• Nenhum resultado encontrado

3. O PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO NA EXECUÇÃO DA

3.3 A FORMA E O CONTEÚDO DO PRINCÍPIO DO

Fixada a premissa de que o contraditório se aplica à execução civil, não há como não concordar com Fábio Victor da Fonte Monnerat (2009, p. 270) quando afirma que referido princípio se manifesta de duas maneiras: na possibilidade de defesa do executado e na participação das partes no modo de ser dos atos executivos. A par desta constatação, o autor sistematiza a atuação do contraditório na execução, fundado em dois critérios de classificação: a forma e o conteúdo.

Quanto à forma de defesa do executado, os mecanismos processuais dispostos no ordenamento e aceitos pela doutrina e jurisprudência podem ser classificados em dois grandes grupos: as típicas, assim entendidas aquelas expressamente previstas na legislação, ou seja, impugnação ao cumprimento de sentença, embargos do executado e embargos à adjudicação e arrematação (artigo 476 do CPC), e as atípicas, isto é aquelas não tipificadas no Código ou em lei extravagante, mas que têm o condão de viabilizar o exercício do contraditório dentro do próprio processo em que se realiza a execução (MONNERAT, 2009, p. 270).

A participação das partes nos incidentes executivos, igualmente, ora podem ser classificadas como típicas, quando expressamente previstas no Código, ora como atípicas, em razão da ausência de previsão legal expressa para tal participação, o que não implica inferir que a manifestação das partes no incidente possa ser dispensada (MONNERAT, 2009, p. 270).

Sobre o tema, José Frederico Marques (2003, p. 96) pontua que o devedor, acompanhando como parte o desenrolar da execução, tem direito de impugnar atos de apreensão ou atos expropriatórios que sejam supérfluos, prescindíveis ou que lhe causem prejuízo indevido, bem como ser ouvido previamente, de um modo geral, a respeito de providências executivas que o juiz deva ou possa tomar.201 É por isso que Cândido Rangel Dinamarco (1994, p. 169) afirma que as partes

201

Como exemplo, Fábio Victor da Fonte Monnerat (2009, p. 268-269) cita: “[...] na oitiva do exequente e executado na definição dos bens passíveis de penhora, do valor da avaliação, da suficiência e idoneidade da caução nos casos de execução provisória ou daquela que autoriza o prosseguimento da execução quando concedido efeito suspensivo à impugnação, bem como nas hipóteses de substituição do bem penhorado e reforço da penhora.”.

podem opor-se a qualquer ato ou decisão que entendam resultar em prejuízo:

Repelem-se, portanto, todos os escrúpulos de que às vezes se guarda na doutrina brasileira, evitando falar em contraditório quanto a um processo em que não haveria instrução e considerando inadequado afirmar a existência de instrução no processo executivo. Não se instrui para julgar o mérito, nem a prova ocupa espaço tão relevante ali, como no processo de conhecimento. Mas instrui-se e, em alguma medida, instrui-se provando também. Na medida do que o juiz julga no processo executivo (decisões interlocutórias, questões sobre penhora, seu reforço ou redução, avaliação do bem penhorado, remição, adjudicação, preferência etc.), sempre algum elemento de convicção é indispensável oferecer, em autêntica instrução probatória. Não instruir sobre o meritum causae, precisamente porque da existência ou inexistência do crédito apenas nos embargos se julga, não significa que nada se instrua no processo executivo.

Ainda, quanto à forma de aplicação do contraditório no que tange ao aspecto do direito de defesa assegurado à parte demandada, a doutrina o classifica como “eventual”, porquanto depende de provocação do executado, que não é chamado a juízo para defender-se, mas sim para cumprir a obrigação. A execução adota a técnica monitória, que consiste basicamente na inversão do ônus de provocar o contraditório: o réu, em vez de citado para manifestar-se sobre a pretensão do autor, é convocado para cumprir determinada obrigação (DIDIER JR et al., 2013, p. 55).

Assim também entende Araken de Assis (2000, p. 343) quando afirma que no processo de execução existe um contraditório eventual, uma vez que não pode ser estranha ao juiz da causa a realização de atividades cognitivas necessárias ao cumprimento do objetivo final, qual seja, a satisfação do credor.

Cândido Rangel Dinamarco (1994, p. 167-168) esclarece que “a ideia de eventualidade é mesmo uma marca que acompanha quase inevitavelmente o próprio contraditório”. O contraditório eventual, no entanto, não significa que não deve haver equilíbrio entre as partes, quer

dizer: “A participação será de intensidade sempre variável e [...], sem descer abaixo da linha representativa do mínimo tolerável, ela terá satisfeito às exigências do contraditório.”.

A participação das partes por ocasião da tutela jurisdicional executiva, quanto ao conteúdo, pode referir-se a: (i) aspectos processuais, ausência de condições da ação, pressupostos processuais e, em especial, ataque ao título executivo; (ii) participação das partes na prática de atos executivos e, em especial, a defesa do executado contra tais atos, e; (iii) defesa contra o próprio direito objeto de execução, nestes casos com considerável restrição em se tratando de títulos executivos judiciais, não por força da natureza executiva da prestação jurisdicional, mas em razão de já existir pronunciamento jurisdicional com força de coisa julgada acerca da matéria (MONNERAT, 2009, p. 270).

Do que foi exposto até aqui, pode-se concluir como inquestionável a vigência do contraditório no processo de execução: trata-se da oportunidade do executado participar, com chances iguais dadas ao credor, de ter acesso a informações e notificação dos atos processuais, e poder manifestar-se, incluída aí a possibilidade de colaborar com a fundamentação das decisões.

A amplitude do contraditório é garantia processual de estatura constitucional em que se deve inspirar toda a normatização processual infraconstitucional. Daí decorre a necessidade de se assegurar o manejo oportuno dos meios disponibilizados pelo sistema processual para garantir que a cada movimento do credor – apto a ter repercussões no futuro provimento ou na medida prática que dele decorra – corresponda, necessariamente, a chance de o devedor se manifestar, apresentando as restrições que possa ter a respeito de determinado ato ou pronunciamento realizado pela parte contrária (WAMBIER, 1997, p. 184).

Assentada então a inafastabilidade do princípio, chega o momento de analisar alguns pontos controvertidos que, na prática forense, geram resistência quanto a esta interpretação.

3.4 O PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO E OS MECANISMOS DE