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1.5 Informatização de Bibliotecas

1.5.1 Reflexão Teórica sobre o Processo de Informatização

1.5.1.1 Conceitos de Relevância e Sustentabilidade do Sistema

Desde já, quanto à finalidade, os SRI, para os quais a adoção tecnológica é importante, têm como desafio, aumentar a eficiência da comunicação e dos serviços de informação; isto é, “prover o usuário com informações relevantes” (SARACEVIC, 1975; FIGUEIREDO, 1978;

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A conversão Retrospectiva é processo de transferência dos dados do software anterior para o iminente. Para Beaumont e Cox (1989), a CR é um processo de complementação de dados bibliográficos, que pode ser feito por computador, permitindo a criação de arquivo legível por computador, a partir de catálogo ou base de dados já disponíveis na instituição.

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Sobre a questão, Lamb (1996), citado por Miranda (1996) denuncia que o reconhecimento do fracasso, no entanto, não tem alterado significativamente as expectativas relacionadas ao uso das tecnologias (e da forma que se dá atualmente) [LAMB, Roberta. Informational imperatives and socially mediated relationships. The

Information Society, 12: 17-37, 1996].

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Vale lembrar que estes não são, necessariamente, os problemas do SRI, mas aqueles que a tecnologia se propôs a resolver.

SCHAMBER, 1994). Para isso, a biblioteca deve se organizar através da coleta, tratamento e avaliação das suas coleções “... no sentido de adequá-las, em termos de pertinência e relevância, em graus de quantidade e excelência, aos conteúdos programáticos [...] tomando- se em consideração o tipo, as características e seus usuários” (MIRANDA, 1978, p. 182).

Assim, mais do que a simples disponibilização de informação, lidar com o desenvolvimento de SRI implica lidar com o conceito de relevância da informação95 que, apesar de polissêmico, na Ciência da Informação, representa a medida da eficácia do contacto entre o sistema e o usuário; representa a medida das mudanças, visto que, de acordo com Saracevic et al (1988), a comunicação do conhecimento é efetiva quando e se a informação transmitida de uma fonte (origem) cria mudanças na outra (destino).

Cunhado na Filosofia, de acordo com Saracevic (1975), para explicar a teoria do sentido, esse conceito foi usado pela primeira vez na Ciência da Informação por Bradford (1934)96, conforme Figueiredo (1978), ao focar a questão dos artigos “relevantes a um assunto”. Entretanto, ainda de acordo com Figueiredo (1978), foram os autores Moors (1950)97, Perry (1951)98 e Taube et al (1955)99, na década de 40 e 50, que primeiro focalizaram o conceito na recuperação da informação, ao reconhecerem que nem tudo o que seria recuperado em um sistema seria relevante - embora eles estivessem preocupados com a não-relevância que, como ruído, contribuía para um funcionamento inadequado do sistema.

Nesse sentido, de acordo com Saracevic (1975), o conceito nasce na Ciência da Informação acoplado aos problemas da comunicação científica e que, com o tempo, torna-se cada vez mais complexo, devido (1) ao grande volume de publicações; (2) às barreiras muito tênues entre as áreas do conhecimento; (3) à crescente especialização; além (4) das dificuldades de selecionar tais publicações de acordo com os objetivos, tipo e necessidades da biblioteca e do usuário.

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Cujo foco representa uma conquista para a área de biblioteconomia e documentação, em termos de busca e recuperação da informação, a medida que vai além da preocupação com a simples disponibilização da informação.

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BRADFORD, S. C. Sources of information on specific subjects. Engineering: 85-6, 1934.

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MOORS, C. S. Coding information retrieval and the rapid selector. American Documentation, v. 1, n. 4, p. 225-229, 1950.

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PERRY, J. W. Superimposed punching of numerical codes on handserted punch cards. American

Documentation, v. 2, n. 4, p. 205-212, 1951.

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TAUBE, M. et al. Storage and retrieval of information by means of association of ideas. American

A relevância, nestes termos, é dicotômica100. Ou seja, ligada, por um lado, ao julgamento do usuário (a pertinência) e, por outro, ao sistema. Em relação ao usuário, interferem para a relevância os aspectos ligados ao conhecimento sobre o assunto e sobre a literatura em questão; o conhecimento da biblioteca, do sistema de informação e do próprio processo de busca de informação.

