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3.6 O Ensino Superior nos Países Analisados

3.6.1 O Ensino Superior em Moçambique

Pelo seu caráter singular - em relação às demais experiências aqui em análise - o ensino superior em Moçambique terá uma abordagem mais ou menos histórica, isto é, a partir da seqüência de eventos que o criam. Entre as particularidades, está, por exemplo, o fato de Moçambique ter tido, até meados dos anos 80, apenas uma instituição de ensino superior - instituição que, no entanto, desde a sua criação, veio sofrendo algumas transformações em função das mudanças políticas e sociais do país. Desse modo, falar da história do ensino superior em Moçambique é, praticamente, falar da história de uma única instituição.

O Ensino Superior em Moçambique inicia em 1962, com a criação do Estudos Gerais e Universitários de Moçambique (EGUM), que tinha em vista contribuir para a formação dos colonos e de alguns assimilados moçambicanos.

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Reunindo as instituições “historicamente privilegiadas” e as “historicamente em desvantagem”, num mesmo projeto de informatização. Mais informações vide Capítulo 4, p. 141.

O EGUM inicia com dez cursos, especialmente nas áreas de engenharia. Mas, além dessa área, oferecia cursos de Medicina, Veterinária e, nas humanidades, o curso de Pedagogia. Ainda nesse período, o EGUM expande a sua atuação na área pedagógica, passando a ministrar cursos específicos de Física, de Matemática e, por fim, de Geologia.

Em 1968, como corolário da experiência do EGUM, cria-se a Universidade de Lourenço Marques (ULM)178, que além de ter acrescentado alguns outros cursos de Engenharia, a de Minas, por exemplo, passou a oferecer, nas humanidades, cursos tais como Filologia, História, Geografia e Economia, passando, então, a ter 17 cursos.

Contudo, permanecia o caráter discriminatório: apenas 1% dos estudantes eram moçambicanos. Sobre esse aspecto, Buendia Gómez (2000) também afirma que os nativos não tinham acesso às escolas, sobretudo às de ensino médio e superior, e os poucos que estudaram tiveram uma educação alienatória. Segundo o autor, em 1973, no país e no ensino superior, apenas 40 em 3.000 estudantes eram nativos, e ao pequeno grupo que saíra para estudos fora, não lhes era permitido estudar em universidades não portuguesas.

Em 1976, com a independência e com o conseqüente processo de transformação político- social, transforma-se, também, a ULM em Universidade Eduardo Mondlane (UEM), em homenagem ao primeiro presidente da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo). Nesse sentido, a UEM orienta-se pela necessidade de dar respostas aos anseios imediatos da Nação, privilegiando, dessa forma, a abertura de cursos vistos como essenciais e a adequação dos currículos à nova situação. Com isso, privilegiou a formação de professores moçambicanos - que até então eram apenas 5. Além dessas ações, a UEM destacou-se na preparação de estudantes em nível pré-universitário, satisfazendo, assim, uma das carências imediatas do país (MOÇAMBIQUE...,2000).

Numa segunda etapa dessa fase inicial, e nos primórdios da década de 80, a UEM introduz o nível de Licenciatura179 (em 5 anos) e, como forma de promover a formação de formadores nacionais, cria, em 1981, a Faculdade de Educação.

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Lourenço Marques, nome que, de 1782 a 1975, designava a cidade capital de Moçambique, hoje, Maputo.

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A Faculdade de Educação cresceu, chegando a absorver a metade dos ingressos na Universidade. Para expandi-la, foi criado, em 1985, o Instituto Superior Pedagógico (ISP), cuja missão era de “[...] proceder a formação de professores e de técnicos superiores para a Educação” (MOÇAMBIQUE..., 2000, P. 12). É assim que surge aquilo que viria a ser a segunda Universidade em Moçambique e que, efetivamente, só em 1995 transforma-se em Universidade Pedagógica (UP) - embora, nesse intervalo, tenham sido homologadas outras duas instituições públicas de Ensino Superior: o Instituto Superior de Relações Internacionais (ISRI), em 1986; e a Escola Náutica de Moçambique180, em 1991. Ao todo, são, hoje, 11 instituições públicas de ensino superior no país.

Por seu turno, diante do novo cenário econômico, caracterizado pela abertura do mercado – cenário que se inicia em 1987 - abrem-se também as possibilidades da participação do setor privado no processo de ensino, no Ensino Superior, inclusive. Com isso, em meados da década de 1990, são criadas as primeiras escolas privadas de Ensino Superior, a começar pelo Instituto Superior Politécnico e Universitário (ISPU), em 1995; e o Instituto Superior de Ciências e Tecnologias de Moçambique (ISCTEM), em 1996. Ao todo, entre públicas e privadas, são 23 instituições de Ensino Superior no país (entre universidades, institutos politécnicos e escolas superiores), de acordo com o Plano Estratégico de Educação e Cultura: 2006-2010/11 (MOÇAMBIQUE. MEC, 2006).

Essas são instituições que vêm suprindo parte da demanda por esse nível de ensino no país, pelo menos em quantidade - aquém do necessário, entretanto, uma vez que a razão o rácio entre a procura e a disponibilidade de vaga é alto. Por outro lado, quanto à qualidade e eficiência desses cursos, embora sejam reconhecidas as dificuldades de “mensurá-las”, as deficiências se manifestam nas baixas taxas de graduação181, que são de, no máximo, 20% (MOÇAMBIQUE. MESCT, 2000).

Diversos motivos estão entre as causas desse fato, entre eles, a deficiente infra-estrutura escolar; a fraca formação do corpo docente e, de forma subjacente, o fraco aparelhamento das respectivas bibliotecas - como base de sustentação do próprio processo de ensino, do Ensino

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Esta escola, entretanto, só passa a funcionar, efetivamente, em 2004, com a designação de Escola Superior de Ciências Náuticas.

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Estas taxas não são exclusivas do ensino superior. Ainda de acordo com o documento citado, outros níveis “[...] também têm taxas de repetição e perdas muito elevadas” (MOÇAMBIQUE..., 2000, P. 44).

Superior, em particular –, como reflexo da ausência de políticas específicas, orgânicas e sustentáveis no que diz respeito ao domínio informacional, incluindo, nisso, os aspectos materiais, financeiros e, sobretudo, humanos.

Quanto ao número de matrículas, de acordo com o Extinto Ministério de Ensino Superior, Ciência e Tecnologia, em 2004, o país estava com um total de 17.225 estudantes, estando a maioria (11.235) em instituições públicas, das quais 7.349 estavam na UEM (MOÇAMBIQUE. MESCT, 2004). Hoje, estima-se em 22.300 o número de estudantes, de acordo com o Plano Estratégico de Educação e Cultura: 2006-2010/11 (MOÇAMBIQUE..., 2006), o que representa 0,56% “de estudantes matriculados em relação ao grupo etário relevante” (MOÇAMBIQUE..., 2006).