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2. A EXECUÇÃO DA SENTENÇA CIVIL

2.5 PRINCÍPIOS DA EXECUÇÃO

2.5.4 Princípio da máxima utilidade da execução

A partir de alguns enunciados118 do CPC, pode ser extraído o princípio da máxima utilidade da execução, que visa à obtenção, pelo as obrigações de fazer e não fazer fundadas em título executivo judicial); a multa do caput do artigo 475-J (para as obrigações de pagar quantia, fundadas em título executivo judicial); a redução, pela metade, dos honorários de advogado do parágrafo único do artigo 652-A (para as obrigações de pagar quantia, fundadas em título executivo extrajudicial) e as multas para compelir o executado a entregar a coisa devida, impostas pelo parágrafo único do artigo 621 (para as obrigações de dar coisa, fundadas em título executivo extrajudicial).

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Exemplos: a) a execução se realiza no interesse do credor (art. 612); b) a obrigação somente se converterá em perdas e danos se o autor o requerer ou se impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático equivalente (art. 461, §1º); c) na execução por quantia certa, o princípio revela-se pela regra que permite o pagamento ao credor com a adjudicação do bem penhorado (art. 685-A); Não se levará a efeito a penhora, quando evidente que o produto da execução dos bens encontrados será totalmente absorvido pelo pagamento das custas da execução (art. 659, §2º);

credor, de um resultado mais próximo do que efetivamente ocorreria caso não tivesse o seu direito ferido.

Por ser esse o objetivo único da execução, fala-se também em princípio do desfecho único, considerando-se que a única forma de prestação, que pode ser obtida em tal processo, é a satisfação do direito do credor (NEVES, 2005, p. 43).

Araken de Assis (2013a, p. 29) nomeia o princípio em comento como do resultado, pois o processo de execução busca a obtenção concreta dos resultados materiais e se realiza no interesse do credor.

Para Cassio Scarpinella Bueno (2009b, p. 24), embora parelhos entre si, o princípio do resultado tem por fundamento o artigo 612 do CPC, enquanto o princípio da máxima utilidade da execução é construído a partir do disposto nos artigos 577, 579, 599, 600 e 601 do mesmo Código. Estes artigos expressamente reconhecem o múnus público do Estado-juiz ao longo da prestação jurisdicional executiva, autorizando-o a tomar providências, até mesmo de ofício, para criar condições de prevalecimento do direito reconhecido no título e, ademais, reprimir atos do executado que busquem, de alguma forma, frustrar aquela função.

O conflito resultante desses princípios com o da menor gravosidade ao executado dá origem à “execução equilibrada”: uma consequência desejável da escorreita aplicação dos princípios do resultado e da menor onerosidade da execução (BUENO, 2009b, p. 24- 25).

Trata-se do princípio da primazia da tutela específica, ou da maior coincidência possível, indicando que o credor tem direito à prestação devida e à tutela específica119 (DIDIER JR et al., 2013, p. 53).

Com base no princípio da utilidade, durante o desenvolvimento da atividade executiva deve estar sempre presente o seu principal escopo, que é a satisfação do direito do exequente.

Alfredo de Araújo Lopes da Costa (1959, p. 54), nesse sentido, elucidou: “A atividade executiva não se pode reduzir a um ato que apenas causa prejuízo ao executado, sem proveito algum para o exequente.”.

Olavo de Oliveira Neto (2014, p. 776), ao dissertar sobre o tema, explica: se a prática dos atos executivos não traz qualquer benefício para

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Para os autores, o credor tem o direito de exigir o cumprimento específico da obrigação de fazer, não fazer e dar coisa. Apenas se não o quiser, ou se o cumprimento específico for impossível, a tutela do equivalente em dinheiro (perdas e danos) será concedida (DIDIER JR et al., 2013, p. 53).

o exequente, servindo apenas para causar ônus ao executado, então a execução deverá ser considerada frustrada e o processo suspenso até que possua bens suficientes para compor, total ou parcialmente, o valor devido, ou até que ocorra a prescrição intercorrente. Portanto, “[...] em face da existência do princípio da utilidade, não se admite atividade executiva que sirva apenas para prejudicar o responsável executivo, sem que haja real benefício no mundo empírico para o exequente”. O objetivo é entregar ao exequente, dentro da maior brevidade possível, tutela idêntica a que obteria sem o processo.