Do ponto de vista do sistema, a relevância sofre influência, principalmente, de aspectos internos101, relacionados à determinação dos conteúdos informacionais, que envolvem as atividades de catalogação, indexação, classificação, controle de autoridades, etc.; além da capacidade, por parte do profissional, de manipular o próprio programa que, por sua vez, inclui a análise das questões propostas pelo usuário, para daí montar a estratégia de busca. No que tange à busca da informação, importa destacar que, para a questão colocada pelo usuário, só seriam considerados relevantes os documentos que fossem recuperados e, conseqüentemente, não-relevantes, os que não fossem. Mas, por seu turno, nem tudo o que for recuperado pelo sistema será efetivamente relevante para o usuário102, que irá escolher os documentos que satisfazem ou se aproximam da sua questão. Daí os conceitos de revocação e de precisão, representando, respectivamente, a proporção de documentos recuperados sobre o número total de documentos possíveis e a proporção de documentos efetivamente relevantes sobre o número total de documentos recuperados.

Assim, as bibliotecas, às quais estes SRI estão integrados, precisam adotar uma série de medidas para que, em última instância, os documentos sejam deslocados para os locais de efetiva utilização. Medidas estas que incluem, desde a otimização dos processos de representação descritiva e temática dos documentos, o aperfeiçoamento dos instrumentos de captação das necessidades do usuário à ampliação do seu escopo de atuação, através de políticas de cooperação. A captação das necessidades do usuário fará com que este não seja “um ser abstrato e longínquo, do qual se ignoram as verdadeiras necessidades e usos”, visto que, quanto mais próxima a relação entre a origem e o destino, maiores serão as chances de

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Em que, do ponto de vista do sistema, é encarado como a relação entre a informação e a questão proposta pelo usuário, e, do ponto de vista do usuário (pertinência), seria a relação entre a informação e a sua necessidade.

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Vale também mencionar a própria seleção dos documentos como um dos aspectos de suma importância, na medida em que é a partir dela que novos documentos são incorporados no acervo e que, por sua vez, condicionam o que será relevante na hora da busca.

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Embora tenha sido, sob o ponto de vista do sistema. Quando se recupera mais do que o desejado, caracteriza uma sobrecarga informacional.

aumentar os índices de precisão (como aquela informação que satisfaz ou se aproxima, efetivamente, das necessidades do usuário).

Ainda sobre a relevância, vale referir que também concorrem para a pertinência – fora as questões relacionadas ao julgamento quanto à atualidade do documento, se for o caso, etc. – questões ligadas ao tempo de resposta do sistema, como um todo (infra-estrutura, logística), além, sem dúvida, do custo do serviço.

Assim sendo, portanto, a questão que se coloca para o desenvolvimento de SRI com o uso dos SIGB estaria ligada não apenas à disponibilização desta informação, mas, sobretudo, ao seu uso, de maneira que a modernização proporcionada pelo meio não se alcance à expensas da sua principal finalidade. Para isso, a tecnologia terá de vir em solidariedade ao sistema e não em seu cerne.

Por um outro lado, sendo a questão dos custos dos processos de informatização um problema visível na realidade das bibliotecas universitárias, de países em desenvolvimento em particular, a questão da sustentabilidade destes sistemas mostra-se, também, premente, sobretudo a médio e longo prazos103, como mostram diversos estudos nesse sentido e reafirmado por Mangue (2002).

A sustentabilidade, no caso, entre as palavras-chave que a conceituam, equilíbrio e consolidação são as que mais se aproximam da proposta do presente trabalho, ao combinarem a introdução tecnológica com a melhoria na prestação dos serviços de informação, em que as ações esporádicas são substituídas por uma capacidade de evolução endogeneizada, ditada, não pela técnica em si, mas pelos processos104; ditada pela coesão de forças que refletem a capacidade real da biblioteca, em particular, para assumir determinado sistema tecnológico, evitando-se, com isso, a aquisição do “barato que sai caro [...] ou do caro que sai mais caro ainda”.

