-se-ão às que tenham por objeto uma obrigação de não fazer continuada (SOUSA SEGUNDO, 2005, p. 280).

Assim, na intenção de melhor tutelar essas obrigações, aplicando à decisão que as reconhece ou estabelece, meios eficazes de cumprimento, o legislador previu procedimentos diversos: em um (mandamental) estaríamos diante de uma obrigação infungível; em outro (executiva lato sensu) a obrigação pode ser substituída por atos de sub- rogação estatal.

Luiz Rodrigues Wambier (2007, p. 45) assevera que há nítida diferença entre sentenças condenatórias, mandamentais e executivas lato sensu94. Ele fundamenta a sua opinião no fato de que a execução de

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Luiz Guilherme Marinoni (2003, p. 554) assim também infere: “A diversidade em termos de efetividade, bem como de repercussão e de impacto sobre a esfera jurídica do réu, entre os meios de execução direta e de execução indireta, previstos nos arts. 461 e 461-A do CPC e 84 do CDC, conduz a duas maneiras distintas de se prestar a tutela dos direitos e, desse modo, há duas sentenças diferentes, a executiva e a mandamental.”.

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José Carlos Barbosa Moreira (2006, p. 62, grifos do autor) esclarece: “Remonta entre nós a proposta de classificar as sentenças em cinco categorias, aditando-se a três classes tradicionais (declaratórias, constitutivas e condenatórias) a das mandamentais e a das executivas. Quanto às executivas,

sentença cuja obrigação é pagar quantia (hoje tratada pelo artigo 475-J) não tem a mesma eficácia das sentenças referidas nos artigos 461 e 461- A do CPC. No caso do artigo 475-J, a sentença é meramente condenatória e não executiva lato sensu, pois o juiz não poderá determinar, na própria sentença, a realização de atos executivos, já que deverá aguardar o requerimento do credor.

Comunga desse entendimento Guilherme Rizzo Amaral (2008, p. 226), para quem a sentença de que trata o artigo 475-J pode ainda ser designada de “sentença condenatória”, muito embora agregue, de forma limitada, ferramenta típica da técnica de tutela mandamental (multa) e concentre um efeito executivo em estado de inércia.

Para Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart (2011, p. 120), nas sentenças que dependem de execução estão as de “executividade intrínseca”, a saber: as sentenças mandamental e executiva. O autor esclarece, porém, que não há como deixar de distinguir a sentença que se correlaciona com a execução indireta (mandamental) e a sentença que se correlaciona com a execução direta (executiva):

A sentença mandamental manda que se cumpra, mediante o emprego de coerção indireta. Na condenação são apenas criados os pressupostos para a execução forçada, ao passo que na sentença mandamental há ordem para que se cumpra. Na sentença mandamental não há apenas exortação ao cumprimento; e há ordem de adimplemento que não é mera ordem; porém, é ordem atrelada à coerção indireta. É correto dizer, nesse sentido, que a sentença que ordena sob pena de multa tem força mandamental, enquanto a sentença condenatória não tem força alguma, nem mesmo executiva; sua eficácia é que é executiva. A sentença executiva tem como característica principal ser uma técnica que reflete a intenção do legislador em dar ao juízo o poder de utilizar a medida executiva necessária ao caso concreto, reflexo da necessidade de o Estado proteger os direitos na forma específica (MARINONI; ARENHART, 2011, p. 120).

cingimo-nos a frisas de Pontes de Miranda que se abstinha de usar o complemento lato sensu.”.

Fica, desse modo, a seguinte conclusão: as ações do artigo 461 que prestarem tutela específica serão ou executivas lato sensu ou mandamentais consoante a necessidade ditada pelo direito material; serão condenatórias somente no caso de condenação em perdas e danos (SOUSA SEGUNDO, 2005, p. 281).

Bem por isso, junto com Eduardo Lamy, José Henrique Mouta Araújo e Marcus Vinícius Motter Borges (2012, p. 179), compartilha-se da corrente defensora da classificação quinária das ações cognitivas, que merece ser acolhida, justamente por reconhecer aspectos determinantes de certas espécies de sentenças, desprezados pela classificação trinária. É que, classificando-se as ações em apenas três, ou não se reconhecem características básicas como a mandamentalidade de uma ordem proferida por meio de medida liminar que manda fazer, em uma ação ordinária fundamentada no artigo 461 do CPC, por exemplo, ou se redefinem os conceitos de maneira a fazê-los incorporar as diversas naturezas de ações cognitivas existentes.

Por fim, de acordo com o artigo 475-N do CPC, a obrigação de pagar quantia é tutelada por sentença condenatória, mas as obrigações de não fazer, fazer e entrega de coisa podem ser tuteladas por sentença mandamental ou sentença executiva.

Outra dúvida no tocante a sentenças emerge da alteração promovida pela Lei n. 11.232/2005, ao arrolar, no inciso I do artigo 475- N, “a sentença proferida no processo civil que reconheça a existência de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia” como título executivo judicial. O dispositivo ora analisado não esclarece nem define o que são sentenças que reconheçam a obrigação, tampouco evidencia se esta definição alcançaria as sentenças meramente declaratórias (MOLINARO; MILHORANZA, 2014, p. 135).