Assim, o núcleo do princípio da máxima utilidade da execução é restaurar o status quo, de modo que proporcione o mesmo resultado que existiria se não ocorresse o ilícito ou a obrigação fosse adimplida espontaneamente pelo devedor. Em certos casos, porém, como na execução de prestações infungíveis, caso o devedor se recuse a cumprir a obrigação personalíssima, a única opção que resta é a sua conversão em perdas e danos.

2.5.5 Princípio da menor onerosidade

No atual CPC, o princípio da menor onerosidade para o executado encontra guarida no artigo 620120. Também é chamado de princípio da economicidade, da menor gravosidade ou da menor prejudicialidade ao executado.

Nas palavras de José Frederico Marques (2003, p. 95): “[...] se a execução deve ser feita ‘pelo modo menos gravoso para o devedor’ (art. 620), direito lhe cabe de pretender que seja o processo conduzido nesse sentido”.

Pelo princípio em comento, a execução deve ocorrer da maneira menos gravosa, onerosa ou prejudicial ao executado, desde que haja satisfação do direito do exequente (CAMARGO, 2014, p. 181).

Havendo alternativas à prestação da tutela jurisdicional executiva, aí compreendidas as atividades que a veiculam, o modo menos gravoso para o executado deve ser eleito. “Trata-se de diretriz que, em última análise, deriva do princípio da ampla defesa, de estatura constitucional”, conforme afirma Cássio Scarpinella Bueno (2009b, p. 24).

Em comentários ao artigo 620, Arruda Alvim, Araken de Assis e Eduardo Arruda Alvim (2012, p. 1.398) anotam que o referido dispositivo é uma contrabalança aos pendores individualistas do CPC,

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“Art. 620: Quando por vários meios o credor puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o devedor.”

expressos no artigo 612, segundo o qual a execução se realiza no exclusivo proveito do credor. Além disso, sustentam que o princípio do meio executivo menos gravoso tem assento em dois pilares fundamentais: primeiro, na dignidade da pessoa humana (artigo 1°, inciso III, da CF), freando a atuação dos meios executórios; segundo, no caráter patrimonial da execução (artigo 591 do CPC).

Rafael Vinheiro Monteiro Barbosa e Camila D’Oliveira Ale (2014, p. 129) explicam que a origem deste princípio se deu no campo contratual, na figura do favor debitoris, cuja “[...] ideia de que entre os contratantes o devedor seria comumente a parte mais vulnerável, fez o direito romano dispensar a ela um ‘favor’ especial, de modo a facilitar sempre a sua exoneração”.

Asseverando que o favor debitoris foi indevidamente transportado do plano contratual para o processual, os autores saem em defesa do princípio da execução menos gravosa para o credor, baseados na necessidade de se alcançar a efetividade da execução no menor espaço de tempo possível, sem descurar dos princípios do contraditório, da ampla defesa e do devido processo legal. E completam a lição:

Pensa-se que essa forma de interpretar o art. 620 parte de uma lógica equivocada. A tutela executiva - módulo processual de extrema relevância para a eficácia da jurisdição -, assim como toda tutela jurisdicional, encontra-se, já há bastante tempo, sob o controle do Estado. Desnecessário, portanto, que também na fase processual o julgador se preocupe em despender uma nova e demasiada proteção ao executado. O mote da tutela executiva é satisfazer o crédito do credor e não equacionar os problemas que envolvem o grau de comprometimento do devedor numa dada obrigação. [...] Essa forma com a qual o Poder Judiciário deve se portar na tutela executiva reforça a necessidade de se instituir um princípio específico, capaz de nortear os passos e iluminar as decisões que o julgador será chamado a proferir nesse módulo processual. A cunhagem do ‘princípio da execução menos gravosa ao credor’, pois impede que o credor/exequente seja privado de técnicas constritivas que, com toda certeza, facilitariam o recebimento do seu crédito (MONTEIRO BARBOSA; ALE, 2014, p.132, 133).

