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3.6 O Ensino Superior nos Países Analisados

3.6.2 Ensino Superior na África do Sul

A África do Sul é um país que vive uma série de transformações desde o fim do regime do Apartheid, em 1990, e o ensino superior não está isento desse processo.

O imperativo para a reestruturação do sistema de ensino superior na África do Sul está na necessidade de (a) transformá-lo num “sistema não racial, não sexista e democrático”; e (b) ir ao encontro de:

[...] demandas da justiça social, eliminando as desigualdades sociais e estruturais que caracterizavam o ensino superior como herança do Apartheid [– que desde 1959 restringia o acesso com base na raça e na 182 -]; herança que resultou num sistema fragmentado e distorcido em que algumas instituições ficaram melhores aparelhadas que as outras e em que [a despeito do fim do regime] raça e continuam a distinguir e a agir como filtros de acesso ao ensino superior (SOUTH AFRICA. Ministry of Education, 2002. s/p.).

Com isso, a reestruturação tem em vista permitir que os graduados dessas instituições “participem como cidadãos numa sociedade democrática e como trabalhadores e profissionais na economia e contribuam para o progresso da pesquisa e do conhecimento na África do Sul”, como ainda pode ser lido no Transformation and restructuring: a new institutional landscape for high education (SOUTH AFRICA. Ministry of Education, 2002. s/p.).

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Historicamente, nesse regime, as “instituições brancas” passaram a estar a serviço da educação, ideologia, política, cultura e economia do Apartheid. Ao mesmo tempo, o regime se empenhava em criar instituições para a formação de uma classe negra subserviente; instituições que, no entanto, acabaram por se transformar em quartéis generais da resistência contra esse regime.

Ainda sobre esse aspecto, de acordo com o documento Towards a new higher education landscape, também justifica a reestruturação, o fato de que:

[…] current landscape and institutional configuration of higher education has its roots in an Apartheid past, is inadequate to meet socio-economic needs and is no longer sustainable. South Africa does not have the human and financial resources to maintain the present institutional configuration. Senior and middle-level leadership, management and administrative capacities are absent or lacking in parts of the system. New patterns in student enrolments means that a number of institutions are at risk. Some institutions also do not satisfy the specification…..to continue as independent institutions (COUNCIL ON HIGHER EDUCATION, 2000, p. 51)183

De forma um pouco mais concreta, a reestruturação tem como objetivo melhorar a distribuição dos recursos entre as instituições e aumentar a eficiência na gestão do sistema como um todo, já que a atual configuração tem se mostrado “ineficiente, como indicado pelas altas taxas de evasão, baixo rendimento, baixas taxas de graduação, baixos resultados na pesquisa e a subutilização dos recursos humanos e físicos” (SOUTH AFRICA. Ministry of Education, 2001, s/p.).

Desse modo, entre as metas da reestruturação destacam-se: aumentar o número de acessos e de graduados nas universidades; promover a equidade de acesso de acordo com a composição demográfica sul-africana; explorar a diversidade de acordo com as especificidades e necessidades regionais; além de elevar o nível de pesquisa, em conformidade com essas necessidades e do desenvolvimento do país (ibidem, 2002. s/p.)

Assim, como forma de atingir os objetivos citados acima, algumas instituições, entre universidades e instituições técnicas superiores (as Technikons), foram mescladas, reduzindo o seu número, de um total de 36 (públicas) para 21 instituições de ensino superior e 2 institutos nacionais de pesquisa184, de acordo com o A new institutional landscape for higher education in South Africa (SOUTH AFRICA. Ministry of Education, s/d).

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O atual cenário e configuração institucional do ensino superior tem a sua raiz no Apartheid: inadequado para alcançar as necessidades sócio-econômicas e que não é sustentável por mais tempo. A África do Sul não tem recursos humanos e financeiros para manter a atual configuração institucional. A alta e média gerência e as capacidades administrativas são ausentes ou escassas em parte do sistema. As novas avaliações dos estudantes mostram que algumas instituições estão em risco. Algumas instituições também não satisfazem as especificações... para continuarem como instituições independentes.

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Essas alterações, no entanto, foram implementadas de forma gradual, desde a criação da comissão de trabalho (Council on High Education – CHE), o planejamento, à implementação do processo que, organizacionalmente, envolveu a integração da burocracia (então formalmente dividida) e a transferência do staff, escritórios, registros, etc., sem a interrupção dos serviços (SOUTH AFRICA. Ministry of Education, 2001a, s/p).

Dentro de um cenário mais amplo de transformações, Cloete (2002), citando Cooper e Subotzky (2001), mostra que ocorreram mudanças significativas no período pós 1994. Para esses autores, a África do Sul experimentou uma revolução no que diz respeito ao acesso ao ensino superior, com o aumento na proporção de estudantes negros. No ensino superior, como um todo, a razão dos estudantes negros nas matrículas aumentou de 32%, em 1990, para 60%, em 2000, e nas instituições técnicas superiores, aumentou de 32% para 72%. Aumentou também a participação feminina, de 42% para 53%. Entretanto, Cloete observa que, apesar desses crescimentos, o acesso global ao ensino superior teve uma ligeira diminuição, de 17% para 16%185. Isso, acrescenta o autor, deve-se ao fato de que, a despeito das mudanças, o acesso a esse nível de ensino é ainda para as elites, tornando-se essa também uma forma de discriminação.

De acordo com o South Africa Yearbook 2005/06, as universidades públicas sul-africanas tinham, em 2004, cerca de 450.000 estudantes e mais de 200.000 nas universidades técnicas/tecnológicas (que englobam as então Technikons). Para o SOUTH AFRICA. Ministry of Education (2001), em Education in South África: achievements since 1994, a África do Sul - assim como os outros países - têm assistido a um crescimento da participação privada em todos os setores, e com a educação não é diferente. Essa participação, no caso sul- africano, é marcada por algumas parcerias e pela proliferação, de 1994 aos últimos anos, de programas de ensino em algumas áreas, com o surgimento de um número considerável de instituições duvidosas (“fly-by-night”186), o que ditou a necessidade de se estabelecer uma estrutura reguladora e de interesse público que assegurasse a qualidade acadêmica.

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O dado é indicativo, na medida em que o autor analisa o setor público de ensino superior. Em sua análise, Cloete não esclarece os dados quanto ao grupo de referência, isto é, se a porcentagem é em relação ao grupo etário relevante ou à população total.

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Nesse período, segundo Sedgwick (2004), o número de instituições privadas chegou a cerca de 323. Mas, em 2004, depois da regulamentação e da reavaliação feita pela High Education Quality Committee (HEQC), das 58 aprovadas, apenas 14 instituições funcionavam.