Antes da vigência da Lei n. 11.232/2005, o inciso I do antigo artigo 584 do CPC previa expressamente a "sentença condenatória proferida no processo civil" como título executivo judicial. O entendimento anterior apontava no sentido de que apenas as sentenças condenatórias demandavam a prática de atos executivos. As demais já se satisfaziam por si sós, não formando, como consequência, título capaz de gerar execução.

Com efeito, na vigência do citado artigo 584, inciso I, do CPC, a sentença declaratória que reconhecia a existência de uma relação jurídica, ainda que lhe atribuísse valor, não podia ser executada. Consequentemente, era necessária a propositura de uma nova ação, de natureza condenatória.

Com a reforma introduzida no CPC pela Lei n. 11.232/2005, o artigo 584 foi expressamente revogado. Um novo rol de títulos executivos judiciais foi introduzido pelo artigo 475-N, que, como afirmado, considera título executivo a sentença que reconheça a existência de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia.

Humberto Theodoro Júnior (2007, p. 132), reconhecendo a eficácia executiva da sentença declaratória, assevera que:

Ao descrever o título executivo judicial básico, o art. 475-N, redigido pela Lei nº 11.282/2005, de 22.12.2005, não mais o restringe à sentença condenatória civil, pois considera como tal toda ‘sentença proferida no processo civil que reconheça a existência de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia’. Alargou- se, desta forma, a força executiva das sentenças para além dos tradicionais julgados de condenação, acolhendo corrente doutrinária e jurisprudencial que, mesmo antes da reforma do CPC, já vinha reconhecendo possibilidade, em certos casos, de instaurar execução por quantia certa também com base em sentenças declaratórias.

O Superior Tribunal de Justiça (STJ)95, na linha de precedentes anteriores à própria Lei n. 11.232/2005, já reconhecia a eficácia executiva da sentença meramente declaratória96.

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“PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. VALORES INDEVIDAMENTE PAGOS A TÍTULO DE FINSOCIAL. SENTENÇA DECLARATÓRIA DO DIREITO DE CRÉDITO CONTRA A FAZENDA PARA FINS DE

COMPENSAÇÃO. EFICÁCIA EXECUTIVA DA SENTENÇA

DECLARATÓRIA, PARA HAVER A REPETIÇÃO DO INDÉBITO POR MEIO DE PRECATÓRIO.

1. No atual estágio do sistema do processo civil brasileiro não há como insistir no dogma de que as sentenças declaratórias jamais têm eficácia executiva. O art. 4º, parágrafo único, do CPC considera ‘admissível a ação declaratória ainda que tenha ocorrido a violação do direito’, modificando, assim, o padrão clássico da tutela puramente declaratória, que a tinha como tipicamente preventiva. Atualmente, portanto, o Código dá ensejo a que a sentença declaratória possa fazer juízo completo a respeito da existência e do modo de ser da relação jurídica concreta.

O ministro Teori Albino Zavascki (2014, p. 969) defende a executividade da sentença de improcedência em ação declaratória negativa quando assevera que: “É equivocado o raciocínio de que somente as sentenças de procedência têm a força de preceito e podem se revestir da imutabilidade da coisa julgada. Também as de improcedência têm tais propriedades, e as têm em idêntico grau de intensidade.”.

A executividade da sentença que julga improcedente o pedido de declaração de inexistência de relação jurídica obrigacional decorre da circunstância de se tratar de sentença que traz identificação completa de uma norma jurídica individualizada, que, por sua vez, tem força para autorizar a pretensão à tutela jurisdicional. “Se há identificação completa da norma individualizadora é porque a fase cognitiva está 2. Tem eficácia executiva a sentença declaratória que traz definição integral da norma jurídica individualizada. Não há razão alguma, lógica ou jurídica, para submetê-la, antes da execução, a um segundo juízo de certificação, até porque a nova sentença não poderia chegar a resultado diferente do da anterior, sob pena de comprometimento da garantia da coisa julgada, assegurada constitucionalmente. E instaurar um processo de cognição sem oferecer às partes e ao juiz outra alternativa de resultado que não um, já prefixado, representaria atividade meramente burocrática e desnecessária, que poderia receber qualquer outro qualificativo, menos o de jurisdicional.

3. A sentença declaratória que, para fins de compensação tributária, certifica o direito de crédito do contribuinte que recolheu indevidamente o tributo, contém juízo de certeza e de definição exaustiva a respeito de todos os elementos da relação jurídica questionada e, como tal, é título executivo para a ação visando à satisfação, em dinheiro, do valor devido. Precedente da 1ª Seção: ERESP 502.618/RS, Min. João Otávio de Noronha, DJ de 01.07.2005. 4. Embargos de divergência a que se dá provimento.” (BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Primeira Seção. EREsp 609.266/RS, j. 23/08/2006).

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A doutrina dividiu-se em três diferentes correntes interpretativas. Para Luiz Rodrigues Wambier, Tereza Arruda Alvim Wambier, José Miguel Garcia Medina (2006, p. 165-167) e Ernane Fidélis dos Santos (2006, p. 28-31), a sentença que reconhece a existência de obrigação, em termos literais, abrange também as sentenças meramente declaratórias, criando uma inovação