Nessa linha, há julgado da 4ª Turma do STJ apontando no sentido de que: “A regra do artigo 620 do CPC comporta temperamentos, considerando-se que a função precípua da execução é possibilitar ao credor o recebimento de seu crédito.” (BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Quarta Turma. RMS: 21111 RJ 2005/0208196-7, j. 16/03/2010). Portanto, a execução se opera em prol do exequente e visa a recolocar o credor no estágio de satisfatividade que se encontrava antes do inadimplemento. Em suma, realiza-se a execução em prol dos interesses do credor. Por conseguinte, o princípio da menor onerosidade não pode superar o da maior utilidade da execução para o credor, propiciando que a execução se realize por meios ineficientes à solução do crédito exequendo (CAMARGO, 2014, p. 181).

A aplicação do princípio da menor onerosidade será abordada com maior profundidade nas seções 2.5.2.1.4, 3.1 e 3.4.1.2.

2.6 A EXECUÇÃO DA SENTENÇA CONDENATÓRIA

Conforme mencionado antes, o foco do presente estudo abrange as defesas do executado contra a execução da sentença condenatória. Optou-se por estudar tal instituto porque, na sentença do artigo 461 do CPC, se o réu não cumpre a obrigação, deixando de atender à forma de prestação da tutela nela veiculada, o juiz pode impor outra, até mais gravosa para a esfera jurídica do demandado (MARINONI; ARENHART, 2011, p. 182).

Em última hipótese, ocorrido o inadimplemento, o citado artigo 461, §1º, autoriza a conversão da tutela específica em perdas e danos. A partir de então, diante da ausência de procedimento definido pelo legislador, a defesa do réu deve observar, no caso de sentença que reconhece obrigação de não fazer ou de fazer e, no que for aplicável, as normas que tratam da impugnação à execução da sentença que reconhece obrigação de pagar quantia (FUX, 2008, p. 291).

Assim como acontece no caso de sentença que reconhece obrigação de fazer e não fazer, a sentença que declara obrigação de entrega de coisa (artigo 461-A) também observará, no que for aplicável, as regras pertinentes à impugnação da sentença que obriga o pagamento de quantia.

Somente com a conversão das condenações de obrigação de fazer e não fazer em perdas e danos é que será utilizado o rito da liquidação e o cumprimento do disposto no artigo 475-J, vez que a obrigação passa a ser de pagamento de quantia certa. É exatamente neste procedimento

que residem diversos questionamentos e discussões doutrinárias e jurisprudenciais, tendo em vista a sua imprecisa redação e a infinidade de possibilidades fáticas que surgem na aplicação prática do novo regramento, a partir da vigência da Lei n. 11.232/2005.

Por esses motivos, a opção foi limitar o presente estudo à fase processual executiva, que visa a dar efetividade às sentenças condenatórias de obrigações de pagamento de quantia certa.

A execução civil por quantia certa em cumprimento de sentença se subdivide segundo a condição econômica e patrimonial do devedor. Assim, a lei prevê, de um lado, a hipótese de solvência do executado, cuja execução ocorrerá por intermédio da fase de cumprimento de sentença ao pagamento de quantia certa contra devedor solvente (artigos 475-I a 475-R do CPC); de outro, caso o devedor se encontre insolvente, o procedimento não é o de cumprimento de sentença, mas um processo de execução por quantia certa contra devedor insolvente (artigos 748 a 786-A do CPC).

Aqui, vale dizer, não será abordado o processo de insolvência civil e seu procedimento próprio, mas apenas o cumprimento de sentença referente ao pagamento de quantia certa contra devedor solvente, pois este se coloca em condição de exercício do contraditório por meio das defesas cabíveis.

Nessa direção, nas seções seguintes, passa-se a estudar o procedimento previsto no CPC para execução da sentença condenatória para pagamento de quantia certa.