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1.5 Informatização de Bibliotecas

1.5.2 Normas e Técnicas Biblioteconômicas Apropriadas à Automação

Representam um conjunto de regras de descrição bibliográfica adotadas pelas bibliotecas no tratamento técnico, vistas, neste caso, de forma apropriada à informatização; ou seja, sob a ótica dos formatos padronizados de registro bibliográfico106.

Sobre esse aspecto, vale também realçar que, com o advento da automação, entre as modificações nas atividades inerentes ao subprocesso de tratamento técnico está, justamente, a necessidade de se adotar, para a descrição, os formatos de registro bibliográfico. Isto é, para que a descrição, em computador, seja feita de forma eficiente no que diz respeito à transcrição dos elementos descritivos, torna-se imprescindível a adoção, a priori, destes formatos, que representam um conjunto de códigos que permitem à biblioteca determinar o seu fluxo de dados bibliográficos e, em última instância, que um determinado registro bibliográfico feito em um computador possa ser lido em outro que use o mesmo formato (Furrie, 2000). Isso facilita, além da consistência no registro e transferência de dados, o estabelecimento de uma infra-estrutura cooperativa, o que evita a duplicação de serviços no tratamento técnico e

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A abordagem das normas biblioteconômicas a partir dos formatos padronizados permite-nos uma visão mais ampla da aplicabilidade destas regras no processamento de dados em bibliotecas, uma vez que estes incorporam os demais padrões e protocolos, como a AACR2, por exemplo.

contribui para o aprimoramento de todas as atividades técnicas e, conseqüentemente, para a redução de custos no tratamento da informação.

De forma prática, portanto, estes padrões têm como objetivo permitir que várias bibliotecas possam utilizar, simultaneamente, do mesmo arquivo central de dados, de forma a se beneficiarem dos serviços de catalogação, indexação e classificação já realizados, sem limites de tempo e local e sem prejuízos para as bibliotecas que fornecem os dados.

Para que isso fosse possível, algumas instituições107 - depois de exaustivos estudos tendo em conta as principais componentes do formato: estrutura do registro, semântica e dados do conteúdo -, foram pioneiras na criação e adoção de determinado tipo de formato, estabelecendo-se, assim, o espírito cooperativo entre sistemas de bibliotecas. Para isso, o uso, desde o início, de diretrizes universais de descrição de dados, o AACR2, por exemplo, é que permitiu a expansão destas ferramentas de modo a serem adotadas por outras instituições congêneres, inclusive fora dos países de origem, ampliando ainda mais o âmbito de cooperação entre bibliotecas.

Nesses termos, Pereira e Santos (1994) observam que:

A utilização das tecnologias de comunicação disponíveis, permitem o desenvolvimento dos formatos de intercâmbio que hoje são os instrumentos fundamentais da catalogação cooperativa/compartilhada. Projetos como: MARC [...] passaram a ser utilizados de modo que antigas premissas pudessem ser concretizadas, como, por exemplo, a idealização de Jewett de que a catalogação fosse elaborada uma única vez (PEREIRA e SANTOS, 1994, p. 83).

Nesse sentido, a considerar pelo formato de maior utilização – em que uma breve revisão de literatura sobre as experiências de informatização em algumas bibliotecas dos países em desenvolvimento mostra que grande parte das bibliotecas adota, hoje, o formato MARC (Machine Readable Catalogue) 108 - cabe a menção de que este representa um agregado de técnicas e procedimentos com suporte: em instrumentos de representação descritiva

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A Library of Congress (LC), a Fundação Getúlio Vargas (FGV), a Biblioteca Nacional de Lisboa, por exemplo.

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Um dos pioneiros, criado nos Estados Unidos. Entretanto, vale citar que nem sempre foi assim, isto é, em relação ao uso amplo do MARC. Alguns países procuram criar seus próprios formatos, como foi o caso brasileiro que, na primeira fase de informatização, adotou o formato CALCO (Catalogação Legível por Computador), conforme o disposto no Plano Nacional de Bibliotecas Universitárias (PNBU), como uma tentativa de adequação do USMARC à realidade do país. Esse aspecto reforça a tese de que a adoção de determinado formato não é apenas uma questão técnica, mas também política, relacionada à escolha dos sistemas com os quais se pretende cooperar.

(AACR2), na ANSI Z39.50109 e na internacional ISO 2709110, pelas quais se prevê a padronização, não somente da forma de catalogar, mas também da forma de registrar e transferir dados bibliográficos em meio magnético.

Em computador, como é o caso proposto para abordar as normas bibliográficas, vale referir que a adoção do padrão de registro bibliográfico, ao condicionar o processo de elaboração do conteúdo representativo do documento, também determina a escolha dos campos de entrada de dados, seus atributos e a relação entre eles. Assim, as competências relacionadas ao processamento técnico em computador estão diretamente ligadas à capacidade de estruturar um sistema efetivo de recuperação de informação, cuja evolução acompanha a dos formatos de registro bibliográfico, hoje, a considerar pelo mais usual, é representada pelo MARC21, com alterações até o ano de 2003.

Do ponto de vista administrativo e das inovações organizacionais, vale lembrar que estes padrões, ao evitar a duplicação de esforços na catalogação, indexação e classificação e o conseqüente aprimoramento do processamento técnico e redução de custos, potencializam também a redução do tempo de atravessamento da obra, acelerando a disponibilização de informações, como também salientam Pereira e Santos (1994).

Sobre esse aspecto, entretanto, alguns autores chamam a atenção para o fato de que, a despeito, a representação temática está relacionada à elaboração de conteúdos para atender a usuários específicos, o que pode ser comprometido, à medida que corre-se o risco de uma simplificação excessiva dos assuntos, isto é, o risco de “... enfrentar sérios problemas da sobrecarga de informação”, como destacam Chen e Tai (2003)111 apud Reis e Blattmann (2004).

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É um protocolo de comunicação – portanto, elenco de regras ou padrões cuja finalidade é permitir que os computadores se interliguem e troquem informações com menor número de erros possíveis – desenhado para permitir pesquisa e recuperação de informações (documentos) em rede de computadores distribuídos. É baseado na arquitetura cliente/servidor (em que cliente é o programa que processa determinada solicitação a outro (servidor); que, por sua vez, é o programa que provê os serviços requisitados remotamente pelo cliente) e, operando sobre a rede Internet, possibilita uma infinidade de aplicações. Uma aplicação Z39.50 habilita uma interface única para conexão com múltiplos sistemas de informação, permitindo ao usuário final um acesso quase transparente para outro sistema (Rosetto, 1997).

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Padrão de comunicação para registros bibliográficos usados para intercâmbio de dados em meio magnético, de um sistema para o outro. Possibilita a transferência de informações de forma independente de hardware e

software, tornando-os portáveis entre sistemas. Acoplado ao MARC, torna possível ao computador identificar e

interpretar a informação contida em um registro bibliográfico.

111

CHEN, C.-T.; TAI, W.-S. An information push-delivery system design for information service on the Internet. Information Processing and Management, v. 39, p. 873-888, 2003.