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De modo similar cabe, neste ponto, a observação de Aun (2003) que mostra como, atualmente, “o discurso da urgência substitui os planos de longo prazo”, isto é, tanto o Estado, a universidade e, de forma concomitante, a biblioteca se eximem de políticas de longo prazo, já que a urgência constituí, por si só, uma justificativa.

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Termo adotado por Zarifian (1998) para discutir as competências. Para ele “a técnica pura permanece importante para os conhecimentos, não tanto para as competências”, o que significa, de forma análoga, que assim como a competência compreende um saber além da técnica, também os processos, na informatização, compreendem um leque de elementos sobre os quais a técnica vem em solidariedade apenas.

Assim, e diferente das orientações sobrejacentes à abordagem tecnológica, a adoção da tecnologia não se resume à aquisição da última geração dos programas disponíveis que, em curto prazo, podem levar à modernização tecnológica, mas não, necessariamente, à capacitação ou dinamismo tecnológico, se usarmos os conceitos de Carvalho (1994), na medida em que este último é endógeno à biblioteca, no caso. Para o autor:

[...] [a modernização] é um conceito estático e diz respeito ao grau de atualização (em relação às tecnologias mais modernas) e [a capacitação ou dinamismo tecnológico] refere-se à capacidade das firmas de acumularem conhecimento tecnológico, que lhes permita evoluir numa cadeia que vai desde a compra e a utilização competentes de “pacotes” tecnológicos até à capacidade de geração endógena de inovações (CARVALHO, 1994, p. 109).

Isso significa, portanto, e de um modo geral, que a capacitação105 pressupõe a existência de uma estrutura e pessoal qualificado, prática e teoricamente (proporcionalmente à tecnologia a ser adotada) para assumir o empreendimento, reduzindo, assim, o aumento exponencial do ágio do processo (custo financeiro, intensificação do trabalho, trabalho repetitivo e monótono, etc.).

Assim, a sustentabilidade, se analisada de forma análoga ao conceito de relevância, em que a precisão reflete a proporção entre o total de documentos recuperados e os efetivamente relevantes, ela refletiria, portanto, o equilíbrio entre a tecnologia disponível e tecnologia apropriada; equilíbrio este norteado pela relação custo-benefício.

Do mesmo modo, se considerarmos a informatização de bibliotecas como parte de um processo mais amplo de transformações que afetam a sociedade; se, de fato, as relações sociais em nível macro afetam os processos de informatização (especialmente em universidades públicas) e vice-versa, pode-se inferir, então, que o desequilíbrio na relação tecnologia disponível versus tecnologia apropriada afeta não apenas o indivíduo e a organização, mas a coletividade, de uma forma geral, sobretudo nos países em desenvolvimento, visto que além de inter-condicionados, os seus recursos são bastante limitados.

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Aqui entendida como a adoção tecnológica tendo como base os processos; tendo em vista as finalidades do desenvolvimento dos SRI e benefícios que daí advêm (flexibilidade, inovação na forma de trabalhar, satisfação do usuário, etc.) a médio e longo prazos.

Isto é, o desequilíbrio nessa relação pode resultar em custos, tanto econômicos quanto sociais (estes últimos quase sempre encobertos, na medida em que, em geral, não são integrados aos sistemas contábeis destas bibliotecas) não só para o sistema de bibliotecas mas também para a coletividade. Assim, além dos custos diretos, entre eles, no caso da informatização de bibliotecas, os da aquisição do equipamento, treinamento, manutenção, etc., que podem ser elevados com o desequilíbrio na gestão do processo; outros elementos (custos indiretos) podem contar para o ônus dessa ação. Entre os custos indiretos citam-se, por exemplo: o fraco aproveitamento da capacidade instalada, a permanência do trabalho monótono, repetitivo e desqualificador - isso a despeito da adoção da mais sofisticada tecnologia – além de elevar o grau de resistência (passiva ou ativa) entre os trabalhadores, o absenteísmo, etc., podendo transferir, por sua vez, para a coletividade, as preocupações com doenças ocupacionais, o afastamento precoce do trabalho e o desemprego, de um modo geral (as “conseqüências não intencionais”).